1 Pedro 05.01-05

Leitura: 1ª Pedro 04.12 – 05.14
Texto: 1ª Pedro 05.01-05

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”.

Amados em nosso Senhor Jesus Cristo,

Qual a razão por que Deus ordena presbíteros? Qual sua função? Qual o propósito de termos presbíteros na igreja?

O apóstolo Pedro dirige sua primeira carta à Igreja que está passando por muitas aflições e sofrimentos por causa do nome de Jesus. Ele fala do privilégio que Deus concede de sermos co-participantes dos sofrimentos de Cristo. Estes sofrimentos que experimentamos durante a nossa peregrinação servem para nos provar, mas também são motivo de alegria, pois aqueles que são co-participantes dos sofrimentos de Cristo também se alegrarão na revelação de sua glória (1 Pedro 4:12,13).

Pedro escreve à Igreja peregrina, sofrida, aflita que ela deve se alegrar. Que ela é bem aventurada. Pois o caminho de peregrinação por meio de sofrimento, humiliação e perseguição leva até a glória da Nova Jerusalém.

Neste contexto, Pedro no capítulo 5 da sua carta trata do ofício do presbítero. Aprendemos um aspecto glorioso do ofício de presbítero neste capítulo.

Aprendemos que:

Tema: Deus nos concede presbíteros para pastorear-nos em meio ao sofrimento até a glória eterna

Vamos ver três coisas quanto a este tema.

Em primeiro lugar vamos ver o Contexto
Em segundo lugar, o Caminho
Em terceiro lugar, o Clímax; Contexto, Caminho e Clímax. Estas três coisas nós vamos ver neste texto.

  1. O Contexto

Em Atos 20.28, Paulo convoca os presbíteros a pastorearem o rebanho no contexto do falso ensino. O falso ensino que vem de fora e também o falso ensino que surge dentro da igreja. Aqui Paulo diz que os presbíteros têm que pastorear para proteger a igreja e para providenciar alimento saudável, sadio, no contexto de heresia, de falso ensino.

No capítulo 5 da primeira carta de Pedro, o contexto é um pouco diferente. Pedro não está falando primariamente no contexto de falso ensino. Está falando no contexto de sofrimento da igreja de Cristo; sofrimento que, nesta vida, todo filho fiel de Deus vai enfrentar; que toda a igreja fiel a Deus vai passar; sofrimento especialmente por causa do nome do Senhor Jesus Cristo. E no meio dos sofrimentos desta vida, Deus chama homens para nos guiar, consolar, apascentar e pastorear. Prestemos atenção no que Pedro fala no versículo um. O apóstolo fala aos presbíteros da igreja dizendo: “… eu, presbítero com eles”. Literalmente ele diz, “eu co-presbítero”. Vemos com essas palavras do apóstolo Pedro que o ofício de presbítero está ligado estritamente ao ofício de apóstolo.

Os presbíteros governam a igreja em lugar dos apóstolos, pois não existem mais apóstolos hoje em dia. Os presbíteros governam a igreja com a palavra apostólica, o testemunho dos apóstolos. Os apóstolos falam ainda hoje, testemunhando de Cristo. Os apóstolos falam por meio da palavra inspirada. Quando os presbíteros chegam em nossas casas, abrindo a palavra apostólica, dando testemunho dos sofrimentos de Jesus, então, os apóstolos falam por meio deles ainda hoje. Ser um “co-presbítero” dos apóstolos significa ser uma testemunha dos sofrimentos de Cristo. É isso que Pedro fala no verso um. Eles são testemunhas dos sofrimentos de Cristo. Isto é importante! Nos sofrimentos que passamos é necessário ouvirmos o testemunho do grande sofrimento do nosso Salvador. Assim podemos entender de onde vêm os sofrimentos pelos quais passamos. Podemos entender que somos peregrinos que sofrem e essa peregrinação dolorosa está nos levando para estarmos na glória com nosso Salvador que sofreu em nosso lugar.

Isso é um tema importante da Palavra de Deus. Em nenhum lugar ela ensina um evangelho de prosperidade, de saúde, riqueza e sem sofrimento. Ao contrário, a Bíblia nos ensina que somente por meio do sofrimento chegaremos na glória. Vemos isso em vários lugares na Bíblia. Vamos apenas apontar alguns versículos.

1 Pedro 1:11. Vemos no texto que até no Antigo Testamento os profetas (v. 10) estavam pregando sobre o Sofrimento e depois “as glórias que os seguiriam” (v. 11).

1 Pe 3:18. Esse é o tema da Palavra de Deus. Por meio da morte vem a vida, por meio da humilhação vem a glorificação, por meio da fraqueza Deus manifesta seu poder. Jesus disse que quem “perder a sua vida por amor de mim a achará”. A bíblia coloca de cabeça para baixo todos os nossos pensamentos de como conseguimos alegria e esperança, e que por meio de sofrimentos chegamos à glória.

1 Pedro 4:13. Aqui temos revelado que o aquilo que se aplicou a Cristo isso também se aplica a todo crente. A Bíblia diz à Igreja e ao crente que está sofrendo: não fique triste, fique alegre porque você está andando no caminho que Jesus já andou, pisando naquele caminho que Ele já abriu para nós. O caminho por meio do sofrimento até a glória.

Não é possível ser um verdadeiro presbítero do rebanho sem ser uma verdadeira testemunha de Cristo. Se o presbítero não está pregando pela Palavra e por sua vida, não é um verdadeiro presbítero. Se ele não está apontando Jesus e o caminho ao povo aflito e sofrido, por meio do sofrimento que leva para a glória, ele não é um verdadeiro presbítero. É necessário todo o presbítero ter condições de seguir o exemplo dos apóstolos, apontando Jesus, apontando os seus sofrimentos.

Os apóstolos eram testemunhas oculares, eles testemunhavam o que tinham visto com seus próprios olhos. Hoje em dia não existe mais homem na terra que se chame apóstolo porque não existe ninguém que tenha visto com seus próprios olhos as coisas que Deus fez através de Jesus Cristo na época em Ele que viveu neste mundo. Hoje existem os presbíteros que tomam o testemunho dos apóstolos e o repassam de geração em geração, apresentando o testemunho apostólico, a Bíblia. Mas apesar de haver essa diferença entre apóstolo e presbítero, pois os apóstolos foram testemunhas oculares, existe uma coisa em comum entre eles. Tanto o fiel apóstolo daquela época quanto o fiel presbítero hoje, ambos têm que conhecer pessoalmente o que é sofrer pelo nome de Jesus; devem saber o que é testemunhar de Cristo no meio do sofrimento; têm que saber falar desses sofrimentos; têm que saber viver no poder desses sofrimentos.

O presbítero fiel tem que conhecer intimamente o que é ter esperança na aflição, ter alegria no sofrimento, ter vida no meio da morte, para ter condições de consolar os crentes, o rebanho, e é neste contexto de peregrinação, no contexto de sofrimento que Deus mostra seu amor por sua Igreja, mostra seu amor por nós. Ele chama homens e diz-lhes: meu rebanho está no caminho, o caminho da aflição, do sofrimento, que vai para a glória, e vocês, homens de Deus, pastoreiem meu rebanho nesse caminho. Os presbíteros têm que nutrir o rebanho.

Os presbíteros são herdeiros da responsabilidade, da obrigação que Jesus pessoalmente deu a Pedro. Lembram-se de Pedro e como ele negou a Jesus? Lembram-se que depois da ressurreição, Jesus chamou Pedro e perguntou-lhe: Pedro, você me ama? Por três vezes Jesus fez esta pergunta e Pedro respondeu: Sim Senhor, tu sabes que eu te amo. Qual foi a maneira pela qual Jesus mostrou que tinha perdoado a Pedro por sua infidelidade? Ele falou as mesmas palavras que Pedro fala em nosso texto. Ele colocou sobre Pedro a responsabilidade de pastorear o seu rebanho: “Apascenta as minhas ovelhas”. Não existe honra maior para um ser humano do que receber esse privilégio de pastorear o rebanho de Jesus.

Quando Pedro fala essas palavras, “Pastoreai o rebanho de Deus” ele está dizendo: presbíteros, eu sou co-presbítero, eu recebi esse privilégio, estou passando para vocês também. Vocês compartilhem desse privilégio, dessa honra. Esse é irmãos, o contexto pelo qual Deus concede-nos presbíteros para guiar-nos.

  1. O Caminho

O caminho para esses homens desempenharem seu ofício, podemos ver no versículo 2: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente”. Paulo quer dizer que não é por obrigação. Ninguém tem que fazer o trabalho de presbítero de forma forçada. A Bíblia fala exatamente o contrário, fala de um homem que almeja o ofício de presbítero. Tem que ser alguma coisa para a qual se tem uma boa disposição. Deus quer presbíteros que desempenhem seu ofício com alegria. Não é sem razão que Pedro usa a palavra “espontaneamente”, pois literalmente significa “algo voluntário, com intenção”. Ninguém deve fazer este trabalho só porque todo mundo está chamando ou porque o pastor está “empurrando” a isso.. Não! É algo voluntário, com um propósito; alguém que está decidido e diz: quero fazer isso mesmo!

Irmãos, quando Deus vai levantar mais homens na igreja com esse propósito? Homens que estudam, que se esforçam, que se preparam, não para conseguir uma vida melhor, em primeiro lugar, mas homens que se preparam, que se esforçam, que estudam para que cresçam em santidade e conhecimento com o fim de serem usados por Deus para pastorearem o rebanho. Homens que têm o propósito de servir a Deus com seus talentos em prol do rebanho. Senhor Deus, nós precisamos, de mais presbíteros, de mais homens de Deus para guiar-nos nessa sofrida peregrinação até a glória.

Esse texto não é um texto que fala apenas aos presbíteros, ou mesmo a um novo presbítero, mas é também para todo jovem, para todo homem da congregação. Onde está seu desejo de ser usado por Deus? Onde você está colocando sua força maior? Qual a diferença entre suas prioridades na vida e a de um ímpio que mora ao seu lado?

Esta palavra também é dirigida a toda congregação, às mulheres, às crianças e aos idosos. A bíblia diz que o presbítero tem que fazer o seu trabalho de boa vontade, com determinação e propósito pessoal, e não forçadamente ou por constrangimento. Será que os crentes estão ajudando-o? Ou será que, por teimosia, tiram toda alegria dos oficiais de desempenharem seu ofício. Vocês sabem que nesse mundo existem igrejas onde os presbíteros não agüentaram mais, e, por isso não existem homens dispostos para fazer o trabalho de presbítero? Quando o homem escolhido fica lamentando porque a congregação é teimosa e lenta para crescer em novidade de vida; quando é lenta para desenvolver-se em santificação; quando os oficiais precisam visitar alguns irmãos repetidamente e dizendo a mesma coisa, fazendo as mesmas exortações, para, depois de alguns meses vê-los cair novamente no mesmo pecado, sem se esforçarem para vencer a batalha; quando o pastor ou o presbítero precisam deixar suas famílias mais uma noite para fazer nova visita e falar as mesmas palavras para uma ovelha rebelde, isso aos poucos o levará à exaustão, ao cansaço e desânimo.

Se não estamos vendo progresso, se não estamos vendo ânimo, boa vontade nas ovelhas, é cansativo e desanimador. O presbítero e o pastor também são seres humanos, não são perfeitos, podem ficar desanimados. No texto há uma responsabilidade para os membros. Se os presbíteros têm que pastorear as ovelhas, a congregação tem de segui-los. Se eles têm que ter alegria em seu trabalho, os membros devem tornar este seu trabalho alegre, agradável. Como você pode ajudar? Simplesmente abrindo os ouvidos, recebendo e seguindo as instruções e os exemplos. Deve encorajar seus pastores e presbíteros, orar por eles. O que diz a Bíblia em Hebreus 13? “Obedecei a vossos guias”, e “guias” significa não só pastor mas também presbítero, que também é pastor. Sujeitai-vos a eles porque velam por vossas almas como aqueles que haverão de dar conta delas, para que façam o trabalho com alegria, e não gemendo, porque isso não vos seria útil. Não é útil para vocês terem presbíteros cansados e desanimados, é útil para vocês terem presbíteros alegres. Isso também depende muito de cada membro.

Isso é a primeira coisa com a qual Pedro define o caminho de como desempenhar o ofício. Não por constrangimento, mas espontaneamente, com alegria de propósito.

Em segundo lugar, o verso 2 diz que o trabalho deve ser “de boa vontade”. Significa zelo, disposição. O presbítero não deve ter uma atitude como que o faz perguntar: o que tem para mim? Qual o benefício que se tem em ser presbítero? O que vou ganhar com isso? Deus nos livre de presbíteros e pastores que querem seu ofício para algum benefício próprio, seja dinheiro, reputação, honra dos homens ou qualquer outra coisa que não convém. Deus nos poupe! Jesus chama presbíteros, e também chama cada um de nós. Estamos prontos para usar os nossos dons para o bem do corpo de Cristo? A questão não deve ser: o que eu vou receber? Mas sim: o que posso dar; com o que posso contribuir? Os membros das Igrejas Reformadas conhecem a sua confissão, conhecem o domingo 21 do Catecismo de Heidelberg e o que confessam sobre a igreja de Cristo, sobre a comunhão dos santos:

P. Como você entende as palavras “a comunhão dos santos”?
R. Primeiro: entendo que todos os crente, juntos e cada um por si, têm como membros, comunhão com Cristo, o Senhor, e todos os seus ricos dons.
Segundo: que todos devem sentir-se obrigados a usar seus dons com vontade e alegria para o bem dos outros membros.

Se é isso o que Deus exige de todos nós, quanto mais dos nossos pastores e presbíteros.

Pedro continua no verso 3 dizendo que os presbíteros e pastores não devem ser dominadores, e sim exemplos, modelo do rebanho. Agora veja novamente o versículo 1: “Rogo-vos, pois, aos presbíteros que há entre vós”. Veja que ele não diz: “sobre vós”, e certamente os presbíteros estão sobre nós no sentido que eles devem nos governar; que têm responsabilidade sobre nós. A Bíblia fala isso claramente, mas aqui, Pedro não quer enfatizar esse aspecto de estar “sobre”, mas ele quer enfatizar o aspecto de eles estarem no meio do rebanho. Imagine um rebanho de ovelhas em peregrinação, um grupo de peregrinos. Os presbíteros são peregrinos também, eles fazem parte do grupo, estão no meio desse grupo que está andando naquele caminho tão sofrido que vai para a glória. Alguns têm mais conhecimento do caminho, eles têm mais experiência prática de como andar nesse caminho; têm mais entendimento sobre como chegar ao alvo, e têm a responsabilidade de guiar e orientar os demais. Mas eles fazem parte dos irmãos, do grupo. Não existem duas categorias de crentes. Não existem os clérigos e os leigos, isto é invenção católico-romana e a igreja evangélica muitas vezes está correndo atrás para imitar essas coisas. A Bíblia não fala sobre isso em hipótese alguma. A Bíblia fala que o pastor é pecador tanto quanto qualquer pecador na congregação e que também precisa da justificação do sangue de Cristo. A Bíblia ensina que o presbítero é tanto ovelha como qualquer ovelha mais nova no rebanho e que precisa ser pastoreado também; a Bíblia ensina que a igreja é uma, é um só corpo, cada membro contribuindo conforme seus dons. Há um só povo peregrino, todos com seus dons e dedicando-se a encorajar uns aos outros até que cheguemos à cidade celestial. Pedro fala que não é para os presbíteros serem dominadores. Quando Pedro fala isso, ele reconhece o que sempre tem sido uma grande tentação para qualquer líder. É uma tentação para qualquer homem estar em frente de um grupo, seja pequeno ou grande, e começar a pensar que aquilo é impressionante. Ficar impressionado consigo mesmo, esquecer de glorificar a Jesus e começar a glorificar-se a si mesmo; abusar da autoridade, abusar do poder, nós não vemos somente lá fora na sociedade, no judiciário, no legislativo, no executivo, na polícia, mas nós vemos esses pecados no meio da igreja.

Até é compreensível que lá fora, no meio dos ímpios, estas coisas existam, mas não na igreja de Cristo. Quando nós começamos a tratar a igreja e organizá-la como se fosse uma sociedade civil; quando nós imitamos o governo civil, muitas vezes por razões pragmáticas, mesmo querendo mais eficiência na igreja, acabamos imitando Roma, o Papa, e estabelecendo uma hierarquia que termina incentivando ou, pelo menos, tolerando no meio da Igreja de Cristo, líderes que são mais parecidos com executivos e empresários, ou com militares com suas patentes, do que com pastores do rebanho. Jesus nos ensinou claramente por seu exemplo, por seu falar, que na igreja não existe isso. Jesus ensinou que o estilo de liderança na igreja não é o de mandar, o de ter maior posto, mas é o de servir. O pastor é o menor, é o servo, o ministro de Deus. Irmãos, na vida militar, no meio de uma batalha, de uma guerra, existem dois tipos de líder, dois tipos de oficiais. Um tipo é o que fala a seus homens: vão! E ele segue atrás se protegendo. A outros diz: venham! Ele vai em frente, liderando, guiando, sendo um verdadeiro líder dos seus homens. Da mesma forma é isso o que Deus quer da igreja de Cristo. Não de homens que ficam empurrando e dizendo: vai lá, vai lá… Mas de homens que vão em frente, enfrentando primeiro os perigos, as dificuldades, sendo um bom exemplo, um modelo para o rebanho, não dominando, mas guiando e liderando. Essa é a forma bíblica. Não foi isso que Jesus falou? As ovelhas conhecem a voz do Bom Pastor e elas seguem-no.

Da mesma forma hoje os irmãos, as ovelhas, conhecem quando o pastor e quando o presbítero fala as palavras de Jesus. O verdadeiro crente reconhece a voz do pastor e do presbítero e segue. Não segue por causa de haver um homem dominando, mandando e abusando do seu ofício; mas ele segue porque está ouvindo palavras de vida, palavras de esperança. Hebreus treze diz que não é para os presbíteros e pastores mandarem, mas é para os oficiais, os líderes mostrarem o caminho às ovelhas. Esse estilo de liderar, de servir, não significa que o presbítero fique à mercê da congregação, fazendo qualquer coisa que a congregação deseje. Não, antes é ir na frente, dando um bom exemplo; exemplo que tem como base, não os desejos e caprichos da congregação, mas a Palavra de Deus.

Muitas vezes, aqueles que ficam batendo nas ovelhas, aqueles que ficam dizendo que não podem fazer isso, não podem fazer aquilo, eles agem assim porque não sabem como andar em frente dando o exemplo. Eles ficam atrás das ovelhas, batendo, batendo, e não sabem como andar em frente dando exemplo. São pastores legalistas que têm sérios problemas espirituais, e muitas vezes ficam batendo nas ovelhas por causa de pecados e tentações que eles mesmos estão praticando ou pelo menos no seu coração estão querendo praticar. Mas ao invés dessa atitude legalista e desse abuso de poder, Deus quer ver pastores guiando, andando em frente do rebanho, encaminhando o rebanho nos verdes pastos da palavra de Deus, da vida Cristã; devem ser de uma forma que as ovelhas possam dizer: eu quero seguir esse homem, eu quero ser como ele é, quero imitar o exemplo dele.

Irmãos, isso é muito pesado, isso é uma responsabilidade muito grande sobre os ombros de um oficial, e nós podemos nos perguntar: quem pode, de fato, agüentar essa responsabilidade o suficiente para fazer essas coisas, existe alguém assim? Existe alguém em nosso meio que acha que em tudo que faz é um bom exemplo para o rebanho? Será que tudo o que você fala, que pensa, que faz, serve como um bom exemplo para o rebanho? Existe alguém perfeito assim? Não é possível irmãos, ninguém é suficiente, nenhum pastor, nenhum presbítero é suficiente. Por isso nós precisamos daquele que Pedro fala no verso 4 que é o Supremo Pastor. Quando Jesus, que é o nosso supremo Pastor, reinar por meio de seu Espírito, quando Ele reinar na igreja, vivificar os membros, capacitar os pastores e presbíteros, então, no poder dEle nós podemos caminhar em frente na nossa peregrinação. O pastor ou o presbítero fiel têm que ter uma ligação viva e profunda com o Senhor Jesus Cristo. Esse versículo que chama os pastores à humildade, também chama cada membro da congregação de Deus, a orar fielmente por seus pastores.

Humildade é uma das coisas menos naturais para o ser humano depois da queda. Humildade é muito difícil de achar em pessoas que tem o dom de liderança. Então devemos orar constantemente para que Deus conceda humildade e santificação aos líderes da igreja. Além disso, os irmãos devem ajudar seus pastores sendo-lhes submissos (v. 5). Se os presbíteros precisam ter um bom exemplo e não dominar pela força, também precisam de que a congregação responda, reagindo de forma bíblica, sendo submissa, obedecendo sem que haja a necessidade do pastor ir atrás batendo sempre na mesma tecla. Quando olhamos o contexto vemos que os presbíteros são dons de Deus para a igreja.

  1. O Clímax

Nós ouvimos a orientação de como um presbítero deve desempenhar seu ofício. Agora, nós vamos terminar falando sobre o clímax. Clímax significa o fim de tudo, a conseqüência final, o objetivo maior, onde nós vamos chegar; o destino, o alvo final. Porque o que está acontecendo de semana em semana nos cultos, o que está acontecendo nos estudos bíblicos e na vida da igreja de Cristo, não vai continuar para sempre. A igreja não existe dessa forma para sempre. Ela tem um destino; estamos indo a algum lugar e lá vamos chegar um dia. Hoje, Jesus não está nos dando mais presbíteros na igreja para manter o status quo, mas para levar-nos à frente, para aproximar-nos mais e mais do nosso destino, porque está chegando o dia quando o Supremo Pastor, que Pedro menciona no verso 4, estará voltando. Ele vai manifestar-se, como diz o livro de Apocalipse: “Eis que venho sem demora”. Jesus está se apressando, e se Deus está dando-nos mais presbíteros hoje, é para levar-nos a encontrar Jesus na vida eterna; porque estamos viajando e somos peregrinos. Não somos desse mundo do jeito que é agora. Cada dia chegamos mais perto da nossa cidade celestial, daquele mundo sem lágrimas, sem dores, sem doenças, sem tristezas, sem morte. Hoje o Senhor Jesus Cristo está dizendo aos presbíteros: Vocês vão guiar meu rebanho no caminho que leva ao céu, e mais à frente eu vou encontrar-me com vocês. Cuide bem da minha amada igreja, cada irmão, cada irmã, pois são ovelhas preciosas pelas quais eu paguei caro com meu precioso sangue para comprar suas vidas.

Não tenhamos dúvidas sobre nosso destino. Não é apenas uma mera possibilidade que um dia cheguemos à glória, não, é algo certo! O Bom Pastor deu a própria vida por Suas ovelhas, e o dia está chegando quando vamos experimentar uma vida em perfeição, em perfeita abundância. Esse é o conforto que o nosso Supremo Pastor nos dar, porque o caminho para nós peregrinos é difícil. Neste mundo nunca podemos nos sentir completamente à vontade, completamente em casa. Somos pessoas diferentes e os outros percebem isso, ou, pelo menos deviam perceber. Elas acham que somos seres estranhos, que somos esquisitos, que somos diferentes, mas por meio do sofrimento, andamos no caminho que vai para a glória e Deus promete a todos os presbíteros fiéis que naquele dia, eles vão receber a “imarcescível coroa da glória” (v. 4). Imarcescível significa algo que não morre, que é incorruptível, que não se estraga, que não tem fim, que não tem data de validade, que não perece. É uma glória que brilha para todo sempre, para toda a eternidade, e esta glória vai coroar a labuta dos presbíteros, o seu intenso trabalho.

Mas, o que é esta coroa de glória? Será que no céu o presbítero fiel vai ter uma coroa física e brilhante? Será que poderemos ver que ele um dia foi presbítero na terra porque ele tem uma coroa na cabeça? Se nós queremos entender a Palavra de Deus, devemos entender esta Palavra à luz dela mesma. Quando abrimos a Bíblia em 1 Tessalonicenses 2:19,20, vemos a palavra “coroa” duas vezes no texto, (“Pois, quem é a nossa esperança ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em sua vinda? Não sois vós? Sim, vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria!”). A Bíblia diz em outros lugares a mesma coisa, que a igreja é a glória dos oficiais fiéis, o que isso significa? Vamos pensar sobre o oficial militar, um sargento, que tem de levar vários homens a um determinado ponto de encontro em uma hora estabelecida. Essa é a missão dele. Se chegar sozinho, mesmo que na hora certa, ele não presta, porque deixou atrás seus homens. Da mesma forma, um pastor que chega sozinho no topo da montanha onde há aqueles pastos verdejantes e atrás dele não tiver nenhuma ovelha, ele não presta, não é um bom pastor, porque cabe ao pastor fiel guiar as suas ovelhas até um lugar de descanso e de paz. E o galardão, a coroa de glória que espera todo fiel pastor do rebanho é que ele vai ver para todo sempre as ovelhas que ele correu atrás tantas vezes, que exortou tantas vezes, que visitou em noites cansativas quando deixou a sua própria família em casa; noites em que passou tanto tempo em oração em favor delas, em que derramou tantas lágrimas e investiu tantas horas e tanta energia. Chegando ao céu verá essas suas ovelhas puras, perfeitas e inimaginavelmente alegres. Essa é a glória que vai coroar o trabalho do presbítero fiel.

Eu não gosto de contar histórias em pregações porque nosso coração humano logo tende a ficar abrasado ao ouvir e gravar uma história, mas quando há uma exposição da Palavra ficamos mornos. Mas eu quero contar uma rápida ilustração dessa coroa de glória que galardoa o trabalho de um presbítero fiel. Anos atrás, na década de 70, em uma igreja reformada na Austrália, um homem no meio da igreja estava recebendo muitas exortações de um presbítero. Esse presbítero era meu pai. Ele tinha que andar de carro mais de 45 minutos para chegar na casa daquela ovelha teimosa, e, depois de anos de visitas, anos de trabalho cansativo, anos de lágrimas, de exortações, finalmente aquela ovelha foi excomungada, foi colocada fora da igreja e fora do reino dos céus porque permanecia nos seus pecados, na sua rebeldia. Isso aconteceu nos anos 70. Alguns anos atrás, meu pai voltou para a Austrália e encontrou-se na rua com esse homem. Ele agora tinha voltado para a igreja, tinha se arrependido. Ao ver meu pai, disse: Presbítero, seu esforço, suas exortações deixaram uma profunda impressão sobre mim, sobre minha consciência, mesmo durante esses anos que eu estava afastado da igreja. Agora eu lhe agradeço e agradecerei por toda a eternidade, para sempre, porque se Deus não tivesse usado a sua fidelidade como presbítero eu estaria para sempre no inferno.

Essa é a alegria, essa é a coroa de glória que Deus nos promete. Não existiria alegria maior do que chegar ao céu, estar com Jesus, e reconhecer a presença de nossas ovelhas. Quando às vezes parecer demais, quando estiver cansado com mais uma reunião, com mais uma visita, com mais um irmão ou irmã deslizando no caminho; quando você às vezes pensar que não agüenta mais, lembre-se da coroa da glória. Não é alguma coisa para você se auto-glorificar, mas é a coroa da glória, o gozo da presença das suas ovelhas, todos juntos com Jesus para sempre. Lembre-se, eu quero ver Dayvson Matheus, Paulo, Isabel, Eliasafe, Jory, Elisabete, Everton, Yolanda, Eveline e todos os demais, eu quero todos eles no céu. Essa é a glória com a qual Deus vai coroar seu trabalho. E todos nós vamos desfrutar dessa glória se os presbíteros ficarem alegres em ver-nos um dia no céu. Nós iremos glorificar a Deus porque, por meio dos nossos pastores, levou-nos até o fim da nossa peregrinação.

Uma palavra especialmente para aqueles presbíteros e pastores que não estão obedecendo às palavras de Pedro, que não estão sendo testemunha dos sofrimentos de Cristo, não estão sendo co-presbítero com os apóstolos, não estão levando a palavra apostólica à igreja; presbíteros que estão abusando e se apropriando da igreja e das ovelhas não têm essa promessa de uma coroa de glória, mas estes têm a garantia de que Jesus, ao voltar, vai dizer: Falso pastor, eu não te conheço! Nunca vos conheci!

Uma palavra para aqueles que estão correndo atrás de pastores e presbíteros falsos que não pregam Jesus Cristo. Se esses pastores não conhecem a Cristo, nem são testemunhas dos seus sofrimentos, nem estão lhes alimentando com a Palavra apostólica, eles não têm condições de levá-los pelo caminho do sofrimento que conduz à glória; o destino será outro, e se vocês estão se deixando enganar, eu lhes advirto: arrependam-se e busquem um pastor fiel, um presbítero fiel que vai levá-los até o encontro de Jesus na glória.

E agora uma palavra para todos nós que somos crentes. Estamos sofrendo? Estamos tendo dificuldades de continuar no caminho? Às vezes as tentações do mundo e o sofrimento são demais? Jesus conhece, Ele entende, Ele sabe muito bem o que é isso. Ele sabe o que é sofrer. Hoje Jesus está dando Sua resposta a todos nós. Eis aqui o presbítero, o homem de Deus que Ele manda para guiar-nos por meio do sofrimento até a glória. Estamos chegando, irmãos, a uma alegria tão profunda, que nem se compara com os sofrimentos que estamos passando agora, porque tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória que há de ser revelada em nós.

Amém.

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Kenneth Wieske

Pr. Kenneth Wieske é ministro da Palavra e dos Sacramentos das Igrejas Reformadas Canadenses. Tendo servido como missionários por mais de 15 anos nas Igrejas Reformadas do Brasil.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.