Lucas 08.22-25

Leitura: Salmo 29
Texto: Lucas 08.22-25

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

É interessante a reação das pessoas aos fenômenos da natureza, no ano passado o furacão Mathews atingiu a América Central e parte dos Estados Unidos, deixando um rastro de morte e destruição. No Haiti morreram mais de 800 pessoas, milhares de pessoas tiveram que deixar suas casas nos EUA. Tudo isso causa medo, pânico, pavor. Mas, não é de hoje que as pessoas temem e tremem diante dos fenômenos da natureza, o nosso texto é um exemplo disso, ele fala de uma tempestade que os discípulos enfrentaram juntamente com o Senhor Jesus.

Esse acontecimento é tão interessante que chamou a atenção dos três evangelistas, e chama a nossa atenção o fato de todos eles narrarem esse acontecimento seguido de outros três, exatamente na mesma sequência, todos eles mostram o domínio de Jesus, sobre a tempestade, a cura do endemoninhado, a cura da mulher com hemorragia e a ressurreição da filha de Jairo. O nosso Senhor fez diversos sinais e maravilhas, porém nenhum milagre está separado da palavra, em toda situação ele está ensinando o povo, seja na pregação seja no exemplo que ele está dando.

E em nosso texto não é diferente, embora não tenhamos aqui um sermão, no entanto, este episódio aconteceu logo após um sermão, talvez o sermão da montanha, o nosso Senhor está ensinando aos seus discípulos. Isso mostra inicialmente que o ensino não depende tanto de teoria, mais da prática, do exemplo. Muitas vezes os nossos atos falam mais alto que nossas palavras. Aqui e nas passagens seguintes mais uma vez o Senhor mostra sua autoridade sobre as forças da natureza, sobre o mundo dos demônios, sobre as enfermidades e sobre a morte.

Depois de muito trabalhar naquele lugar, Jesus pretendia pregar o evangelho na outra margem do lago, em Decápolis, um lugar onde havia dez cidades. Então, o Senhor Jesus Cristo depois de pregar naquela tarde a partir do barco, naquele mesmo barco os discípulos o levam, e Mateus diz que Jesus foi assim do mesmo jeito que estava. Cansado e exausto do trabalho do dia, o Senhor dormia sobre uma almofada na traseira do barco. Nessa situação podemos notar que Jesus é completamente humano, que se ele cansa e necessita de repouso. No entanto sua majestade divina logo haveria de ser revelada. E aqui nós aprendemos que como discípulos de Jesus, ele está conosco nas tempestades da nossa vida. Este é o tema da pregação nesta noite:

Jesus está conosco nas tempestades da vida
Veremos que:
– Nosso Senhor Jesus Cristo era homem e Deus ao mesmo tempo
– Temores e ansiedades podem invadir o coração dos discípulos de Cristo
– Quão grande é o poder de nosso Senhor Jesus Cristo
– A necessidade de o crente manter-se preparado para utilizar sempre a sua fé.

Em primeiro lugar, vemos em nosso texto que nosso Senhor era homem e Deus ao mesmo tempo.

O texto nos mostra que enquanto navegava juntamente com os seus discípulos no lago de Genesaré, “ele adormeceu”. Podemos ter certeza de que adormecer é uma das condições naturais dos seres humanos. Os anjos e os espíritos não precisam de alimentos ou descanso. Mas carne e o sangue, para manterem uma vida saudável, precisa comer, beber e dormir. Se o Senhor Jesus sentiu-se cansado e precisou de descanso, isso significa que ele deve ter possuído duas naturezas em uma só pessoa – a natureza humana e a divina.

Essa verdade que estamos considerando é consoladora e encoraja a todos os crentes. O nosso Mediador, em quem somos ordenados a confiar, tornou-se participante da carne e do sangue. O grande Sumo Sacerdote, que agora vive por nós à direita de Deus, experimentou pessoalmente as limitações do corpo humano. Sentiu fome, sede, e dores. Experimentou cansaço e procurou o repouso do sono. Por isso tenhamos liberdade em derramar perante ele nosso coração e sem reservas contar-Lhe nossas mais intimas aflições. Aquele que fez expiação por nós através da cruz pode “compadecer-se das nossas fraquezas”, como nos diz Heb. 4.15. Sentir-se cansado de trabalhar para Deus é algo pecaminoso, mas sentir-se cansado e fatigado ao fazer a obra de Deus não constitui pecado algum. Pois o próprio Senhor Jesus cansou-se e dormiu.

Em segundo lugar aprendemos aqui que temores e ansiedades podem invadir o coração do discípulo de Cristo.

O texto mostra que, sobreveio “uma tempestade no lago e correndo eles o perigo de soçobrar”, isto é, de vida. Naquele lago cercado por montanhas era comum acontecer tempestades, principalmente no final da tarde em dias quentes, onde súbitas tempestades intensas descem o morro. E ali os discípulos entram com Jesus na tempestade, eles estavam de repente na aflição, no perigo extremo, nas piores dificuldades. E o que fazem os discípulos? Primeiro Eles trabalham. Afinal são especialistas do ramo. Dirigem o barco como pessoas capacitadas que são. Eles conheciam a tempestade e o clima. Várias vezes essas tempestades já se abateram sobre eles. E agora novamente um furacão desses! As ondas se agitam às alturas. Os marinheiros recorrem a todas as forças para vencer a tempestade. Eles se empenham trabalham, controlam as velas e nada.

Isso mostra que o cristão deve trabalhar. Deve ser o trabalhador mais dedicado em sua função. Porém o que os discípulos precisam reconhecer é que o perigo é maior que suas forças, as dificuldades superam a sua capacidade. E o que eles fazem então? Ficam nervosos!! Gritam e perdem o controle. Sua maior aflição, porém é esta: O Senhor Jesus dorme, ele está em silêncio, inerte enquanto a tempestade está bradando lá fora. Isso os leva a uma agitação maior ainda. Como Jesus pode ser tão indiferente, dormindo numa dificuldade dessas? Isso é falta de amor e de consideração. É indiferença. Então talvez eles irritaram-se com ele e até mesmo ficaram irados! Esse acontecimento lembra outro lá no AT, quando Jonas estava fugindo do chamado do Senhor e ao invés de ir para Nínive desceu para Tharsis. E ele também dormia no porão enquanto veio uma forte tempestade que ameaçava o navio em que ele estava. Aqui porém, o nosso Senhor estava no cumprimento da missão e tinha poder para parar a tempestade.

Isso nos mostra que mesmo servos fiéis e no cumprimento da sua missão pode ser surpreendido por uma tempestade da vida. Problemas, enfermidades, crises, perseguições. Podem atingir o crente mais fiel. E nessa hora a atitude do crente não pode ser de desespero, porque fé não é perturbação, nervosismo, irritação, acusação, não é agitar-se nem gritar. Mas ele deve lembrar que Jesus está no barco. Ele tem o controle de tudo. Isso não significa dizer que aqueles que se desesperam em meio a luta não são crentes. O crente às vezes pode demonstrar grandes fraquezas, ou imaginar que não possuem a graça de Deus, somente porque às vezes são dominados por temores. Vejam que mesmo Pedro, Tiago e João, que conheciam o poder do Senhor estavam ali junto com os outros a gritar: “Mestre, Mestre, estamos perecendo”. Ou na versão Marcos: Mestre, Mestre não vês que perecemos.

Meus irmãos ao vermos a reação dos discípulos devemos, vigiar e orar quanto ao nosso próprio coração. As aflições da vida não são obras do acaso, se estamos com o Senhor devemos saber que ele tem um propósito em tudo. A nossa fé não pode está baseada nas circunstâncias, mas em Deus que tudo pode. Jesus sabia que aquela tempestade estava para acontecer, e ele tinha poder para livrar os discípulos da tempestade, mas aprouve a ele entrar na tempestade com eles e ali revelar o seu poder. E isso nos leva ao terceiro ponto.

Quão grande é o poder do nosso Senhor Jesus Cristo.

O texto nos mostra que após ter sido despertado pelos discípulos, durante a tempestade, Ele “repreendeu o vento e a fúria da água. Tudo cessou e veio a bonança” Sem dúvida este foi um grandioso milagre; exigiu o poder dAquele que trouxe as águas do dilúvio sobre a terra nos dias de Noé e, no devido tempo, as fez secar; Aquele que separou as águas do mar Vermelho e do rio Jordão em duas partes, fazendo um caminho para que seu povo passasse: Aquele que, por meio de um vento oriental, trouxe gafanhotos sobre o Egito e os fez retirarem-se por meio de um vento ocidental (Ex. 10.13,19). Nenhum outro poder além deste, poderia em um simples momento transformar aquela tempestade em bonança. Sendo ele homem adormeceu; sendo Deus, Ele aquietou a tempestade.

Quão abençoador e animador é saber que nosso Senhor está utilizando todo este infinito poder em favor de seu povo. Ele se comprometeu em salvar até ao fim cada membro do seu povo, e Ele é poderoso para fazê-lo. Quase sempre as provações de seu povo são muitas e árduas. O diabo nunca cessa de lutar contra eles. As autoridades deste mundo frequentemente os perseguem. E há lutas até mesmo dentro da igreja entre irmãos. Mas apesar de tudo isso o povo de Cristo jamais será abandonado por completo. Embora sejam tristemente afligidos, eles nunca serão destruídos. Ainda que sejam desprezados pelos homens, não serão lançados fora por Cristo. Em tempos de crise, os crentes precisam descansar no pensamento de que “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1Jo 4.4). Os ventos e as ondas dos problemas políticos, financeiros ou de saúde podem assalta-los com furor e toda sua esperança talvez pareça desaparecer. Mas aquele que confia em Cristo não está desamparado. O Senhor Jesus Cristo está no céu e pode fazer cessar num instante estes ventos e ondas. A verdadeira igreja da qual Cristo é o Cabeça, jamais perecerá. O glorioso Cabeça da igreja é todo poderoso e vive eternamente. Por isso, todos os membros do seu povo também viverão e, ao final, chegarão seguros ao lar celestial (Jo 14.19).

Por último aprendemos aqui, A necessidade de o crente manter-se preparado para utilizar sempre a sua fé.
Despois de acalmada a tempestade e passado os temores, o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: “Onde está a vossa fé?” Alguém poderia dizer; “qual o proveito da fé, se eles não eram capazes de crer em tempos de necessidade? Onde estava o genuíno valor da fé, se eles não estavam exercitando? Qual o benefício de crer, se os discípulos tinham de crer em seu Mestre somente quando o céu estava limpo e o sol brilhando e não em ocasiões de tempestade?”

Meus irmãos, aqui está o aprendizado prático. Ter a fé salvadora é uma coisa; ter a fé que está sempre pronta para ser utilizada é outra coisa bem diferente. Muitos recebem a Cristo como Salvador e voluntariamente entregam-lhe sua alma, confiando nEle quanto a eternidade; porém, quase sempre estes mesmos vêm sua fé em triste deficiência, quando algo inesperado acontece ou quando são repentinamente reprovados. Por isso, precisamos orar para que tenhamos uma fé tal que jamais estejamos despreparados. Precisamos viver semelhante a Moisés, vendo “aquele que é invisível” (Hb 11.27). Quando o crente vive assim, ele jamais será abalado por qualquer tempestade; pois, ele perceberá que Jesus está perto dele nas horas difíceis e verá o céu azul por trás das nuvens mais escuras. Verá que tudo está sob o controle. Jesus é aquele que tem todo poder em suas mãos.

Amém

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José Pereira Neto

Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Congregacional do Nordeste – STCN (2006). Serve à Igreja Reformada de Unaí-MG como Ministro da Palavra e dos Sacramentos. Casado com Mercia Pereira, pai  de Vanessa e Kallebe.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.