Marcos 14.32-42

Leitura: Marcos 14.12-42
Texto: Marcos 14.32-42

Amados irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Nesta noite, teremos o privilégio de nos assentarmos à mesa do Senhor, trazendo assim, à nossa lembrança o fato de que nosso Senhor Jesus Cristo entregou-se como sacrifício na cruz do calvário, para a nossa salvação. Por isso, é importante nos voltarmos para a Escritura mais uma vez e recebermos instrução sobre sua obra a nosso favor.

O texto desta noite, não trata diretamente sobre a morte de Jesus na cruz, mas nos fala de um momento específico do sofrimento de Cristo por causa de nossos pecados.

O momento em que no Getsêmani, Ele experimentou angústia, tristeza e solidão por causa de nossos pecados. Por isso, eu vos anuncio o evangelho da graça de Deus, que nos mostra que: O Senhor Jesus Cristo, experimentou em nosso lugar, o peso da ira de Deus.

Seu sofrimento;
Sua submissão.

  1. SEU SOFRIMENTO.

O que lemos aqui, aconteceu no final da noite de quinta-feira. Era a época da Páscoa, a festa judaica que relembrava a libertação do povo de Israel do Egito. Jerusalém estava cheia de peregrinos vindos de todas as partes para celebrar a Páscoa. Jesus já havia lavado os pés dos discípulos, Judas já havia se retirado do cenáculo a fim de vender Jesus para as autoridades judaicas. Jesus já havia celebrado a Páscoa com seus discípulos. E no meio daquela celebração ele havia instituído uma nova celebração, a Ceia, para relembrar a sua morte. Terminada essa celebração, depois de haver dado várias instruções, Jesus se retirou com os discípulos em direção ao Monte das Oliveiras.

Agora eles chegam, em um lugar ao pé do Monte das Oliveiras. Um jardim chamado Getsêmani, nome que significa “prensa de azeite”, portanto, devemos pressupor que havia ali instalações para a transformação de azeitonas em azeite.

Este jardim, era possivelmente um lugar cercado com uma única entrada. Um lugar reservado, silencioso, próprio para descansar, orar e meditar. Um lugar em que, conforme (Jo 18.1,2), Jesus estivera muitas vezes. Jesus e os discípulos chegaram ali quase à meia-noite. Cansados de uma semana agitada, de um dia agitado.

À entrada desse jardim, por ordem de Jesus, alguns discípulos se assentaram enquanto ele se retirou para orar. Somente três discípulos o acompanharam mais de perto neste momento especial. Os mesmos que haviam presenciado a transfiguração: Pedro, Tiago e João.

Na transfiguração eles haviam visto Jesus em Sua glória e ouvido o testemunho do Pai: “Este é o meu Filho amado; a ele ouvi”.

Mas agora, ali no Getsêmani, estes mesmos homens testemunhariam o Filho do Homem em sua humilhação. Presenciariam um momento difícil, quando nosso Salvador experimentou uma angústia terrível.

O texto nos fala que Ele começou a “sentir-se tomado de pavor e de angústia” (v. 33). Os verbos usados expressam o auge de pavor e sofrimento. O primeiro é uma forma intensificada de um verbo que pode ser traduzido por “estar assustado, espantado”. O segundo verbo, tem o sentido básico de “não sentir-se em casa, tranquilo e seguro”, por isso, ganha o sentido de “estar inquieto, assustado”.

Além disso, somos informados que sua alma estava “profundamente triste até a morte” (v. 34), expressão que reflete o que lemos no Salmo 42.5,11; 43.5 – “Por que estás abatida ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”.

Portanto, os verbos usados deixam claro que o sofrimento, a angústia, a tristeza que Jesus experimentou naquele momento nos são inimagináveis.

Não se comparam com nada que tenhamos experimentado. Nunca ninguém sentiu o que Jesus experimentou no Getsêmani. O que aconteceu ali com Jesus foi único, como os próprios tempos verbais indicam. Só Ele experimentou e uma única vez.

Mas por que esse pavor, essa angústia, essa tristeza? Será que Jesus estava com medo dos sofrimentos físicos ou da morte que o aguardava?

Para entender o que aconteceu, podemos observar as palavras de Jesus em sua oração. Lemos que Jesus deixou os três discípulos e se distanciou um pouco para orar.

Mas o que Ele pediu em oração? O texto nos diz que Ele orou e pediu para que se possível, lhe fosse poupada “aquela hora” (v. 35), e depois Ele disse: “passa de mim este cálice” (v. 36). Uma hora se aproximava e um cálice deveria ser bebido. O que Jesus experimentou no Getsêmani está então relacionado a esta hora e a este cálice. Isto é uma referência àquele momento em que Jesus teria de assumir os nossos pecados na cruz do calvário, recebendo a condenação eterna que nós merecíamos.

A hora em que Ele bebeu o cálice amargo da ira de Deus em nosso lugar.

Portanto, não foram as humilhações, as chicotadas, bofetadas, a coroa de espinhos, os pregos da cruz ou a lança do soldado romano que o deixaram assim.

Ele mesmo havia dito, conforme lemos em Lucas 12.4,5: “Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disso nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer”.

O que aconteceu foi que Jesus viu o cálice da ira de Deus lhe sendo entregue, Ele sentiu a maldição de Deus e o julgamento de Deus se aproximando. Ele começou a sentir o peso dos nossos pecados que seriam colocados sobre Ele na cruz. É como se uma onda terrível, tal como a de um Tsunami, se aproximasse dele, uma onda com todo peso do pecado do Seu povo. Uma onda com o peso da ira eterna de Deus sobre estes pecados que Ele tinha de carregar como se fossem seus.

No Getsêmani o peso dos nossos pecados começaram causar pressão sobre a natureza santa de nosso Senhor. E isto lhe causou pavor e angústia que não se pode imaginar, que não se pode descrever perfeitamente. A dor, o sofrimento, a angústia, a tristeza que Jesus experimentou foram tão grandes que conforme Lucas nos informa, o suor de Jesus caia como gotas de sangue. É como se o seu coração quisesse se partir de tanta angústia.

Enquanto Jesus agonizava no jardim, os discípulos cochilavam. Não estavam vigiando, não estavam orando. Jesus estava sozinho. Ele teve de passar por essa hora sozinho, teve de beber o cálice sozinho. Ele teve de carregar o fardo dos nossos pecados. E o fez sozinho.

Amados irmãos, Jesus agonizou no Getsêmani, agonizou por causa de nossos pecados. Ele sofreu aquilo que nós deveríamos sofrer por causa dos nossos pecados. Nas palavras de 2 Co 5.21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.

Portanto, amados irmãos temos de pensar um pouco sobre o que causou este sofrimento em nosso Salvador. Foram nossos pecados, a culpa e a condenação de nossos pecados recaíram sobre Ele trazendo pavor, angústia e tristeza profunda sobre sua alma santa.

Foram nossas palavras de difamação, foram nossas mentiras, foi nossa imoralidade, foi nosso orgulho, foram nossas ausências ao culto desprezando a Palavra e os sacramentos, foi nossa ingratidão, nossa falta de contentamento, nossa insubmissão aos pais, ao governo e aos presbíteros da igreja, nossa inveja, nossa falta de amor, nossas obras malignas; enfim, foram nossos pecados contra Deus e o próximo que trouxeram essa profunda tristeza à alma de nosso Salvador, foram nossos pecados que lhe causaram pavor e angústia.

Então não temos de imaginar que o pecado seja uma coisa insignificante, sem consequências quando nosso texto aponta para a malignidade e miséria do pecado.

O sofrimento de Jesus no Getsêmani, nos lembra o quanto o pecado é terrível e que seu salário é angústia, a dor e a morte.

Então, isso nos leva a seguinte consideração: antes de nos aproximarmos da Mesa do Senhor como faremos nesta noite, precisamos examinar a nossa própria vida. Ver como estão nossos caminhos. Ver se aborrecemos o pecado que tanto sofrimento causou ao nosso Senhor.

Não devemos fingir que não temos pecados, pelo contrário devemos realizar um exame sincero de nossas palavras, de nossas atitudes para com Deus e para com o próximo, nossas motivações, nossos desejos, nossa mordomia e no que consiste nossa alegria.

Lembrando das palavras usadas na forma para a celebração da Santa Ceia: “Cada um deve ter consciência dos seus pecados e da maldição de Deus para se detestar e se humilhar perante Deus, porque a ira dEle contra o pecado é muito grande”.

Então amados irmãos, eis o que cada um de nós que irá assentar-se à Mesa do Senhor nesta noite deve fazer. Parar, meditar e examinar com muita atenção seu próprio coração, identificando pecados específicos, humilhando-se diante de Deus, pedindo-lhe perdão, recorrendo à Sua graça.

Não podemos nos achegar à Mesa do Senhor como se não houvesse pecado, ou como se não houvesse necessidade de auto-exame. Temos de nos lembrar das palavras de 1 Co 11.28-29, que diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”

Mas nosso texto aponta não somente para a malignidade dos nossos pecados e o sofrimento que eles causaram a Cristo, mas também enche de alegria e confiança o coração daqueles que reconhecendo seus pecados, e para usar mais uma vez nossa forma litúrgica, confiam “na promessa fiel de Deus, de que todos os seus pecados são perdoados somente por causa do sofrimento e da morte de Jesus Cristo”.

Se você realmente possui esta confiança, então, quando estiver participando da Ceia do Senhor nesta noite, você saberá que nunca experimentará a dor, o terror, o sofrimento, a angústia e tristeza que Jesus experimentou em seu lugar. Se você realmente possui esta confiança, sabe que nunca provará do cálice da ira eterna de Deus, nunca mais será desamparado. Se você realmente possui esta confiança sabe que Jesus já passou por tudo isso em seu lugar.

Pense sobre isso, você nunca saberá o peso real de seus pecados, o terror da maldição, o peso do julgamento ou o significado do inferno, pois Jesus, já os experimentou em seu lugar. Esta é a boa notícia do evangelho da graça de Deus.

Então não há tristeza, não há dor, não há solidão, não há angústia que se compare ao que Jesus experimentou. Nada que passamos nesta vida se compara ao que Jesus experimentou em nosso lugar. E por causa dele temos esperança de que um dia, quando Ele voltar enxugará de nossos olhos toda lágrima.

Então temos motivos para viver com gratidão e com submissão à vontade de Deus. Sabendo que o próprio Jesus nos mostrou o caminho para os de coração aflito.

  1. SUA SUBMISSÃO.

Em meio a toda esta angústia experimentada por Cristo, o que Ele fez? A resposta é: Ele orou. Ele se humilhou em oração, colocando seu joelho e rosto no chão em atitude de completa submissão a Deus. Ele mostrou sua dependência ao Pai como o fez durante toda sua vida. E podemos aprender muitas coisas em sua oração.

Em primeiro lugar podemos notar a relação íntima entre Jesus e o Pai. Ele se dirigiu a Deus de uma maneira que nenhum judeu ousaria fazer. Ele clamou: “Aba Pai” Ou seja, Ele se dirigiu a Deus usando termos que uma criança usaria em relação a seu pai. E é interessante notar que na transfiguração o Pai disse: “este é Meu Filho amado”, agora no Getsêmani o Filho diz: “Aba, Pai”. E agora, por causa da obra de Jesus a nosso favor, sabemos que podemos nos dirigir a Deus, da mesma forma. Podemos dizer: “Pai nosso, que estás no céu”.

Podemos notar também, que sua oração, foi a oração de um aflito. Mas não foi uma luta contra a vontade do Pai. Não foi uma oração cheia de orgulho como a oração de muitos daqueles que querem dizer a Deus o que fazer.

Jesus orou reconhecendo o poder do Pai, Ele disse: “tudo te é possível” (v. 36). Por isso, orou, para que se possível lhe fosse poupada aquela hora, para que se possível passasse dele aquele cálice.

E mais, em sua oração Jesus submeteu-se à vontade Soberana do Pai, Ele disse: “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”.

Olhamos para Jesus no Getsêmani, em seu sofrimento, angústia e tristeza profunda, e o vemos buscando ao Pai em oração. Mas em contraste a isso, os discípulos dormiram. Jesus lhes havia pedido que vigiassem e orassem, mas os encontrou dormindo. E por isso, eles foram repreendidos, especialmente Pedro que dissera estar pronto a morrer por Ele, e agora não conseguia nem ficar de olhos abertos.

Jesus lhes advertiu que vigiassem e orassem para não entrar em tentação. Pois “o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (v. 38). Ou seja, os discípulos tinham ânimo em seu espírito, mas tinham limitações físicas e emocionais. Por causa de sua fraqueza eles deveriam vigiar e orar. Mas eles pela segunda e terceira vez eles foram encontrados dormindo. Era tarde da noite, e eles foram vencidos pelo cansaço e tristeza de tal maneira que na terceira vez eles ouviram Jesus mas se quer conseguiram reagir.

Por fim, Jesus disse “basta”, indicando com essa palavra uma mudança de situação. Judas e um grupo de soldados se aproxima para prendê-lo. Jesus lhes sai ao encontro, sem temor entrega-se aos pecadores. Ciente do que lhe aguardava.

Conforme o Espírito Santo diz em Hebreus 5.7: “Jesus, tendo oferecido com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte foi ouvido por causa da sua piedade”. Notem: “ele foi ouvido”. Ele pediu para que a vontade do Pai fosse cumprida, e ela foi cumprida.

Pela vontade do Pai, Jesus padeceu sob o poder de Poncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno; mas ressurgiu ao terceiro dia.

Amados irmãos, nosso Senhor nos mostra o que devemos fazer quando nossa alma está perturbada, quando a angústia cai sobre nós. Devemos nos humilhar diante de Deus, reconhecendo Seu poder, e submetendo-nos à Sua vontade. Em Tiago 5.13a, lemos: “Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração”.

Não há outro caminho se não submissão à vontade de Deus. Por isso, precisamos entender que a oração não visa mudar a vontade de Deus, mas submeter a nossa vontade, à vontade de Deus.

O objetivo da oração não é mover a mão de Deus, mas mover o nosso coração, a fim de torná-lo mais submisso, mais dependente e confiante em Deus. Orar é pedir para que a vontade de Deus se cumpra em nossa vida.

Este é o caminho, mas sabemos de nossas fraquezas e limitações. Sabemos que muitas vezes somos como os discípulos no jardim. Quando deveríamos vigiar e orar, dormimos.

Precisamos reconhecer isso. Então enxergando nossas limitações, temos de procurar viver em atitude de dependência do Pai, submetendo-nos a Ele todos os dias de nossas vidas.

Não podemos nos manter de pé. Somos fracos, frágeis, limitados, insuficientes. Então cientes disso, na medida em que nos aproximamos da Mesa do Senhor nesta noite, para comermos do pão e bebermos do cálice, mais uma vez ouvimos pela Palavra e pelo sacramento que Ele nos ama, e que “Com o seu corpo e sangue Ele alimenta e sacia para a vida eterna as nossas almas famintas e sedentas”.

Portanto, amados irmãos, nesta noite, devemos unir nossas vozes em louvor ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que sofreu em nosso lugar, que garantiu com seu sofrimento e morte o perdão completo de todos os nossos pecados.

E que nos ensinou o caminho de submissão à vontade do Pai e que por sua graça nos alimenta e sustenta para a vida eterna.

Amados irmãos que graça, que amor! Cristo sofreu em nosso lugar, Ele bebeu completamente o cálice da ira de Deus. Ele foi afligido por causa de nossos pecados. Estamos livres, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.

E se olhamos para nossas fraquezas, se percebemos nossas limitações, sabemos como devemos viver, pois Ele nos mostrou o caminho. De submissão à vontade do Pai. E é Ele mesmo quem nos sustenta. Portanto, que grande consolo temos no evangelho, que boa notícia. Em Cristo temos perdão, em Cristo somos sustentados até o dia final.

A Ele pois a glória, a honra e o louvor, pelos séculos dos séculos.

AMÉM.

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elienai batistsa

Elienai Batista

O Pastor Elienai Batista está servido como ministro da Palavra desde dezembro de 1998. Até o momento, pela graça de Deus, ele tem contribuído para a plantação de três igrejas reformadas: Igreja Reformada em Cabo Frio-RJ (2001-2013); Igreja Reformada do IPSEP, Recife-PE (2013-2016); Igreja Reformada em Paulista-PE (2016-2019). Atualmente possue um trabalho missionário na cidade de Campinas-SP.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.