Hebreus 3.7-19

Leitura: Salmo 95.7-11
Texto: Hebreus 3.7-19

AMBIENTE

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

Às vezes nós cantamos na igreja sem prestar atenção nas letras dos cânticos. Já estamos tão acostumados que nem percebemos a mensagem do salmo ou do hino. Pelo que tudo indica, os primeiros leitores da Carta aos Hebreus também faziam isso. Eles cantavam, por exemplo, o Salmo 95 e não percebiam o que estavam cantando. O Salmo 95 foi bastante usado na liturgia do templo, da sinagoga e da igreja primitiva. E assim também é hoje. Vocês já devem ter percebido que este salmo é um daqueles textos bíblicos que são lidos no início dos nossos cultos como uma chamada à adoração.

Então, aproveitando que aqueles irmãos cantavam salmos na igreja, o escritor de Hebreus abre o livro de Salmos diante deles e lhes aponta justamente o Salmo 95. Ele coloca o Salmo 95 diante deles como se fosse uma grande placa de aviso. Com este salmo nas mãos, ele faz mais uma comparação entre a antiga e a nova aliança. Ele colocou lado a lado as igrejas da antiga e da nova aliança. Ao fazer isto, ele mostrou que aquilo que aconteceu no deserto também acontece hoje. Por isso, as palavras do salmo 95 são muito importantes para a igreja de todos os tempos e lugares.

MENSAGEM

Como vocês puderam ver, o texto de Hebreus que lemos agora há pouco está intimamente ligado à mensagem do Salmo 95. Por isso, para entendermos o texto de hoje, nós precisamos pensar um pouco no Salmo 95. Este salmo é muito bonito e contém uma séria advertência contra o povo de Deus. Ele lembra do que aconteceu no passado, particularmente, com a igreja que saiu do Egito. Aquela igreja deveria entrar logo na terra prometida, mas, por causa da sua incredulidade e da sua desobediência, ela foi condenada a vagar 40 anos pelo deserto. Do primeiro ano ao quadragésimo ano, o povo testou a paciência de Deus. Porém, mesmo assim, Deus foi misericordioso com a sua igreja e não a destruiu totalmente.

Durante 40 anos, aqueles irmãos puderam ver as obras de Deus a favor deles. À noite eles foram abençoados com uma coluna de fogo que iluminava o acampamento da igreja. A coluna de fogo também aquecia os irmãos nas noites frias do deserto. Quando era dia, eles eram protegidos por uma nuvem contra os raios do sol. Manhã após manhã, eles recebiam o maná que vinha lá dos céus. Para matar a sede deles, Deus fez brotar água da rocha. Até mesmo as roupas e as sandálias deles foram conservados por Deus  (Dt 29.5)

Contudo, apesar de todo o cuidado de Deus, eles foram continuamente desobedientes. O Salmo 95 cita duas palavras que tratam de dois momentos em que o povo se rebelou contra Deus. As palavras são: MASSÁ e MERIBÁ. Estas palavras podem ser traduzidas como PROVOCAÇÃO e TENTAÇÃO. É assim que elas aparecem na citação feita pelo escritor de Hebreus. Ele fez isso, porque ele usou uma velha tradução do AT na língua grega.

Como eu disse antes, Massá e Meribá lembram de dois momentos de rebelião da igreja contra Deus. O primeiro deles aconteceu no início da caminhada na saída do Egito, e está registrado em Êxodo 17.1-17. Naquela ocasião, o povo reclamou por causa da falta d’água. Eles não tiveram paciência e tentaram ao Senhor, dizendo: “Está o SENHOR no meio de nós ou não?”. Diante do pecado do povo, Moisés chamou o nome daquele lugar de Massá e Meribá. O segundo momento de rebeldia foi perto do final dos 40 anos. Isto está registrado em Números 20.2-13. Mais uma vez, o motivo também foi por causa da falta d’água.

Diante deste novo episódio de desobediência da igreja, Moisés também chamou aquele lugar de Meribá. Portanto, Massá e Meribá se referem a dois momentos em que a igreja se revoltou contra Deus. Mas, é bom lembrarmos que estes dois momentos funcionam apenas como exemplos do que eles fizeram, pois eles pecaram por diversas vezes (Nm 14.22). Para ser mais preciso, basta dizer que eles viveram em rebeldia durante 40 anos.

Para deixar isso bem claro, o autor de Hebreus fez a seguinte pergunta: “E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto?”. Deus ficou muito irado contra aquela igreja. Deus disse que sempre eles estavam sendo desviados e enganados por seus próprios corações. Eles possuíam um coração criminoso, um coração cheio de incredulidade, um coração que os afastava do Deus vivo. Apesar de ouvirem as palavras ensinadas por Moisés, eles não conheciam os caminhos de Deus.

Eles foram rebeldes. Eles foram infiéis. Eles provocaram a paciência de Deus. Paulo disse que eles cobiçaram as coisas más, que eles foram idólatras, que eles praticaram imoralidades, e que eles se queixaram de Deus (1 Co 10.7-10). E no momento em que Deus falou com eles, eles endureceram seus corações. Foi por isso que a indignação de Deus foi tão grande.

E quando Deus estava irado contra aquele povo, Ele fez um juramento solene dizendo: “JAMAIS entrarão no meu lugar de descanso”. Por causa deste juramento, os adultos da igreja não puderam entrar na terra prometida. Somente os jovens menores de 20 anos puderam entrar na terra prometida. Da antiga geração, apenas Josué e Calebe puderam entrar. O restante da igreja morreu no deserto.

Irmãos, a terra prometida era um verdadeiro lugar de descanso. Lá eles não precisavam viver como ciganos, viajando o tempo todo pra lá e pra cá, arrumando e desarrumando as malas e as barracas. Na terra prometida, o lugar de descanso, eles teriam uma moradia certa, uma habitação permanente e segura. Mas, por causa da desobediência e da incredulidade deles, eles não puderam entrar no descanso de Deus.

Era isso que o autor de Hebreus queria lembrar à igreja da sua época. O perigo da igreja de ontem é o mesmo perigo da igreja de hoje. O pecado de ontem pode ser o mesmo pecado de hoje. O coração endurecido do passado pode ser o mesmo coração endurecido do presente. Se a igreja do deserto não deu ouvidos à voz de Deus, a igreja dos tempos apostólicos também poderia fechar seus ouvidos para a Palavra de Deus. Deus estava falando constantemente com eles pelo Salmo 95. Mas não somente por este salmo. Deus falava com eles por toda a Escritura. E naquele momento, Deus estava falando com eles por meio de uma carta.

Observem o seguinte: Se a igreja do deserto passou por um teste de fidelidade durante 40 anos, então eles também deveriam abrir seus olhos para enxergar que a situação deles era a mesma. Isto é, eles também estavam vivendo num período de prova (num período de teste) antes de entrarem no descanso de Deus. O descanso de Deus agora não era mais a Canaã terrestre. O descanso de Deus que eles estavam buscando era a Canaã celestial. Se muitas pessoas que faziam parte da congregação do deserto não conseguiram entrar no descanso de Deus, isso indica que muitos daqueles que estão nas congregações da nova aliança também não vão entrar no descanso de Deus por causa da desobediência e da incredulidade.

O aviso tinha sido dado a eles: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até o fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação”.

Este aviso era muito importante para eles, pois muitos daqueles irmãos estavam em perigo de se afastarem de Deus. Pois, assim como na congregação do deserto, muitas igrejas da nova aliança também abrigavam pessoas que ainda não eram crentes. Por um lado, o aviso ajudaria os fiéis a permanecerem firmes. Por outro lado, o aviso seria um chamado celestial que convocava os descrentes dentro da igreja ao arrependimento e à fé. Desta forma, de um modo geral, todos da igreja foram exortados a terem cuidado para não serem conquistados pelo engano do pecado.

O pecado é um inimigo que age na surdina e ameaça a todos. O pecado atua sorrateiramente dentro das pessoas a fim de fazer com que elas troquem a verdade de Deus pela mentira. O pecado se apresenta ao homem como algo muito atrativo e desejável. O pecado é extremamente perigoso, e ele está sempre tentando envolver os cristãos. O engano do pecado pode endurecer um coração a ponto do mesmo não dar mais ouvidos à voz de Deus. Este perigo rondava a vida de todos aqueles irmãos. E nesta luta eles deviam examinar a si mesmos para ver se já estavam endurecidos.

E depois de consertarem as suas vidas, eles deveriam ajudar os demais irmãos com exortações mútuas. As palavras; “exortai-vos mutuamente” também podem ser traduzidas pelas seguintes palavras: “convidai-vos mutuamente”; ou “admoestai-vos mutuamente”; ou “consolai-vos mutuamente”. Estes vários significados mostram que todos os cristãos têm o dever de avisar os outros do perigo em que se encontram; tem o dever de convidar os demais ao arrependimento; e tem o dever de confortar aqueles que estão enfrentando lutas pessoais. E isso não deve ser feito somente uma vez na vida. O certo é fazer isso diariamente, como disse o escritor de Hebreus.

Todos juntos deviam lembrar que eles eram participantes de Cristo. Por meio da união deles com Jesus Cristo, eles participavam de todas as bênçãos da salvação. No caminho até a Canaã Celestial, eles deviam confiar no Sumo Pastor até o fim. Jesus é o Bom Pastor que guia suas ovelhas até a cidade celestial. Jesus é o Capitão da salvação deles. E este Capitão vai à frente para defendê-los.

Cabe às ovelhas de Cristo ouvir a sua voz quando ele fala. Deixar de ouvir a voz de Cristo é o mesmo que virar as costas para ele. Foi isso que muitos fizeram no deserto. E é isso que muitos estavam a ponto de fazer naqueles dias.

ATUALIZAÇÃO

Irmãos, eu creio que todos vocês já perceberam que tudo isso se aplica a nós. A verdade de ontem é a verdade de hoje. Nós também estamos a caminho do descanso de Deus. Nosso destino é a cidade celestial. Nosso alvo na caminhada é entrar no descanso eterno dos justos. Jesus também está à nossa frente, guiando este rebanho. Aqui e acolá temos passado por provas enviadas por Deus. Até agora, pela graça de Deus, todos nós estamos de pé. E devemos continuar assim. Mas para isso é preciso prestar atenção nas palavras de Paulo quando ele disse (1Co 10.12): “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia”.

Nós também devemos examinar o nosso coração. Nós também devemos ver se estamos sendo enganados pelo pecado. Nós precisamos perguntar a nós mesmos assim: “Quando eu ouço a voz de Deus, durante as pregações, será que eu tenho endurecido meu coração? Será que eu tenho sido rebelde contra Deus não me importando com os avisos que tenho ouvido a cada domingo? Será que tenho sido desobediente e não tenho dado a devida importância ao meu compromisso com Cristo?”.

Estas perguntas devem passar pela cabeça de todos vocês. Lembrem-se que Deus ficou irado contra a igreja do deserto e não permitiu que eles entrassem no seu descanso. Vocês ouviram que o aviso dado ao povo do Antigo Testamento também se aplica ao povo do Novo Testamento: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, com foi na provocação”.

No deserto o povo reclamou diversas vezes. Nós vimos que as palavras Massá e Meribá lembram daqueles momentos tristes em que o povo reclamou por causa da falta d’água. Hoje em dia, nós podemos reclamar de muitas coisas. Podemos reclamar da falta de comida, da falta de saúde, da falta de roupas e sapatos, da falta de dinheiro, da falta de emprego, da falta de uma casa, da falta de um carro, da falta de um esposo ou de uma esposa e etc. Há tantas outras coisas que as pessoas sentem falta, que não é possível enumerá-las aqui. Essas coisas que podem estar faltando em nossas vidas – ou que podem vir a faltar – lembram a todos nós que Deus está testando a nossa fidelidade para com ele.

Falando daquilo que aconteceu no deserto, Moisés disse o seguinte: “Lembrem-se de como o SENHOR, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhes que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do SENHOR.” (Dt 8.2-3).

Portanto, irmãos, nós devemos ter cuidado para não repetir os mesmos erros dos nossos irmãos do passado. Lembrem-se daqueles maus exemplos para não imitá-los. Permaneçam firmes. Sejam fiéis até o fim.

Cada um de vocês deve aprender a viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade (Fl 4.12). E vocês jamais devem esquecer de que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.

Amém.

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Laylton Coelho

É Bacharel em Direito pela UEPB, e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Congregacional de Campina Grande-PB (STEC). Serviu inicialmente como ministro da Palavra na Igreja Batista durante cinco anos na Paraíba. Foi pastor na Igreja Reformada do Brasil em Esperança-PB, e atualmente é ministro da Palavra na Igreja Reformada do Brasil no IPSEP (Recife-PE). 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.