Leitura: Hebreus 3.1-6
Texto: Hebreus 3.1-6
AMBIENTE
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
Nós chegamos ao capítulo 3 da carta aos Hebreus. No último sermão baseado nesta carta, nós ouvimos que o homem não consegue mais vivenciar plenamente aquilo que está escrito sobre ele no Salmo 8. Ou seja, o homem não consegue ter um domínio completo sobre a criação, tal como Adão tinha antes da queda. Depois que o ser humano caiu em pecado, ele tem bastante dificuldade de exercer o mandato de dominar sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra (Gn 1.26).
No entanto, a Bíblia fala da restauração de todas as coisas. A Bíblia fala de um novo céu e de uma nova terra. E para que o ser humano possa desfrutar deste mundo que há de vir, é preciso que ele seja salvo. O homem precisa de salvação para desfrutar do mundo vindouro. Foi para isso que o nosso Senhor Jesus Cristo veio a este mundo. Ele veio para resgatar o que se havia perdido. Jesus foi enviado pelo Pai a este mundo a fim de socorrer a descendência de Abraão.
E para que ele socorresse os filhos de Abraão, era preciso que ele assumisse a natureza dos filhos de Abraão. Era preciso que ele se tornasse homem. E foi isso que aconteceu. Ele realmente participou da carne e do sangue como todos os demais seres humanos. Ele foi enviado pelo Pai e se tornou homem, assumindo todas as características humanas, porém sem pecado. Nós ouvimos no último sermão que o objetivo de Jesus Cristo foi conduzir seus irmãos, os filhos de Deus, à glória. E por ele ter sido enviado pelo Pai, ele é o maior de todos os enviados. Ele é o maior de todos os apóstolos, pois a palavra apóstolo significa enviado. Por isso, ele é o Supremo Apóstolo.
Mas, além de ser o Supremo Apóstolo, no capítulo dois, o autor de Hebreus também mostrou que Jesus é o Sumo Sacerdote. E como Sumo Sacerdote, isto é, como chefe dos sacerdotes, Jesus foi enviado a este mundo não somente para viver como mais um dentre os homens. Ele foi enviado com uma missão muito importante: Ele veio para oferecer um grande sacrifício. Como chefe dos sacerdotes, ele devia oferecer sacrifício a Deus. E foi isso que ele fez. Ele ofereceu a si mesmo como o maior de todos os sacrifícios. E, desta forma, ele purificou os filhos de Deus com o seu sangue, libertando-os do domínio do diabo, do pavor da morte e da escravidão pecado.
Portanto, irmãos, no capítulo dois de Hebreus, nós aprendemos que Jesus é o maior de todos os enviados – o maior de todos os apóstolos – e ele é também o maior de todos os sacerdotes. É neste contexto que nós entendemos as palavras iniciais do capítulo 3 de Hebreus, que diz: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote na nossa confissão, Jesus”. E para reforçar ainda mais o entendimento dos seus leitores, o autor de Hebreus fez mais uma comparação entre a antiga e a nova aliança: Uma comparação entre Jesus e Moisés.
MENSAGEM
O texto de hoje mostra claramente que a intenção do autor de Hebreus é fazer uma comparação entre Jesus e Moisés. E, ao fazer isso, ele pisou num terreno bastante melindroso: Ele falou sobre Moisés. Moisés é uma figura muito respeitada entre os judeus. Os judeus pensavam que ninguém era maior do que Moisés, e isso por causa do estreito relacionamento entre aquele homem e Deus. Desta forma, os judeus que leram esta carta poderiam até ficar ofendidos se, de algum modo, o escritor ultrajasse a memória de Moisés.
No entanto, irmãos, essa não era a intenção do escritor de Hebreus. Ele não pretendia desmerecer a pessoa de Moisés. O que ele desejava era mostrar que, apesar de Moisés ter sido tão importante, ainda assim, ele não é superior a Jesus Cristo. Moisés teve um importante papel neste mundo. Mas, a tarefa realizada por Jesus foi muito mais importante do que a tarefa de Moisés.
E para evitar qualquer mal-entendido, o autor de Hebreus fez questão de afirmar, logo de início, que Jesus é fiel ao seu Pai, assim como Moisés também foi. Ao dizer isto, ele mostrou uma certa igualdade entre Jesus e Moisés. Apesar dos pecados de Moisés, o escritor de Hebreus disse que Jesus é fiel àquele que o designou, assim como Moisés também foi. Tanto um como o outro, ambos foram fiéis na missão que eles receberam para atuarem no meio da casa de Deus.
Quando o autor de Hebreus usou a expressão: “em toda casa de Deus”, ele estava se referindo a todo o povo de Deus. A palavra “casa” não está sendo usada aqui no sentido de família, mas no sentido de um prédio residencial, pois o verbo “estabelecer”, que aparece no versículo 3, significa “construir, mobiliar, equipar” alguma coisa. E, como sabemos, todo prédio residencial é estabelecido por alguém. Então, além de Deus ter construído todo o universo, também foi Deus quem edificou o seu próprio povo. A igreja de Deus é uma verdadeira casa espiritual formada de pedras que vivem.
Ao usar a figura de uma casa para se referir ao povo de Deus, o escritor utilizou uma imagem muito fácil de ser entendida pelas pessoas. Ao falar de casa, ele fez uma diferenciação muito importante para mostrar a superioridade de Jesus Cristo sobre Moisés. O escritor disse que mais importante do que a casa é o construtor da casa. Mais importante do que a casa é aquele que a estabeleceu e a equipou.
Moisés foi importante sim. Moisés foi usado por Deus para libertar a sua igreja do Egito; ele foi essencial para transmitir as palavras da aliança ao seu povo; e para que o tabernáculo fosse construído, e assim o Senhor pudesse habitar no meio da sua igreja. Deus colocou Moisés como um mediador entre Ele e o seu povo. O Senhor fez com que Moisés pastoreasse a sua igreja no deserto durante 40 anos.
O autor de Hebreus disse que “Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas”. O que ele queria dizer era que o ministério de Moisés apontava para o futuro, para a vinda de Jesus Cristo. As exigências da Lei de Moisés e os sacrifícios da Lei Moisés anunciavam a pessoa e a obra de Cristo. Por tudo isso, Moisés foi importante no meio da casa de Deus.
Todavia, ainda assim, ainda que tenha feito tantas coisas importantes, Moisés era somente um servo de Deus. Ele era apenas um mordomo na casa de Deus. Ele mesmo também fazia parte da casa de Deus. Ou seja, ele fazia parte da igreja de Deus.
Agora, quando olhamos para Jesus, nós enxergamos nele muito mais que um simples servo. Ele é o próprio Filho de Deus. E por isso ele está sobre a igreja. Ele está acima de qualquer nome dado entre os homens. Isso é assim porque ele é co-criador junto com o Pai e com o Espírito. Por meio de Jesus Cristo, o universo veio a existir. Ele é quem sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder.
Além do universo, a igreja de Deus também foi edificada por Jesus Cristo, e ainda hoje é sustentada por ele. A casa de Deus é completamente dependente daquilo que Jesus fez e que faz até hoje. Lembrem-se de que a obra de Cristo não se limitou a um determinado período aqui na terra. Após vir a este mundo para sofrer e morrer pelos pecados do seu povo, Jesus subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. Ele ainda está agindo em benefício da casa de Deus. A obra de Jesus Cristo não foi uma obra provisória e temporária como a de Moisés. A obra de Jesus Cristo é eterna. Moisés guiou o povo de Deus por um certo tempo, e depois morreu, mas Jesus continua guiando o povo de Deus até hoje.
Portanto, irmãos, se Jesus Cristo é aquele que estabeleceu a casa de Deus, então ele deve receber maior honra do que Moisés. Jesus é o construtor, e Moisés é apenas um servo que faz parte da casa. Além de ser aquele que edificou a casa, Cristo também é aquele que veio para ser o redentor desse prédio espiritual que foi estragado pelo pecado.
Por tudo isso, aqueles irmãos, os primeiros leitores da carta, deviam começar a considerar atentamente para o Apóstolo e Sumo Sacerdote da confissão deles. Se eles tinham alta estima por Moisés, muito mais ainda deviam ter por Cristo. Moisés era apenas um servo, e Jesus Cristo é o Filho de Deus. E por isso mesmo ele é Deus. E se eles confessavam a Cristo como Apóstolo e Sumo sacerdote, então eles deveriam afugentar todo o medo, toda a insegurança e toda dúvida que existiam em seus corações.
Eles deviam parar de olhar para trás. Não pensar de modo nenhum em voltar para Moisés, isto é, em voltar para as sombras da Lei de Moisés. Eles precisavam compreender que a antiga aliança, com seus rituais e símbolos, já cumpriu o seu papel de levá-los até Cristo.
Como casa espiritual, eles deveriam ser ousados em abraçar a sua confissão no Messias. Eles deviam estar dispostos a enfrentar qualquer barreira por amor a Cristo. Cabia a eles enfrentar a oposição de seus compatriotas, que os pressionavam a negar a nova aliança e voltar ao antigo judaísmo. Eles deviam guardar firme, até o fim, a alegria da esperança que eles tinham recebido em Cristo.
ATUALIZAÇÃO
Uma vez que nós entendemos a mensagem do texto de Hebreus, agora devemos pensar um pouco em como ele se aplica a nós:
Em primeiro lugar, o texto de Hebreus desperta ainda mais a nossa atenção para a maravilhosa posição de honra e de glória que ocupa o nosso Salvador.
O Senhor Jesus Cristo está acima de qualquer outro ser humano que já existiu, que existe ou que existirá. Nós sabemos que, além de Moisés, Deus também levantou outros homens para guiar seus filhos aqui na terra. Todos eles tiveram um papel muito importante no meio do povo de Deus. Mas, todos eles devem ser vistos apenas como simples servos na casa do Senhor.
Isso significa que nenhum desses homens deve ser elogiado além da conta. Nenhum deles pode ser comparado a Jesus Cristo em termos de igualdade. Somente Jesus é sobre todos. Isso igualmente significa que é errado colocar qualquer outra criatura ao lado de Jesus Cristo. Por exemplo, é errado dizer que o papa, o bispo de Roma, é o chefe da igreja de Jesus Cristo aqui na terra. É errado dizer que ele é o “pastor e doutor supremo de todos os fiéis” (Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 891).
Irmãos, somente o Senhor Jesus Cristo é o Supremo Pastor da igreja. Também é pecado confiar nos santos e nos anjos, como se eles pudessem fazer a mesma coisa que Jesus faz pelo seu povo. Confiar nos santos e nos anjos é o mesmo que colocá-los em pé de igualdade ao lado de Jesus Cristo. Ninguém deve ser elevado à dignidade de Jesus Cristo.
Em segundo lugar, vocês perceberam como foi que o escritor de Hebreus se referiu aos leitores da sua carta? Ele os chamou de:
– Santos Irmãos
– Participantes da Vocação Celestial
– Casa de Deus
Meus irmãos, essas palavras não se aplicam somente a eles. Estas palavras também se aplicam a vocês. Vocês também são santos, isto é, vocês são pessoas separadas por Deus e para Deus. Vocês pertencem ao Senhor. E, assim como aqueles cristãos eram irmãos de todos os filhos de Deus da antiga aliança, vocês também são irmãos de todos os filhos de Deus de todos os tempos. Vocês são irmãos dos antigos profetas, dos apóstolos, dos mártires e dos confessores. Vocês são os santos irmãos do Senhor Jesus Cristo!
Além disso, vocês também são participantes do chamado que vem lá dos céus. Deus chamou vocês para crerem de todo o coração no Senhor Jesus Cristo. E por causa disso, vocês são a Casa de Deus. Vocês são o Templo do Espírito de Deus. Isso é maravilhoso! No seu devido tempo, Deus chamou cada um de vocês. Deus os separou dos demais. Deus lhes deu a sua santa palavra celestial. Deus lhes deu o seu Santo Espírito.
Irmãos, todas estas coisas maravilhosas exigem que a nossa confissão de fé seja ainda mais intensa. A confissão de que Jesus é o nosso Apóstolo e Sumo Sacerdote deve ser uma realidade em nossas vidas. Por isso, vocês devem estar dispostos a apresentar seus corpos como sacrifício vivo em gratidão ao nosso Apóstolo e Sumo Sacerdote.
Vocês sabem que existem muitas igrejas em nossa cidade. Elas estão pregando vários evangelhos diferentes. E as pessoas pensam que tudo é a mesma coisa. Quem passa em frente das igrejas evangélicas pensa que tudo é igual, e que todos são “farinha do mesmo saco”. No entanto, nós sabemos que isso não é verdade. E por isso precisamos pregar o evangelho não somente com as nossas palavras, mas também com as nossas vidas.
Ao mesmo tempo, isso também requer de vocês a não estarem satisfeitos consigo mesmos. Ou seja, vocês devem esperar mais de vocês mesmos. Irmãos, nós precisamos crescer na fé e nos atos de gratidão a Deus. É nosso dever testemunhar diante de todas as pessoas que nesta igreja as coisas são diferentes. Cada um de vocês deve mostrar, sem hipocrisia, que honram a Deus de verdade ao vir sempre aos cultos; que honram a Deus de verdade guardando o Dia do Senhor – o domingo; que vocês glorifiquem a Deus com uma vida devocional contínua em seus lares: Lendo as Sagradas Escrituras, orando, e dando um bom exemplo aos seus filhos e demais parentes.
Seria uma coisa muito triste perceber que alguns de vocês estão se comportando do mesmo jeito que se comportam muitos daqueles que se dizem “crentes” na nossa cidade. Seria lamentável saber que alguns daqui estão dando um mau testemunho em casa, no trabalho, ou em qualquer outro lugar.
Eu creio que Deus nos “acendeu como uma lamparina” nesta cidade não para nos colocar debaixo da cama. Ele acendeu estas pequenas lâmpadas, que são vocês, para refletirem a luz de Cristo aqui em Recife. Eu sei que as pessoas vão falar mal de nós, mesmo quando damos o máximo de nossas vidas. Assim aconteceu com Jesus Cristo. Mas, independente disso, nós precisamos olhar atentamente para o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão de fé.
E vocês sabem que olhar para Cristo não significa olhar para uma imagem pintada ou esculpida, representando Jesus. Não. Olhar atentamente para Cristo é considerar o exemplo de sua vida, além de olhar para quem ele é e do que ele fez por nós. Precisamos olhar e seguir seu exemplo de amor a Deus Pai e de amor ao próximo. Se não lutarmos por isso, nós seremos iguais aos demais que se dizem cristãos em nossa cidade. Se não lutarmos para amar a Deus e amar o nosso próximo, nós, de fato, seremos realmente “farinha do mesmo saco” no meio das igrejas evangélicas.
Que Deus nos livre de sermos iguais aos demais hipócritas deste mundo. Que Deus nos torne fiéis a cada dia.
Amém.
Laylton Coelho
É Bacharel em Direito pela UEPB, e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Congregacional de Campina Grande-PB (STEC). Serviu inicialmente como ministro da Palavra na Igreja Batista durante cinco anos na Paraíba. Foi pastor na Igreja Reformada do Brasil em Esperança-PB, e atualmente é ministro da Palavra na Igreja Reformada do Brasil no IPSEP (Recife-PE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.