Eclesiastes 03.09-22

Leitura: Eclesiastes 03.09-22
Texto: Eclesiastes 03.09-22

Amada congregação de nosso Senhor Jesus Cristo,

Há uma antiga expressão que diz, “O conhecimento é poder.” Encontramos as raízes daquela expressão em Provérbios 24.5:

“Mais poder tem o sábio do que o forte, e o homem de conhecimento, mais do que o robusto.”

Mas como já vemos nos primeiros capítulos de Eclesiastes, o poder que qualquer ser humano pode ganhar crescendo em conhecimento tem verdadeiros limites. A verdadeira sabedoria entende o valor do conhecimento e do entendimento, mas o sábio entende que este valor é inerentemente limitado. Não é um fim em si. No fim das contas, uma grande parte de sabedoria é o entendimento de quão impotentes nós somos na verdade.

Como lemos no poema no início de Eclesiastes 3, o entendimento

dos tempos instituídos por Deus,
e a nossa incapacidade de afeitar aqueles tempos e ocasiões,
e também o controle absoluto e sabedoria perfeita de Deus na governança das ocasiões desta vida,
é a marca de sabedoria. E agora, no nosso texto, Salomão continua a examinar a mesma questão – os limites de sabedoria, e o problema de tempo. E, fazendo isso, ele estabelece o fato que andamos por fé, e não por vista. A verdadeira sabedoria vem somente àqueles que temem o SENHOR. E o SENHOR arranjou tudo para nos levar ao lugar em que nós o temeríamos.

Então, agora vamos ouvir a mensagem de Salomão acerca do tempo e da eternidade. Primeiramente, vamos pensar no assunto de tempo e eternidade por meio dos olhos da experiência humana; e em segundo lugar, vamos pensar na questão de tempo e de eternidade por meio dos olhos da fé.

O tempo e a eternidade, vistas por meio dos olhos de experiência
Nesta passagem, a mensagem é uma continuação do que precede – a prova de sabedoria em capítulo 2, e a explicação poética dos tempos na primeira parte de capítulo 3. Podemos ver alguns dos mesmos temas voltando aqui, algumas das mesmas perguntas, e as mesmas conclusões. O que é que nós ganhamos de nossa labuta? Que é o trabalho que Deus impôs aos filhos de Adão, para com ele os afligir? E, considerando as limitações desta vida, como é que devemos viver?

Há duas frases importantes em nosso texto que precisamos destacar para entender o contraste que Salomão está fazendo aqui. A primeira se encontra em versículo 10: “Eu vi” – “Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens, para com ele os afligir.” Mas a segunda é “Eu sei” – ou “Eu percebi”, em versículos 12 e 14. “Eu sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber, e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.” E, “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante dele.”

“Eu vi,” e “Eu sei,” ou “Eu percebi.” A primeira frase fala de experiência: o que as sensações nos dizem. E a segunda frase fala de conhecimento – o que não vemos, mas o que sabemos ser a verdade. Este contraste, entre o que nós aprendemos por meio da experiência, e o que entendemos por fé, é o contraste que Paulo descreve em 2 Coríntios: Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que vemos.

As coisas que nós vemos (ou, mas geralmente, as coisas que nós experimentamos com todos os sentidos) não nos dão a história completa. Só recebemos uma parte da imagem. O que nós percebemos, o que nós sabemos, sem olhar, nos fornece com o quadro geral.

Então, o que é que nós “vemos”? Vemos que, aparentemente, não existe lucro ou beneficio para ninguém em todo o trabalho que eles fazem nesta vida. Nós vemos que Deus não nos deu nada mais do que ficarmos ocupados sendo ocupados. Em versículo onze, Salomão reconhece que Deus fez tudo formoso no seu devido tempo; e quando ele diz “formoso” ele não está falando sobre a estética, mas sobre a utilidade, a adequação de tudo. Tudo na criação de Deus se encaixa na perfeição. Podemos nos perguntar por que as coisas acontecem quando elas acontecem, na ordem em que elas acontecem – mas ao mesmo tempo, podemos entender que todos os eventos da história, os acontecimentos de nossas vidas, foram perfeitamente organizados por Deus.

Mas, ao mesmo tempo, Deus colocou a eternidade nos nossos corações, para que não possamos descobrir o que Deus fez desde o início até o fim. Então, nós temos conhecimento inerente, algo dentro de nós que Deus colocou lá. Há algo dentro de nós que anseia por algo mais do que uma existência limitada no tempo.

Este é o tipo de discussão que ocupou os filósofos desde tempos imemoriais, e é uma questão que todos que realmente pensam têm. Temos uma idéia da “eternidade” – de “sempre.” Temos algum conceito de intemporalidade, de existência, além dos limites do tempo. Nós pensamos em nós mesmos num certo ponto no tempo, e então a eternidade é algo que se estende para trás ao longo desse plano – para sempre – e em frente ao longo desse mesmo plano – para sempre. Mas não podemos entender, realmente, o que “para sempre” é.

Há certos assuntos que são perturbadores para pensar – e, estranhamente, a eternidade é uma dessas questões. Dizemos que Deus existe desde a eternidade; então, quando pensamos nisso, enfrentamos um problema. Porque, como seres criados, naturalmente pensamos que coisas têm um início. E, portanto, há perguntas, que realmente não fazem sentido à luz da existência de Deus desde a eternidade. O que existia antes de Deus? De onde Deus veio? Tudo na criação tem uma fonte, ou uma origem. Mas Deus não tem nenhum. Há algo sobre esse pensamento que é um pouco assustador.

O que existia, além de Deus, antes da criação dos céus e a terra? A resposta é “nada.” Mas o que é nada? Nós não podemos nem começar a entender completamente o significado completo da palavra “nada.” Como criaturas, estamos ligados pelo tempo e pelo espaço. Mesmo nossos pensamentos, nossos intelectos, são limitados. Mas eles não se limitam a tal ponto que não podemos considerar coisas como a eternidade, conceitos como “para sempre.”

Nossos pensamentos superaram as nossas limitações. E por isso Deus colocou a eternidade nos nossos corações, mesmo que não possamos descobrir o que Deus fez desde o início até o fim. E isso leva à frustração – há algo que não podemos entender completamente, ou descrever. É perturbador. Provoca a inquietação. É o tipo de coisa que leva algumas pessoas a não dormir a noite. Mas isso nos mostra a limitação da sabedoria humana quando se trata da realidade da eternidade.

Mas também temos problemas quando se trata da questão do “tempo.” O fascínio humano com o tempo, com o nosso relacionamento com o tempo, com o que é realmente, e como nos encaixamos no tempo, pode ser visto pela quantidade de histórias e o número de filmes que lidam com viagem no tempo – mesmo a idéia de que viajar pelo tempo poderia realmente ser uma possibilidade. Se você já leu uma dessas histórias sobre viagens no tempo, ou assistiu a um filme que envolve viagens no tempo, você conhece os tipos de problemas que surgiram quando a questao de viajar de volta no tempo, ou no futuro é discutida. Alguns são fascinados com a idéia, mas, novamente, há algo perturbador sobre a noção inteira.

E podemos pensar nessas questões como as “grandes questões” quando se trata de tempo e eternidade. Mas também temos problemas de outras maneiras quando se trata de tempo. Como lidar com o passado? Como lidamos com o nosso próprio passado?

Existem dois sérios problemas com a forma em que muitos de nós nos relacionamos com o passado – e Salomão vai entrar nessas questões mais tarde em Eclesiastes. O primeiro é a nostalgia – quando nós olhamos melancolicamente a uma época no passado, quando as coisas estavam melhores, de qualquer maneira. Salomão enfrenta a loucura desse tipo de pensar em Eclesiastes 7.10, onde ele escreve: “Jamais digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é sábio perguntar assim.”

Podemos sentir nostalgia para os séculos anteriores; ou podemos ser nostálgicos sobre nossas próprias vidas, desejando que possamos experimentar o que lembramos como os tempos alegres e despreocupados da nossa juventude, quando as coisas pareciam muito mais simples, muito mais agradáveis.

E o mesmo tipo de nostalgia pode acontecer na igreja. Pessoas olham para trás a um certo período na história da igreja, imaginando um tipo de existência prístina da igreja num certo ponto da história, desejando que as coisas possam retornar ao como estavam naquela época – e trabalhando para tentar recriar essa era, esquecendo que os mesmos problemas que experimentamos hoje eram problemas que a igreja enfrentou ao longo da sua história.

Então, algumas pessoas vivem no passado, pensando nos “dias da glória.” Mas, em seguida, há um outro lado, um tipo de nostalgia negativa, pode dizer. Podemos olhar para trás as nossas vidas e viver no passado na maneira contrária – constantemente perguntando: “O que teria acontecido se eu tivesse feito isso, ou isso, da forma diferente?” E se eu tomasse esta decisão? Como minha vida teria mudado? Por que não aproveitei aquela oportunidade quando surgiu? Ou por que eu perdi tanto tempo em algo que nunca funcionou? E se eu entendesse anteriormente como as coisas iriam se eu tomasse uma certa decisão? Minha vida seria melhor do que é agora? O que isso ão teria acontecido comigo? Se ao menos eu não tivesse sido tão tolo quando eu era jovem…

E assim, algumas pessoas caem no desespero e na depressão, porque passam suas vidas lamentando as coisas que fizeram, ou as coisas que não fizeram, abordando o passado como uma época de oportunidades perdidas e desperdiçadas. Em última análise, é inútil, porque não há retorno. E para nós, como crentes, essa maneira de pensar pode ser muito problemática. Alguns de nós mantêm uma carga de culpa acumulada em nós mesmos. Sempre estamos pensando nos pecados que cometemos no passado, nunca deixando este sentido de culpa, nunca vivendo no perdão que nós recebemos em Cristo.

E para nós, isso é puramente o resultado de uma falta de confiança em Deus.

Quando nós continuamos a focar nos nossos pecados passados, mesmo depois de terem confessado e arrependido deles, estamos esquecendo que fomos perdoados por Aquele que foi injustamente cometido pelos nossos pecados – pelo próprio Deus, que tem afastado de nós as nossas transgressões, quanto o oriente está longe do ocidente (Salmo 103.12). De alguma maneira, é estranho que preferimos viver com o peso da culpa como nosso companheiro, do que andar na liberdade do perdão.

Então, é assim que podemos lidar com o passado, se estamos presos na atividade de olhar ao passado somente com os olhos da experiência. Mas, juntamente com a eternidade, e junto com o passado, também precisamos lidar com o futuro. E, novamente, existem duas maneiras em que podemos olhar para o futuro, além da fé. Podemos olhar para a frente com medo e trepidação, imaginando o que amanhã trará. Podemos nos paralisar com ansiedade, porque não sabemos o que vai acontecer amanhã. Nós não sabemos se estaremos saudáveis, felizes, bem-sucedidos. Nós nem sabemos se estaremos vivos amanhã, e muito menos qualquer outra coisa. Se o conhecimento é poder, a falta de conhecimento significa a fraqueza – e não existe nenhum ser humano que tem qualquer conhecimento, qualquer certeza, sobre o que vai acontecer amanhã.

Mas também podemos ser pessoas que não vivem no passado, mas pessoas que vivem no futuro. O passado pode ter sido uma luta, hoje pode ser apenas mais um dia aborrecido, mas em alguns meses, algo acontecerá – férias, ou uma mudança, ou uma nova compra. E então, essa nova coisa acontece, as férias acabam, e começamos a antecipar o próximo evento. Hoje se torna algo que precisamos suportar, e a esperança de algo novo e emocionante, alguma nova aventura, algum futuro sucesso, se torna a força motriz da nossa vida. Não é o passado que se torna a nossa obsessão, mas sim o futuro.

O tempo e a eternidade vistos por meio dos olhos da fé.
Mas há uma grande diferença entre o que “vemos” e o que podemos “saber.” Podemos “ver” as coisas de uma certa maneira, mas Deus revelou o que precisamos saber. O que Deus faz, dura para sempre. Nada pode ser adicionado, nem nada tirado. Não podemos mudar o passado, e é uma atividade infrutífera, enraizada na loucura, continuar desejando que possamos. Não podemos voltar no tempo, e não podemos olhar para os bons tempos do passado com saudade – porque não faz nenhum bem para ninguém. Nós nem sabemos o futuro, e muito menos podemos controlá-lo. Mas podemos saber que Deus tem um plano, desde a eternidade; que ele está realizando este plano no presente; e que há um objetivo para qual está funcionando, no futuro.

Nós não sabemos o que é. Muitas vezes, não sabemos por que os acontecimentos de nossas vidas aconteceram na maneira em que eles aconteceram, embora Deus geralmente nos dê entendimento quando olhamos para trás sobre nossas vidas com os olhos da fé. Podemos ver, muitas vezes claramente, quando olhamos ao passado, até mesmo aos erros do passado, as nossas falhas do passado, os nossos pecados passados, e ver como Deus usa todas essas coisas para realizar os Seus propósitos. Por exemplo, eu sei que não estaria onde eu estou hoje, fazendo o que estou fazendo agora, se não fosse por algumas decisões muito tolas que tomei no passado. Claro, aquelas decisões permanecem tolas – elas não se tornaram sábias em retrospectiva. Mas Deus usa até a nossa loucura, na Sua sabedoria infinita, para provocar os seus próprios e gloriosos fins.

Portanto, nosso passado tem significado, e nosso futuro pode ser incerto a nós, mas é certo a Deus, e é imutável. Nós somos impotentes – e isso é bom. De fato, entender a impotência, que não podemos mudar o passado, ou mudar o futuro, é a única maneira em que podemos nos regozijar e levar vida regalada, a única maneira em que podemos comer e beber e desfrutar o nosso trabalho.

A psicologia moderna diz que precisamos tomar controle das nossas vidas, que podemos criar nosso próprio futuro, que nós fazemos a nossa própria realidade. Mas esta forma de pensar transforma o homem num deus – e aspirar a divindade, sem ser divino, é a escravidão máxima, e só pode levar a frustração e decepção. É algo que o ser humano não pode aguentar.

Somos criaturas dependentes – dependentes de Deus, criados para temer a Deus, para adorar a Ele. Por isso Ele estabeleceu a eternidade em nossos corações. Por isso ele nos deu entendimento das coisas sobre as quais não temos controle. Ele faz isso para que nós olharmos para Ele, e não para nós mesmos – para que nós possamos entender que Ele está no controle, e nós não estamos – para que fiquemos maravilhados com Sua perfeita sabedoria e Seu poder perfeito na implementação do Seu plano, que é perfeitamente sábio. Para que entendamos que não somos deuses – não podemos mudar o passado. Não podemos mudar o futuro. Não compreendemos plenamente o significado da eternidade. Mas há alguém que compreende, que sabe o que Ele está fazendo infinitamente melhor do que nós.

Isso é verdadeiramente libertador. Somos libertados da escravidão do tempo e da eternidade para desfrutar os dons que Deus nos deu nesta vida. Através da fé, operada pelo Espírito Santo, dada aos que creem em Jesus Cristo, somos libertados do desespero que é inevitável quando vemos o mundo somente através dos olhos da experiência.

Quando buscamos o significado só nesta vida, quando fazemos das coisas deste mundo nosso alvo e nosso propósito, estamos tentando a capturar a fumaça, insensatamente – a pastorear o vento. É vapor. É névoa. É correr atrás do vento. Mas Deus faz o que não podemos fazer. Ele tem controle sobre o que é, para nós, névoa. Ele criou o vento, e Ele dirige o curso do vento. O que nós somente podemos perseguir, em futilidade, Deus tem na sua mão, completamente – o passado, o presente, o futuro, e a eternidade. Nada está além dEle.

Sem Cristo, que nos dá a sabedoria, o único resultado lógico é um relacionamento tóxico com o passado, o presente, e o futuro, e uma sensação de desconforto sobre o significado e a realidade da eternidade. Mas através os olhos da fé, podemos entender que o nosso passado teve propósito, que foi parte do plano de Deus; que o nosso presente é significativo, e uma bênção, apesar da tristeza e dor que o pecado trouxe no mundo; que o nosso futuro é seguro, porque Deus tem o futuro no Seu controle; e que a eternidade é algo maravilhoso a contemplar, porque Cristo nos convida a viver eternamente na presença amável de Deus. Sem Cristo, nada faz sentido. Nada funciona. Tudo é frustrante e misterioso. Sem Cristo, os pensamentos profundos sobre a natureza do tempo e da realidade devem ser evitados, para não cair em desespero.

Mas por causa do que Deus fez em Cristo, e através da fé nEle, com todas as nossas limitações, podemos nos regozijar em que Deus fez no passado, quando Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo. Podemos nos regozijar em que Ele faz no presente – porque Ele faz até os eventos mais insignificantes na nossa dia-a-dia significativos. Podemos nos regozijar no futuro desconhecido e incerto, sabendo que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8.28).

E podemos nos alegrar, e iremos nos alegrar, para a eternidade. Antecipamos o dia quando o que está misterioso agora, o que está desconhecido e inconcebível agora, vai ser revelado. Olha ao passado por meio de olhos da fé, confiando em Deus. Experimente o presente, vivendo cada momento com os olhos da fé abertos – porque isso faz a vida viável, e ate desfrutável. O olha ao futuro por meio dos olhos da fé, sem medo. Isso é o que Cristo fez por nós, e damos a Ele a glória, e o louvor.

Amém.

Voltar ao topo

Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

Este curso é gratuito. Por isso, apreciamos saber quantas pessoas estão acessando cada conteúdo e se o conteúdo serviu para sua edificação. Por favor, vá até o final dessa página e deixe o seu comentário.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.