Leitura: Amós 07.07 – 08.03
Texto: Amós 07.10-17
“Mas o SENHOR me tirou de após o gado e o SENHOR me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel” (Am.7.15)
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo
Ao longo da história do seu povo, o SENHOR Deus sempre levantou profetas para lhe ensinar sua palavra e também chamá-lo ao arrependimento. Amós foi um destes profetas. Para entendermos a razão específica do seu chamado bem como o conteúdo de sua mensagem profética, precisamos atentar para a situação em que se encontrava o povo de Deus nos dias em que Amós profetizou. Uma simples leitura no livro de Amós nos dá uma clara impressão do contexto histórico e religioso do povo de Deus naqueles dias. Quando Amós foi chamado a profetizar, o povo de Deus já estava dividido em dois reinos: o Reino do Sul (Judá) e o Reino do Norte (Israel). Ambos os reinos desfrutavam de paz e prosperidade na área política e comercial. A mensagem que Amós recebe de Deus, embora alcance as nações vizinhas e o Reino de Judá (Am.1), é especialmete dirigida ao Reino do Norte (Israel). Este reino se tornou muito próspero sob o reinado de Jeroboão II. Esse rei alargou as fronteiras do reino e isso contribuiu para o crescimento do comércio e da indústria em Israel. O resultado, portanto, foi o acúmulo de riquezas. O Israel de Jeroboão II só não superou o reinado de Salomão em termos de prosperidade material.
Porém, a prosperidade material de Israel estava acompanhada da sua ruína espiritual. Com o aumento das riquezas, cresceu também a injustiça social, a hipocrisia, a imoralidade, a idolatria no meio do povo de Deus. Os pobres eram oprimidos, os profetas desprezados, o culto era marcado pela idolatria e hipocrisia e, no entanto, Israel pensava que, por ser o povo escolhido de Deus, estava tudo bem com eles. Mas para o Deus santo que requer obediência do seu povo nada estava bem. Por isso, nesse contexto de prosperidade material e ruína espiritual, O SENHOR chama Amós para proclamar uma mensagem de julgamento contra Israel. Amós denuncia o pecado de Israel e lhes anuncia uma mensagem clara e direta do juízo de Deus: Deus vos castigará com o cativeiro nas mãos de um povo inimigo por causa dos seus muitos pecados (5.27; 6.7,14). O problema de Israel não era a prosperidade em si, mas os pecados que a acompanhavam, e por isso Deus decidiu castigá-lo.
Conscientes disso podemos agora nos deter em nosso texto. Nosso texto é uma narrativa que revela como a mensagem de julgamento trazida por Amós foi recebida pelo sacerdote Amazias. Ele conhecia a mensagem de Amós. Ele certamente tomou conhecimento das palavras e visões que Amós recebeu de Deus, as quais apontavam para o castigo. A visão do prumo, por exemplo, indicava que não haveria perdão para Israel, uma vez que o mesmo não correspondeu ao padrão de justiça de Deus (7.7,8). A visão do cesto dos frutos de verão indicava que o juízo divino sobre Israel estava bem próximo (8.1,2). A mensagem de Amós é bem específica (ler v. 9). Diante de tal mensagem, que atitude tomou o sacerdote Amazias?
Nosso texto revela que ele fez duas coisas: 1 – Ele foi falar com o rei Jeroboão sobre Amós e sua mensagem (10,11); 2 – Em seguida, ele foi falar também com o próprio Amós, de quem recebeu uma resposta (12,13). Para termos uma boa compreensão da mensagem do nosso texto, vamos dividí-lo em duas partes: 1 – As palavras de Amazias ao rei Jeroboão e ao profeta Amós; 2 – As palavras do profeta Amós ao sacerdote Amazias.
1 – As palavras de Amazias ao rei Jeroboão e ao profeta Amós (vs.10-13).
Nas palavras de Amazias se torna evidente sua rejeição à palavra de Deus. Atente primeiramente para as palavras que ele disse ao rei (ler vs.10,11). Embora reafirme as palavras de Amós de que Israel será levado cativo, Amazias revela seu desprezo pela palavra de Deus. Em primeiro lugar, ele acusa falsamente Amós de ser um conspirador, alguém que está tramando contra a vida do rei. Depois, ele distorce parte do conteúdo da profecia de Amós. Amós disse: Deus levantará sua espada contra a casa de Jeroboão, e Amazias diz: Jeroboão morrerá à espada. Vemos assim que a intenção perversa de Amazias é colocar o rei Jeroboão contra Amós. A verdade é que Amós não é um conspirador, mas um proclamador do juízo do Senhor sobre a casa de Jeroboão e todo o Israel rebelde, conforme Deus lhe revelara. Quem está sendo um conspirador aqui é Amazias, que está tramando contra a vida de Amós. O problema é que esta mensagem não levou Amazias ao arrependimento. Ele continuou com o coração endurecido e por isso rejeitou a palavra de Deus.
Depois de ter conversado com o rei, Amazias se dirige ao próprio Amós. O texto não nos diz nada da reação do rei Jeroboão ao ouvir Amazias. Não sabemos se ele próprio ordenou Amazias a falar com Amós. No entanto, nosso texto é claro em mostrar que Amazias fala diretamente contra Amós (ler vs.12,13). Amazias tenta sufocar a palavra de Deus. Seu desprezo à palavra de Deus é evidente também nas suas palavras dirigidas a Amós. Observe a má intenção de Amazias em suas palavras. Ele tenta desviar o profeta Amós da tarefa específica que Deus deu a ele: profetizar em Israel. Ele sugere a Amós que vá profetizar em sua própria terra (Judá) para seu próprio bem. Ele tenta Amós a agir não conforme a vontade de Deus, mas em interesse próprio. Poderia ser até mais fácil para Amós profetizar em Judá, pois era sua região (não precisaria viajar) e o Reino do Sul (Judá) não estava tão corrompido como o do Norte.
Amazias não aceita que Amós profetize em Betel (Israel). Betel era uma importante cidade no Reino do Norte. Nela estava localizado o templo para a adoração. Com a separação das doze tribos, Jeroboão I, rei de Israel, temendo que os membros do seu povo se voltassem para adorar em Jerusalém (Reino do Sul), introduziu a idolatria em Betel construindo bezerros para o povo adorar (I Rs.12.25-33). Os reis de Israel tinham forte influência no culto. Para eles, não importava se o culto era conforme a lei de Deus. Eles realizavam cultos ao seu bel prazer e os sacerdotes que eram responsáveis pelo culto faziam o que os reis queriam. Assim fez Jeroboão I e muitos outros reis seguiram seus passos, inclusive Jeroboão II (ler II Rs.14.24). Em sua profecia, Amós denuncia o culto idólatra e hipócrita que era realizado em Betel. Amazias era sacerdote nesta cidade e, portanto, responsável pela adoração a Deus. Mas por que ele não quer ouvir a palavra de Deus? Por que ele pede a Amós que não profetize em Betel, mas em Judá?
Amazias não estava preocupado com os interesses do SENHOR, mas com os seus próprios interesses. Sendo um sacerdote, era sua responsabilidade zelar pela pureza do culto e pela obediência à lei de Deus. Mas ele não se importava com isso. No lugar de servir a Deus como um sacerdote fiel, ele procurava agradar o rei Jeroboão II no objetivo de alcançar seus próprios interesses. Certamente ele era beneficiado pelo rei e, portanto, desfrutava de uma vida próspera no sentido material. Ali em Betel ele desfrutava do luxo e da riqueza e promovia o culto idólatra nos lugares altos da cidade. Por causa do seu próprio bem estar material, Amazias recusou-se a dar ouvidos à repreensão trazida do SENHOR por Amós.
O que podemos aprender com isso? Pelo menos duas lições práticas para nós que somos membros do povo de Deus: 1) Haveremos de ser perseguidos por causa de nossa fidelidade a Deus. Os que querem viver piedosamente em Cristo serão perseguidos. Amós foi fiel ao seu ofício e recebeu oposição tanto do povo quanto dos líderes rebeldes de Israel. Ele foi acusado falsamente e tentado a não fazer a obra do Senhor. O mesmo aconteceu com Cristo (Jo.11.48) e seus apóstolos (At.5.28). Nosso contexto não é igual ao de Amós, Jesus e os apóstolos, mas se formos fiéis a Deus zelando por sua palavra e denunciando o pecado tanto da igreja quanto do mundo, então, haveremos de ser perseguidos.
2) Tenhamos o cuidado de não desprezarmos a Palavra de Deus como fez Amazias para atingirmos nossos interesses gananciosos. Ele não aceitou a repreensão do SENHOR, mas preferiu permanecer em seus pecados. A palavra de Deus, que nos revela nossa salvação em Cristo, também é útil para nossa repreensão. Por sua palavra, Deus denuncia o nosso pecado e nos chama ao arrependimento. Qual é a nossa atitude diante da palavra de Deus quando ele aponta nosso pecado? Como reagimos quando o SENHOR nos confronta com sua palavra? Aceitamos essa palavra com humildade reconhecendo o nosso pecado e nos arrependendo diante de Deus? Ou desprezamos esta palavra permanecendo em nossos pecados? Ficamos com raiva do pregador ou agradecemos a Deus pela advertência que ele nos trouxe por meio de seu servo? “Quem ama a disciplina, ama o conhecimento, mas quem aborrece a repreensão é estúpido” (Pv.12.1).
2 – As palavras do profeta Amós ao sacerdote Amazias (vs.14-17)
Diante do desprezo de Amazias pela palavra de Deus, Amós lhe dá uma resposta. Amazias pediu a Amós para não profetizar em Betel e diante disso Amós lhe responde: “Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros. Mas o SENHOR me tirou de após o gado e o SENHOR me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel” (14,15). Em outras palavras, ele está dizendo o seguinte: “Olha, Amazias, na verdade eu não sou um profeta profissional e nem participei de uma escola de profetas. Eu não dependo do ofício profético para me sustentar. Adquiro meu sustento cuidando do gado e cultivando frutas. Eu reconheço isso. Mas reconheço também e tenho plena certeza de que fui arrancado por Deus de minhas atividades agrícolas para profetizar em Israel. Estou aqui porque Deus me enviou.” Esta resposta de Amós a Amazias nos revela algumas verdades importantes:
A vocação profética é resultado da escolha soberana de Deus. Amós não escolheu nem se auto-intitulou profeta de Israel, mas Deus o escolheu soberanamente para o ministério profético. Amós reconhece isso: “O SENHOR me tirou de após o gado”. Amós literalmente foi tomado e arrancado por Deus de sua profissão normal para servir como profeta. O chamado de Amós foi surpreendente e específico. Deus o escolheu e ele se submeteu ao chamado que Deus lhe fizera. Para o bem do seu povo, Deus tem levantado homens das mais diversas classes sociais e os capacitado para cumprirem a sua tarefa. Jesus escolheu os que ele mesmo quis para serem seus apóstolos. Deus ainda hoje está chamando pastores, presbíteros e diáconos para cuidarem do seu rebanho. Hoje Cristo chama os seus por meio de sua igreja. Ninguém pode se levantar por si mesmo e se fazer oficial da igreja. Cristo escolhe os seus oficiais mediante a sua igreja, que é orientada pelo Espírito Santo. Graças a Deus que ele levanta homens para pregar sua palavra e cuidar do seu povo.
Deus define a mensagem a ser proclamada por seu profeta. Deus não somente escolhe e chama os seus servos, mas também determina o que eles devem fazer. Deus tirou Amós de após o gado e lhe disse: Vai e profetiza… Amós recebeu do SENHOR a ordem de profetizar. Esse verbo indica que Amós tinha de falar aquilo que Deus lhe revelara. Era seu dever proclamar: “Assim diz o SENHOR”. Foi o que ele fez fielmente. Ele profetizou tudo aquilo que Deus lhe tinha dito. Proclamou o juízo de Deus contra Israel e chamou o povo ao arrependimento para que Deus o restaurasse. Deus não concede hoje novas revelações aos seus profetas. Não há mais necessidade disso, pois a igreja tem nas mãos a completa e suficiente palavra de Deus. O dever dos pastores é proclamar todo o desígnio de Deus revelado em Sua Palavra. Não devemos dar ouvidos aqueles que pregam suas próprias opiniões e idéias, mas àqueles que entregam a mensagem que receberam de Deus em sua palavra. É isso que Deus exige dos seus servos: que preguem todo o desígnio de Deus.
A palavra de Deus é direcionada ao seu povo. Amós afirma que foi tomado por Deus para realizar uma tarefa específica: “Vai e profetiza ao meu povo de Israel”. Observe um detalhe importante nestas palavras: Deus chama Israel de “meu povo”. Isso mostra que Deus não esqueceu da sua aliança com Israel. Aquele povo rebelde é ainda o povo de Deus. Israel se esqueceu da sua aliança com o Senhor. Eles desprezaram a lei do Senhor. Deus os chamou para serem santos, mas eles estavam cheios de iniqüidades. Deus, porém, não se esqueceu da aliança que fizera com Israel. Deus lidaria com seu povo conforme a sua aliança. Se o povo estava vivendo em ingratidão e rebeldia era digno do castigo de Deus. Deus quer castigar seu povo, por isso ele lhe envia Amós para lhes proclamar uma mensagem de juízo. Esse castigo de Deus não é um castigo arbitrário, mas um castigo justo e merecido. Nesse castigo Deus também revela a sua misericórdia. Pelo castigo, ele disciplina seu povo, não para destruí-lo mas, para conduzí-lo ao arrependimento e restaurá-lo à comunhão com ele. Cada vez que a palavra de Deus é pregada, o próprio Deus está chamando seu povo a abandonar o pecado e buscar a obediência. Ele quer que o seu povo seja santo, assim como ele é santo. Por ser santo, ele castiga os rebeldes que permanecem em seus pecados. Por outro lado, ele manifesta a sua misericórdia ao conceder perdão e vida àqueles que se arrependem dos seus pecados. A palavra de Deus continua sendo pregada ao seu povo hoje.
Após ter explicado a Amazias a natureza e o propósito do seu ministério profético, Amós dirige palavras específicas de julgamento contra o próprio Amazias: (ler vs.16,17). Estas palavras são fortes. Amazias, que rejeitou a palavra de Deus, sofrerá as conseqüências do seu pecado juntamente com sua família. A mensagem de julgamento para ele e sua família é bem específica. No dia do castigo, sua esposa se deitaria com outro homem (estupro ou desespero), seus filhos morreriam à espada (morte violenta e fim da descendência), seu patrimônio seria dividido pelo povo invasor e ele próprio morreria fora de sua terra, numa terra imunda (humilhação para um sacerdote). Um castigo terrível e conforme a aliança de Deus (Dt. 28.30; 32,33,41). Também conforme a aliança de Deus, o cativeiro sob um povo inimigo era a conseqüência da rebeldia do povo de Deus (Dt. 28.36,49,64).
O SENHOR não volta atrás naquilo que ele fala. Ele é fiel em cumprir a Sua palavra. O dia do castigo veio. A Assíria foi o instrumento usado por Deus para castigar seu povo. O primeiro ataque veio com Tiglate Pileser, rei da Assíria, que conquistou várias cidades do reino do Norte (II Rs 14. 29). Em seguida veio o ataque final com Salmaneser, rei da Assíria, que destruiu Samaria e levou Israel para a Assíria (II Rs.17.6,23). Tal fato histórico ocorreu há muitos séculos atrás, mais ou menos por volta do ano 721 a.C. e também foi direcionado à nação de Israel. Nele, Deus revelou a sua justiça em castigar o pecado e a sua fidelidade em cumprir a sua palavra.
O SENHOR justo e fiel nos revela em sua palavra que virá um dia em que ele manifestará um juízo definitivo sobre toda a humanidade. Cada ser humano de qualquer época ou raça dará contas a Deus de seus atos. O destino de cada ser humano depende da sua atitude em relação a Jesus Cristo, conforme João 3.36: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; todavia, aquele que se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. Deus continua chamando pecadores ao arrependimento e à fé no Senhor Jesus Cristo. Ele é um Deus justo que castiga o pecador que não se arrepende e também um Deus cheio de misericórdia que não tem prazer na morte do ímpio, mas em que ele se arrependa dos seus maus caminhos e viva. Portanto, hoje se ouvirdes a voz do SENHOR, não endureçais os vossos corações para que não sejais destruídos, mas arrependei-vos, buscai a Deus e vivereis.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.
Este curso é gratuito. Por isso, apreciamos saber quantas pessoas estão acessando cada conteúdo e se o conteúdo serviu para sua edificação. Por favor, vá até o final dessa página e deixe o seu comentário.
* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.