Leitura: Salmo 145
Texto: Dia do Senhor 47
Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo
Depois de aprendermos sobre como devemos invocar a Deus em nossas orações (Pai nosso que estás no céu), chegamos agora às petições que Jesus nos ensinou a fazer: “… santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal…” (Mateus 6:9-13).
Por muito tempo tem havido um intenso debate entre os estudiosos da Bíblia quanto ao número destas petições, ou seja, se aqui se encontram seis ou sete petições. Toda a questão gira em torno da pergunta se a última afirmação, “mas livra-nos do mal”, deveria ser considerada como uma petição separada ou deveria ser vista como parte integrante da petição anterior: “e não nos deixes cair em tentação…l”.
Mas essa discussão é dispensável, pois não trata de um ponto essencial da fé cristã. A questão vital não é se existem seis ou sete petições na oração do Pai nosso, e sim observar a sequência em que estas petições foram apresentadas pelo Senhor.
As três primeiras – “santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” – dizem respeito a Deus e à Sua glória (adoração a Deus e prioridade pelos seus interesses – seu nome, seu reino, sua vontade). E as demais petições referem-se a nós mesmos e às nossas reais necessidades (pão, perdão e proteção). Essa é uma distinção vital – a sequência das petições, e não o seu número. Ao enfatizar o próprio Deus nas três primeiras petições, Jesus estabelece que o principal desejo e interesse de todo verdadeiro crente é viver para a glória de Deus em todas as coisas.
Jesus não pôs essas petições na posição em que se encontram de maneira aleatória ou casual. Ele tem um propósito nesse arranjo da sua oração modelo: Ele quer nos ensinar que não importa quais sejam as nossas circunstâncias ou desejos, o fato é que jamais devemos começar as nossas orações pensando em nós mesmos, mas sim em Deus e na sua glória. Antes de começarmos a pensar em nós mesmos e em nossas próprias necessidades, devemos começar as nossas orações por esse grande interesse em Deus e na sua honra.
A compreensão correta dessa oração é necessária não somente para nos ajudar a orar corretamente, mas também a viver de modo digno de Deus: priorizando a sua honra e exaltação em tudo o que pensamos, falamos e fazemos.
Portanto, conforme o ensino de Cristo, essa deveria ser a nossa primeira petição e o nosso primeiro desejo ao orarmos: “Nosso Pai Celestial, santificado seja o teu nome”. Mas o que significam essas palavras? O vocábulo “santificado” significa reverenciado, considerado santo. Pode também ser entendido como “honrado, exaltado, bendito, glorificado”.
O sentido dessa petição é que devemos rogar a Deus que ele nos ajude a glorificar o seu nome, tendo por Ele alta estima, reverência e consideração em virtude do que Ele é e do que tem feito por nós. Pois o nosso Deus é santo, ou seja, ele é separado de nós, não no sentido de estar distante de nós, pois ele é nosso Pai, mas no sentido de ser altíssimo e perfeito em todos os seus atributos e em toda as suas obras. Sobre esta petição Calvino afirmou: “Os homens nunca devem pensar ou falar [de Deus] sem a maior veneração”.
Agora o que representam as palavras “o teu nome”? Na Bíblia, os nomes ocupam um lugar especial e são cheios de significado. Em certo sentido, isso é muito diferente do que acontece hoje em dia. Atualmente, o significado dos nomes das pessoas não importa muito. Geralmente a escolha de um nome hoje é baseada na sua sonoridade, na moda, em homenagem a um parente e não no seu significado.
Ao contrário disso, nos tempos bíblicos os nomes eram escolhidos com base no seu significado. Deus mudou o nome de Abrão para Abraão para confirmar a promessa de que ele seria pai de uma grande nação (Gn.17.5). O nome do profeta Elias indicava a sua missão de mostrar a Israel que só o Senhor é Deus. E o Filho de Deus recebeu o nome de Jesus porque ele veio salvar o seu povo dos seus pecados. Isso mostra que na Bíblia um nome é mais do que uma identificação. Ele carrega e transmite uma mensagem. Ele pode revelar algo sobre a pessoa que o recebe a respeito de sua natureza, caráter ou missão.
Isso também é verdade no que se refere ao nome do próprio Deus. O Senhor Deus é tão glorioso em si mesmo que ele se revelou com vários nomes e cada um destes nomes diz algo sobre sua natureza ou descreve alguma qualidade que ele possui. Seus nomes o revelam como ele realmente é. A expressão “o nome do Senhor” representa a totalidade de seus nomes e qualidades. Ela se refere a toda a sua pessoa e caráter. Ela se refere ao próprio Deus (Sl.8.1; 20.1,7; Prov.18.10).
Quando a Bíblia o chama de “El ou Elohim”, termo traduzido como Deus, ela aponta para a força, o poder e a majestade de Deus como aquele que é Altíssimo sobre tudo e todos. “Adonai” (Senhor) revela o Deus que é o dono e governador de tudo o que existe. E “Yahweh” revela o Deus Eterno, o Grande Eu Sou, aquele que é e que sempre existiu, o Deus da aliança que trabalha pela salvação do seu povo.
Os judeus tinham um grande zelo pelo nome divino “Yahweh”. Eles entendiam que as letras formadoras desse nome eram tão sagradas e eles mesmos tão pequenos e indignos, que não ousavam mencioná-lo. Eles referiam-se a Deus como “Teu nome”, a fim de evitarem o emprego do vocábulo “Yahweh”. Assim surgiu o termo “nome”, apontando para o próprio Deus em tudo quanto ele é si mesmo em seus atributos e obras.
Conscientes disso, o que, então, pedimos a Deus quando dizemos; “Santificado seja o teu nome”? O nosso Catecismo nos dá uma boa resposta no Dia do Senhor 47, P&R 122 (ler). Segundo o Catecismo, há pelo menos três coisas importantes que pedimos a Deus na primeira petição:
Em primeiro lugar, nós pedimos a Deus que nos ajude a conhecê-lo corretamente. Nós precisamos conhecer a Deus como ele realmente é e se revelou a nós na sua Palavra. Infelizmente muitas pessoas que falam de Deus e até oram a ele possuem uma visão distorcida de Deus. Elas falam de Deus, por exemplo, ou como um ser passivo, impotente ou indiferente quanto à sua criação.
No entanto, não é isso que a Bíblia revela acerca de Deus. As Escrituras nos revelam um Deus que é santo, justo, bom, misericordioso, gracioso, todo-poderoso e soberano, apenas para mencionar alguns dos seus muitos atributos. É este Deus da Bíblia que nós precisamos conhecer adequadamente para então, aprender a temê-lo, reverenciá-lo, amá-lo e exaltá-lo sobre todas as coisas.
Em segundo lugar, nós rogamos a Deus que nos ajude a glorificá-lo em todas as suas obras que revelam seus gloriosos atributos. Que tipo de obras? Devemos honrá-lo por suas obras de criação e providência, pelo fato de que ele criou, do nada, todas as coisas que existem e as sustenta e governa com suas mãos poderosas. Isso significa que somos feituras de suas mãos e dependemos dos seus cuidados para manter a nossa existência na terra. Seu poder e bondade são revelados pelas obras de suas mãos e por isso o louvamos (ver Sl.145.1-4,16,17,21).
Também devemos adorar a Deus pela sua obra de redenção por meio de seu Filho Jesus Cristo. Ele escolheu um povo para si mesmo antes da fundação do mundo e o redimiu da condenação do pecado mediante o sangue de Cristo. Ele nos regenera por seu Espírito e nos santifica e sela para a vida eterna. Na obra da redenção ficamos maravilhados com a revelação da justiça, do amor e da misericórdia de Deus para conosco em Cristo Jesus. Iniciamos, pois, nossas orações louvando a Deus pelo que ele é e pelo que ele tem feito para nossa salvação (ver Sl.103.1-6; 145.7,8,20).
Em terceiro lugar, nós pedimos a Deus que nos conceda a graça de glorificar o seu nome com toda a nossa vida, ou seja, por meio de nossos pensamentos, palavras e obras. Esta petição é uma oração de adoração a Deus, mas também um chamado à consagração total ao Senhor para todos que a proferem. Se nós afirmamos ser cristãos, mas, ao mesmo tempo, contradizemos essa afirmação por meio de palavras e ações indignas e profanas, então, trazemos desonra ao nome do nosso Deus. Sua reputação sofrerá dano e será ridicularizada por nossa causa.
Por outro lado, se vivermos como Deus nos chama para viver, em santidade e justiça diante dele e dos homens, então, traremos louvor e glória ao seu nome. Esse é o encorajamento de Pedro para nós: “Mantenham uma boa conduta entre os gentios, para que, caso falem contra vocês como sendo malfeitores, vejam suas boas ações e glorifiquem a Deus no dia da visitação” (I Pedro 2.12).
Fazer esta petição com sinceridade de coração reflete um desejo profundo e ardente pela honra e a glória de Deus. Ninguém mais do que o próprio Cristo foi dominado por esta paixão consumidora pela glória de Deus. Ouça o que ele disse na sua oração sacerdotal em João 17: “Eu te glorifiquei na terra…” (v. 4); e também: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo” (v. 6). O Senhor Jesus estava sempre preocupado em atribuir glória ao Pai. Ele mesmo declarou: “Eu não procuro a minha própria glória…” (João 8:50).
A paixão de Cristo era a glória de Deus. Ele veio a este mundo, nasceu, viveu, morreu e ressuscitou para a glória de Deus, para promover a vinda do seu reino e para fazer a sua vontade. Jesus revelou em si mesmo a glória do Pai, os atributos da sua justiça, poder, bondade e misericórdia. O resultado de sua busca pela glória de Deus foi a graciosa redenção que ele conquistou e garantiu para todo aquele que nele crê!
Aplicações aos cristãos:
Aprecie o Seu Deus com admiração: Ore com o salmista: “Bendize, ó minha alma ao SENHOR! SENHOR, meu Deus, como tu és magnificente; sobrevestido de glória e majestade…” (Sl.104.1,2). “Exaltar-te-ei, ó Deus meu e rei; bendirei o teu nome para todo o sempre. Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome. Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável” (Sl.145.1-3)! Precisamos resgatar em nós essa visão bendita da grandeza de Deus e exaltá-lo pela glória da sua Pessoa e a perfeição das suas obras que revelam seus gloriosos atributos! Deveríamos parar por alguns instantes para meditar em quem Deus é a fim de que o nosso mais profundo desejo seja que este admirável e maravilhoso Deus, que se tornou nosso Pai por meio de Cristo, seja apreciado, honrado e adorado por nós.
Santifique o nome do Senhor na integridade de sua vida: Com esta primeira petição, nós pedimos a Deus que toda a nossa vida com seus pensamentos, palavras e ações sejam direcionados para a glória de Deus. Isso combina com as palavras do apóstolo Paulo em I Coríntios 10.31: “Quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, façam tudo a para a glória de Deus”. Isso significa que não deve haver em nossa vida uma área sequer que não esteja debaixo do governo de Deus! Tudo na nossa vida deve ser direcionado para glória de Deus!
Você tem cultivado em sua mente pensamentos nobres e santos que glorificam a Deus? Suas palavras tem trazido honra ao nome do Senhor? Suas ações tem exaltado o nome de Deus? Você adora a Deus no todo da sua vida? Sua vida prioriza e enaltece a Deus em tudo o que você planeja ou executa? Você tem testemunhado da glória de Deus para outras pessoas? Sua vida espelha Seus atributos perfeitos como amor, justiça, bondade e misericórdia? As pessoas podem ver algo de Deus em você?
A maneira como você vive em família, realiza o seu trabalho, passa o seu tempo, o que você consome na internet, as amizades que você cultiva, a maneira como você se diverte, como você se conduz no seu namoro, tudo isso tem sido coerente com a santificação do nome do Senhor na sua vida? Que o Senhor nos conceda a graça de glorificar o seu nome no meio desta congregação, no convívio do nosso lar, na escola ou universidade bem como na nossa vizinhança!
Torne o nome de Deus reconhecido no mundo: No Salmo 34.3, Davi nos convida a se juntar a ele no engrandecimento do nome do SENHOR: “Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome”. À primeira vista, esse convite parece ridículo. Deus é o eterno, o auto existente, aquele que é perfeito em todos os Seus atributos ou qualidades. Como é que homens fracos e imperfeitos como nós poderíamos engrandecer-Lhe? Como poderíamos fazer Deus tornar-se maior do que ele já é? Como poderíamos exaltar o nome que já é exaltado acima de todo nome? Tudo isso parece ridículo e absurdo.
No entanto, o salmista não está dizendo que podemos acrescentar alguma coisa à grandeza de Deus, pois isso é simplesmente impossível; mas ele quis dizer que o seu interesse era que a grandeza do nome de Deus fosse intensamente reconhecida e honrada não somente por ele, mas por todas as pessoas. Ele deseja que outros se unam a ele no louvor a Deus.
Essa também deve ser a nossa motivação quando oramos a primeira petição: Que o nome de Deus seja glorificado não só por nós, mas também por outras pessoas. Daí a nossa necessidade de proclamar o nome de Deus a este mundo que jaz nas trevas do pecado e perece por não conhecer o único e verdadeiro de Deus. Somos a luz do mundo com a reponsabilidade de glorificar a Deus por meio de nossas boas obras, servindo de espelhos da grandeza de Deus e de Seus gloriosos atributos para que outros pecadores venham a conhecê-lo corretamente e passem a glorificar o seu nome juntamente conosco (Mt.5.16)!
Tem sido este o nosso ardente desejo? De que o mundo inteiro se prostre diante de Deus, em adoração à Sua pessoa, em reverência, louvor, honra e ação de graças? É esta a questão que ocupa o primeiro lugar em nossa mente, sempre que oramos a Deus? Se é assim, então, sejamos diligentes não só em orar pela santificação do nome de Deus, mas também em anunciar entre as nações a glória do Senhor e entre todos os povos as suas maravilhas (Sl.96.3).
Uma advertência aos incrédulos: Talvez esta pregação esteja sendo ouvida por alguém que não conhece o Senhor verdadeiramente e, portanto, tem cultivado ideias equivocadas acerca de Deus em sua mente corrompida pelo pecado! Digo-lhe com seriedade que mesmo tendo usado estas palavras em suas orações, você nunca santificou o nome de Deus. Você usou Deus e foi até ele apenas em momentos de aflição, mas sua vida, seus pensamentos, palavras e ações nunca estiveram centralizados em Deus. Você nunca o amou, você nunca cumpriu o propósito de sua criação, nem por um segundo em suas vidas. Você sempre viveu uma vida ímpia, desconsiderando Deus e afastando-o da sua vida e dos seus caminhos.
Isso significa que, ao desprezar a honra de Deus, você está se colocando debaixo da condenação de Deus e caminhando para o inferno. Contudo ainda há esperança para você. Neste exato momento você ainda está vivo e Deus ainda está disposto a perdoar você. Ele ainda diz a você hoje: “Todo o que vem a mim de maneira nenhuma lançarei fora” (João 6:37). Ele ainda está disponível para você, ó pecador, 24 horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
Neste exato momento, Ele diz a você: “Volta, ó rebelde, diz o SENHOR; e não farei cair a minha ira sobre ti; porque eu sou misericordioso, diz o SENHOR, e não manterei para sempre a minha ira. Tão-somente reconhece a tua iniquidade, que transgrediste contra o SENHOR teu Deus, … e não obedeceste à minha voz, diz o SENHOR” (Jeremias 3:12,13). Portanto, busque o Senhor enquanto se pode achar; invoque o seu nome enquanto ele está perto! Pois o Senhor é rico em perdoar e todo aquele que invocar o seu santo nome será salvo! Amém!
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.