Dia do Senhor 46

Leitura: Isaías 63.7-19, Mateus 6.5-9; 7.7-11, Efésios 1.1-14
Texto: Dia do Senhor 46

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Começamos na semana passada com uma introdução ao nosso estudo na Oração do Senhor, na qual vimos que a oração tem um lugar muito importante na vida cristã. É por meio da oração que nos achegamos a Deus e temos acesso a Eleao Seu poder divino – que é a fonte de toda a transformação que esperamos ver em nossas vidas. Quando olhamos para os Dez Mandamentos, nosso objetivo era pra entender a liberdade que está expressa na lei de Deus — a beleza, alegria e vida que se encontram ali, quando somos livres da escravidão do pecado. Mas vimos que a menos que Deus nos capacite pelo Seu Espírito para renovar nossas mentes e mudar a maneira como vemos o mundo e a maneira como pensamos e sentimos, seremos totalmente impotentes para romper as amarras do pecado e viver em paz. a vida e a luz de Deus. E então o que fazemos para acessar o poder do Espírito? Nós oramos.

Assim vimos que a oração é de primeira importância na vida cristã. Podemos até dizer que a oração é um barômetro de nossa vida espiritual – uma medida confiável de nossa vitalidade espiritual. Você está vivo? Será visto nas suas orações.

Então, nosso propósito para esta série de sermões sobre a Oração do Senhor é deixar o Senhor Jesus nos ensinar a orar. 

Foi isso que os discípulos pediram ao Senhor Jesus em Lucas capítulo 11: “Senhor, ensina-nos a orar”. Eles lhe perguntaram isso depois de observar Ele mesmo orando, e como essa oração parecia lhe dar força, direção e propósito. Então eles lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”.

E assim queremos que essa seja também a nossa pergunta: “Senhor, ensina-nos a orar”. Nossas vidas de oração podem ser tão pobres, às vezes quase inexistentes, e nossas orações podem ser tão fracas. Mas sabemos que não precisa ser assim. Pode ser muito mais, como foi na vida do Senhor Jesus, e como sem dúvida todos testemunhamos na vida de outros e na vida de alguns dos nossos antepassados. Sabemos que é na oração que temos acesso ao espírito transformador e ao poder de Deus. E assim nossa pergunta é a mesma dos discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar”.

Então, vamos ouvir o que o Senhor Jesus nos ensina.

Em nosso texto em Mateus 6, tem dois grupos que Jesus nos adverte para não nos assemelharmos quando oramos. Ele os chama hipócritas de um lado e gentios do outro.

O que os hipócritas fazem? 

Mateus 6:5 “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.”

O que os hipócritas fazem? Eles oram para serem vistos orando. Eles fazem um show da oração. Eles querem que o mundo veja como eles são devotados a Deus. Mas sua oração não é uma expressão verdadeira de seu relacionamento com Deus, é apenas um show. Eles oram em público, mas não oram em particular. Eles não oram quando somente Deus está presente para ouvi-los. Jesus diz: não seja como eles. Não faça isso. Nunca mostre sua fé em Deus em público se ela não existir em particular

Em vez disso, Jesus diz, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai que está em secreto. Agora, Jesus não está dizendo que somente podemos orar a Deus em segredo. Ainda tem um lugar para a oração pública, e tem muitos exemplos disso nas Escrituras. O próprio Senhor Jesus às vezes orava publicamente. Por exemplo, quando ele multiplicou os pães, primeiro ele deu graças. Ou quando ele ressuscitou Lázaro dos mortos, ele primeiro fez uma oração pública. Então ele não está dizendo que somente devemos orar quando os outros não podem nos ver. Os pais e as mães também devem deixar seus filhos os observarem orando de vez em quando, e orar com eles em momento juntos. É assim que eles aprendem como ter um relacionamento com Deus. Então a questão não é esconder seu relacionamento com Deus. Mas o ponto de Jesus é: não ore para ser visto pelos outros. Ore porque você quer falar e ser ouvido pelo seu Pai celestial. 

Então esse é o primeiro grupo sobre o qual Jesus nos adverte: os hipócritas.

O segundo grupo são os gentios. (Aqui, é claro, “gentios” não é primariamente um termo étnico (se referindo aos não-judeus), mas um termo religioso: os seja, os descrentes. Havia muitos gentios que temiam a Deus e se uniram ao povo judeu, e não é a isso que Jesus se refere.) 

Então, o que os gentios fazem? Jesus diz que eles “acumulam frases vazias”. Você vê isso em quase todas as religiões do mundo: longas orações, simplesmente repetindo as mesmas frases várias vezes. Não é uma comunicação íntima ou sincera com seu Pai, é a repetição de palavras e frases destinadas a agradar uma divindade, supondo que isso irá impressioná-lo ou persuadi-lo a lhe dar o que você pede.

Jesus nos adverte para não orarmos dessa maneira. E este é um aviso que devemos levar a sério. Basta pensar naqueles que acreditam que rezando 10 Ave-Marias e 10 Pai-Nossos estão fazendo um ato de piedade a Deus ou obterão Seu favor. Deus não se interesse nisso. Muito melhor tomar o tempo que você gastaria rezando 10 Pai-nossos para rezar uma vez e pelo menos pensar no que está orando. Deus não se interesse em meras palavras. Ele quer seu coração.

Mas não é apenas um problema lá fora. É muito fácil para o nosso próprio hábito de oração se tornar a mesma coisa: repetir as mesmas frases várias vezes, falar só a mesma coisa, não orar com o coração nem colocar diante de Deus as nossas preocupações.

Por exemplo, muitos de nós tem o hábito de agradecer a Deus antes das refeições. É um hábito bom e saudável, e é certo lembrar na hora de comer que é Deus quem nos deu o alimento. Mas esta hábito pode tornar uma coisa automática de forma que não pensamos mais em nossas palavras, e não oramos mais com gratidão e humildade sincera. Devemos nos esforçar para que as palavras não sejam automáticas, mas sinceras.

Agora, esta advertência de Jesus contra a prática de repetir frases vazias não significa que orações memorizadas não podem ser recitadas. A oração dominical, que Cristo ensinou, tem sido memorizada e recitada na igreja cristã desde os primeiros séculos. E se recitamos a oração, meditando no seu significado, e assim orando de coração com sinceridade, ela serve para nossa instrução e crescimento na fé. Mas não podemos esquecer que estamos falando com nosso Pai Celestial, não recitando palavras sem sentido para uma divindade distante que está simplesmente interessado na recitação de palavras.

Normalmente, orar sinceramente e do coração significa que suas orações terão uma certa liberdade e variedade de palavras. Devemos lançar nossas ansiedades sobre o Senhor (1 Pe 5:7). Devemos apresentar nossas preocupações a Ele (Fp 4:6). Devemos dar graças em todas as circunstâncias (1Ts 5:18). Para fazer isso, precisamos fazer menção das nossas ansiedades, preocupações e circunstâncias específicas. E este é o modelo que vemos em toda a Escritura. As formas fixas têm um lugar muito importante em nossas orações, com certeza: elas podem fornecer estrutura e disciplina para construir bons hábitos. Mas nossas orações devem sempre vir do coração, guiadas pelo Espírito, feitas com fé.

Então, esses são os dois grupos que Jesus nos adverte a não nos assemelhar: não seja como os hipócritas, que só oram para serem vistos pelos homens; e não seja como os gentios, que repetem  palavras vãs.

Em vez disso, Jesus nos diz, ore assim: e então segue a Oração Dominical. E a primeira linha é absolutamente fundamental para entender a essência da oração cristã. Como falamos com Deus?

Começamos nos dirigindo a Ele como nosso Pai. 

Você ouve isso?

O tipo de oração que Deus deseja de nós é a oração que vem de uma criança para seu Pai.

O significado deste nome

Agora devemos começar perguntando o que significa quando invocamos a Deus como nosso “Pai”. Em que sentido ele é nosso Pai?

Existe um sentido em que podemos dizer que Deus é o Pai de todas as pessoas, porque é o nosso Criador. O apóstolo Paulo falou dessa maneira quando se pregou aos gregos em Atenas em Atos capítulo 17. Neste sentido, todas as pessoas são “filhos” de Deus. Adão – o primeiro homem – é também chamado de “Filho de Deus”.

Mas não é isso que se quer dizer aqui. O Pai Nosso não é uma oração para todas as pessoas em todos os lugares, mas para os cristãos. O Senhor Jesus, quando se dirigia aos fariseus, disse-lhes que eles não tinham o direito de invocar Deus como seu Pai. Ele diz:

John 8:42–44: “Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque ele me enviou. (…) Mas vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.”

Assim, embora tem um sentido geral no qual possamos dizer que Deus é o Pai de todos nós, ainda assim, seres pecaminosos, que caíram de Deus, tendo se tornado por natureza e por escolha filhos do Diabo, não têm o direito de invocar Deus como Pai.

Então esta não é uma oração para todos os seres humanos em todos os lugares, mas uma oração para os cristãos, que foram adotados novamente por Deus e tem o direito especial de conhecer Deus como seu Pai. Quando as Escrituras falam de Deus como Pai, ou de indivíduos como filhos de Deus, quase sempre refere não aos seres humanos em geral, mas àqueles que são chamados pela graça de Deus para serem redimidos e separados do mundo. 

No Antigo Testamento, em todos os lugares onde Deus é referido como Pai, é em relação ao Seu povo escolhido Israel—o povo da aliança—que foi tirado do Egito, da escravidão, separado como o povo de Deus. Assim, em Oséias capítulo 11 Deus diz de Israel,

Os. 11:1, 3–4: “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho… Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços… Eu atraí-os com cordas humanas, com laços de amor.”

É uma imagem íntima, não é? Nós que somos pais tiveram a experiência de ensinar nossos filhos a andar, segurando-os pelas mãos, dando os primeiros passos. E essa é a imagem que Deus usa em referência ao Seu povo. 

Também lemos no início desta tarde em Isaías 63, onde Deus também fala do povo de Israel como Seus filhos. E eles também clamam a Deus como Pai. 

Assim também, então, quando chegamos ao Novo Testamento, este termo “filhos de Deus” quase sempre se refere aos filhos especiais e separados – ou seja, aqueles que crêem nEle e O seguem. O Evangelho de João diz assim em João 1:11-13: 

“Ele (Deus) veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”

É nesse sentido, então, que Jesus também nos ensina a chamar Deus de nosso Pai. Há um mundo de diferença entre acreditar na existência de Deus como Criador e conhecê-Lo como nosso Pai em Cristo.

E ainda mais: quando invocamos Deus como Pai, isso se refere tanto ao nosso status (segundo o pacto) de ser filhos adotados (como nós vimos hoje de manhã no batismo), quanto à realidade interna do coração regenerado. Ser um filho de Deus é tanto uma coisa externa e pactual como interna e relacional. Somos chamados a ser Seus filhos, interiormente, significativamente e relacionalmente. Somos chamamos a ser guiados pelo Seu Espírito e conhecê-Lo verdadeiramente como nosso Pai. 

Você pode ver isso mesmo no Antigo Testamento, novamente no texto que lemos de Isaías. Esta oração é imaginada como sendo proferida pelo povo de Deus no exílio, que foi cortado da aliança de Deus e perdeu sua herança e direitos como filhos de Abraão; e nesse texto, nós os vemos clamando a Deus e dizendo, 

Embora Abraão não nos conheça, e Israel não nos reconheça; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o seu nome.

Então ser um filho de Deus não é somente ser batizado em Seu Nome, mesmo que é uma grande benção que de forma nenhuma queremos desprezar. O batismo é a adoção formal e visível que Deus usa para selar o pacto conosco. Mas é uma promessa que demanda uma resposta de nós. Deus nos adota e ama para que o conhecêssemos como nosso Pai e desfrutássemos de relacionamento com Ele. É por isso que Jesus repreendeu os fariseus tão severamente, porque, embora fossem filhos de Abraão e povo da aliança, eles não conheciam nem amavam a Deus, e assim permaneceram, no coração, filhos do diabo.

Que não seja assim conosco. Jesus nos ensina a nos aproximar de Deus como nosso Pai. Para conhecê-lo, amá-lo e viver perto dele.

O desafio apresentado por este nome

Agora, tem um desafio que é apresentado pelo uso deste nome Pai que será profundamente sentido por muitos de nós que não tiveram uma experiência muito boa com nossos pais aqui na terra. A palavra “Pai”, tragicamente, não comunica a mesma coisa a todas as pessoas. A verdade é que tem pessoas – tanto em nossa igreja quanto em qualquer outra – que acham muito difícil chamar Deus de “pai” por causa de tudo que a palavra “pai” significa para elas… e isso por causa do mal-exemplo que seus pais terrenos deram. Os pais, querendo ou não, sempre ensinam aos filhos suas primeiras lições de teologia. Eles enchem a palavra “pai” de significado, para o bem ou para o mal.

  • Alguns de vocês tiveram pais que os abandonaram. Quem saíram da sua família. E você cresceu acreditando que é isso que a palavra “pai” significa. Alguém que produz filhos e os abandona. E então você aplica isso a Deus. Isso é o que significa para Deus ser Pai. Ele nos criou, mas não nos ama. Ele nos abandonou. Aquilo que seu pai terreno lhe ensinou, pelo exemplo dele, é que você nunca conhecerá a Deus. E para muitos—até os que pela graça de Deus aprenderam que Deus não é assim—continuar difícil e chamar Deus de “Pai” por causa de tudo que esta palavra veio a significar
  • Outros tiveram pais que abdicaram de suas responsabilidades por vocês. Talvez eles estivessem fisicamente presentes em casa, mas estavam pessoalmente ausentes. Eles não se aproximaram de você ou se interessaram por você. Eles não desejaram falar com você ou ouvir de você. Eles não o guiaram espiritualmente ou seguraram sua mão ou o pegaram ou o abraçaram ou saíram com você. Eles abdicaram de sua responsabilidade como pai. E você aplica isso a Deus. Ele está , mas não se importa comigo, não está interessado em mim, não quer saber de mim.
  • Outros ainda tiveram pais que eram abusivos. Ele não apenas abandonou você ou ignorou você, mas foi violento com você, ou usou você para seus próprios fins e não para seu bem. Tais pais ferem seus filhos de formas que eles carregarão por toda a sua vida. E você aplica isso a Deus. Ele é cruel, violento, mau. E orar a Deus como “pai” é virtualmente impossível porque é repulsivo. Eu conheci uma mulher na minha universidade que conheceu Deus exatamente assim; ela chegou ao ponto de preferir de pensar que não existe Deus, e que o universo é vazio, porque achou tão intolerável que Deus permitiu que o pai dela fizesse tudo que ele fez quando ela era uma menina pequena. E pra ela, a ideia de Deus como Pai era odiosa. 

O que nós precisamos saber, irmãos, se você teve um pai terreno que o abandonou, abdicou ou abusou de você; é que você tem um pai celestial que não é com seu pai terreno. De fato, o Senhor Jesus, quando nos ensinou esta oração, não apenas reconheceu que tais pais maus existiam, mas nos ensinou que até mesmo aqueles pais que têm os instintos básicos de amor e cuidado que deveriam existir em cada pai; até eles são apenas imitações falhas, pecaminosas e pobres de nosso Pai celestial. Ele diz em Mateus 7:11: “Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem!”

O que Jesus está dizendo é que nós que pertencemos a Ele temos um Pai no céu que supera em muito até o melhor de nossos pais terrenos. Muitos de vocês foram abençoados com pais amorosos, atenciosos e carinhosos que os ensinaram e se interessaram por vocês e foram uma bênção e um refúgio para vocês; mas mesmo eles são apenas imitações pobres de nosso Pai celestial. E aqueles pais que abandonaram, abdicaram ou abusaram de você – eles são o oposto de nosso Pai celestial. Ele é totalmente contra eles. Salmo 34: “Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males.” O Senhor Jesus nos adverte nos termos mais fortes em Mateus 18:6: “Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria que tivesse uma grande pedra de moinho amarrada ao pescoço e se afogasse em a profundidade do mar.” É verdade que até estes pais podem encontrar graça e perdão, mas isso só virá através do caminho árduo do arrependimento ao pé da cruz de Cristo. 

Mas essa não é a paternidade de Deus. 

Então, quando Jesus nos ensina a orar a Deus como nosso Pai, muitos de nós teremos que reaprender o significado da palavra Pai. Muitos de nós teremos que descartar nosso antigo entendimento de paternidade que nos foi ensinada por nossos pais terrenos. De fato, todos nós até um certo ponto teremos que fazer isso. Afinal, Jesus diz que os melhores de nossos pais são maus. Tem em nosso Pai Celestial um amor, compaixão e compromisso que não é visto nem conhecido em até mesmo o melhor de nossos Pais terrenos. Ef 3:15 nos diz que o conceito da “paternidade” vem de Deus primeiro, e não de nós. Deus não se chama “Pai” como imitação da paternidade humana, mas a paternidade humana foi criada para ser um reflexo do relacionamento de Deus conosco. Aqueles de nós na terra que têm o privilégio de ser chamados de “pais” são chamados assim porque somos chamados a imitá-lo. Mesmo os melhores de nossos pais terrenos são imagens falhas e caídas de nosso Pai Celestial. Ele é o Pai perfeito e o verdadeiro significado do que é ser Pai.

Então, alguns de nós vão ter que reaprender o significado da palavra pai. Algumas igrejas, por causa da realidade de pais que abandonam, abdicam e abusam seus filhos, desistiram completamente de usar a palavra “Pai” e, em vez disso, encorajam seus membros a orar a Deus como “Criador” genérico ou mesmo como “mãe” divina. Mas além de ser uma rejeição de palavra de Deus, o que é isso afirma, afinal, é que em vez de nós reaprendermos o que significa ser pai,vamos apenas aceitar todas as mentiras sobre a paternidade que nossos pais terrenos podem ter nos ensinado, e vamos só mudar nossa linguagem sobre Deus. É entregar o terreno da paternidade a Satanás. Mas essa é terreno que pertence a Deus. O que Jesus nos ensina aqui é que, em vez de desistir de falar sobre Deus dessa maneira, precisamos reaprender o que significa ser “pai”. Porque há algo bem no centro do relacionamento de Deus conosco que, de outra forma, perderíamos se desistissemos de chamá-lo de pai.

O conforto deste nome

E é nisso que queremos pensar agora ao encerrarmos. Dadas todas as maneiras pelas quais esse nome pode ser um obstáculo para nós, por que o Senhor Jesus, no entanto, nos ensina a invocar a Deus dessa maneira?

Já vimos que o significado deste título denota aquele relacionamento especial que temos com Deus por aliança, e que desfrutamos este relacionamento ativamente como crentes

E o Senhor Jesus nos mostra a profunda intimidade e amor que vem ao conhecer a Deus como Pai dessa maneira. De todas as pessoas, ninguém conhecia o Pai como Jesus, como o eterno Filho de Deus. Se você ler João capítulo 17—a única longa oração registrada do Senhor Jesus—você terá um vislumbre do poder e da intimidade desse relacionamento. 

Mas o que o Senhor Jesus nos ensina instruindo-nos a invocar a Deus como Pai da mesma forma que Ele chamou a Deus como Seu Pai, é que nós, que pertencemos a Ele, nos tornamos, por assim dizer, irmãos e irmãs de Jesus e portanto filhos de Deus junto com Ele nessa mesma relação de amor. Em outras palavras, se você pertence a Cristo, então Deus o ama como Seu próprio filho precioso tanto quanto Ele ama o próprio Cristo

Lemos anteriormente em Efésios 1. Observe como o apóstolo Paulo começa a carta:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.

Então, para quem Deus é Pai? Em primeiro lugar, Ele é o Pai de Jesus Cristo. Esse relacionamento perfeito de amor é selado e ininterrupto por toda a eternidade. 

Mas então ouça o que Paulo continua a dizer:

“…que nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele . Em amor nos predestinou para adoção de filhos por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade”.

Aqui está a grande ideia: nós que cremos em Cristo não estamos aqui na igreja por acaso. A razão pela qual estamos aqui é porque Deus, nosso Pai, desde a eternidade colocou Seu amor sobre nós em Cristo e nos adotou em Cristo como Seus próprios filhos amados.

Quando Ele enviou Cristo para morrer, Ele enviou Cristo para morrer por aqueles que Ele havia dado de antemão a Cristo. Para aqueles sobre quem Ele já havia colocado Seu amor. E Ele enviou Seu Filho Jesus Cristo para morrer por eles, para redimi-los da condenação por seus pecados, a fim de poder restaurá-los a Si mesmo para que eles O conhecessem – agora e na eternidade – como seu amado Pai . 

Então, é isso que a “paternidade” de Deus significa: se você pertence a Cristo, então Deus o Pai está absolutamente comprometido com você como Seu próprio filho precioso, e não vai parar por nada para protegê-lo, para sustentá-lo, para trazê-lo em relacionamento com Ele mesmo, para amá-lo, nutri-lo e guiá-lo para o seu bem e para a glória dEle

E se somos filhos de Deus, continua o Apóstolo, também somos herdeiros. Assim como qualquer filho é um herdeiro legítimo da propriedade de seu pai, também em Cristo somos herdeiros da vida eterna. Ele diz no versículo 11:

Ef. 1:11-12: “Nele obtivemos herança, tendo sido predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, para que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, fôssemos o louvor da sua glória.”

Quando o Senhor Jesus nos ensina a chamar Deus de nosso Pai, ele está nos mostrando que há em Deus um amor por Seus filhos, por meio de Cristo e por amor de Cristo, que busca nosso bem e nossa alegria, como todo Pai deve fazer por Seus filhos, mas com uma perfeição e poder celestial que é incomparável, que tem de propósito nos ver confirmados e aperfeiçoados para nossa herança de vida eterna com Ele. Essa é a relação de paternidade que o Senhor Jesus está nos ensinando a reconhecer quando nos ensina a invocar Deus como Pai.

E porque é isso que Deus é, o Senhor Jesus está nos ensinando que estamos seguros para responder à paternidade perfeita, comprometida e amorosa de Deus, chamando-O de nosso Pai em nossas orações. Que Ele não é um Pai que vai nos trair ou nos abandonar.

Assim, quando O invocamos como Pai, como diz o catecismo, isto desperta um senso infantil de reverência e confiança que é fundamental para nossa oração. Nós O respeitamos como devemos respeitar nossos próprios pais, mas também somos convidados a confiar nEle, porque Ele é confiável, de uma forma que nem mesmo o melhor pai terreno é confiável.

Quando reaprendemos o significado da paternidade conhecendo nosso Deus, aprendemos também o que significa ser crianças novamente. Talvez isto é um conceito estranho para nós adultos. Quando Jesus ensina que devemos ter uma fé de criança, isto não quer dizer que devemos deixar de ser maduros. Somos chamados a ser maduros. Mas diante do nosso Pai, devemos ter a mesma confiança completa e segurança que uma criança tem diante de seu Pai. Diante de Deus, em alguns aspectos, ainda somos como crianças. Somos pequenos. Somos fracos. Somos dependentes. Nem sempre sabemos o que é melhor para nós. Precisamos de sua liderança e orientação. E então vimos diante de nosso Pai com uma confiança madura e sábia que pertence nos filhos de Deus. 

As crianças nunca deveriam ter que questionar se seu pai ou mãe está investindo em seu bem. E para a maioria das crianças, não é algo que elas jamais terão que questionar. Esse é o ponto do Senhor aqui em Mateus 7: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.”

Você que teve um relacionamento bom com seu pai, você sabe disso. Se você já precisou de ajuda com alguma coisa, você só precisava perguntar: “Pai, você pode me ajudar?” Se meu filho precisar de um copo d’água, tudo o que ele precisa fazer é pedir.

Se seu pai não estivesse na sala, você sabia que tudo o que precisava fazer era procurar, e o encontraria. Ele não está se escondendo de você. À medida que você envelhece, ele lhe dá um número de telefone, então tudo que você precisa fazer é ligar. Procure e o encontrará. E se meu filho precisar de alguma coisa, e eu não estiver presente, mas no meu escritório, ele sabe que tudo o que tem a fazer é bater, e eu abro a porta para ele. (Às vezes ele abusa desse poder.) Jesus promete que nosso Pai não está longe de nós, mas se o buscamos, o encontramos. Ele cuidará de seus filhos. Ele não vai deixar a porta fechada.

E assim, o Senhor Jesus está nos ensinando, a partir de sua própria experiência abençoada com Seu Pai, que é assim que você vem diante de Seu Pai em oração. Invoque-O como seu Pai Celestial. A atitude que deve caracterizar todas as nossas orações deve ser a de filhos que sabem que seu Pai os ama e os ouve e nunca os ignora ou fecha a porta para eles. 

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Agora, Jesus também nos ensina a nos dirigir a Deus como nosso Pai “no céu”. A frase “no céu” não existe para sugerir alguma distância entre nós e nosso Pai. É verdade que Ele está no céu, e nós estamos na terra. Mas isso não significa que Ele esteja longe de nós. Sl 145:18: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade.”

O que Jesus está nos ensinando ao nos lembrar que nosso Pai está no céu é, em primeiro lugar, lembrar que Ele não é o mesmo que nossos pais na terra. Nós temos um pai terreno e um pai celestial – e se você não tem um pai terreno, você ainda tem um pai celestial.

Mas também, o Senhor Jesus está nos lembrando que nosso Pai está entronizado no Céu e, portanto, poderoso para fazer tudo o que Lhe pedimos. Ele não apenas ouve o que lhe pedimos em segredo, mas também age no céu e move céus e terra em resposta às nossas orações. Ele não está apenas disposto, como nosso Pai, a prover para nós o que Lhe pedimos; mas também é capaz, como nosso celestial PaiNosso Pai é o Senhor dos Exércitos. Seu Pai tem dezenas de milhares de anjos poderosos que servem ao Seu comando. Nada, nada pode nos separar do Seu amor. 

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Nas próximas semanas, veremos as coisas pelas quais o Senhor Jesus nos ensinou a orar pelas e quais. Mas esta semana, irmãos e irmãs, passem algum tempo pensando em como vocês rezam e, especialmente, para quem vocês estão rezando, e como podemos começar a refletir em nossas orações a reverência infantil e a confiança que Deus deseja ver em nós como nosso perfeito, incorruptível e amoroso Pai Celestial. 

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.