Dia do Senhor 15-16a

Leitura: Romanos 5.6,6.4; 2 Coríntios 5.11-21
Texto: Dia do Senhor 15-16a

Amados irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Nestes domingos de manhã, estamos examinando à luz das escrituras as afirmações do Credo Apostólico: o credo mais antigo do cristianismo, que desde os primeiros séculos foi usado para resumir a fé cristã. Hoje chegamos à afirmação no Credo de que Jesus Cristo sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.

Essas poucas palavras tocam bem no centro do Evangelho. Tão central é morte de Jesus para a fé Cristã que o apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos coríntios (lemos em sua segunda carta, mas em sua primeira carta) ele escreve aos coríntios, 1 Cor. 2:2: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.”

Então, ao estudar o significado desta confissão, queremos começar pensando sobre o quê que nós confessamos quando dizemos, “ele sofreu.”

Essas palavras curtas: “ele sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado” apenas começam a captar a profundidade do sofrimento e angústia de Cristo.

Na verdade, os sofrimentos de Cristo começaram muito antes de seus últimos dias. Paulo escreve em sua carta aos filipenses que até mesmo o ato de entrar em nosso mundo foi um ato de grande humildade e abnegação. O eterno Filho de Deus deixou Sua majestade e glória para entrar em nosso mundo quebrado, mau e empobrecido, e viver entre nós – nascido em uma família de carpinteiro pobre, nascido em um estábulo de gado, colocado em uma manjedoura – isto já é o começo de uma vida de sofrimento e aflição por nossa causa. Você já entrou numa casa de alguém, uma casa suja, fedorenta, bagunçada, e sentiu aquela agonia de sair e voltar pra sua casa ou pelo menos pra o ar-livre? Imagine como Cristo sentiu entrando em nosso mundo pecaminoso.

Além disso, durante seus anos de ministério, Cristo experimentou constante rejeição, mal-entendido, deturpação, calúnia e traição, a fim de pregar e ministrar a um povo que acabaria por exigir que ele fosse crucificado.

Mas aqui no Credo Apostólico, a ênfase está no sofrimento de Jesus no final de sua vida, sob o governante Pôncio Pilatos. É interessante que o nome de Pôncio Pilatos ficou nos credos do cristianismo desde o início. O preço pela covardia dele naquele momento é que o nome dele se tornou infame por todos os séculos. Neste caso, o nome dele está incluído no credo para datar a morte de Cristo, para mostrar que os acontecimentos acerca de Jesus são baseados em fatos históricos.

E aqui, a mera declaração de que Cristo “sofreu” sob Pôncio Pilatos nem mesmo começa a captar o que Cristo suportou. Quando recitamos esta parte do Credo, não devemos deixar de lembrar a profundeza do sofrimento do que estamos falando.

Mas a sofrimento de Cristo no final da sua vida não foi somente na cruz. Já começou antes. Ele foi traído por um de seus próprios discípulos—Judas—que ele havia escolhido e com quem estivera por três anos.

Ele então foi levado a um julgamento predeterminado, onde foi falsamente acusado.

Durante aquele julgamento, ele também foi traído por Pedro, um de seus amigos mais próximos que jurou ficar com ele até o fim, mas o negou três vezes. Todos os demais amigos e discípulos também fugiram dele. Então ele foi deixado totalmente sozinho.

Então ele foi açoitado. Ele teria sido despido e amarrado a um poste, e lá teria sido chicoteado com chicotes destinados apenas a pessoas que seriam crucificadas, para desumanizá-las e infligir-lhes a pior punição possível.

Durante sua flagelação, ele foi entregue à crueldade dos soldados romanos – homens brutais e vulgares que detestavam completamente os judeus. Eles torceram uma coroa de espinhos e a pressionaram em sua cabeça, e colocaram um manto púrpura sobre ele, zombando dele e dizendo “Salve, rei dos judeus”, e batendo nele com as mãos.

E então ele foi crucificado. Ainda hoje, a crucificação é considerada por muitos como a pior forma de execução já inventada. Foi a brutalidade do Império Romano no seu pior. No mundo da Roma Antiga, essa era a punição mais horrível e vergonhosa possível; era tão brutal que era reservado apenas para escravos e os mais baixos criminosos; Os cidadãos romanos não podiam ser crucificados, exceto com a permissão específica do imperador.

Eles fizeram Jesus carregar sua própria trave para fora da cidade, para a colina onde seria crucificado; esta era uma prática normal. Muitas vítimas, já em estado de choque e morrendo com as chicotadas, desabariam sob o peso da trave, razão pela qual os outros Evangelhos nos dizem que os soldados chamaram um homem passando por perto – Simão de Cirene – para carregar a cruz o resto do caminho.

Quando eles chegaram à colina chamada Gólgota, eles fizeram Jesus se deitar de costas, e então cravaram longas estacas em seus pulsos na viga horizontal. Então eles o içaram na viga vertical e pregaram seus pés nela.

A crucificação era então uma morte lenta por asfixia. Normalmente a pessoa que era crucificada ficava pendurada ali nua e ensanguentada, entrando e saindo da consciência por dias, antes de finalmente, a perda de sangue e a desidratação fariam com que a pessoa sufocasse e morresse. Foi projetado para ser a maneira mais lenta, dolorosa e vergonhosa de morrer.

O sofrimento físico que Jesus suportou está além de qualquer descrição.

Mas precisamos reconhecer que além do sofrimento físico, estava a agonia espiritual de saber que Seu Pai havia lhe dado as costas. Aqueles de nós que têm um pai bom e amoroso só podem imaginar como seria suportar o que Jesus suportou e ver nosso próprio pai virar as costas para nós. Quanto mais então teria sido a angústia de Cristo ao ver Seu Pai eterno, com quem Ele havia desfrutado do relacionamento de amor mais perfeito, virar o rosto para longe dEle. E então Jesus clamou da cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”

Aquele que não fez nada de errado, que obedeceu ao Pai perfeitamente, foi rejeitado pelo povo que Ele veio salvar, e então rejeitado por Seu Pai.

Por que, irmãos e irmãs? Por que Cristo sofreu e morreu? Essa é a questão que queremos pensar agora.

A resposta que a Escritura dá é inequívoca: por nosso pecado. Cristo morreu por nossos pecados. 1 Cor. 15:3: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.”

Agora, seria bom pensar um pouco mais sobre esta resposta: “por nossos pecados” para entender o que a Bíblia ensina sobre isso, porque existem algumas maneiras erradas pelas quais essa resposta não foi bem compreendida.

O catecismo faz a pergunta: “Por que foi necessário que Cristo se humilhasse até a morte?” E dá a resposta: “Por causa da justiça e verdade de Deus, a satisfação pelos nossos pecados não poderia ser feita de outra forma senão pela morte do Filho de Deus.”

Por causa da justiça e verdade de Deus. Este é o ponto. Mas para muitos até ditos “Cristãos,” esta resposta é inaceitável. Por que?

Por que por trás desta resposta é um entendimento de Deus—um entendimento Bíblico—de que Deus é absolutamente, totalmente e perfeitamente justo. Ele é justo. O que isso significa é que Ele sempre retribuirá corretamente tudo o que for feito.

Há muitas pessoas que se ofendem com a ideia de que Cristo morreu na cruz por este motivo, porque eles acham que Deus não precisa retribuir o pecado. Eles acham que isso isso torna Deus vingativo, como se Deus estivesse com raiva do pecado e tivesse que descontar em alguém, como um homem abusivo.

O que eles não conseguem entender é que Deus é justo. Ele é perfeitamente justo, e sempre defenderá sua justiça. Nenhum de nós tem dificuldade quando uma pessoa cruel e má recebe a sentença que merece após um julgamento justo. Quando um assassino ou estuprador for condenado, nós não temos problemas com isso, porque entendemos e aceitamos a justiça disso. Não é vingativo, é simplesmente justiça. Sabemos que a justiça deve ser mantida. E quando a justiça for violada, e os homens maus escapam impunes, nós ficamos revoltados. A necessidade de justiça está escrita em nossos corações, porque fomos feitos na imagem de Deus.

Mas quando estamos falando sobre os nossos pecados cometidos contra Deus, nós rebelamos contra esta ideia. Mas este entendimento natural que nós temos da justiça é apenas um pequeno reflexo da perfeita justiça de Deus.

Irmãos, Deus é verdadeiramente e perfeitamente justo. Deut. 32:4 diz sobre Deus: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.” Esse é o nosso Deus. Isso significa que Ele não pode deixar o pecado sem puni-lo. Assim como todos sentimos que isso seria errado em casos criminais de homicídio ou estupro, Deus carrega esse senso de justiça, perfeitamente, dentro de Si mesmo, até mesmo no menor dos nossos pecados. Ele não vai deixá-los sem punir. Ele não pode. E ele não deveria

E irmãos, é exatamente por isso que Ele é para nós uma “Rocha.” Ele é a Rocha para a qual os cristãos fogem quando eles ou suas famílias são perseguidos por sua fé. Ele é a Rocha a quem nos voltamos e em quem encontramos refúgio quando o mal é perpetrado contra nós, porque sabemos que Ele não o esquecerá. Ele certamente irá puni-lo.

Este é um conforto para nós quando um mal terrível é feito contra nós, ou quando testemunhamos um terrível mal sendo feito no mundo ao nosso redor. Encontramos conforto e segurança em saber que Deus o punirá.

Mas esta é também a ameaça mais grave que nós enfrentamos, porque Deus observe não somente o pecado dos outros, mas os nossos também. E Deus não só punirá os pecados que nós consideramos graves, mas todos—com a punição que Ele, em Sua justiça perfeita, achar justo.

A Escritura diz que o salário do pecado é a morte. Deus disse a Adão e Eva no jardim, sobre algo tão insignificante como comer um fruto proibido: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” E quando comeram dele, Deus os amaldiçoou e, por fim, declarou: “do pó fostes tirados, e ao pó voltarás”. O salário do pecado é a morte. O pecado não sobreviverá na presença do justo e santo Juiz da terra.

Não é vingança. É a justiça de Deus que levou Cristo à cruz.

Mas também lá na cruz, nós vemos a grande misericórdia de Deus. Cristo foi para a cruz—e para a morte—para levar em Seu corpo e alma o justo julgamento de Deus por nossos pecados—para que você e eu não tivéssemos que suportá-lo nós mesmos. É a misericórdia de Deus.

Agora, tem pessoas que acham inaceitável esta explicação de por que Cristo morreu. E eles sugerem outros motivos para explicar a morte de Cristo.

1. Alguns dizem que Ele morreu, não para satisfazer a ira de Deus, mas como um exemplo de amor. Isso é chamado de “Teoria da Influência Moral”. Agora é verdade—quem pode negar?—que a morte de Cristo é o supremo exemplo de amor. Romanos 5 – que lemos anteriormente – nos diz isso também: “mas Deus mostra seu amor por nós porque, enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós”. 

Mas esta explicação, sozinha, é insuficiente. Por que? Porque a morte de Cristo só pode ser um exemplo de amor se foi para nos salvar. Se não for para nos salvar, não seria um exemplo de amor. Se eu for correr lá fora na rua e ficar atropelado por um carro, sem necessidade, por amor de vocês, que exemplo de amor seria esse? Mas se eu corresse para a rua para salvar uma criança, sabendo que eu perderia minha vida por consequência, isso seria um exemplo de amor. Então sim, o amor de Cristo por nós é belamente mostrado na cruz, porque ele sofreu isso para nos salvar.

Outros dirão: Cristo morreu, não para satisfazer a ira de Deus, mas para derrotar o poder da morte. Isso é chamado de “Teoria do Resgate”. A ideia é que Cristo essencialmente enganou a morte, fazendo com que a morte mordesse mais do que poderia mastigar, ao engolir o Filho imortal de Deus e, assim, ele destruiu o poder a morte. É como na história de Nárnia, como Aslan morreu em lugar do menino, mas sem a bruxa entender que ele estava quebrando o feitiço.

Nessa teoria também, tem um semente da verdade. Cristo, quando morreu, quebrou o poder da morte. 1 Cor. 15:54–55: “Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”

Mas isso também é verdade somente porque Cristo satisfez o justo julgamento de Deus. Foi o justo castigo de Deus, por causa do pecado, que trouxe a morte em primeiro lugar. A morte não existe independentemente, como alguma força ou personagem que precisa ser conquistada. Não, a morte é a consequência que Deus impôs no mundo. E foi somente por isso que quando Cristo morreu, ele quebrou o poder da morte. Porque satisfez a justiça de Deus. 

Então, quando confessamos aqui que Cristo sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, precisamos reconhecer que Ele fez isso para satisfazer a perfeita justiça de Deus, para libertar pecadores como você e eu do inferno, e para reconciliar-nos com Deus. Esta confissão é o centro da fé Cristã.

Foi por isso também que Cristo morreu numa cruz, em cumprimento das Escrituras, a fim de ser amaldiçoado por Deus, a fim de salvar a nós que estávamos sob a maldição de Deus. Deuteronômio 21:23 declara, “o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus” e Paulo diz em Gal. 3:13: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro).” O ato de pendurar alguém em uma árvore ou poste era uma forma visível de dizer: essa pessoa está pendurada entre o céu e a terra – rejeitada na terra e rejeitada no céu. Assim foi Cristo para nós.

Nós confessamos também que Cristo foi sepultado. A única coisa que o catecismo diz sobre o sepultamento de Cristo é que provou que Ele realmente morreu – o que é verdade – mas devemos reconhecer que esta também paz parte da obra de Cristo por nós, porque assim ele cumpriu a maldição de Deus: Gen. 3:19: “tu és pó e ao pó tornarás.” Então a confissão sobre o sepultamento de Cristo está aqui para mostrar que Ele cumpriu inteiramente a maldição que estava sobre nós.

Assim, Cristo sofreu, foi crucificado, morto e sepultado, a fim de satisfazer a Santa justiça de Deus contra o pecado e para ser a maldição em nosso lugar. Isso precisa ser sempre central para a nossa compreensão da morte de Cristo na cruz. E precisa permanecer no centro de nossa compreensão de quem é Cristo e para que veio. É incrível que existem tantas pessoas que dizem que aceitam a Cristo como alguém que ensinou coisas boas, mas dizem que não concordam com a doutrina do inferno ou com a justa ira de Deus. Não tem como ter uma coisa sem a outra. Cristo veio para morrer, e não há outra maneira de entender Sua morte, exceto que Ele morreu para satisfazer a ira de Deus e, assim, nos livrar do julgamento. Esse é o único Jesus que existe.

——

Agora quando confessamos que Cristo morreu em nosso lugar, é importante entender como isso pode ser. Uma das maiores objeções contra a ideia da morte substitutiva de Cristo—além da questão da justa ira de Deus que nós tratamos—é a questão da justiça em uma pessoa morrendo para pagar os pecados de outra. Como é que pode? Será que isso é justo? Deus pode castigar um homem justo no lugar de homens injustos?

É por isso importante entendermos a teologia pactual por trás da morte de Jesus. Quando Cristo morreu para nós, não era como um homem desconhecido morrendo por desconhecidos.

Não, a Bíblia nos ensina que nós fomos unidos com Cristo. Pertencemos a ele. Fomos contados com Ele quando Ele morreu. Ele morreu por nós, o povo que Deus deu para Ele. Cristo mesmo disse (João 10), “Eu conheço minhas ovelhas,” e “dou a minha vida por elas.” Paulo também fala sobre Cristo como um “segundo Adão,” e nós somos como os filhos dele, a nova raça humana. Isto é importante porque quando Cristo morreu por nós, não era como um homem morrendo por outros, mas como um Pai morrendo por seus filhos, ou um marido morrendo por sua esposa. Ele é o cabeço do pacto, ao qual nós pertencemos. 

A consequência disso é que quando Ele morreu por nós, nós fomos contados com ele junto com Ele na cruz. Paulo, em Romanos 6, diz que quando fomos batizados nEle, fomos batizados na morte dEle e na ressurreição dEle. Não é que nós simplesmente escapamos a justiça de Deus. Não é que nós simplesmente trocamos lugares com ele. Nós morremos lá na cruz com Ele. Mesmo que nossas mãos não foram pregadas à cruz, Deus nos conta como tendo morrido lá na cruz com Ele. E pelo mesmo argumento, quando Ele ressuscitou, nós ressuscitamos junto com Ele. Sua morte é nossa morte, sua ressureição é nossa ressureição, porque nós, pela graça de Deus, fomos contados com Ele.  

Portanto, 2 Coríntios 5:14 – que lemos juntos – diz: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram.” Quando fala “todos,” claro, é todos que pertencem a ele. Novamente em 2 Coríntios 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” Notem bem esta palavra “nEle.” Quais são os justificados? Os que estão nEle. E como é que sua morte se aplica para nossa justificação? Por meio do pacto pelo qual nós pertencemos a Ele. Nos olhos de Deus, estamos contados com Ele. 

Estamos unidos a Ele em Sua morte e estamos unidos a Ele em Sua ressurreição.

Ouça novamente em Gálatas 2:19: o Apóstolo Paulo diz, “Eu estou crucificado com Cristo.”

Você pensou que Cristo estava na cruz, e você aqui longe, escapando a justiça de Deus? Não. Mesmo que você nunca sofreu a crucificação fisicamente, você—se pertence a Ele—foi lá na cruz com Ele. Pelo menos, assim que Deus vê você. Minha cabeça, meu salvador, meu Senhor morreu por mim—e por isso, eu morri também. E qual a consequência disso? Paulo continua:“logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” Por que? Porque eu morri. O velho eu morreu ali na cruz. E a pessoa que ressuscitou foi um novo homem em Cristo, que agora vive em mim.

Por isso Paulo conclui dizendo: “Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.”

Portanto, irmãos e irmãs, entendam bem: quando Cristo morreu ali naquela cruz, vocês que são batizados nEle também morreram com Ele. Mesmo que você não iria nascer por mais dois mil anos, Deus considera você como estando lá com Cristo. Assim como, quando Adão – nosso primeiro cabeça da aliança – caiu em pecado, nós caímos com Ele; então, quando Cristo, nosso novo Cabeça da aliança, morreu para o pecado, nós morremos com Ele; e quando Ele ressuscitou para uma nova vida, nós ressuscitamos com ele.

Irmãos e irmãs, quero que saibam que essas são boas novas. Você morreu para o pecado! Você se sente desanimado porque parece que não consegue vencer o pecado em sua própria vida? Saiba disto: embora sua carne – seu corpo, sua mente, suas emoções, tudo isso é o que a Bíblia se refere quando fala de sua carne – embora sua carne ainda esteja corrompida pelo pecado, você mesmo morreu para o pecado—você morreu!—e você não é mais governado pelo pecado, porque o Espírito de Cristo vive em você. Qualquer progresso real na luta contra o seu pecado tem que começar aí. Você morreu para o pecado! Os pecados que você ainda comete não são da nova pessoa que você é que ressuscitou com Cristo! Sim, nós ainda temos que tomar responsabilidade pelos pecados que cometemos. Ainda precisam ser confessados e tratados. Mas podemos fazer isso sabendo que isso não representa mais quem nós somos. Você quem crê em Cristo é uma nova criação nEle!

Portanto, a morte de Cristo na cruz nos dá o perdão de nossos pecados, porque o salário do pecado foi pago e a ira de Deus foi satisfeita – e a cruz de Cristo nos dá a morte para o pecado que, junto com a ressurreição , nos torna novas pessoas em Cristo e nos dá uma nova vida. Esse é o ponto de partida e o fundamento para a transformação da vida cristã do pecado para a santidade.

——

Um ponto final: uma vez que estamos unidos a Cristo em Seu sofrimento e morte, também somos chamados a viver de acordo com esta realidade aqui na terra, que inclui compartilhar os sofrimentos de Cristo aqui na terra. Assim como Ele foi rejeitado e afligido, nós, unidos a Ele, podemos esperar ser rejeitados e afligidos. As Escrituras falam freqüentemente de nossa participação nos sofrimentos de Cristo. Para usar a linguagem do apostolo Paulo, carregamos as marcas de Sua aflição em nossos corpos. Preenchemos em nossos corpos o que ainda falta (em nossos corpos) da plena medida de suas aflições.

O que isso significa é que devemos refletir o coração de Cristo ao sairmos pelo mundo, sabendo que é um mundo cheio de miséria, sofrimento, e pecado. Entramos neste mundo sujo, fedorento, e bagunçado com a expectativa de participar nos sofrimentos de Cristo para a redenção deste mundo. Claro que nosso sofrimento não é igual a de Cristo. Nosso sofrimento não expia os pecados, que são expiados somente pela cruz de Cristo. Mas ainda assim, entramos neste mundo reconhecendo que já que pertencemos a Ele, podemos esperar sofrer com Ele, e dar as nossas vidas para a glória de Deus e para a redenção deste mundo.

Há muito sofrimento envolvido em ser um discípulo de Cristo. Em muitos aspectos, sofrer como Ele sofreu é como provamos que somos Seus discípulos.

Mesmo se não carregamos Suas aflições em nossos corpos físicos, certamente as carregaremos em nossos corações – clamando a Deus, todos os dias, por nossos irmãos que estão sofrendo como Cristo – açoitados, torturados e até crucificados. Mesmo que não sejamos chamados a sofrer da mesma maneira que eles, como cristãos devemos estar dispostos a fazê-lo para sermos contados entre eles e juntamente com Cristo. Portanto, sabendo o que Cristo sofreu por nós, e sabendo o que tantos cristãos sofrem agora, participamos de seus sofrimentos levantando sua causa diante do trono de Deus, todos os dias, com gemidos e gritos diante dele para fazer justiça aos nossos semelhantes crentes e para os livrar das suas perseguições. Como o autor de Hebreus nos ordena: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus-tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.”

E também em nossa vida, embora nem todos soframos corporalmente como eles, ainda assim aceitamos as dificuldades e aflições que surgem em nosso caminho por causa de nossa fé.

  • A batalha constante e sem fim contra nosso próprio pecado.
  • O sofrimento de dar nossas vidas por nossos companheiros cristãos, dando de nosso tempo, nossa força, nossa energia, nossos recursos, empobrecendo a nós mesmos e experimentando dor e fraqueza em nossos corpos como resultado de um serviço sacrificial constante de amor.
  • Os desafios e frustrações em criar nossos filhos no temor do Senhor,
  • A difícil e interminável tarefa de visitar os fracos e aflitos em nosso meio e compartilhar com eles, às vezes repetidamente, o conforto que temos em Cristo.
  • Chorando com aqueles que choram. Compartilhando a dor de quem está sofrendo em nosso meio. Não nos distanciando dessa dor, mas ao invés disso, compartilhando avidamente dessa dor para que possamos ser contados como participantes nos sofrimentos de Cristo.

Então, já que Cristo sofreu e morreu por nós – e nós morremos com Ele – suportamos com alegria Seus sofrimentos também em nossos próprios corpos, ao buscarmos com Ele o reino e a justiça de Deus.

Portanto, irmãos e irmãs: saibam que este é o amor de Deus por vocês, que Cristo se contou com vocês e suportou o pior sofrimento imaginável por vocês, a fim de livrá-los da ira de Deus e trazê-los através da morte para nova vida do outro lado.

Portanto também: matem o seu pecado, porque é o pecado pelo qual Cristo morreu para vos libertar. 

Portanto também: dêem graças a Deus pela redenção que nós obtivemos em Cristo.

E finalmente: sigam os passos de Cristo, a quem estamos unidos. Não tenham medo de carregar em seu corpo as marcas de seu sofrimento. É o sofrimento que leva à glória.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.