Dia do Senhor 45

Leitura: 1 Reis 8.22-53, Mateus 6.5-15, Efésios 6.10-20
Texto: Dia do Senhor 45

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Na semana passada, terminamos de estudar os Dez Mandamentos e espero que tenha sido tão enriquecedor e útil para você quanto foi para mim passar esse tempo meditando na nova vida que Deus colocou diante de nós em Sua lei. E agora quero chamar a sua atenção para como o catecismo conclui aquele estudo no Dia do Senhor 44: você notará que duas vezes, na conclusão do catecismo sobre a lei, menciona a importância de oração. Primeiro, ele levanta a questão: uma vez que não podemos guardar a lei perfeitamente, por que a pregamos tão estritamente? E responde:

Primeiro, para que ao longo das nossas vidas possamos cada vez mais estar conscientes da nossa natureza pecaminosa, e assim buscarmos com mais fervor o perdão dos pecados e a justiça de Cristo. Não menciona a palavra “oração”, mas essa é a ideia por trás da palavra “buscar”, certo? Quando passamos a ver nossos pecados e falhas, isso deveria nos levar a procurar a misericórdia de Deus, o que fazemos em oração, invocando Seu Nome. Aquilo é uma característica básica da vida cristã, algo que os cristãos fazem diariamente: confessando seus pecados a Deus e orando por perdão.

Em segundo lugar, diz o catecismo, pregamos a lei rigorosamente para que, ao orarmos a Deus pela graça do Espírito Santo, jamais deixemos de batalhar para sermos cada vez mais renovados à imagem de Deus, até que após esta vida alcancemos o alvo da perfeição.

Também aqui vemos a primeira importância da oração. Se ouvimos bem a Palavra de Deus sobre a nossa escravidão e sobre o caminho para a liberdade que Ele colocou diante de nós, isso deveria nos levar a uma profunda consciência de quão fracos e frágeis somos, e quão seriamente nós precisamos da graça dEle. Se quisermos caminhar nesse caminho de liberdade, só vamos conseguir fazer isso pela Sua força, com o Seu Espírito. O única maneira de viver essa nova vida é sendo renovados, transformados, e capacitados pelo Espírito de Deus. Precisamos que Deus trabalhe em nós, mudando nossos corações, renovando nossas mentes, fortalecendo nossa vontade.

E então, como você consegue isso? Como você fica cheio do Espírito? Obviamente, não por sua própria força. Isso não é algo que você pode fazer, é algo que Deus tem que fazer por você. Mas Deus lhe deu os meios, e esses meios são, #1, a Palavra de Deus, #2, os sacramentos, e #3, a oração.

É por isso que é natural que agora que terminamos o nosso estudo dos Dez Mandamentos que vamos estudar a oração, através do Pai Nosso. Se soubermos como oração é essencial para a vida cristã, então queremos clamar a Deus, como os discípulos de Cristo fizeram: “Senhor, ensina-nos a orar!” Ensina-nos a orar.

A importância da oração na vida cristã

É por isso que o catecismo nos diz que a oração é a “parte mais importante” da gratidão que Deus exige de nós. O objetivo disso não é jogar oração contra outros aspectos da vida cristã, como a obediência aos mandamentos de Deus ou qualquer outra coisa, mas é simplesmente dizer: é aqui que começa, e é daqui que o resto da vida cristã deriva seu poder e direção. Como um carro sem motor ou sem combustível, um cristão sem oração não vai a lugar nenhum.

Portanto, não se pode exagerar a importância da oração para a vida cristã. Foi dito – e acho que é verdade – que o indicador mais confiável de sua vitalidade espiritual como cristão é sua vida de oração. É o principal entre os sinais vitais de um cristão. Se você não está orando, você não está respirando. E se você não está respirando, você não está vivo.

Não digo isso para constranger ninguém para assim colocar sua vida de oração em ordem, porque se for fazer por constrangimento, já seria a motivação errada; mas é para ajudar você a ver que se não orarmos, a nossa vida espiritual como cristão carece da sua fonte mais básica de poder e direção, e por isso não devemos esperar ver qualquer crescimento em vida e liberdade nestas áreas que acabamos de ver. Você quer crescer como Cristão? Você quer amadurecer? Você quer viver na alegria da liberdade que Cristo comprou para você? Então comece a cultivar uma vida significativa de oração, e você descobrirá que Deus não só se deleita em responder a suas orações, mas também se deleita de trabalhar através delas para que você cresça e amadureça na sua fé e vida cristã.

Então, durante as próximas semanas, vamos estudar o Pai Nosso, linha por linha, com o objetivo de que Deus não apenas nos ensine como orar, mas também que Ele renove o nosso desejo e o nosso senso da necessidade de oração em nossas vidas.

Uma objeção comum à oração

Agora, antes de irmos longe demais, devemos fazer uma pausa para lidar com uma objeção muito comum contra a oração. Pode parecer algo meramente filosófico, mas afeta na prática as nossas orações. E é isto: “Se Deus já sabe o que eu preciso; e ainda mais, se Deus já determinou o que fará; então por que eu deveria orar?” Que diferença faz?

Agora, com certeza, ambas as premissas são bíblicas. Deus sim já sabe o que precisamos, antes de pedirmos a Ele – assim disse Cristo. E Deus sim já sabe de todas as propostas dEle para a nossa vida, e soberanamente as realizará. Então por que devemos orar?

Bem, é interessante que Cristo afirma estas duas verdades, claramente – lemos isso no texto de Mateus 6 – e então, no próximo verso, Ele nos diz: “portanto, ore assim”. E Ele nos dá a oração do Pai Nosso. Então Jesus sabia que Deus o Pai já conhece as nossas necessidades, e isso não era nenhum motivo que o impedisse de orar. Na verdade, quando olhamos para a vida de Jesus na terra, descobrimos que Ele passou muitas e muitas horas sozinho em oração! Muitas vezes O encontramos nos Evangelhos retirando-se das multidões para passar algum tempo sozinho em oração. Jesus – o Filho de Deus, que já sabia o coração do Pai e o plano do Pai – ainda viu a oração como extremamente necessária. Então, se era necessário que Jesus orasse, quanto mais é necessário para nós?

Aqui, a melhor coisa que podemos fazer diante deste dilema é simplesmente confiar nas instruções de Deus e orar. As Escrituras nos lembram, Deut. 29:29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Não podemos subir ao céu e ver todos os mistérios dos planos divinos de Deus, ou compreender como Ele faz o que faz. Se Ele nos diz para orar, então devemos orar. E o que podemos dizer, se é que podemos dizer alguma coisa, é que se Deus ordena o fim, então Ele também ordena o meio. Se Deus ordena que Ele irá agir fazer determinada coisa, então Ele também ordena que irá o fazer em resposta às nossas orações.

Seria uma coisa muito tola, não seria, se no final de todas as coisas, tivéssemos que estar diante de Deus, e Deus nos perguntasse: “por que você não orou por essas pessoas, para que elas se arrependessem, e eu poderia tê-los salvado?” E nós responderíamos a Deus: “Deus, qual foi o sentido de orar, já que Tu evidentemente decidistes não salvá-los?” O que Deus diria de volta para nós? “Talvez sim, mas você deveria ter orado, e se tivesse orado, eu teria os salvo.” É isso que Deus nos chama a fazer: não resolver mistérios lógicos em nossas cabeças, mas obedecê-Lo e confiar Nele que Ele age em resposta às nossas orações. É isso que Deus revela para nós. Diz o apóstolo Tiago,

Tiago 5:15–16: “E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.”

O SENHOR nos ensina que Ele age em resposta às nossas orações. Que nós pudéssemos ouvir de Deus, em vez do diálogo que acabei de inventar, a palavra: “Bem feito. Porque tu orastes, eu te resgatei. Porque tu orastes, Eu salvei aquele irmão perdido. Porque tu orastes, eu levei teus filhos à fé.” É absurdo nós não orarmos porque imaginamos que Deus já decretou o que irá fazer, quando Deus mesmo nos ordenou a orar e nos prometeu que irá responder às nossas orações!

Você pensa em Moisés, orando a Deus para poupar os israelitas que pecaram contra Ele, e Deus escutou sua oração, e desistiu de Sua ira e os poupou. Você diz: “mas Deus mudou de ideia?” Não. Mas Deus decretou que Ele agirá em resposta às orações de Seu povo. Então ore. Deixa de se preocupar pelo que Deus decretou que você não sabe, e ore como Deus te ordenou! Siga a liderança de Cristo, a única pessoa na terra que você imaginava que não precisava orar, mas que orou. E ao fazer isso, você descobrirá a verdade do que o apóstolo Tiago diz: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” Não seja negligente em suas orações por causa desta suposta dilema. Ore e você vai saber e experimentar o poder de Deus em resposta à oração.

Além disso, queremos reconhecer que a oração não influencia apenas as ações de Deus, mas a oração também nos muda, e nos leva a uma consciência mais profunda da vontade dEle, e um alinhamento mais próximo com esta vontade. O que acontece quando oramos não é só que as nossas preocupações sejam levadas diante de Deus, mas também que nossas preocupações sejam alinhadas com a vontade de Deus. A oração é muito poderosa neste sentido, e não devemos negligenciar este aspecto da oração. Não oramos apenas para que Deus faça o que pedimos; oramos para que nossos desejos sejam alinhados com os desejos Dele. Ao passarmos tempo em oração, trazendo nossas preocupações diante de Deus, começamos a perceber a vontade dEle para esta situação, e qual é a vontade dEle para nós nesta situação. Isto leva tempo, e por isso somos chamados a ser persistentes e constantes em oração.

Assim, pode ser que às vezes comecemos nossas orações com uma certa preocupação em nossas mentes, e terminamos as nossas orações com outra que esteja mais alinhada à Sua vontade. Poderíamos orar pela proteção de Deus sobre nossos filhos adolescentes enquanto eles estão em uma festa com os amigos e perceber, no decorrer de nossa oração, como nós temos falhado em os instruir ou discipular. Podemos orar para que Deus restaure o nosso casamento, e no decorrer da oração começamos a reconhecer como Ele está nos chamando a arrependimento, a entregar nossas vidas por nosso cônjuge, a edificar nosso cônjuge em amor, a demonstrar paciência e misericórdia. A oração nos transforma e nos alinha com a vontade de Deus.

Então não negligenciem, por causa da soberania de Deus, a oração. Deus determinou que as orações do Seu povo, que clama a Ele, sejam sempre o motivo por Sua intervenção Divina e também sejam a principal—junto com a leitura da palavra—pelo qual o Seu Espírito trabalhe em nós para nos moldar às vezes para redirecionar nossos desejos e vontades. Diz Salmo 37:5: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.” E novamente Prov. 3:6: “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.”

Deixe-me falar especialmente aos adolescentes e jovens aqui presentes: a fase da vida em que vocês estão agora pode ser incrivelmente difícil e confusa, com tantas coisas incertas e tantas pressões que estão sobre vocês, puxando-os em direções diferentes. Nada orienta você e te dá paz e direção como um tempo significativo a sós com Deus em oração. Aprenda a entregar seu caminho ao Senhor enquanto você ainda é jovem e aprenda a paz e a provisão do Senhor enquanto Ele endireita seus caminhos. Há muitos cristãos que nunca aprendam isso, e perdem assim a própria fonte da vida cristã. Tenha a alegria de saber qual é a vontade do Senhor para você e de experimentar já durante sua juventude a Sua atuação em resposta às suas orações no Seu tempo e à Sua maneira.

Aprendendo com Cristo como orar

Dito isto, queremos também pensar em como orar.

Agora, imediatamente, algumas pessoas vão resistir a ideia de que exista alguma forma “certa” para orar. Em nossa cultura, o “sentimento” é o que manda. Vou orar conforme meu coração quer. Ninguém tem autoridade para me dizer como orar. 

Mas pelo menos você deve aceitar que Deus tem direito de lhe dizer como orar, não? Já que somos pecadores, já que por natureza seguimos atrás de perversidades e corrupções da verdade, pelo menos devemos ter a humildade para buscar orientação de Deus a quem oramos. E se não temos uma prática muito constante de oração, quanto mais nós devemos buscar instrução de Deus sobre isso! É por isso que os discípulos pediram exatamente isso a Jesus. Vendo suas constantes orações, o tempo que Jesus gastou sozinho nas montanhas e desertos para orar, ele vieram a ele e pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”. Se formos humildes o suficiente para nos ajoelharmos e invocarmos o Pai em primeiro lugar, também devemos ser humildes o suficiente para aprender com Ele como orar e aprender que tipo de oração Lhe agrada.

a. Conhecendo a Deus

A primeira coisa que o catecismo diz deve ser bastante óbvia, mas precisa ser dita: que quando oramos, estamos apelando ao único Deus verdadeiro, como Ele se revelou em Sua palavra.

Isto é importantíssimo. Se não estivermos orando ao Deus verdadeiro, conforme Ele mesmo se revelou, então não importa o que mais estivermos fazendo em nossas orações. As orações a falsos deuses não serão ouvidas, por mais sinceras que sejam, e não honrarão a Deus. Orações aos santos, aos que morreram, aos espíritos, aos antepassados, são todas consideradas por Deus – nas Escrituras – como uma abominação diante dEle.

Além disso, orações a Deus conforme nossa própria imaginação de como Ele deve ser, e não como Ele se revelou em Sua Palavra, também é a mesma coisa de uma oração a um Deus falso. Já vimos isso quando consideramos o segundo mandamento. Um dos problemas perenes do Antigo Testamento que condenou geração após geração foi a construção de altos em Israel onde o povo de Deus pudesse adorá-Lo e orar a Ele de acordo com suas próprias preferências e imaginações, e não de acordo com Sua Palavra. Este tipo de adoração não tem lugar entre os cristãos. Toda a mensagem do Evangelho é que o Verdadeiro Deus, o Criador do Céu e da Terra, se revelou em Seu Filho Jesus Cristo, e Ele deve ser conhecido através de Cristo segundo Sua Palavra. Qualquer outra coisa é idolatria.

Então a oração começa em conhecer a Deus e se entregar a Ele completamente. O que isso significa na prática para nós é que, juntamente com as nossas orações, também queremos estar engajados na Palavra de Deus, que é o instrumento para conhecê-Lo como Ele é. Nossa comunicação com Deus deve ser uma via de mão dupla, onde ouvimos de Deus em Sua Palavra e respondemos a Deus em oração. E, aliás, desenvolver esse hábito pode ser muito revigorante para suas orações. Se você descobrir que está orando a mesma coisa com as mesmas palavras o tempo todo, é porque você não está engajado na Palavra de Deus e respondendo a Palavra de Deus. Se você reservar o tempo, quando orar, para também ler a palavra, meditar nela, e então responder de acordo com aquilo que Deus falou, você descobrirá uma profundidade e vida totalmente nova em suas orações, e você vai crescer em sabedoria e compreensão da vontade de Deus para você.

b. Conhecendo-nos

Além disso, para orar, precisamos conhecer corretamente a nós mesmos. Você percebe que esta é a segunda coisa que o catecismo menciona: devemos invocar o Único Deus verdadeiro conforme Ele se revelou (essa foi a primeira coisa que vimos), e também devemos conhecer a nós mesmos–nosso pecado, nossa miséria.

Quando estivermos engajados na Palavra de Deus, conheceremos a nós mesmos de algumas maneiras importantes que impactam as nossas orações.
Primeiro, passaremos a nos conhecer como criaturas. Precisamos lembrar que somos criaturas que dependem inteiramente da provisão e bênção de nosso Pai. Precisamos conhecer nossa fragilidade, nossa fraqueza e nossa total dependência dEle. Somente quando você sabe disso – como diz o Salmo 127: “se o Senhor não edificar a casa, os construtores trabalham em vão” – somente quando você sabe disso, a oração se tornará uma realidade necessária e constante em sua vida.

Em segundo lugar, passaremos a nos conhecer como pecadores. Isto também é importante e também tem um impacto muito grande em nossas orações. Traz uma humildade apropriadadiante de Deus, ao reconhecer que não merecemos estar diante Dele e estar ouvidos por Ele. Quando reconhecemos isso, ficamos com temor e gratidão pelo fato que Deus ainda nos escuta e que Ele nos amou em Cristo. Embora, como cristãos, possamos invocá-Lo como crianças ao Pai, confiantes no Seu amor, ao mesmo tempo o fazemos com reverência e admiração, lembrando que somos filhos adotados que, por nós mesmos, mereciam Sua ira.

E finalmente, também precisamos conhecer o Evangelho. Veja, essa é a terceira coisa mencionada no catecismo: precisamos nos conhecer – se fomos adotados e batizados em Cristo – como pecadores perdoados. Podemos chegar diante de Deus com ousadia. Temos a certeza de Seu amor por nós em Cristo.

Precisamos saber que por causa da vida perfeita de Cristo em nosso lugar e de Sua morte obediente para pagar o preço pelos nossos pecados, nós somos bem-vindo diante do trono da graça de Deus. Ele diz: “venha”. Por causa de Cristo, quem vem a Deus, Ele nunca o expulsará (João 6:37). Precisamos saber — e isso talvez seja o mais difícil de tudo — que nosso Pai Celestial realmente nos ama por causa de Cristo. Ele nos ama, apesar de todos os nossos pecados e indignidades. Ele se deleita em nos ouvir chegar diante Dele, e Ele responde de bom grado às nossas orações, para nos envolver com a sua paz, para nos assegurar do seu amor. Às vezes é difícil acreditar nisso porque pensamos: “Não mereço a atenção de Deus.” Não, você não merece. Isso é verdade. Mas Cristo merece sim. E Cristo fez você pertencer a Ele, o que significa que Deus, o Pai, fez você Seu filho amado a quem Ele ama e cuida com um amor que nem o melhor pai na terra ama e cuida.

Na prática, uma coisa que isto significa é que não devemos esquecer, especialmente quando oramos pelo perdão de Deus, para também agradecer a Ele pelo perdão que já recebemos. Se confessamos honestamente nossos pecados a Ele e também estamos resolvidos a fazer tudo o que Ele nos chama a fazer para lidar com esse pecado, então também podemos descansar na confiança do Seu perdão. Às vezes queremos afligir nós mesmos com a culpa, pensando que é isso que merecemos e que talvez isso nos ajude a não voltar a pecar. E assim nos afastamos da graça de Deus. Suplicamos perdão a Deus, mas não aceitamos o perdão que Ele nos dá. Mas se estamos descansando em Cristo, também podemos receber com gratidão o Seu perdão, e deveríamos agradecer a Deus por esse perdão, para não dar lugar ao diabo. Fique diante de Deus como um perdoado. Ande na alegria do Evangelho.

c. Orando “Em Nome de Jesus”

É por isso que geralmente encerramos nossas orações com a frase “em Nome de Jesus”. Agora, não há nenhuma prescrição bíblica que diga que devemos encerrar nossas orações desta forma. A Oração do Pai Nosso não termina assim, e muitas outras orações na Bíblia também. Mas esta não é apenas uma tradição criada pelo homem. Há uma razão importante pela qual fazemos isso.

Lemos anteriormente em 1 Reis capítulo 8: a oração de Salomão na dedicação do templo. É um texto interessante, que nos dá uma ideia dos tipos de coisas pelas quais o povo de Deus orou durante a era do Antigo Testamento em torno do templo.

E você pode ver nessa oração que papel importante o templo teve. O templo era chamado de “Casa de Deus”, não porque Deus literalmente morasse nele como uma casa, mas porque era o lugar onde Deus fez Seu Nome habitar na terra. Foi construído de acordo com as especificações de Deus e foi cuidadosamente desenhado para testemunhar a Santidade e Majestade de Deus e a mensagem do Evangelho. E assim, desde que esse templo foi o único lugar na terra onde Deus fez Seu Nome habitar, todas as pessoas em Israel foram ordenadas a ir para orar a Deus; não deveriam construir lugares nos altos, não deveriam construir seus próprios templos; mas deveriam ir para lá. Ou, se estivessem muito longe, deveriam orar em direção ao templo. Portanto, Salomão fala não apenas do povo de Deus orando no templo, mas também, quando estavam muito longe, em tempos de batalha ou em tempos de fome, ou em tempos de exílio, que eles deveriam orar em direção à casa de Deus. Você pode ver isso, por exemplo, na vida de Daniel, que, no palácio de Nabucodonosor na Babilônia, cinco vezes por dia abria suas janelas que estavam orientadas em direção a Jerusalém, e ali orou a Deus. Se esse foi o lugar onde Deus fez habitar o Seu Nome, então foi um ato de obediência e submissão para orar la ou em direção a ali. É reconhecer: “Eu não tenho o diretode orar a Deus por mim mesmo; Eu sou indigno. A única razão pela qual eu posso orar a Ele é porque Ele me deu este caminho para alcançá-Lo.”

Bem, se você conhece a história do Antigo Testamento, você sabe que com o tempo o templo foi destruído e o povo foi levado para o exílio por causa de sua desobediência. E então, eventualmente, um segundo templo foi construído por Herodes, embora lhe faltasse a antiga glória do templo original.

Mas então, no Novo Testamento, o que Jesus disse? “Destruí este templo, e em três dias o levantarei” – referindo-se ao Seu corpo. Jesus é o Novo Templo de Deus – o lugar onde Deus se revelou na terra; o lugar para onde você vai se estiver procurando por Deus. Diz o Evangelho de João: “O Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós.”

E então Jesus agora nos ensina a orar em Seu Nome. João 16:23: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome.”

Quando oramos em Nome de Jesus, estamos fazendo a mesma coisa que os crentes do Antigo Testamento fizeram quando oraram em direção ao Templo – estamos nos rendendo a Deus, reconhecendo que esse é o caminho que Deus nos deu para o conhecer e para ser ouvido por Ele. Esse é o único caminho para Deus. Como Jesus disse em João 14:6: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.”

Dessa forma, também reconhecemos diante de Deus que somos indignos de sermos ouvidos por nossos próprios méritos, e que a única razão pela qual temos confiança de que somos ouvidos por Deus é por causa dos méritos de Cristo, a quem pertencemos.

Então, se nós expressamente falamos as palavras “em Nome de Jesus” ou não, nós deveriamos ter a consciência de que, como cristãos, nós estamos vindo a Deus em Nome de Jesus, e esperamos ser ouvido por causa de Cristo. Estamos reconhecendo que é um ato de Sua graça e condescendência para conosco que Ele nos deu uma maneira de chegar diante Dele e promete nos ouvir.

d. Orando “no Espírito”

Mais uma coisa relativa ao “como” da oração: às vezes nós lemos que, como cristãos, devemos orar “no Espírito”. O que isto significa?

Alguns interpretaram isso como uma referência a um tipo de oração – como se houvesse duas classes de orações: tem oração “normal,” e tem (melhor) a oração no espírito para aqueles que receberam o batismo especial no Espírito Santo. Estes oram “no Espírito” – e isso é frequentemente acompanhado por coisas como falar em línguas ou revelações privadas.

Mas, mais uma vez, queremos recorrer à Palavra de Deus e perguntar: o que a Palavra de Deus nos ensina sobre isso? E o que descobriremos rapidamente é que orar “no Espírito” se refere a própria essência de oração verdadeira. Não se refere a alguma atividade mística envolvendo línguas ou revelações, mas à oração que é conduzida pelo Espírito e de acordo com a Palavra de Deus. Foi o que o Senhor Jesus disse à mulher samaritana em João 4:23: “Vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura tais pessoas para o adorarem. ” Toda a adoração verdadeira deve ser “no Espírito” e “na verdade.” E assim também nossas orações:

  • Ef. 6:18: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”
  • Judas 1:20–21: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.”

Toda a vida do cristão, inclusive suas orações, é vivida no Espírito Santo, a fonte da nova vida; e é vivida de acordo com a Palavra de Deus, que é a ferramenta do Espírito. 

Há um paralelo interessante em Efésios 5:18 e Colossenses 3:16. Em muitos aspectos, essas duas cartas são cartas paralelas, que o apóstolo Paulo escreveu ao mesmo tempo para duas igrejas diferentes, e seguem basicamente o mesmo esboço e tratam de questões paralelas. E então, às vezes, você pode ser ajudado na interpretação de uma dessas cartas consultando a outra. E quando você compara Efésios 5:18 e Colossenses 3:16, é muito útil:

Ef. 5:18–19: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais.”

Como Paulo escreve isso em Colossenses?

Col. 3:16: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.”

O caminho para ser cheio do Espírito é ser cheio da Palavra de Deus. Absorvendo-o, meditando sobre ele, cantando-o, deixando-o tornar-se parte do seu próprio ser, por assim dizer. O Espírito trabalha através da palavra. Portanto, absorva a Palavra – na música, na meditação privada, nos estudos, nos cultos solenes, nas conversas – e responda a Deus com fé em oração, e o Espírito trabalhará através disso e habitará em você ricamente.

Aprendendo com Cristo pelo que orar

Finalmente – sei que estamos sem tempo, mas concluiremos brevemente com isto – quando pedimos ao Senhor que nos ensine a orar, também queremos saber pelo que devemos orar.

O catecismo diz: “tudo o que é necessário para o corpo e a alma”. Esse é um resumo muito bom. Não deveríamos necessariamente fazer aqui uma distinção entre “necessidades” e “desejos” – quando você realmente tenta distinguir as duas coisas como se fossem categorias separadas, você descobre que é muito difícil de fazer. E então talvez um resumo melhor seja: “tudo o que está de acordo com a vontade de Deus”. Às vezes tenho ouvido o argumento de que você só deve orar por “necessidades” e não por “desejos”, mas você não encontra isso nas Escrituras, e é realmente muito difícil até mesmo dizer o que classifica como qual. Se você anseia por um cônjuge, por exemplo – você “precisa” de um cônjuge para sobreviver e glorificar a Deus? Não. Mas você pode orar por um cônjuge? Claro. E é bom orar por isso. Se você deseja ter filhos— você pensa, por exemplo, em Ana, a mãe de Samuel, em 1 Samuel 1 — você precisa de filhos para viver para Deus? Não. Mas você pode orar para que Deus lhe dê filhos? Sim, e Ana é abençoada por fazer isso. A Bíblia nos diz: “lance sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” Tem algumas coisa que você deseja? Está de acordo com a vontade de Deus? Então, por maior ou menor que seja, leve-a a Deus em oração. Coloque-a diante do trono de Deus. E então confie que Ele agirá em Seu tempo e à Sua maneira. O único qualificador bíblico em termos de que tipo de coisas podemos pedir ou não é “aquilo que está de acordo com a vontade de Deus”. 1 João 5:14: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve.”

Deixe-me falar por um momento com as crianças aqui. Você já aprendeu a orar sozinho? Às vezes isso pode ser difícil, não é? Talvez você não saiba pelo que orar. Ou você só sabe repetir as palavras do Pai Nosso. E esse é um bom lugar para começar.

Mas o que digo aos meus filhos é isto: quando você ora, pense no que Deus quer. O que será que Deus quer? E então peça isso. Ore por isso.

Você acha que Deus quer que você seja gentil com seu irmão ou irmã? Então é uma boa coisa pela qual orar.

Você acha que Deus quer que sua mãe e seu pai tenham tudo o que precisam para cuidar de você e ensiná-lo a obedecê-Lo? Então é uma coisa muito boa para pedir.

Pense no que Deus quer. E se há coisas que você quer, você pode orar por estas coisas também, mas sempre pensando: isso é algo bom, que Deus quer que eu esteja pedindo? Isso é algo pelo qual a Bíblia me ensina a orar?

É por esta razão, então, que estamos agora embarcando nesta jornada de seis semanas através da oração que o próprio nosso Senhor Jesus nos ensinou. É uma oração muito curta e muito simples, mas vamos descobrir que também é muito profunda e compreensiva. A oração do Senhor serve como um modelo para nossas orações e nos ensina tanto a atitude apropriada quanto as coisas que deveríamos lembrar em nossas orações. E então nosso alvo nas próximas seis semanas enquanto estudamos a Oração do Pai Nosso é:

#1, para aprender o valor da oração na vida do cristão.

E #2, nosso objetivo ao estudar a Oração do Pai Nosso é moldar e aprofundar a nossa vida de oração. As coisas que normalmente pedimos servem como uma janela para os nossos corações, né? E se formos honestos, às vezes as nossas orações podem ser egoístas e egocêntricas. A oração do Pai Nosso nos ensina como nos orientar a Deus. Pensar sobre o que Deus quer e aprender a realmente definir as nossas prioridades pelas prioridades de Deus.

Portanto, busquemos a ajuda do Senhor com isso e confiemos que, se nos aproximarmos Dele com expectativa, pronto para aprender, pronto para receber a correção conforme necessário, que Ele estará presente e nos ajudará a amadurecer e aprofundar nossas orações e, como resultado, experimentaremos cada vez mais Seu poder renovador e transformador.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.