Leitura: Gênesis 9.1-9, Números 35.9-34, Mateus 5.21-26; 38-48, 1 João 3.11-18
Texto: Dia do Senhor 40
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Como atualmente estamos estudando os Dez Mandamentos, algumas coisas estão se tornando cada vez mais claras para nós.
Uma é que esses mandamentos são muito mais profundos do que talvez pareçam à primeira vista. Quando lemos os Dez Mandamentos pela primeira vez, é possível pensarmos: “Ei, eu não estou indo tão mal.” Veja este mandamento: “Não matarás”. Eu não matei ninguém não. Então já estou inocente deste.
Mas à medida que vamos mais fundo e refletimos sobre esses mandamentos, o que descobrimos é que eles vão muito mais fundo – eles falam à nossa cultura e falam aos nossos corações, e descobrimos que existe um mundo inteiro de pecado que existe dentro dos nossos corações, e que os pecados de assassino ou adultério ou furto ou qualquer outra são apenas a manifestação extrema deste pecado que existe dentro de nós. Foi o que Cristo nos disse: “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.” Então é bom que começamos a ver isso. É exatamente isso que é o propósito de por que estudamos os Dez Mandamentos ano após ano. Como já falamos outras vezes, esta lei é a lei da liberdade, e é o propósito de Deus nos livrar do poder destes pecados—não apenas do pecado óbvio no superfície, mas dos desejos e ilusões subjacentes que nos levam ao pecado.
Mas à medida que descobrimos os pecados subjacentes a esses mandamentos e começamos a reconhecer essas coisas em nossos próprios corações e vidas, será ainda mais importante que estejamos firmemente fundamentos no Evangelho. Senão, o que acontece de outra forma é que inevitavelmente, ao descobrir a grande quantidade e seriedade de pecado que existe dentro de nós, começaremos a nos desculpar, nos justificar, ou minimizar os nossos pecados. Se estamos ainda confiando em nossa próprio justiça, na mentira de que somos “pessoas boas” por natureza, então não aguentaremos ver a realidade da nossa condição. Neste caso, estamos fundamentados em um alicerce de auto-justiça, orgulho, e auto-engano. E isso precisa ser desfeito. Se quisermos que nosso estudo dos Dez Mandamentos seja frutífero, de uma forma que realmente nos leve a crescer em vida e liberdade e alegria em Cristo, isso vai exigir uma confrontação real onde a Palavra de Deus fala diretamente sobre os pecados em nossas vidas, onde nossos corações estão abertos e expostos diante de Deus, o que pode ser um lugar doloroso quando vemos coisas em nossas vidas que não queremos ver, sobre os quais sentimos vergonha. Então, para realmente estudar os 10 mandamentos de forma frutífera, nós precisamos saber como repousar no perdão de Deus obtido por nós por meio da cruz de Cristo. Esse é o único lugar onde encontraremos proteção e segurança para permitir que o Espírito, por meio da Palavra, exponha e trate os pecados do nosso coração. Começamos repousando e agradecendo a Deus pela graça que Ele já nos deu e, a partir desse ponto, desejamos crescer em liberdade, justiça e vida.
Em segundo lugar, outra coisa que eu espero que já começamos a ver aqui neste estudo dos 10 mandamentos é que para cada proibição na lei – tudo que Deus nos ordena que não façamos – há uma prescrição correspondente, ou seja, algo bom que Deus está nos chamando a fazer. Portanto, nosso objetivo não é apenas remover o que é mau e profano, mas renovar as nossas mentes para ver, amar e praticar o que é bom e amável – aquilo para o qual Deus nos criou e agora também nos salvou para fazer.
Com isso dito, nosso objetivo para esta tarde é ouvir Deus falar conosco sobre o 6º Mandamento, que diz: “Não matarás”.
A Santidade da Vida Humana
Para entender este mandamento, queremos começar pensando sobre a razão dada para este mandamento, que é que a vida humana é unicamente sagrada, tendo sido feito à imagem de Deus. Gênesis 1: 26-27:
“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”
O que isso significa, que fomos feitos à imagem de Deus, é que possuímos o status único de sermos filhos de Deus. Somos feitos para refletir nosso Pai, nosso Criador, de uma forma única e especial: para levar a Sua semelhança.
Você também vê isso em outros lugares. É o que Paulo diz em Atos 17, quando fala aos gregos em Atenas, e diz: “‘Nele vivemos, nos movemos e existimos ’; como até mesmo alguns de seus próprios poetas disseram: ‘Pois nós realmente somos Sua descendência.’” Da mesma forma, o Evangelho de Lucas traça a linhagem de Jesus desde Adão, e termina assim , dizendo “o filho de Sete, o filho de Adão, o filho de Deus.”
Então esta frase, “feito à imagem de Deus”, significa que possuímos o status único e santo de sermos filhos de Deus que refletem seu Pai celestial. Com esse status, vêm alguns dons únicos que nos distinguem dos animais: dons de intelecto e razão, dons de espiritualidade, dons de moralidade (nossa capacidade de distinguir entre certo e errado); dons de linguagem; dons da capacidade de amar e se sacrificar pelos outros. Mas não devemos confundir esses dons, que acompanham nossa identidade como portadores da imagem de Deus, com o próprio status. Ainda se faltamos alguns destes dons, por motivo de doença ou deficiência, não deixamos de ser a imagem de Deus.
Da mesma forma, essa identidade como filhos de Deus também vem com uma vocação único: de ser justo e santo, de encher a terra e governá-la e ter domínio. De novo, esta vocação não é a imagem de Deus, mas é consequência de ser feito na imagem de Deus.
Quando entendemos isso, então podemos começar a entender por que Deus odeia o pecado do assassinato: porque matar outra pessoa é matar os filhos de Deus e a profanação e vandalismo da imagem dEle. Deus separou a vida humana como santa e preciosa para Ele, e não pode ser violada por ninguém.
Vemos isso também em Gênesis 9. Isto é importante, porque isto é agora depois da queda em pecado. Alguns dizem que quando caímos em pecado, perdemos a imagem de Deus. E certamente esta imagem foi manchada e obscurecida. Mas ainda assim, a Biblia afirma que a vida humana continua a ser santa, porque ainda carregamos a imagem de Deus.
Na história do dilúvio, nós aprendemos que Deus, em cuja imagem somos feito, também tem direito tomar a nossa vida. Embora que a vida humana é sagrada, Deus mesmo tem o direito de tomá-la.
Mas depois do dilúvio, quando Noé e sua família deixaram a arca, e mais uma vez receberam o chamado para encher a terra e subjugá-la (a mesma vocação que Deus deu a Adão e Eva), Deus mais uma vez afirmou o status duradouro da vida humana criada à Sua imagem e digna do mais elevado proteção:
Gen. 9:6: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.”
O que vemos aqui é que, apesar de nosso pecado e embora tenhamos profanado e contaminado a imagem de Deus de muitas maneiras pelo nosso pecado, de modo que o que somos como pecadores é uma trágica ruína da glória que uma vez possuímos; no entanto Deus não remove da humanidade a identidade única que possuímos como filhos de Deus. E Deus continua a afirmar a santidade da vida humana, tão fortemente que Ele impõe aos assassinos a pena máxima, a pena de morte. Aquele que tira a vida de outra pessoa tem uma dívida com Deus que não pode pagar e, portanto, Deus requer sua vida como pagamento pela vida que tirou.
Globo: “nada justifica o assassinato, em sequência, do suspeito do crime e de cinco dos seus parentes”
secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Tadeu Alencar: “Pra nós, é grave a morte dos policiais. E é grave essa chacina, não tem outro nome, dos cinco que morreram sem condição nenhuma de defesa, com requintes de crueldade, selvageria, uma barbaridade inaceitável num país democrático” — nada sobre a santidade da vida humana, nada sobre a justiça, mas o problema é que é este ato ofende o nosso Deus da “democracia” e os nossos valores modernos. Nenhum reconhecimento que estás vingancas acontecem por causa da falta de justiça verdadeira em nosso país.
Esta é uma posição que a igreja cristã precisa sempre defender. Não é apenas uma opinião política ou uma preferência pessoal, é um mandamento de Deus. Como o apóstolo Paulo também diz em Romanos 13, o governo traz a espada para punir o assassinato. É um pecado e uma ofensa a Deus abolir a pena de morte para homicídio, porque diminui o preço da vida humana que Deus estabeleceu.
Alguns anos atrás, o governo dos Estados Unidos finalmente retomou o uso da pena de morte que tinha parado de pratica. Infelizmente, ainda demora décadas para que a justiça seja realizada. Justiça atrasada é injustiça. Mas ainda assim, podemos celebrar o fato de que alguns governos neste mundo ainda reconhecem a seriedade diante de Deus do assassinato. Devemos orar para que nosso próprio país também se arrependa de sua recusa em honrar o valor único da vida humana e voltar a punir o assassinato com a pena de morte.
Alguns no movimento contra aborto argumentaram que é contra os valores de “vida” ser a favor da pena de morte, e eu já ouvi sermões em igrejas ditas-reformadas afirmando que Cristãos devem se opor à pena de morte. Mas estes não enxergam o ponto Bíblico: a pena de morte não surge de uma falta de respeito para a vida humana, mas pelo contrário, é devida a este respeito, que Deus nos ensina para respeitar. Como cristãos, nos tanto opomos ao aborto como defendemos a pena de morte exatamente pela mesma razão: precisamente porque a vida humana é sagrada. Tão sagrado a vida humana é que quando for violada, tem uma dívida diante de Deus que não pode ser paga neste lado de eternidade, e por isso Deus exige que a vida do assassino seja dada em pagamento.
Vemos isso também no texto que lemos em Números 35. Embora houvesse muitos crimes – como o adultério – que poderiam receber a pena de morte, era possível com muitos deles resgatar a vida do pecador, pagando um preço definido pelo juiz. Mas Deus fez uma exceção clara aqui para o pecado do assassinato: não haveria oportunidade de resgate.
Num. 35:31: “Não aceitareis resgate pela vida do homicida que é culpado de morte; antes, será ele morto.”
Além disso, Deus valoriza tanto a vida humana, que mesmo aqueles que acidentalmente tiraram a vida de outra pessoa ainda enfrentariam as consequências para o resto da vida. Isso era algo que Deus insistia em levar muito a sério. Por isso Deus providenciou cidades de refúgio para aqueles que haviam acidentalmente tirado a vida de outra pessoa. Eles poderiam fugir pra lá, a fim de não serem mortos pelo vingador do sangue – no caso, um amigo ou parente da pessoa morta. Lá, na cidade de refúgio, eles tinham o direito de receber um julgamento justo; e se for descoberto que eles assassinaram a pessoa intencionalmente, eles deveriam ser mortos; mas mesmo que fosse, de fato, acidental, isso não significava que eles poderiam simplesmente voltar para casa. Não, eles deveriam permanecer na cidade pelo resto da vida do Sumo Sacerdote servindo naquela época, o que poderia muito bem ser pelo resto de suas vidas. Isso é algo que Deus queria que Seu povo levasse mais a sério.
Mesmo se alguém matar outra pessoa acidentalmente, por exemplo usando o celular enquanto dirigindo, ou de outra forma, sua vida na terra não será o mesmo, e não pode continuar como normal. O pecado ainda pode ser perdoado – não há pecado que Deus não perdoe – mas as consequências permanecerão para o resto da vida.
Esta, então, é a razão subjacente a este mandamento: Deus nos criou à sua imagem, com dignidade e honra única, e tirar a vida humana é o mais grave insulto e ofensa ao Deus cuja imagem essa pessoa carrega.
Um mundo cheio de morte
Mas agora, olhe ao nosso redor. Nós vivemos em um mundo marcado pela morte e assassinato, e vivemos em uma cultura que está entregue à morte. E é isso que o pecado faz. Afastar-se de Deus é abraçar a morte.
E nós já vemos isso em Adão e Eva, quando eles caíram em pecado. Eles não apenas trouxeram sobre si vergonha, culpa e o julgamento de Deus, mas também entraram em um mundo de ódio e morte.
Quando Deus os encontra no jardim, escondendo-se dEle, e pergunta se eles comeram do fruto que Ele havia proibido, o que Adão faz? Em vez de amar, proteger e dar a vida pela esposa, ele lança nela a culpa por seu pecado: “foi a mulher que Tu me destes, ela me deu e eu comi”. O que que isso implica? Eu a odeio. Isso é culpa dela. Tire a vida dela. Deixe ela morrer.
Portanto, o relacionamento íntimo deles foi destruído. No momento mais terrível e assustador da vida dela, o marido dela a entregou para o inferno para salvar se mesmo.
E daí pra frente só piorou. Vire um capítulo depois, e encontramos Caim assassinando seu irmão Abel.
Quando não honramos a Deus e nos colocamos no trono de Deus, escolhendo ser deuses para nós mesmos, então inevitavelmente nos encontraremos desprezando a vida e a dignidade de outras pessoas. Se não amamos mais a Deus, como podemos amar aqueles que foram feitos à sua imagem? Assim, outras pessoas se tornam nada mais que meios para nossos fins, senão obstáculos ou competição que devem ser destruídos. Nossos corações estão cheios de malícia e ódio uns pelos outros. Desconsideramos as necessidades de outras pessoas. Desrespeitamos e desonramos outras pessoas. Nós degradamos a vida humana com nossas palavras (Paulo escreve em Efésios 4 sobre “conversa corrupta” que degrada a vida de outros). Matamos com nossas palavras. Como o Senhor Jesus nos ensina, qualquer um que diga “seu tolo” (equivalente às nossas próprias frases “estúpido” e “idiota” – é responsável pelo pecado de assassinato. Nós lutamos e brigamos, cada um procurando sua própria ganância e luxúria e desejo (Tiago 4).
E, se tiver a oportunidade certa, isso transborda em abuso, violência e, por fim, assassinato. Esse é o mundo em que vivemos – um mundo que é marcado ao longo da história, em cada geração, pela violência, genocídio, ódio, assassinato.
E vemos isso tão claramente em nossa própria cultura também, uma cultura que tem um terrível caso de amor com a morte, onde a vida humana é valorizada apenas por sua utilidade – e, portanto, a vida e a dignidade dos idosos, dos deficientes mentais ou do fetus é degradado e violado. Somos uma cultura com assassinato em nossos corações e muito sangue em nossas mãos.
Além disso, até mesmo nossa visão de nossa própria vida e nossa própria dignidade também é profundamente distorcida após a queda no pecado. Jovens desprezam sua própria vida, se colocando em risco sem motivo. Tratamos a vida como objeto do nosso consumo. Tiramos o máximo da vida, não para ser frutíferos para a glória de Deus como fomos chamados, mas como uma forma de consumo, correndo atrás das experiencias passageiras.
E as obras das trevas em que este mundo se envolve conduzem à morte. O modo de vida dos ímpios é destrutivo para seus próprios corpos, mentes e almas. Festejando a noite toda. Abuso de substâncias. Comportamento sexual imprudente – degradando e desvalorizando a vida dos outros e degradando a nós mesmos no processo.
A cultura da morte se expressa de mil maneiras terríveis. O comércio de drogas. A pornografia e o comércio sexual que degradam e desprezam a dignidade de quem é retratado na tela. Violência gratuita em filmes e videogames. Até tortura. Notei na App Store um anúncio de um jogo (dirigido para adolescentes) em que o único objetivo do jogo é torturar um personagem com todos os instrumentos imagináveis. Este é o nosso mundo, e o que a Escritura nos ensina é que este é um triste reflexo das profundezas de nossos próprios corações caídos e pecadores.
Em todas essas maneiras, nós nos colocamos no trono de Deus e profanamos, violamos e abusamos de Sua imagem nos outros e em nós mesmos. Cuspimos na cara do Deus que nos criou. E não podemos nem começar a compreender Sua santa ira contra a raça humana por toda essa perversão.
Mas agora, irmãos e irmãs, precisamos nos lembrar: é para este mundo que Cristo Jesus veio, nascido como um bebê, exposto ao perigo e às tentativas de assassiná-lo; e é pela vida e salvação deste mundo que Cristo veio para morrer a morte de um assassino, nas mãos de assassinos e no lugar de assassinos, para dar sua vida como pagamento pelo ódio e assassinato deste mundo. E por meio dele, todo crente, incluindo assassinos, incluindo aqueles cujos corações estão cheios de inveja, ganância e luxúria, e que profanam e violam a imagem de Deus em si mesmos e nos outros, por meio dEle tem redenção e perdão, por meio de Seu sangue, e é reconciliado e restaurado a Deus.
E a chamada do Evangelho vai para todos os assassinos e todos os que violaram a imagem de Deus em seus corações e por meio de suas palavras e ações, para crer nEle e encontrar redenção e esperança para suas almas.
E nós, que cremos Nele, não somos apenas perdoados por Ele, mas Ele também agora nos envia o Seu Espírito, para nos trazer à vida e para restaurar em nós a imagem de Deus que está tão profundamente marcada pelo pecado, para que possamos novamente ame e honre a Ele e a todos os que levam Sua imagem.
O Evangelho da Vida
Portanto, irmãos e irmãs, é aqui que queremos terminar: nós, que pertencemos a Cristo, também somos renovados por Ele e chamados da morte para a vida.
Então como é essa vida agora em relação ao 6º mandamento?
Significa, em primeiro lugar, que não participamos mais da cultura da morte que nos cerca.
- Isso significa que, como cristãos, não glorificaremos ou celebraremos a morte como nosso mundo o faz. Não temos nenhum negócio e nenhuma participação na violência gratuita e no sangue que o mundo desfruta para se divertir, seja no coliseu no tempo de Roma, ou no cinema ou nos videogames hoje. Não estou falando, é claro, de filmes que retratam as realidades da guerra e do bem e do mal para promover a verdade e a retidão, mas daqueles filmes e jogos que celebram a guerra e a violência. Não temos nada a ver com isso.
- Até na morte dos ímpios, nós como Cristãos temos uma certa sobriedade. Embora possamos orar para que Deus faça justiça aos ímpios, e também agradecer a Ele quando o faz – quando terroristas são mortos, por exemplo – fazemos isso com o coração sóbrio, refletindo o coração de nosso Deus Pai, que diz que Ele não tem prazer na morte do perverso, mas antes que ele se converta dos seus caminhos e viva.
- Isto significa, também, que deixamos por trás toda inveja, ódio e desejo de vingança que existe em nossos próprios corações. Embora as mesmas tentações que enfrentaram Caim e todos os assassinos ainda rastejem em nossos corações, nós as reconhecemos pelo que são: as obras das trevas, que nós, como filhos de Deus, somos chamados a abandonar e matar.
- Isso também significa que nos humilhamos diante de Deus, lembrando que não somos Deus, mas Ele é Deus, e não devemos sentar no trono de Deus por nós mesmos, liberando nossa raiva e ira sobre os outros. É por isso que o catecismo menciona a “ira” como algo que somos chamados a abandonar, embora tecnicamente possa haver algo como ira justa, e as Escrituras falam sobre isso. Mas a ira justa sempre tende para a misericórdia e sempre deseja a vida; em última análise, é construtivo em vez de destrutivo; e é santo – o que nós não somos. Portanto, embora as Escrituras nos permitam nos irar, não devemos permitir que o sol se ponha um único dia em nossa ira (Efésios 4) – tão rapidamente nossa ira se transforma em algo profano e injusto. O apóstolo Tiago também nos avisa que “a ira do homem não atinge a justiça de Deus”.
- Aqueles cristãos que sustentam a raiva ou ódio em seus corações contra os outros – especialmente contra seus companheiros cristãos – estão colocando suas próprias almas em perigo. Cristo nos advertiu com o máximo rigor que, se não perdoarmos, não seremos perdoados – porque um coração que não perdoa é um coração que não se comove com o perdão de Deus e não é diferente deste mundo, vivendo na cegueira e hostilidade não apenas contra outras pessoas, mas contra o Deus em cuja imagem eles são feitos.
- Além disso, como cidadãos do reino de Cristo, abandonamos todas as palavras e pensamentos degradantes que insultam a imagem de Deus em nossos semelhantes. Infelizmente, são ouvido com muita frequência – palavras como “idiota” e “estúpido” que são usadas casualmente para degradar a dignidade de nossos semelhantes. Há um lugar apropriado para essas palavras – as Escrituras falam do tolo que diz que Deus não existe e da estupidez de adorar ídolos – mas essas palavras devem ser pronunciadas com sobriedade e sinceridade para corrigir o mal e restaurar o bem.
- Mas cada palavra que degrada a imagem de Deus – obscenidades que insultam a dignidade dos outros ou palavras grosseiras que degradam partes de nosso corpo – não têm lugar nos lábios dos cristãos.
- Paulo em Efésios 4 diz: “Não saia de vossas bocas palavras corruptas, mas somente o que é bom para a edificação”. As “palavras corruptas” a que ele se refere ali é aquela que insulta e degrada. Frases como chamar alguém de “lixo” ou pior não têm lugar nos lábios dos filhos de Deus. Não importa o quão mau um pecador possa ser, ele ainda é dotado de certa dignidade que requer nosso respeito. Podemos julgar o pecado da pessoa, mas deixe Deus julgar os portadores da Sua imagem.
Mas não apenas abandonamos o reino da morte em todas essas maneiras, mas também somos chamados a viver como filhos de Deus e a honrar, celebrar e amar a vida.
Desde que amamos a Deus, devemos ter um profundo amor, respeito e honra pela imagem de Deus em cada pessoa, não importa quão diferentes de nós possam ser, e não importa se são crentes ou não. Eles são feitos à imagem de Deus. Portanto, iremos honrá-los e respeitá-los, e também proteger suas vidas e sua dignidade como algo precioso e valioso.
Isso também significa que sempre escolheremos e promoveremos a vida em oposição à nossa cultura da morte. Nós, como filhos de Deus, não apenas nos opomos ao aborto e à eutanásia, mas também fazemos tudo o que podemos para proteger e cuidar dos indefesos, indesejados e desprezados. Nisso, queremos imitar o coração de nosso Pai, que é chamado “Pai para os órfãos,” o “defensor das viúvas e dos órfãos em sua angústia.” Queremos aproveitar todas as oportunidades de usar nosso lar, nossos recursos financeiros e nosso tempo para estender amor e misericórdia aos que estão ao nosso redor, honrando suas vidas.
Também celebramos a vida seguindo o chamado de Deus para ser frutífero e multiplicar-se. Nossa cultura vê os filhos como um fardo indesejado, mas Deus os chama de uma bênção, e por isso nós queremos valorizar e honrar essa bênção.
E, finalmente, queremos amar uns aos outros, como Cristo nos amou. Isso é o que lemos em 1 João 3: 11-15. A maneira mais fácil de saber que passamos da morte para a vida é se nos amamos. Desistimos de ressentimentos. Esforçamo-nos para perdoar e reconciliar. Buscamos a paz e fazemos todos os esforços para ser restaurados. Recusamos o impulso de cortar fora um ao outro quando estamos ofendidos, mas encobrimos as ofensas com amor e tratamos uns aos outros como Cristo nos trata: com misericórdia e compaixão.
E Cristo nos chama para estender esse amor até mesmo aos nossos inimigos, porque é exatamente isso que Ele fez por nós, mesmo quando éramos Seus inimigos – a fim de nos restaurar a Si mesmo. Quando a Bíblia fala sobre nossos “inimigos,” isso não significa apenas aqueles que estão literalmente tentando nos matar, mas aqueles que não gostam de nós, aqueles que nos insultam ou caluniam, aqueles que nos tratam injustamente, aqueles que espalham fofoca sobre nós – nós sigamos o padrão de Cristo em mostrar amor e bondade para com eles. Dizemos palavras de paz para aqueles que nos insultam. Oramos por seu arrependimento e livramento do pecado. Mostramos bondade e misericórdia sempre que possível. E abandonamos totalmente o caminho da amargura, do drama, dos rancores e da vingança. Como somos lembrados em Romanos 12, Deus é quem diz “a vingança é minha, eu retribuirei.” Confiando nessa promessa, então, amamos os nossos inimigos. Suportamos ofensas para conquistar o coração daqueles que nos magoam. Se virmos seu boi ou jumento solto e se extraviando (para usar a linguagem de Êxodo 23 – podemos aplicar isso a nossas próprias vidas nos termos de hoje), então o trazemos de volta para eles. Se os virmos passando necessidade, então nos lembramos dessa necessidade diante de Deus e consideramos como nós podemos agir para atendê-la.
Aprendemos a amar, não apenas em palavras, mas também em ações. E confiamos na promessa de Cristo de que “tão certo quanto fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.