Leitura: Salmo 19, Marcos 12.28-34, Romanos 3.9-20
Texto: Dia do Senhor 2
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Os Dias do Senhor 2, 3 e 4 focam no tema do nosso Pecado e Miséria. Não é um assunto fácil de discutir. Deixa todos nós desconfortáveis ter que ouvir sobre quão pecadores somos; quão profundo é o pecado; e quão seriamente Deus leva o nosso pecado.
E é uma maneira muito diferente de lidar com a nossa vida do que frequentemente vemos em aconselhamentos seculares, em revistas ou em muitos filmes populares, onde nos dizem para procurar o bem na humanidade e em nós mesmos, e que o ser humano é naturalmente e essencialmente bom. Nos aconselham a ver a nós mesmos de uma forma mais positiva, e construir uma alta autoestima. E, muitas vezes, quando as coisas dão errado, a culpa é finalmente atribuída ”sociedade” em geral, as más influências que tivemos, ou à nossa baixa autoestima. Então novamente a solução é de ver a nós mesmos em uma luz mais positiva.
O que é claro é que a Bíblia—a Palavra de Deus—não segue esta abordagem. De forma alguma. Ela reconhece honestamente o mal, não somente na humanidade em geral, mas em cada um de nós. Nós vimos isso em nossa leitura em Romanos 3. Ele não descreve a humanidade como essencialmente boa, mas pelo contrário! Deus criou o homem bom, e ainda existe traços desta glória e justiça e beleza original, mas são traços. O homem se corrompeu profundamente, e deixado a si mesmo, não caminho em direção à justiça e ao bem, mas muito pelo contrário. E o fato é, toda a história humana é a prova disso. É claro, em cada povo e cada cultura você pode encontrar elementos positivos; mas a história da humanidade em geral é uma história de auto-interesse, violência, exploração, abuso, crueldade, e loucura.
Então a fé Cristã começa com esta realidade. E isso significa que todos os cristãos devem aprender reconhecer e confessar o pecado e o mal dentro deles. Temos que aprender ser honestos sobre nós mesmos. E isso não é uma coisa fácil de fazer.
Por que nós fazemos isso?
Não é um tipo de penitência. Não é porque queremos ficar deprimidos, como se o mais sombrio entre nós seja o mais piedoso. Não, nós vimos na semana passada que a fé Cristã é marcada por alegria. Então não é que nós queremos no punir de alguma forma. Passando tempo refletindo sobre o quão miseráveis nós somos para que de alguma forma isso seja um pagamento por nosso pecado. Não, na verdade isto seria uma falsa penitência, e mais um pecado. Onde foi que Deus disse que nós podemos pagar por nosso pecado desta maneira. É assim que o homem violento “paga” por seu pecado: chora um pouco, fica triste por um pouco, e pensa que por isso ele “merece” ser perdoado. Deus jamais prometeu isso.
Então por que nós fazemos isso, passando este tempo nos DS 2-4 todos os anos refletindo sobre o nosso pecado e miséria?
Para responder a isso, precisamos lembrar o que vimos na semana passada. Lembre-se, na semana passada o catecismo nos fez a pergunta, “qual é o seu único conforto na vida e na morte?” Ou, em outras palavras, “qual é a corda salva-vidas da sua alma?” Qual é seu refúgio e sua rocha de segurança? Qual é a única coisa que vale a pena segurar, mesmo que tudo mais na sua vida desmorone? E o DS 1 responde a essa pergunta com a afirmação, “que não pertenço a mim mesmo, mas pertenço, de corpo e alma, na vida e na morte, a meu fiel salvador Jesus Cristo.” Ele explica resumidamente o que isso significa por implicação. E nós observamos na semana passada que essa é a mesma fé que os santos de Deus tiveram por toda a história, no durante todo o Antigo e Novo Testamento, e também ao longo dos séculos da história da igreja. Você vê essa fé, e a alegria que flui desta fé, em Davi, em Paulo, nos mártires da igreja primitiva, nos reformadores do século XVI, e em nossos irmãos até ao dia de hoje, em terras distantes e também aqui em nosso meio. Muitos que sofreram grandes angústias e tristezas, e mesmo assim se alegravam em Deus.
Então a segunda parte do DS 1 nos faz a pergunta: “O que você precisa saber para viver e morrer na alegria desse conforto?” E ele responde com três coisas que precisamos saber para que esta fé e esta alegria seja nossa. E a primeira que precisamos saber é: “quão grandes são os meus pecados e a minha miséria.” Não tem como se regozijar em Cristo sem saber o fato, a realidade, a feiura, a ofensa, do nosso pecado.
Então, por que dedicamos tempo, ano após ano, para refletir sobre quão pecadores somos? Não é porque queremos ficar deprimidos. É exatamente o oposto: é porque lemos as palavras de homens como o apóstolo Paulo, que diz: “Somos atribulados em tudo, mas não destruídos!” ou olhamos para as vidas de tantos cristãos de gerações anteriores que tinham uma fé inquebrável e transbordante mesmo nas piores torturas; que se ALEGRAVAM! mesmo em grandes privações, destituídos, sem terra, privados até das necessidades de seus corpos: mesmo assim afirmaram com Davi, “a minha alma se farta como de banho e gordura”, e “tu preparas para mim uma mesa na presença dos meus inimigos” e “meu copo transborda”. Mesmo enfrentando ameaças assustadoras e a constante realidade da morte, confessaram que o amor de Deus era seu maior deleite; lemos sobre esses homens e mulheres cristãos que tinham uma fé e uma alegria que o mundo jamais teve nem conheceu, e perguntamos, “de onde veio esta fé?” “Como eu posso ter uma alegria e confiança como essa?” “Como eu posso viver e morrer na alegria deste consolo?”
E a primeira parte da resposta é: temos que conhecer a verdade. O mundo se refugia na mentira de sua própria bondade e inocência. Você quer viver íntegro diante de Deus? Tem que sair da mentira e encarar e confessar a verdade. Viver na mentira pode talvez amenizar a dor, mas não sustenta a verdadeira alegria. Se não for a verdade que nos liberta, então nada nos libertará.
Então, é por isso que abrimos nossas Bíblias e ouvimos as Escrituras nos dizerem quem somos. Não é fácil, mas é o único caminho para as promessas de Deus e para o consolo que cristão que nos sustenta na vida e nos capacita para enfrentar a morte.
A verdade não será fácil. Abrir a Palavra de Deus e ouvi-Lo nos dizer quem realmente somos vai nos mostrar coisas que preferiríamos não ver. As pessoas gostam de dizer, “Deus conhece o meu coração.” Agora vamos ver a terrível realidade disso. Muitas vezes enganamos a nós mesmos—conscientemente ou não—que somos pessoas boas. Pelo menos não somos tão ruins quanto alguns outros. Comparamos a nós mesmos com os outros, e sempre tem alguém pior para fazer nos sentir bem. Se nos consolarmos desta forma, então será difícil aceitar, especialmente no nível do coração, o que as Escrituras dizem sobre nós: que somos pecadores miseráveis. Será difícil olhar, honestamente, para o rastro de danos e quebrantamento que deixamos para trás em nossas vidas pelas coisas que fizemos—e pelas coisas que deveríamos ter feito e não fizemos. Será difícil aceitar o veredito de Deus.
A Palavra de Deus nos mostra coisas que preferiríamos não ver e nos leva a lugares onde preferiríamos não ir. Nos próximos Dias do Senhor, veremos muitas das nossas desculpas arrancadas de nós; seremos levados diante de um Deus justo e santo, que cobra um preço por nosso pecado, um preço muito grande; veremos o veredito dele que paira sobre nossas cabeças: “culpado”, “não inocente”. E quando enfrentamos a dura verdade, a tentação é virar e nos refugiar novamente nas velhas mentiras que contamos a nós mesmos—“não, mas ainda sou uma pessoa relativamente boa; procuro fazer o bem para as outras pessoas; vou para a igreja.” A palavra de Deus nos adverte muito: não há conforto a ser encontrado ali.
Para conhecermos a alegria inquebrável e transbordante do Evangelho, tudo tem que estar sobre a mesa. Não podemos esconder nada da Palavra de Deus. Temos que responder a seus julgamentos com a confissão: “sim, é verdade”. “É justo.”
Mas vale a pena. Não ousaríamos derrubar todas as nossas defesas e admitir que as mentiras que contamos a nós mesmos são apenas mentiras se não tivéssemos esperança no outro lado. E Deus nos promete que tem. Não apenas esperança, mas alegria—verdadeira, duradoura, renovadora; conforto, deleite e prazer na presença de Deus, por causa do Evangelho. E é isso que nos motiva a abrir a Palavra de Deus e ouvi-La nos dizer quem realmente somos.
2. Por que precisamos da lei para conhecer
Agora, o Catecismo nos ensina a princípio que se queremos nos conhecer corretamente, então precisamos da lei de Deus. Esse é o mesmo ponto que Paulo fez em Romanos 3:20: “Pela lei vem o conhecimento do pecado.”
É claro que o ser humano pode reconhecer certas coisas como “pecados” ou “males” sem conhecer a Bíblia. Até os povos mais isolados, que nunca conheceram a Bíblia, tem um certo senso de justiça, de certo e errado. E não erram em tudo. A lei de Deus está escrita em nosso coração, porque somos feitos na imagem de Deus.
Mas ao mesmo tempo, eles também erram muito. Profundamente. Basta olhar honestamente. A violência interminável entre uma tribo e outra. A poligamia. A escravidão. A exploração. A crueldade. O infanticídio. E muitas coisas coisas que não nos ofendem, mas ofendem a Deus. A idolatria. A falta de honrar e agradecer a Deus. As invenções religiosas que cada povo inventa para justificar suas práticas.
Então, embora é verdade que a Lei de Deus esteja escrita em nossos corações por natureza (faz parte destes traços da imagem de Deus), este conhecimento não é o suficiente para nos levar a arrependimento. Não temos uma visão honesta e realista sobre nós mesmos. Cada um se justifica em seu pecado e se considera justo. A luz da natureza e a nossa “consciência” jamais será suficiente para nos levar a uma avaliação honesta de nos mesmos, por vários motivos:
2.1 Primeiro, nossas consciências foram obscurecidas. Segundo a Palavra de Deus, os que não conhecem a Deus vivem em trevas. Sua consciência é obscurecida. A maior parte do mal que fazemos, nem reconhecemos. Nem percebemos. Não seríamos capazes de identificar. Nossa compreensão do certo e do errado foi distorcida e obscurecida. A lei que estava escrita em nossos corações se desvaneceu. Parte dela ainda reconhecemos, mas muito dela não reconhecemos mais. Existem pecados que a Palavra de Deus identifica como pecados, que nós não sentimos que é pecado. Esse é um dos resultados da queda no pecado.
Veja a aceitação gradual da homosexualidade em nossa cultura. Em gerações passadas, foi visto naturalmente como um pecado. Hoje em dia, não tanto. Muitas pessoas simplesmente não se incomodam. Por que? Porque sua consciência é obscurecida. Nossos valores não são os de Deus.
Na música é repetida muitas vezes que se algo não se sente errado, não pode ser errado. Mas será que isso é realista? Alguém se desapaixonou de sua esposa, e se apaixona com outra: todos os seus sentimentos são que ele “casou com a pessoa errada”, e “o que importa é que eu tenha felicidade na minha vida”…e então ele abandona a sua esposa, e não se sente a convicção de ter cometido pecado. Será que podemos confiar em nossas consciências para nos dirigir no caminho certo?
2.2. Segundo, e por trás desse obscurecimento, está o fato de que nossas consciências também se endureceram. Em Efésios 4:17-19, Paulo diz dos descrentes gentios: “Eles estão obscurecidos no entendimento, alienados da vida de Deus por causa da ignorância que há neles, devido à dureza dos seus corações. Eles, tendo-se tornado insensíveis, entregaram-se à libertinagem para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.”
Então não é somente um problema de ignorância. É um problema de dureza de coração que produz a ignorância. Nos acostumamos tanto com o pecado que ele para de nos incomodar. Resista a sua consciência por tempo suficiente, e você consegue acalmá-la e aquietá-la.
Muitas pessoas se endurecem no pecado e dizem, “estou em paz com a minha decisão”. Talvez conseguem até orar a Deus e não se sentir incomodado. Imaginam que a paz que se sentem é a prova de que Deus aprova de suas obras. Cristo (citando o profeta Isaías) disse aos judeus daquela época, “o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.” Se você não quer se converter, não quer abrir mão do seu pecado, basta resistir o tempo suficiente, endurecer o tempo suficiente, e sua consciência vai deixar de lhe incomodar.
Às vezes a gente maravilha olhando a falta de consciência de alguém. Perguntamos, “como ele dorme de noite?” É assim.
Paulo diz também aos judeus em Rom. 2:5: “Segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus.” E ele adverte a Timóteo também sobre pessoas cujas consciências são “cauterizadas.”
Se resistirmos à nossa consciência por tempo suficiente, ela para de funcionar. Por isso também, não podemos depender de nós mesmos para julgar o que é certo e o que é errado. Não somos objetivos assim. Precisamos da lei de Deus.
2.3. Terceiro, precisamos da lei de Deus para nos ensinar quem somos porque estamos cercados por outros pecadores, e a nossa tendência natural é de nos comparar uns com os outros e não nos avaliar pela objetividade da Lei de Deus.
Nunca chegaremos a conhecer a seriedade do nosso pecado nos comparando com outros pecadores. Olhando ao redor, só vamos encontrar outros pecadores iguais a nós mesmos. Então imaginamos que estamos tranquilos, porque não somos nem melhor nem pior de que os outros.
Mas será que Deus nos vê assim? Será que essa medida é boa?
A lei de Deus é objetiva. É perfeita. Não se ajusta aos nossos padrões. E a lei de Deus nos mostra uma realidade muito diferente do que nós vemos apenas nos comparando uns com os outros. Cristo disse aos fariseus, “vós aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único?” Desta forma, jamais vamos alcançar ter uma avaliação objetiva de nós mesmos. O apóstolo Paulo descreve a mesma tendência em 2 Cor. 10:12: “Eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez.”
Se queremos nos sentir bem, precisamos apenas buscar a aprovação dos outros. Sempre tem alguém—pecador igual a você—pra dizer, “não, você não é tão mal assim.” Sempre tem alguém para “afirmar” as nossas escolhas se é isso que queremos. Mas não nos fará bem algum quando chegarmos diante do tribunal de Deus.
3. Então, o que é que a Palavra de Deus e a Lei de Deus nos ensina?
A Palavra de Deus nos conta uma história muito diferente da que contamos a nós mesmos ao nos compararmos uns com os outros.
Romanos 3:10: “Não há justo, nem um sequer; não há quem entenda; não há quem busque a Deus.”
A Palavra de Deus é inflexível em seu julgamento. Podemos nos persuadir, ou persuadir uns aos outros, de que não somos tão maus; mas quando nos comparamos com o padrão objetivo da lei de Deus, vemos quem realmente somos.
O catecismo faz a pergunta: “O que a lei de Deus nos ensina?” e poderia prosseguir para listar os Dez Mandamentos—que, se nos medíssemos contra eles honestamente, certamente seriam suficientes para nos condenar—mas, em vez disso, o catecismo vai direto para o cerne da lei de Deus. Em sua essência, o que é que Deus exige em sua lei? Cristo respondeu a esta mesma pergunta, citando dois versículos da lei de Moisés:
Dt. 6:5: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.”
e,
Lev. 19:18: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Esse é a essência da lei, e isso é uma medida objetiva para sondar os nossos corações. As nossas atitudes e palavras e ações todas fluem dos nosso corações. Se cobiçamos no nível do coração, então, dada a oportunidade certa, cometeremos adultério na prática. Se abrigamos ódio no nível do coração, então, dada a oportunidade certa, estaríamos dispostos a assassinar na prática. Provérbios 4:23 diz que o coração é a “fonte da vida”, significando que tudo o mais que pensamos, sentimos e fazemos flui de nossos corações.
Então, o que encontramos quando examinamos nossos corações pelo padrão da lei de Deus?
Aqui, os Dez Mandamentos nos apontam em dez direções diferentes para a mesma realidade.
- Deus diz na sua lei, “não terás outros deuses diante de mim.” Isso inclui não-somente ídolos físicos, mas qualquer coisa que chega a ser como um deus em nossa vida e nos leva a pecar contra Deus. O que eu adoro? Em que eu confio? O que isso revela sobre o meu coração?
- Deus diz na sua lei, não tomarás o nome do Senhor em vão. Então devo especialmente guardar a minha palavra como crente, sabendo que o nome de Deus é honrado ou blasfemado por causa de minha ações. Devo também honrar o nome de Deus, invocá-lo em oração, e defender sua honra. Se eu não faço isso, ou se me comporto como crente de forma desonrado, o que isso revela sobre meu coração para com Deus?
- Seu eu peco no escondido, quando somente Deus pode me ver e mais ninguém, o que isso diz sobre a honra e respeito que eu tenho para Deus?
- Deus diz que devo honrar e obedecer a meus pais. Se eu desrespeito minha mãe, o que isso revela sobre meu coração para com Deus?
- Deus diz que não matarás, e sabemos que isso implica que devemos amar o próximo e buscar seu bem. Se eu guardo rancor no meu coração, ou ódio, ou amargura; ou se corto alguém da minha vida porque me ofendeu, o que isso revela sobre o meu coração?
- Deus diz que não adulterarás. Cristo nos ensinou, e a gente sabe por experiência também, que o homem que entretem pensamentos adúlteros na sua mente ou olha a uma mulher com intenção imoral, já cometeu adultério no seu coração, e seria capaz—dado a oportunidade para escapar impune—de cometer adultério de fato. O que que minha mente e meus olhos testificam sobre o meu coração?
- Deus diz que não devo cobiçar, o que também implica que não devo invejar o meu próximo quando ele receber de Deus uma benção que eu não recebi. O que que minha atitude para com meu próximo testifica sobre o meu coração?
E poderíamos nos examinar desta foram com relação a todos os mandamentos de Deus. Apenas selecionamos alguns. A lei de Deus examina nossos corações objetivamente. Não nos comparando uns com os outros, mas com justiça perfeita. Ela corta todas as nossas desculpas. Expõe as mentiras que contamos a nós mesmos. Mostra-nos quem realmente somos.
Então, qual é a conclusão de Paulo em Romanos 3, depois de olhar honestamente para a lei, da perspectiva do judeu autojusto “cumpridor da lei” que ele pensava ser?
- “Não há justo, nem um sequer.”
- O suposto judeu cumpridor da lei é tão perverso, no coração, quanto a prostituta homossexual nos templos romanos ou o bêbado na rua. Ninguém é justo diante de Deus.
- “Não há quem entenda.”
- Até mesmo o judeu, que eram supostamente “mestres” da lei de Deus, transformaram a lei em uma série de rituais e observâncias que supostamente nos tornam justos diante de Deus—algo que a lei jamais foi projetado para fazer.
- Quando a lei sonda nossos corações, fica claro: “Quem realmente entende as profundezas do seu próprio pecado?” Quem realmente conhece a extensão total da sua culpa diante de Deus. Quanto mais profundamente olhamos, mais depravação encontramos.
- O Salmista que mais elogia a lei de Deus—em Salmo 19—conclui este salmo dizendo: Psa. 19:12: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.”
- Paulo continua: “Não há quem busque a Deus.”
- Se Deus não converte o coração de alguém, como ele vai buscar a Deus? Até os filósofos, em toda sua sabedoria, que refletiram sobre muitas cosias, não buscaram chegar ao conhecimento do Deus verdadeiro. Se contentaram com os falsos deuses e seus mitos blasfemos.
- Na verdade, fora do evangelho, quem quer buscar a Deus? Sem o sangue de Cristo para cobrir nossos pecados, quem realmente quer entrar na presença do Deus justo e santo?
- “Todos se desviaram; juntamente se fizeram inúteis.”
- A palavra “inúteis” é uma tradução do hebraico, “corruptos” (Paulo está citando aqui o Salmo 14). Não está dizendo que o ser humano em si não vale nada, mas que sua moralidade vale nada. Nossas supostas boas obras são inúteis; não somam nada. Todas são manchados pelo pecado. E muitas vezes são justamente o oposto do bem. Aquilo que fazemos, pensando estar fazendo um grande serviço a Deus e ao próximo, muitas vezes não é nada de bom. Muitas vezes celebramos o que é mau aos olhos de Deus e proibimos o que é justo.
- “A sua garganta é um sepulcro aberto.”
- A linguagem de Paulo—que ele cita do salmo—é bem forte. Como se tivesse um fedor abominável em nosso coração. É muito forte. É difícil aceitar isso. E—devo deixar claro—ele não está falando sobre o homem regenerado, sobre o cristão redimido, mas sobre o homem natural, ainda em seu pecado. Esta linguagem podem nos parecer muito forte. Mas veja as ações que procedem do coração. Veja novamente a história humana.
- “Nos seus caminhos há ruína e miséria.”
- O rastro de destruição e miséria que a raça humana não regenerada deixa para trás é o testemunho de sua verdadeira natureza. Ruína e miséria. Guerra. Ganância. Corrupção. Abuso. Nós somos o que há de errado com o mundo. Não faz sentido dizer que as pessoas são fundamentalmente boas, mas é a sociedade que as corrompe. A sociedade é feita de quem?
- “O caminho da paz eles não conheceram.”
- A paz simplesmente não está mais embutida em nossa natureza caída; quando o orgulho e o egoísmo governam, você não encontrará paz. Você vê esse fato da vida no nível familiar e no nível internacional.
- Estuda a história antiga de qualquer país, e você vai ver o mesmo padrão. Períodos de independência de vários clãs, marcados por guerra e conflito entre as tribos. E períodos de imperialismo, unificando as regiões do país (que ajuda promover paz), mas isso é marcado por conflitos de poder lá em cima, que acaba eventualmente quebrando o império e voltando à guerra civil.
- O caminho da paz, o homem não conhece. Os historiadores de hoje querem dizer que antes que os portugueses chegaram no brasil, as tribos índios viveram todas em paz. Simplesmente não é verdade. Os portugueses cometeram os mesmos pecados que os índios cometeram antes deles; e como os africanos cometeram lá na Africa uns com os outros. O caminho da paz, o homem não conhece.
- E finalmente: “Não há temor de Deus diante dos seus olhos.”
- É uma conclusão adequada à descrição de Paulo da raça humana.
- Fomos criados para amar e servir a Deus, como nosso chamado mais elevado e fundamental, e o caos que testemunhamos no mundo e em todos os lugares que olhamos para a raça humana não regenerada, e isso se resume ao fato de que não há temor de Deus diante dos seus olhos. Onde não há temor de Deus—nenhum respeito por Deus—não há limite para o mal que somos capazes de cometer.
O catecismo então responde a pergunta. Será que é eu consigo (por minha proporia natureza) amar a Deus e ao meu próximo? “Não. Pelo contrário, sou inclinado por natureza a odiar a Deus e ao meu próximo.” Ainda bem que não posso manifestar este ódio plenamente—eu estaria na cadeia—mas tenho que aceitar que este é o meu coração por natureza. Dizem que o “poder corrompe,” mas isso não é exatamente correto. O poder não corrompe, mas me permite praticar a corrupção impune.
Então irmãos, e queridos visitantes, considerem estas palavras duras de Deus, porque palavras frouxas produzem corações duros, mas palavras duras podem produzir um coração terno. É isso aqui que encontramos quando nos medimos contra o padrão objetivo da lei de Deus.
Este é um lugar triste para o catecismo—e a fé cristã—começar. Mas nunca abraçaremos o Evangelho até sabermos quem realmente somos fora de Cristo. Temos que começar nosso estudo do Evangelho olhando para o espelho da lei de Deus, que nos mostra como realmente somos.
Isso pode parecer um lugar muito deprimente para começar. Mas pelo menos é a verdade. E não é o fim da história. Como falei antes, não teríamos a coragem de percorrer esse caminho se não soubéssemos que haja esperança no final. E tem sim: Deus enviou Cristo para redimir a carne pecaminosa do poder do pecado.
É para onde Paulo vai no próximo versículo também:
Romanos 3:21–22: “Mas agora, sem a lei, se manifestou a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem.”
Na próxima semana, e na semana seguinte, ainda teremos mais a aprender sobre o nosso pecado, bem como sobre o justo julgamento de Deus contra o nosso pecado. Temos que tirar ainda algumas desculpas e justificativas que muitas vezes usamos. Este assunto é difícil de enfrentar, e a nossa resistência é difícil de superar. Mas fazemos isso, não como aqueles sem esperança, mas como aqueles que sabem exatamente qual é a nossa esperança: Cristo deu a sua vida, o justo pelos injustos, para que, por causa da sua morte, possamos viver. E Ele ressuscitou, como um testemunho de que Deus aceitou o seu sacrifício perfeito—e porque Ele foi lá por nós, nós que colocamos nossa fé nEle também somos recebidos na presença do Pai junto com Ele—não como pecadores ímpios prestes a enfrentar Sua ira… mas como filhos e filhas, aceitos, santificados e feitos justos e limpos diante dEle. Ele troca nossas vestes imundas por vestes brancas e limpas. E já agora, Ele envia Seu Espírito para nossas vidas para começar a transformar o nosso coração e a nossa vida.
E essa é a nossa alegria. Essa é a confiança inabalável, firme, que temos, na vida ou na morte. Somos recebidos na presença do Pai, e Ele não nos destruirá por nossas milhares de impurezas, mas, em vez disso, nos veste de branco, nos acolhe como filhos e nos concede o deleite inimaginável de vê-Lo e conhecê-Lo e habitar com Ele para sempre, com Cristo, nosso irmão mais velho perfeito, ao nosso lado. Então, irmãos e irmãs, mesmo que tenhamos passado um bom tempo olhando para nossos corações, levantem os olhos para Cristo, pois com Ele está a vida e a alegria além da imaginação!

Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.
* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.