Leitura: Êxodo 12, Mateus 12.17-20
Texto: Dia do Senhor 28
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Durante as últimas semanas, estamos estudando os sacramentos – batismo e Ceia do Senhor – para entendê-los melhor (o que significam) e por que são importantes. O catecismo dedica vários domingos para este assunto, não somente porque era uma questão polémica naquela época durante a Grande Reforma, mas também para que os cristãos de gerações futuras pudessem apreciar como e por que os sacramentos são importantes para a vida cristã. Muitas vezes acontece que os sacramentos acabam sendo negligenciados na vida cristã ou minimizados como meros rituais, ou assuntos polémicos pelos quais os cristãos gostam de brigar, mas que realmente não são tão importantes na vida cristã. Nós queremos, por meio deste estudo, entender e apreciar a verdadeira importância destes sacramentos que Cristo instituiu. Nesse processo, é verdade que temos que reconhecer algumas das áreas em que os cristãos discordam. Nós temos que fazer isso. Então, na semana passada, nós tratamos a questão do batismo infantil – por que batizamos crianças e por que acreditamos que esta prática é de acordo com a palavra e a natureza da aliança. Mas nosso objetivo não é simplesmente “defender” nossa prática contra outras igrejas; nosso objetivo é chegar a uma compreensão bíblica mais completa das verdades do Evangelho que Cristo pretendia que os sacramentos proclamassem quando os instituiu em primeiro lugar, para que possamos aprender e realmente nos beneficiar dos sacramentos, como Cristo pretendia; para que sirvam para fortalecer nossa fé e aprofundar nossa compreensão do Evangelho.
Para esse fim, passamos várias semanas examinando o sacramento do batismo e algumas das doutrinas subjacentes; agora, queremos voltar nossa atenção para o sacramento da Ceia do Senhor.
1. As raízes da Ceia do Senhor na Páscoa
Assim como no batismo, a primeira coisa que devemos fazer é pensar no pano de fundo do Antigo Testamento para esse sacramento. A fé cristã é fundada nas promessas de Deus aos judeus no Antigo Testamento, que foram cumpridas em Cristo. Assim, se falharmos em entender as raízes da Ceia do Senhor no Antigo Testamento, é provável que não entendamos o que ela significava no Novo Testamento nem o que significa hoje.
Então, temos que começar no Antigo Testamento. Vimos, com o batismo, que o sacramento do batismo no Novo Testamento tinha uma contraparte no Antigo Testamento – a saber, a circuncisão, que era o sinal de membresia na aliança que declarava que o circuncidado era separado do mundo e pertencia a Deus.
A Ceia do Senhor também tem raízes claras e importantes no Antigo Testamento.
Lemos agora há pouco em Mateus 26, que registra como o Senhor Jesus instituiu a Ceia do Senhor. E a primeira coisa que queremos observar é o dia em que Cristo instituiu a Ceia do Senhor, que vemos no versículo 17. Foi o primeiro dia da Festa dos Pães Asmos.
Então, precisamos começar com uma explicação sobre essa festa. A Festa dos Pães Asmos é na verdade uma parte da festa da Páscoa. A Páscoa era o maior e mais importante feriado judaico e era comemorado todos os anos em Israel. A Páscoa marcava o dia em que Deus libertou o povo de Israel da escravidão no Egito.
E a festa da Páscoa consistia em duas partes principais: a própria cerimônia da Páscoa e a Festa dos Pães Asmos. Quando os israelitas celebraram a Páscoa pela primeira vez na noite antes de deixarem o Egito, essas duas coisas ainda estavam juntas. Então, primeiramente, os israelitas deveriam abater um cordeiro como sacrifício e espalhar seu sangue nas ombreiras das portas. Esse sangue seria um indicador para o anjo do Senhor, que passaria pelo Egito naquela noite, matando o filho primogênito de todas as casas egípcias, mas poupando as casas que tivessem o sangue do cordeiro. E o sangue deste cordeiro significava o sacrifício de sangue que pagou pelos pecados de Israel, para que eles e suas famílias fossem redimidos.
Nós aprendemos no novo testamento que este sacrifício, como todos os outros sacrifícios do Antigo Testamento, não pagavam por si mesmos os pecados dos israelitas, mas ensinavam e apontavam para o sacrifício de Cristo. Todo o sistema sacrificial em conjunto proclamou a única mensagem consistente: nós somos pecadores, culpados sob a perfeita justiça de Deus, e a única maneira pela qual os pecadores podem viver em paz com Deus é se seus pecados forem expiados— ou seja, pagos e cobertos — com a morte de outro. E, finalmente, esse “outro” não seria uma ovelha ou uma cabra ou um touro, mas o sangue de Cristo.
Então essa foi a primeira parte da festa da Páscoa.
A segunda parte da festa da Páscoa era a refeição– a festa dos pães ázimos. Os israelitas deveriam assar pão sem fermento (porque o fermento simbolizava o pecado) e comê-lo juntos. E aquela festa simbolizava sua comunhão com Deus – comendo, por assim dizer, ao redor da mesa dEle. Toda a comunidade israelita, até o último homem, junto com suas famílias, suas esposas e filhos, deveriam desfrutar de comunhão com Deus.
Agora, uma vez que os israelitas entrassem na terra, estas duas partes da festa da páscoa—o abatimento do cordeiro pascal e a Festa dos Pães Asmos—seriam separadas, porque a construção do templo significava que todos os sacrifícios – incluindo o cordeiro pascal – teriam que ser oferecidos no templo, e muitos judeus moravam longe do templo. Assim, todos os homens seriam obrigados a ir para Jerusalém e ali oferecer o cordeiro pascal; e depois imediatamente retornar para suas casas para celebrar a festa dos pães ázimos junto com suas famílias.
Agora, ao longo dos séculos, algumas pequenas coisas mudaram. Algumas das datas mudaram; como vemos em Mateus, evidentemente o “primeiro dia dos pães ázimos” começou alguns dias antes Páscoa, em vez do próprio dia da Páscoa – pelo menos na tradição que Jesus e seus discípulos seguiram. Alguns dos elementos da festa também mudaram. As taças de vinho foram acrescentadas, o que não são mencionadas na lei de Moisés. E esta primeira noite de pão ázimo veio a ser conhecida como o “Sêder da Páscoa”, ou a refeição da Páscoa. Se seguirmos o relato de Mateus, podemos ver que Jesus estava claramente seguindo a tradição da Páscoa. Eles falaram —como os judeus ate hoje falam—sobre o “cálice de bênção pelo qual damos graças”. Eles cantariam um hino depois – que seriam os Salmos 113-118.
Então, quando pensamos sobre o significado da Ceia do Senhor, é aqui que devemos começar – em suas raízes no Antigo Testamento. O Senhor Jesus não estava inventando algo novo, ele estava trazendo algo para o seu cumprimento e mostrando aos Seus discípulos o seu verdadeiro significado.
Quando entendemos a Ceia do Senhor como o cumprimento da Páscoa, podemos aprender algumas lições importantes sobre seu significado:
(1) Em primeiro lugar, é um lembrete para nós de que Cristo é o cordeiro pascal. Aqui na Ceia do Senhor não temos carne, mas somente pão e vinho; e isso porque o cordeiro pascal já foi sacrificado. Paulo diz em 1 Cor. 5:7: “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.” A refeição pascal (a festa dos pães ázimos) nunca poderia ser celebrada sem a própria cerimônia da Páscoa e o abate do cordeiro pascal. Mas a Ceia do Senhor declara que o cordeiro já foi sacrificado, de uma vez por todas; e assim Cristo instituiu, como festa perpétua, a Ceia do Senhor, sem exigir mais o abate do cordeiro pascal.
Vale ressaltar aqui, também, que até mesmo os judeus hoje celebram a festa dos pães ázimos (que agora eles chamam apenas de “Páscoa”) sem o sacrifício do cordeiro pascal. Eles fazem isso incoerentemente, mas por necessidade porque o templo foi destruído, como Cristo havia profetizado em Mateus 24. Cristo cumpriu em si mesmo todo o sistema sacrificial, tornando o templo obsoleto. E sendo obsoleto, Deus finalmente o destruiu. A carta aos Hebreus profetiza isso também em Hebreus 8:13, referindo-se a todo o sistema do templo: “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.” Os judeus de hoje ainda esperam que, quando o Messias vier, o templo será reconstruído e eles possam voltar a celebrar a festa da Páscoa em sua inteira. Eles falham em ver que o Messias já veio; e que a Páscoa cessou porque foi cumprida.
(2) Em segundo lugar, o principal tema predominante na festa dos pães ázimos do Antigo Testamento era a santidade. O fermento era um símbolo de pecado, e os israelitas foram ordenados a limpar suas casas, de cima a baixo, de todo fermento. Deveria ser completamente removido para que a festa fosse celebrada. Eles não deveriam ter nenhum fermento presente em casa. E a mensagem era clara: a comunhão com Deus, à Sua mesa, requer santidade absoluta. Nenhum pecado deve estar presente.
Mas é claro que o fermento sempre volta. Na verdade, se os israelitas tivessem estudado a microbiologia, eles teriam percebido que não é possível limpar uma casa totalmente de fermento. Está em tudo lugar. Há fermento flutuando no ar aqui na igreja. Há fermento em todas as superfícies. Há fermento na superfície dos próprios grãos de trigo. Quantidades muito pequenas, com certeza, mas dê tempo suficiente e ele fermentará. E há uma lição importante aí: o pecado é assim. Por mais que tentemos, a realidade é que nós não podemos remova-o completamente. É muito mais difundido do que nunca imaginamos.
E é por isso que é uma mensagem tão importante, quando o Senhor Jesus pegou aquele pão sem fermento e disse: “este pão é meu corpo; tome, e coma.” Cristo não é apenas o cordeiro pascal, mas também o pão sem fermento; Ele não é apenas o sacrifício que nos justifica, mas também é nossa verdadeira justiça e santidade.
(3) Em terceiro lugar, também queremos aprender com esse fato que a Festa dos Pães Asmos do Antigo Testamento era uma refeição de comunhão. Os israelitas tiveram o privilégio de sentar-se como se estivessem ao redor da mesa de Deus, desfrutando da comunhão com Ele como Seu povo, por causa do sangue do cordeiro. E é isso que Cristo pretendia que a Ceia do Senhor fosse também: uma refeição de comunhão com Deus, pela qual somos lembrados de que pertencemos a Ele, e Ele a nós, e que um dia voltaremos a celebrar essa refeição juntos no Reino de Cristo. Como Jesus disse aos Seus discípulos no versículo 29: “E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai.” O significado mais básico da Ceia do Senhor é a expressão de comunhão que temos com Cristo e uns com os outros, em base do sangue do cordeiro.
2. O Significado da Ceia do Senhor no Novo Testamento
Dito isso, também queremos considerar o significado da Ceia do Senhor conforme foi instituída por Cristo, no Novo Testamento, e o que significa para nós quando a celebramos hoje. Quando Cristo instituiu esta Ceia, Ele teceu mensagens do Evangelho em cada um de seus elementos, e queremos prestar atenção a eles.
Na Ceia do Senhor, há um padrão de partir, dar, e comer. Partindo e derramando, dando e recebendo, e finalmente comendo e bebendo. E em cada nível, Cristo nos ensina a ver o Evangelho visivelmente retratado.
Partindo e derramando
No primeiro nível, há o partir e derramar. O pão é visivelmente quebrado, e o vinho é visivelmente derramado. E Cristo nos ensina que essas são figuras de Seu corpo e sangue. Seu corpo santo, sem pecado e “sem fermento” foi quebrado e seu precioso sangue derramado para o perdão de nossos pecados. Há uma “imagem” do Evangelho.
Dado e Recebido
Então, este mesmo pão e vinho são dados. O próprio Cristo foi o primeiro a dá-los, e todo ministro que celebra a ceia dá o pão e o vinho em nome de Cristo. O que Cristo pretende que vejamos aqui é que Ele não apenas morreu pela humanidade em geral; mas que Seu corpo quebrado é dado especificamente para seu povo, para os que pertencem a Ele. Ele morreu por seu povo, e Ele convida o seu povo para recebê-Lo pela fé.
Comido e bêbado
Finalmente, este sacrifício é comido e bebido. É uma metáfora estranha, “comer o corpo de Cristo” e “beber Seu sangue”. É por isso que os cristãos foram às vezes acusados pelos romanos de serem canibais; porque eles escutaram esta conversa dentro das casas onde os cristãos celebraram a ceia, e acharam que estavam falando literalmente. E realmente, é uma linguagem muito estranha. Mas é algo que o Senhor Jesus mesmo ensinou, não apenas na ceia, mas também em seu ensino público. Em João 6:53, o Senhor Jesus disse à multidão: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” É uma linguagem estranha. Mas o Senhor não estava falando literalmente de comer sua carne e beber seu sangue; ele estava falando de uma realidade espiritual: de receber seu sacrifício e, por assim dizer, o internalizar. Então aqui está outra imagem do Evangelho. Jesus estava usando a linguagem da Páscoa, na qual os israelitas não apenas mataram o cordeiro pascal, mas também o comeram: eles internalizaram o sacrifício, de modo que a morte do cordeiro se tornasse a vida da pessoa, como um presente de Deus para preservar suas vidas. É por isso que Paulo também diz em 1 Cor 10, que lemos anteriormente, que “o cálice da bênção, pelo qual damos graças, é uma participação no sangue de Cristo”. Ele diz, no versículo 18: “Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar?” Da mesma forma, ao comermos o pão e bebermos o vinho como símbolos do corpo e sangue de Cristo, somos feitos participantes em Seu sacrifício.
E é nesse sentido que comemos o corpo de Cristo e bebemos seu sangue; nós O recebemos e O tomamos em nós mesmos, por assim dizer, como nossa vida. Seu sacrifício não apenas nos cobre como expiação por nossos pecados; mas também nos nutre e nos sustenta para viver em comunhão com Deus.
Da mesma forma, assim como o pão sem fermento era o símbolo de limpeza e santidade, os Israelitas deveriam comer este pão, internalizando esta santidade como um presente de Deus, que os santifica; assim nós somos chamados a receber Cristo como nossa santidade como dom de Deus, que nos santifica a cada vez mais. A razão pela qual não somos expulsos da presença de Deus é porque estamos unidos a Cristo. Cristo está em nós, e nós estamos Nele. E comer do pão e do vinho é uma ilustração desta realidade.
Assim, vemos estas três figuras na Ceia do Senhor: o partir e derramar que apontam para o que Cristo fez na cruz; o dar e o receber que nos chamam a recebê-lo pela fé; e o comer e beber que nos mostram que somos unidos a Cristo e encontramos nEle a nossa vida.
Comunhão
Em tudo isso, porém, não devemos pensar que isso é algo que é meramente feito em particular, apenas “entre eu e Jesus.” Não estamos desfrutando de algo totalmente particular, apenas coincidentemente na mesma sala. Não, na Ceia do Senhor, Ele não apenas nos chama à comunhão com Ele, mas também nos chama à comunhão uns com os outros. Se estamos unidos a Ele, também estamos unidos uns aos outros. Isso é o que Paulo nos ensina em 1 Coríntios 10, e especialmente no versículo 17. A ilustração aqui é de muitos Cristãos participando juntos de um só pão. E Paulo diz, o significado desta ilustração é que nós, que somos muitos, somos um só corpo, porque todos nós participamos desse único pão. Em outras palavras, na Ceia do Senhor, todos nós participamos em um só Jesus Cristo – significando que estamos todos unidos a Ele – e consequentemente, estamos unidos uns com os outros. Todos os que estão unidos a Cristo também estão unidos uns aos outros.
Na verdade, esta imagem teria sido até mais óbvio pela maneira como a Ceia do Senhor era celebrada na igreja antiga. Como vimos, quando Cristo instituiu a Ceia do Senhor, foi uma verdadeira refeição. Sim, foi uma refeição especial e cerimonial – ordenada por Deus – mas foi uma refeição.
Na verdade, foi assim que continuou a ser celebrado por séculos na igreja primitiva. Foi uma verdadeira refeição que reuniu toda a igreja. O pão e o vinho foram distribuídos e as palavras da instituição da ceia por Jesus foram lidas – assim como nós – mas isso foi apenas a abertura da refeição. Foi concebido como uma refeição comunitária que os membros da igreja desfrutaram juntos em comunhão uns com os outros.
Agora, isso às vezes vinha com abusos. Vemos exemplos disso na carta à igreja de Corinto, onde os ricos, ao invés de repartir sua comida, a guardavam para si mesmos, e até mesmo ficaram bêbados, enquanto os pobres passaram fome. E Paulo os repreende por isso. Ele diz, se você não está fazendo nada mais de que encher o bucho, então é melhor ficar em casa.
Mas o problema não era o fato da ceia ser uma refeição. O problema foi a falta de piedade em relação a ceia, e a falta de consideração para com seus irmãos. A ceia deve ser celebrado com reverência—lembrando que Cristo é o anfitrião—e deve ser celebrado em verdadeira comunhão, como irmãos e irmãs em Cristo. A igreja deve ser o único lugar neste mundo onde todas as distinções sociais entre classe e raça (escravo ou livre) desaparecem completamente, e nos colocamos juntos no mesmo nível, como pecadores que foram perdoados pelo sacrifício de Cristo e que amam uns aos outros e estão comprometidos uns com os outros como irmãos e irmãs.
Então não devemos perder a natureza pactual da santa ceia. É um pão para um corpo. Todos os membros do corpo pertencem na mesa de Cristo. Existe uma tendência recente em algumas igrejas de aumentar a idade de participação das crianças, e isso não é saudável. A ceia também pertence a elas. É necessário que tenha uma compreensão do que estão fazendo, mas não devemos por isso prolongar demais a participação das crianças, que também são membros do corpo de Cristo.
Também, não devemos desencorajar a participação de membros fracos. Existem algumas igrejas que se chamam reformadas, em que apenas uma pequena minoria dos membros participam, porque são os cristãos mais maduros ou aqueles que passaram por certas experiências de convicção de sua eleição. Isto não é bíblico. A ceia é para todos os membros, para toda a igreja. É um só pão por um só corpo, como Paulo diz em vs. 17.
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Com isso dito, vamos refletir por um momento sobre o propósito da Ceia do Senhor como um sacramento. Aqui, mais uma vez, podemos aprender com o sacramento da Páscoa no Antigo Testamento.
Na instituição da Páscoa, Deus instruiu Moisés que a Páscoa deveria ser um “dia comemorativo” ou uma “comemoração” ou “memorial”. E o propósito de um “memorial” não é apenas lembrar o que aconteceu no passado, mas também lembrar o seu significado para o presente. Portanto, no caso da Páscoa, não era apenas para lembrar aos israelitas como Deus libertou seus pais do Egito, muitos anos antes, mas também para lembrá-los do que isso significava para eles: que eles eram um povo separado e redimido por Deus para pertencer a Ele. Foi tanto um sinal como um selo ou garantia.
E é isso que Cristo instituiu a ceia para ser também. É uma refeição memorial, na medida em que lembramos do sofrimento e da morte de Cristo em nosso lugar. Por isso que Cristo nos ordena, “faça isso em memória de mim.” É a mesma linguagem da Páscoa que vemos em Êxodo 12.
Mas é mais do que apenas uma “lembrança” do passado. É um lembrete de quem somos agora, como resultado do que Cristo fez por nós. Que nós, como os israelitas antes, somos um povo separado do mundo, redimido por Cristo e pertencente a Ele.
E isso também precisa moldar a maneira como celebramos a Ceia do Senhor. Celebramos em memória de Cristo, não somente do que ele fez no passado, mas das consequências que isto tem para o presente. Viemos porque Cristo nos chama para vir, e viemos para ser encorajados e fortalecidos no Evangelho. Não viemos para declarar que temos nossas vidas em ordem. Não viemos para declarar que somos espiritualmente fortes ou maduros. Viemos porque pertencemos a Deus, e Ele nos chama para vir; e é disso que passamos a ser lembrados.
É por isso que também precisamos ter cuidado com a cultura do “auto-exame” e da introspecção que às vezes envolve a Ceia do Senhor. Tem um lado necessário nisso: devemos nos examinar antes de participar na santa ceia para garantir que não estamos participando hipocritamente, vivendo de uma maneira que contradiz o Evangelho de Cristo, ou guardando ódio contra os nossos irmãos. Temos que examinar a nós mesmos. Cristo disse isso também em Mt 5:23–24: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.” Cristo falou isso no contexto do templo em Jerusalém, mas podemos dizer a mesma coisa sobre a participação na Ceia do Senhor. Se você está se apresentando e lembra que tem algo contra um irmão na igreja; ou um irmão na igreja tem algo contra você; então vá e reconcilia-te primeiro com teu irmão; e só então, venha para a mesa. Da mesma forma, se você reconhece que está abrigando pecado em alguma área de sua vida, que você não está disposto a deixar, então vá e lide com esse pecado; arrependa-se desse pecado e então venha para cá com a consciência limpa.
Então, sim, devemos nos examinar ao participar. Porém, precisamos ter cuidado para não dar a nós mesmos a impressão de que as únicas pessoas que devem vir são aquelas que têm toda a sua vida em ordem, que tem uma fé muito forte sem nunca te dúvidas e dificuldades, e que não estão na luta contra o pecado. Porque se assim for, nenhum de nós deveria estar à mesa. Ou apenas aqueles que estão enganando si mesmos vão estar. Todos nós lutamos em nossa fé. Todos nós falhamos de várias maneiras. Todos nós temos um longo caminho a percorrer para crescer em santidade. A Ceia do Senhor não declara que nós já somos aperfeiçoados, mas que pertencermos, pela graça de Deus, a Cristo. O objetivo é de nos direcionar para Cristo, não para olhar para nós mesmos.
Portanto, irmãos queremos continuar a valorizar este sacramento e celebrá-lo como Cristo o instituiu, como uma refeição memorial que proclama, toda vez que celebramos, que Cristo é o nosso cordeiro pascal, e Seu corpo foi partido por nós e Seu sangue derramado por nós, para que nós—juntos— pudéssemos receber o dom da vida eterna na mesa de Deus Pai.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.