Dia do Senhor 13

Leitura: Salmo 2, Mateus 16.13-17, João 1.1-18
Texto: Dia do Senhor 13

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Nas últimas semanas, temos focado na identidade de Jesus Cristo: Quem ele é, e o que isso significa para nós como cristãos. Nós olhamos para o Seu nome: Jesus, e seu significado “Salvador”. Nós olhamos para o título “Cristo” e passamos algum tempo pensando sobre o papel de Cristo como o grande profeta, sacerdote e rei — e o que isso significa para nós como cristãos.

E agora, queremos passar uma última semana olhando para mais um título super importante para Jesus: o nome, “filho de Deus”. Queremos pensar sobre o significado deste nome, e, então, por que isso é importante para nós.

O nome “Filho de Deus” é talvez o mais controverso de todos os seus nomes. Os muçulmanos, em particular, consideram este título uma blasfêmia no mais alto grau. E diversos grupos cristãos heréticos rejeitam esse título ou o reinterpretam para torná-lo algo menos do que é. Assim, para a igreja primitiva, esta era uma confissão muito importante e fundamental: “Creio em Jesus Cristo, o Unigênito Filho de Deus.”

Então, esta tarde, quero pensar sobre o que significa que Jesus é o “Filho de Deus” e por que isso é tão importante para nossa fé.

1. De onde vem esse nome

A primeira coisa que queremos observar é que chamamos Jesus de “Filho de Deus” porque as Escrituras claramente, inequivocamente, nos dão esse nome. Nem é somente uma inovação do Novo Testamento. É assim que as escrituras do Antigo Testamento falam do Salvador prometido. Ele é o Filho de Deus e o Filho do Homem. No Salmo 2:7, Deus diz ao Messias: “Tu és meu Filho; hoje te gerei”. No Salmo 45, ele é chamado o mais nobre dos filhos dos homens, e no mesmo salmo é chamado de “Deus”. Em Isaías 9:6, novamente, Cristo é chamado de “Deus Poderoso”. E existem muitos outros textos que dizem ou implicam o mesmo. Hoje você nunca encontra um judeu falando do Messias como o “Filho de Deus”, mas na época do Novo Testamento, não era incomum que os judeus se referissem ao Messias como o Filho de Deus. Mesmo que eles não entenderam totalmente o significado desse nome, eles certamente reconheceram que o Messias prometido não é apenas um homem, mas, em certo sentido, intimamente associado ao próprio Deus. Assim, o nome “Filho de Deus” tornou-se uma espécie de sinônimo do título “Cristo”. Pedro, em Mateus 16, disse a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” – e Jesus disse a ele: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque isto não to revelou a carne e o sangue, mas meu pai que está no céu.” Até o sumo sacerdote que acusou Jesus diante de Pôncio Pilatos usou os termos como sinônimos, quando questionou Jesus, “Digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.”

Então é daí que vem esse nome. Foi um reconhecimento de que o Messias, embora seja humano, é também, de alguma forma, o próprio Deus. Os judeus certamente não tinham uma explicação totalmente desenvolvida para isso, mas eles reconheceram isso, porque as Escrituras claramente ensinaram isso. Os muçulmanos hoje que dirão que os cristãos inventaram o nome “Filho de Deus” muitas centenas de anos depois de Jesus simplesmente não conhecem as Escrituras – nem o Antigo Testamento nem o Novo.

2. O que esse nome significa

Agora, então, podemos perguntar: o que significa este nome? O que significa que Cristo é o “Filho de Deus”? Uma das objeções muçulmanas mais básicas contra a fé cristã é que Deus nunca teve, nem poderia ter, um filho. Para eles é uma blasfêmia absoluta dizer que Deus teve um filho.

E podemos entender isso. Sem uma compreensão bíblica do que este nome significa, certamente seria blasfemo. Isso é agravado pelo fato de que os muçulmanos confundem a própria doutrina da Trindade. Vendo como a Virgem Maria é praticamente adorada nas tradições católica romana e ortodoxa oriental, eles pensam que a doutrina Cristã da “Trindade” se refere a isso—o Pai, o Filho e a Virgem Maria, como a mãe! Existem textos no Alcorão que cometem esse erro. Maomé – que era um comerciante e, portanto, tinha contato com muitas culturas e religiões diferentes – tinha apenas uma compreensão superficial da doutrina cristã, muito dela tirada de seitas heréticas – e assim ele pensou que isso é o que os cristãos entendem por “Trindade”.

Mas não é isso que as Escrituras querem dizer ao falar de Jesus como o “Filho de Deus”. Em vez disso, o nome refere-se à relação de Cristo com Deus, o Pai, e à identidade de Cristocomo o próprio Deus. Ele é chamado de “Filho de Deus” porque Ele vem deDeus, e porque Ele é Deus. Aqui, estamos lidando com um mistério que nunca vamos compreender totalmente: mas estamos buscando ser fiéis ao que Deus claramente revelou a nós em Sua Palavra. A linguagem de “Pai” e “Filho”, que vem da própria Escritura, é uma analogia à filiação humana. Sendo assim, devemos lembrar que é uma analogia imperfeita. Existem diferenças óbvias: a filiação humana é biológica, mas a filiação de Cristo não é. Na filiação humana, os pais é mais velho do que seu filho; mas este não é o caso com Deus: Ele é eterno. Mas há um relacionamento íntimo entre Deus Pai e Deus Filho que é análogo aos pais e filhos humanos.

Então, o que Deus pretende nos ensinar ao chamar Cristo de Seu “Filho” – como vimos no Salmo 2?

1. Em primeiro lugar, podemos dizer que significa que Jesus é Deus. Já vimos que esse é o ensinamento claro do Antigo e do Novo Testamento. O Filho de Deus é, em todos os sentidos, o próprio Deus. Ele é eterno como Deus é eterno. Ele é o Criador como Deus é o Criador. Ele é Soberano como Deus é Soberano. Ele é adorado como o próprio Deus. Todas as seitas e cultos que procuram apagar esta verdade das Escrituras, sejam os antigos arianos, os muçulmanos ou as Testemunhas de Jeová, hoje, terminam com uma Bíblia muito diferente, e um evangelho muito diferente. O Evangelho é as boas novas de que Deus veio ao nosso mundo, como Ele prometeu, na pessoa de Jesus Cristo, para morrer e ressuscitar por nós, e carregar a maldição do pecado em nosso lugar, para que possamos ser perdoados e salvos. É a história de Deus intervindo em nossa história para nos salvar. Em Isaías 59, Deus olha para a condição miserável da raça humana e lamenta o fato de que não há ninguém quem é justo e ninguém quem pode interceder em nome do homem; e então diz: “O Senhor viu isso e desaprovou o não haver justiça. Viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação.”

Essa é a história do Evangelho. Essa é a promessa de Deus, desde o dia em que Adão e Eva caíram em pecado e Deus amaldiçoou a raça humana como consequência. Mesmo quando Ele nos amaldiçoou, Ele nos prometeu que um dia Ele iria nos salvar. Todas as seitas e religiões desviadas que rompem com o cristianismo, acabam ensinando um Evangelho completamente diferente: onde as pessoas não são tão más, e pelas nossas próprias obras podemos – de uma forma ou de outra – salvar a nós mesmos.

Então essa é a primeira coisa que esse nome significa: o Filho de Deus é Deus. Mas há mais que podemos dizer.

Em segundo lugar, esse nome significa que há uma distinção dentro do próprio Deus. Não que existam dois Deuses – Deus é um— mas que dentro do único Deus, há uma distinção entre o Pai, o Filho e – como aprendemos em outro lugar – o Espírito Santo. Os muçulmanos gostam muito de dizer que Jesus nunca chamou a si mesmo de Filho de Deus, mas foi o próprio Jesus quem ordenou aos discípulos que batizassem em Nome (veja, no único nome) do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Novamente, estamos lidando com um mistério aqui, e não vamos entender isso totalmente à nossa satisfação. Essa é simplesmente a realidade de falar sobre Deus, que é muito além de nossa compressão humana; mas que se revela dessa maneira.

Tampouco podemos dizer que o Pai e o Filho são meramente “aspectos” diferentes de Deus ou “manifestações” de Deus, mas, ao contrário, essa linguagem de “Pai” e “Filho” nos ensina que existe uma viva relação entre eles. O pai enviou o Filho a este mundo, o Filho obedeceu o pai, o pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai e ora para o Pai. É por isso que falamos das “pessoas” da Trindade – não que sejam pessoas distintas no sentido de deuses distintos, mas que são relações distintas dentro do próprio Deus.

Finalmente, esta linguagem de Filiação nos diz algo sobre como o Filho se relaciona com Seu Pai. Ele vem de o pai. Embora como Deus Ele exista desde a eternidade, Ele vem do Pai. É isto que significa esta linguagem de “gerado” e “unigênito.” Como um filho, Ele obedece O Pai dEle. Como um filho, Ele reflete O Pai dEle. Assim como os filhos humanos se assemelham a seus pais terrenos, também Cristo perfeitamente assemelha-se a Seu Pai celestial. O Evangelho de João, capítulo 1:14, diz: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Da mesma forma, Hebreus 1:3 diz: “Ele é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser.” Cristo disse aos Seus discípulos (Jo 14:9): “Quem me vê, vê o Pai”. Isso obviamente não se refere à aparência física de Jesus – já que Deus é Espírito, e não físico – mas ao Seu caráter: Sua justiça, Sua santidade, Sua misericórdia, Sua sabedoria.

Então, irmãos, embora certamente haja mistérios aqui que não vamos entender, é assim que Deus se revelou a nós. Ele chama Cristo de Seu “Filho” para nos ensinar, e queremos humildemente aprender com Ele. Não precisamos especular ou tentar “explicar” como tudo isso funciona – não devemos nos surpreender que Deus esteja além de nossa compreensão – e muito menos devemos rejeitar o que Deus nos ensina aqui. Em vez disso, devemos procurar aprender o que Deus quer dizer, pelas coisas que Deus claramente disse concernente a Seu Filho.

3. Por que esse nome é importante

A pergunta final que queremos fazer, então, é por que importa que conhecemos a Cristo como o Filho de Deus.

Poderíamos simplesmente dizer: “porque é assim que Deus se revelou, e isso já é motivo suficiente para que isso importe” – e isso certamente é verdade. A fé acredita e aceita cada palavra que sai da boca de Deus. 

Mas há mais que podemos dizer.

Importa que Cristo seja o Filho de Deus, em primeiro lugar, porque a salvação vem somente de Deus. O homem não pode salvar a si mesmo. Não teríamos esperança de sermos salvos, se não fosse Deus quem nos salvou. A Bíblia inteira é a história das promessas de Deus para salvação, e como Deus cumpriu essas promessas, culminando no envio de Seu próprio Filho. A salvação não vem do homem até Deus, mas de Deus até o homem.

Também é importante que entendamos que Jesus é o Filho de Deus, para que possamos apreciar a profundidade da misericórdia e do amor de Deus. Foi Jesus quem nos ensinou, em João 3:16, que: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. E como o apóstolo Paulo escreve mais tarde (Romanos 8:32), “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?” Esse é um amor muito profundo, até incompreensível. E isso significa grande segurança para nós. Nós somos seguros no Filho de Deus. Quando somos batizados no Nome do Filho de Deus, e quando nos sentamos à mesa do Filho de Deus, e Ele diz: “isto é o meu corpo, que é dado por vós” – aí estamos seguros. Deus não vai rejeitar aqueles por quem Cristo morreu para salvar.

E, finalmente, importa que Jesus seja o Filho de Deus porque Ele nos promete que nEle—como estamos unidos a Ele—nós herdamos, por adoção, o mesmo status de Filhos e Filhas de Deus. Não que nos tornemos divinos, como Cristo é divino; mas que herdamos o mesmo status que Ele tem, como filhos de Deus. João nos diz em João 1:12–13: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”

O homem foi criado para ser a imagem de Deus. Isso está no primeiro capítulo da Bíblia, no relato da criação. Outra maneira de dizer isso é que nós – como seres humanos – fomos criados para sermos filhos de Deus – ou seja, para relacionar-se com Deus como nosso Pai e refletir Seu caráter perfeito. Nossos primeiros pais, Adão e Eva, falharam nessa grande responsabilidade. Eles caíram em pecado e perderam a oportunidade de viver como filhos de Deus. Mas Cristo veio a este mundo como um segundo Adão, um segundo portador da imagem de Deus, para restaurar essa imagem em nós. E é isso que Ele faz no coração e na vida de nós cristãos. Ele nos restaura ao status de filhos de Deus, e Ele nos torna reflexos cada vez mais fiéis de Deus nosso Pai. Jesus disse aos Seus discípulos em Mateus 5:45: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos de vosso Pai que está nos céus. Pois Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos”. A vida cristã está enraizada nesta nova realidade básica – que somos filhos de Deus, pela graça de Deus, em Cristo – e com base nisso, a vida cristã é um desejo constante de viver neste mundo quebrado e pecaminoso, como filhos de nosso Pai Celestial. Queremos acordar todas as manhãs orando: “Deus, ajude-me a ser o que sou – permita que o que eu diga e faça hoje mostre como Tu és”. No meio de conflitos, e quando somos tratados injustamente, queremos estar sempre nos perguntando: como reagiria um filho de Deus? O Apóstolo Pedro diz em 1 Pedro 1:14-16:

“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.”

E então ele acrescenta:

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação.”


Pense no que Pedro está dizendo ali. Se você ousar chamar Deus de seu Pai – diante do mundo e diante do próprio Deus que conhece a verdade e julga imparcialmente – então deixe essa confissão penetrar, e faça uma pausa para pensar antes de falar e antes de agir.  Temos um imenso privilégio de carregar esse nome, e realmente é o nosso nome em Cristo. Mas também é uma responsabilidade muito séria. Significa que nossas mentes devem ser cada vez mais renovadas pelo Espírito de Deus. Significa que as palavras que falamos não são apenas palavras descuidadas, mas são intencionalmente cheias de verdade e graça. Significa que buscamos oportunidades para amar o próximo, da maneira que Deus nos amou. Significa que somos ousados ​​e corajosos, como quem nada tem a temer do homem; mas também humildes e mansos, como aqueles que estão todos os dias diante de nosso pai e dele recebem todas as coisas. Significa que levamos a sério cada palavra e ação nossa, porque queremos que Deus seja honrado por Seus filhos e queremos que nosso próximo também se torne parte da família de Deus.

Portanto, irmãos e irmãs, é uma confissão muito importante que chamamos Cristo de Filho de Deus. É uma confissão bíblica, porque é assim que o próprio Deus Pai chama Seu Filho. É uma confissão misteriosa, porque fala acerca do ser do próprio Deus, quem é incompreensível e além de nossa capacidade de explicar. Mas também é uma confissão importante. É importante porque nossa salvação repousa sobre esse fundamento. É importante porque nesta verdade vemos a profundidade do amor de Deus por nós e a segurança que agora temos em Cristo. E é importante porque isso molda quem nós somos, como cristãos unidos a Cristo. Porque o Filho de Deus veio para nós, para nos salvar, e para nos tornar os Seus, podemos dizer – com ousadia, mas com reverência – que somos e para sempre seremos filhos de Deus. Que essa verdade seja evidente em nós, irmãos.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.