Leitura: Atos 8.1-24
Texto: Dia do Senhor 26
Amados irmãos no Senhor,
Em Mateus 28.19, nós encontramos as palavras da instituição do santo batismo. Jesus Cristo disse assim: . Ao olharmos para essas palavras, nós podemos pensar nas seguintes perguntas: Por que Jesus Cristo instituiu essa cerimônia de lavagem com água? Qual é a finalidade dessa cerimônia? Será que esse lavar exterior possui algum poder em si mesmo? Será que a água do batismo lava as nossas sujeiras espirituais? Essas são boas perguntas, e elas devem ser respondidas a fim de que tenhamos um entendimento correto a respeito desse importante sacramento.
Creio que a leitura bíblica de hoje poderá nos ajudar a entender um pouco mais a natureza do santo batismo. Ela mostra o trabalho de Filipe junto ao povo samaritano. Felipe é um daqueles sete diáconos escolhidos pela igreja de Jerusalém (At 6.5). Mas, além de diácono, Filipe também era um evangelista (At 21.8). E os evangelistas também possuíam dons espirituais semelhantes aos apóstolos. É por esse motivo que nós encontramos Felipe pregando o evangelho aos samaritanos e realizando muitos sinais e maravilhas.
Os samaritanos eram um povo misto, formado pelo casamento de judeus com gentios. Por essa razão, eles viviam separados da comunidade de Israel e desenvolveram um modo próprio de cultuar a Deus. Eles até mesmo chegaram a construir um templo no monte Gerizim para adorarem o Deus de Israel. Apesar disso, judeus e samaritanos odiavam uns aos outros. Então, por qual motivo o judeu Filipe foi pregar o evangelho justamente para os samaritanos? A lógica natural daquela época era que os judeus se mantivessem sempre afastados dos samaritanos. Mas, acontece que essa não era a “lógica” de Deus. Deus não enviou seu Filho para salvar somente os judeus. O próprio Senhor Jesus disse aos seus discípulos que eles também deveriam pregar o evangelho para os samaritanos (At 1.8).
E uma das maneiras que Deus fez para que sua igreja se movimentasse em direção aos samaritanos foi essa que encontramos no início do capítulo 8 de Atos. Os versículos de 1 a 5 relatam o seguinte: “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele. Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere. Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra. Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo”.
O contexto dessas palavras foi o assassinato do diácono Estêvão. O livro de Atos diz que o apóstolo Paulo, antes de ser convertido por Deus, consentiu com a morte de Estêvão e passou a liderar uma grande perseguição contra a igreja de Cristo. Essa perseguição fez com os discípulos do Senhor fugissem de Jerusalém e se abrigassem em outras regiões ao derredor. Uma dessas regiões era Samaria. Foi para esse lugar que Filipe viajou a fim de escapar da perseguição dos judeus. O que aconteceu foi que essa perseguição fez com que o evangelho se espalhasse ainda mais. O livro de Atos mostra que Filipe aproveitou aquela ocasião para evangelizar o povo samaritano. E Deus abençoou o trabalho de Filipe entre os samaritanos.
Filipe chegou à Samaria pregando o evangelho e fazendo muitos sinais e maravilhas. As multidões de samaritanos ouviam atentamente o que ele dizia. Além do que, Filipe reforçava suas palavras ao curar enfermos e ao expulsar demônios. Os samaritanos ficaram muito alegres com isso. Deus estava indo até eles com grande salvação. Deus também tinha derramado sua misericórdia para com os samaritanos. E muitos dentre eles creram no Senhor Jesus Cristo. O resultado disso foi que Filipe batizou muitas pessoas daquele lugar.
Uma dessas pessoas que tinha ouvido a pregação de Filipe e visto os sinais miraculosos que ele fazia foi um homem chamado Simão. Simão era um mágico que há muito tempo vivia enganando os samaritanos. As mágicas dele eram tão convincentes que os samaritanos acreditavam que ele era a própria encarnação do poder de Deus. Mas, na verdade, tudo que Simão fazia não passava de uma grande mentira. Entretanto, o texto de Atos diz que até mesmo Simão terminou abraçando a fé anunciada por Filipe. Em seguida, ele foi batizado e passou a andar ao lado de Filipe.
E aconteceu que as notícias da conversão dos samaritanos chegaram até os ouvidos dos apóstolos. E estes resolveram enviar para Samaria os apóstolos Pedro e João para ver com seus próprios olhos o que estava acontecendo. Chegando lá, Pedro e João ficaram sabendo que os samaritanos ainda não tinha recebido o Espírito Santo assim como aconteceu com os discípulos no dia de Pentecostes. É verdade que o Espírito Santo já tinha trabalhado no coração dos samaritanos quando Filipe pregou o evangelho para eles, mas era preciso que uma manifestação visível ainda acontecesse para que os apóstolos recebessem um testemunho eficaz da obra de Deus entre os samaritanos.
Então, para que a salvação dos samaritanos ficasse ainda mais comprovada, Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos e eles receberam o Espírito Santo. E naquele exato momento algum tipo de sinal visível foi manifestado entre os samaritanos. O Senhor Jesus Cristo já tinha dito aos seus apóstolos que isso iria acontecer. Em Marcos 16.17-18 está escrito as seguintes palavras de Jesus: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”.
Em outras palavras, era como se Jesus estivesse dizendo o seguinte para os apóstolos: “Vocês anunciarão o evangelho para muitas pessoas. E como prova de que elas realmente estão se convertendo, vocês testemunharão essas pessoas curando doentes, expulsando demônios, falando outros idiomas e sobrevivendo aos efeitos mortíferos dos venenos”. Portanto, essa era a razão pela qual os apóstolos estavam vendo uma manifestação visível do poder de Deus agindo no meio dos samaritanos. A partir daquele momento, estava comprovado diante dos apóstolos que Deus também salva samaritanos.
O livro de Atos não nos revela que tipo de sinal foi visto entre aquele povo. Mas, é bem possível que o milagre visto pelos apóstolos fosse semelhante àquele que aconteceu no dia de pentecostes, ou seja, talvez os samaritanos tenham falado em outras línguas. O fato é que algo visível aconteceu como prova do derramamento do Espírito Santo sobre a vida deles.
Irmãos, esse evento deixou Simão ainda mais impressionado com os sinais e as maravilhas que acompanhavam o evangelho nos tempos apostólicos. Então Simão analisou bem a questão e provavelmente pensou da seguinte forma: “Se antes eu era famoso por causa das minhas mágicas, então com esse poder eu poderei ser mais famoso ainda. E o melhor de tudo: Eu poderei ganhar muito dinheiro!”.
Era mais ou menos isso que estava se passando na cabeça de Simão, pois o livro de Atos nos diz que ele inventou de oferecer dinheiro para Pedro e João, fazendo-lhes a seguinte proposta (At 8.19): “Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo”.
Essas palavras mostram que Simão não era crente coisa nenhuma. Simão abraçou a fé apenas por empolgação. Ele não tinha nascido de novo. Sua fé era falsa. Um cristão de verdade nunca iria fazer uma proposta tão indecente tal como a que ele fez para os apóstolos do Senhor. Por causa disso, o apóstolo Pedro fez uma grande repreensão contra Simão. Pedro disse assim (At 8.20-23): “O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração; pois vejo que estás em fel de amargura e laço de iniquidade”.
Essas palavras são muito duras. Mas eram necessárias. Simão estava ofendendo a Deus com suas palavras e com seu dinheiro. Ele tratou o dom de Deus como uma simples mercadoria. Ele pensou que o poder de Deus poderia ser comprado, assim como ele comprou os seus antigos conhecimentos de magia. Ele tratou os apóstolos como embusteiros que viviam fazendo feitiços para ludibriar as pessoas. Seu coração não tinha mudado em nada. Ele queria voltar a ser visto como um homem poderoso diante dos samaritanos. Tudo isso nos mostra que o batismo de Simão não tinha produzido nada dentro dele. E nem poderia produzir nada, pois a água do batismo não é uma substância mágica que purifica a alma das pessoas. Se o batismo com água lavasse o interior das pessoas, então, com toda certeza, Simão não teria agido daquela forma tão suja.
Portanto, em Atos capítulo 8, nós temos uma prova contundente de que o batismo com água não tem nenhum poder em si mesmo. Quando Filipe batizou Simão, ele não lavou as sujeiras espirituais daquele homem, pois o batismo com água não lava pecados. E assim tem sido ao longo da história da igreja. Quantas e quantas pessoas foram batizadas com água e depois se manifestaram como grandes pecadores. Outro exemplo evidente de que o batismo com água não produz nova vida dentro de uma pessoa é esse que encontramos no texto de Mateus 3.1-6.
Esse texto diz assim: “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Usava João vestes de pêlos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre. Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”.
Observem que esses versículos dizem que os moradores de Jerusalém, de toda Judéia e de toda circunvizinhança do rio Jordão foram batizados por João Batista. Meus irmãos, é muito gente batizada! Mas, quando olhamos para os acontecimentos que se seguiram pela frente, em como essas pessoas não deram crédito ao Senhor Jesus Cristo, então chegamos à conclusão de que o batismo por si só não tem poder para transformar o interior dos seres humanos. Portanto, mais uma vez, nós temos uma prova bíblica de que batismo com água não produz salvação.
Então, se é assim, qual é o propósito do santo batismo? A resposta é que o santo batismo é, em primeiro lugar, um sinal visível que anuncia uma promessa da parte de Deus. Ou seja, o batismo é algo que pode ser observado e sentido pelas pessoas. Ele é um sinal que possui uma mensagem por trás dele. E que mensagem ou promessa é essa? Essa pergunta pode ser respondida pela resposta 69 do catecismo. Ela diz assim: “Cristo instituiu esse lavar exterior e deu com ele a promessa de que, tão certo quanto a água remove a sujeira do corpo, assim também o Seu sangue e Espírito removem a impureza da minha alma, isto é, todos os meus pecados”.
Mas, assim como ocorre com o sacramento da Santa Ceia, o santo batismo é mais do que um sinal com uma mensagem anexada a ele. Em segundo lugar, o santo batismo é um selo de garantia dessa promessa por ele anunciado. O batismo também é um símbolo que funciona como um tipo de carimbo que atesta e confirma a promessa de Deus. Entre outras coisas, a Confissão Belga diz o seguinte a respeito do santo batismo: “Pelo batismo somos recebidos na igreja de Deus e separados de todas as outras pessoas e falsas religiões, para estarmos totalmente comprometidos com Ele, de quem carregamos a marca e o emblema, que nos serve como testemunho de que Ele será eternamente o nosso Deus e Pai gracioso”.
É exatamente isso. O batismo é uma MARCA e um EMBLEMA que nos serve de testemunho de que pertencemos a Deus. Assim sendo, quando olhamos para a água do batismo, nós enxergamos muito mais do que água. Nós enxergamos o evangelho sendo anunciado com todo esplendor diante dos nossos olhos.
Quando olhamos para a água do batismo, nós enxergamos a pregação maravilhosa de que somente o Sangue e o Espírito de Cristo podem lavar as nossas iniquidades. É isso que as Sagradas Escrituras nos ensinam. A respeito da purificação que vem com o Sangue de Cristo, as Escrituras dizem o seguinte:
Hebreus 9.13-14: “Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!”.
1ª João 1.7: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
E quanto à purificação que vem pelo Espírito de Cristo, as Escrituras dizem também o seguinte:
1ª Coríntios 6.11: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”.
Tito 3.5: “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”.
Portanto, irmãos, não é a água do batismo que lava os nossos pecados. Quem lava os nossos pecados é o Sangue e o Espírito de Cristo. A água do batismo é apenas um símbolo deste Sangue e deste Espírito purificador. A água do batismo anuncia que “tão certo quanto a água remove a sujeira do corpo, assim também o Seu sangue e Espírito removem a impureza da minha alma, isto é, todos os meus pecados”.
Isto significa que nós não devemos pensar que a água do nosso batismo nos lavou por dentro. Quem nos lavou por dentro foi o Sangue e o Espírito de Cristo. Era isso que estava faltando na vida de Simão, o mágico. Ele não abraçou de verdade o Senhor Jesus Cristo com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua mente. Simão não foi lavado por dentro. Foi por isso que o apóstolo Pedro disse que ele ainda estava vivendo em “em fel de amargura e laço de iniquidade”.
A tradição histórica da igreja diz que Simão nunca se arrependeu dos seus pecados. Pelo contrário, Simão criou uma seita gnóstica que misturava elementos do cristianismo com coisas do paganismo. Simão se tornou um herege muito perigoso. Desta forma, a história de Simão, o mágico, nos ensina que o batismo não tem nenhum poder em si mesmo. As bênçãos espirituais anunciadas e seladas pelo batismo somente podem ser evidenciadas naqueles que amam verdadeiramente o Senhor Jesus Cristo. E este é o caso de todos vocês. Então, confiem neste sinal e selo que Deus deu a vocês. Não duvidem nunca da promessa de Deus para vocês e seus filhos. Cristo realmente morreu por vocês e purificou completamente seus pecados.
Amém.
Laylton Coelho
É Bacharel em Direito pela UEPB, e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Congregacional de Campina Grande-PB (STEC). Serviu inicialmente como ministro da Palavra na Igreja Batista durante cinco anos na Paraíba. Foi pastor na Igreja Reformada do Brasil em Esperança-PB, e atualmente é ministro da Palavra na Igreja Reformada do Brasil no IPSEP (Recife-PE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.