Leitura: 1 João 01.01-14
Texto: 1 João 01.01-04
Amada congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo
Depois do apóstolo Paulo, João foi o apóstolo que mais escreveu no Novo Testamento. Ele escreveu um evangelho (Evangelho de João), três cartas (I, II e III João) e o livro de Apocalipse (Revelação de Jesus Cristo). Este João é o filho de Zebedeu, aquele a quem Jesus tanto amava e o último apóstolo que morreu. Ele morreu no final do primeiro século, contudo, seus escritos foram preservados por Deus até hoje, fazem parte da Bíblia e, portanto, são úteis para nosso ensino, repreensão, correção e, especialmente, para nos dar o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo.
Destes escritos de João, vamos começar hoje uma série de pregações na primeira carta de João. Vamos estudar os primeiros quatro versículos que é uma introdução da carta inteira. Mas antes de atentar para o conteúdo do nosso texto, precisamos saber do seguinte: Para quem João escreveu sua primeira carta? E por que ele escreveu essa carta? Ao contrário das epístolas de Paulo, Pedro e Tiago, João não define no início de sua primeira carta para quem ele está escrevendo. Provavelmente ele está escrevendo para várias igrejas da Ásia com quem ele teve contato e para quem ele escreveu cartas específicas no início do livro de Apocalipse (Ap.1-3).
Sabemos que João escreveu para as igrejas de Cristo, para crentes, pois no conteúdo de sua carta ele chama os seus leitores de irmãos (3.13), filhinhos meus (2.1,12) e amados (3.13). Sua primeira carta é como se fosse um sermão para os crentes. João escreveu como um pastor que deseja guiar o rebanho de Cristo no caminho da justiça, da verdade e do amor. Ele escreveu sua primeira carta para: 1) exortar a igreja à santidade; 2) encorajar a prática do amor fraternal; 3) guiar os crentes na verdade sobre a pessoa de Cristo. Esse terceiro propósito é visível logo na abertura da carta. João dá um testemunho como apóstolo acerca da humanidade e divindade de Cristo, para que seus leitores permaneçam firmes na doutrina apostólica. João está preocupado com isso, porque havia falsos mestres semeando falsos ensinos no meio dos irmãos quanto à pessoa de Cristo. Alguns mestres estavam negando a divindade de Cristo (2.22,23). Outros estavam negando a encarnação de Cristo (4.2,3; II Jo. 7) afirmando Jesus não se tornou homem. João combate esses falsos mestres e suas heresias. Este assunto é tão sério que João trata dele logo no início de sua carta. Ele quer guiar os irmãos na verdade do evangelho. Por isso, eu vos proclamo a palavra de Deus no seguinte tema
JOÃO TESTEMUNHA A VERDADE SOBRE A PESSOA DE CRISTO
Vejamos duas coisas com relação ao testemunho de João:
- O Conteúdo do Seu Testemunho (vs. 1,2)
- O Propósito do Seu Testemunho (vs. 3,4)
- O Conteúdo do Seu Testemunho (vs. 1,2)
Você deve ter observado que existe uma semelhança entre o nosso texto e a leitura que fizemos dos primeiros versículos do evangelho de João. Há algumas palavras chaves que se encontram em ambos os textos, como por exemplo: princípio, Verbo, vida, estava com Deus (com Pai), O Verbo se fez carne, a vida se manifestou. Com estas expressões João está falando de Jesus, tanto de sua divindade quanto de sua encarnação. Este é o conteúdo do seu testemunho tanto aqui na sua primeira carta como no início do seu evangelho. Vejamos primeiro o que João nos ensina acerca da divindade de Jesus.
Observe a primeira frase do nosso texto: “O que era desde o princípio…” (1.1). O que João quer dizer com isso? Essa expressão não fala de algo que veio a existir, mas de algo que já estava em existência. João está falando da existência de Cristo desde a eternidade. O termo “princípio” se refere ao início da criação e João está afirmando que Jesus Cristo já existia antes que houvesse mundo. A mesma expressão é usada por João aqui na carta para referir-se a Deus (2.13,14). Também no seu evangelho, João testifica que Jesus existia desde a eternidade e, portanto, é verdadeiro Deus com o Pai (Jo.1.1,2,15; 8.58; 17.5). Jesus não foi criado algum tempo antes ou depois da criação. Ele não é a primeira e mais importante criatura do Pai. Ele é um com o Pai em glória e majestade. Ele é Deus. Aquele a quem os apóstolos viram, ouviram e tocaram é o mesmo que era desde o princípio, que não teve começo de dias, mas que já existia desde a eternidade. O Jesus homem, que nasceu, viveu entre nós e morreu na cruz, já existia antes de nós, pois é Deus Filho. João quer que os seus leitores permaneçam firmes nesta verdade. O que essa verdade significa para a vida da igreja? Em primeiro lugar, somos chamados a defender a doutrina bíblica da divindade de Cristo contra todos aqueles que a rejeitam. Em segundo lugar, é um grande consolo para nós saber e crer que Jesus é Deus Forte, aquele que suportou a ira de Deus e venceu a morte e o pecado para nos salvar. Se ele não fosse Deus, não teria poder para nos salvar.
João dá mais testemunho da divindade de Cristo. Ele se refere a Jesus como o Verbo da vida. Literalmente, João está dizendo que Jesus é a palavra da vida. Ele diz a mesma coisa no início do seu evangelho (Jo.1.1,2). O que isso quer dizer? Pense no relato da criação. No princípio, Deus criou todas as coisas. Como ele criou? Mediante a sua palavra. Pelo poder da sua palavra, Deus trouxe luz e vida aonde não tinha nada. Pelo poder da sua palavra, Deus criou do nada todas as coisas. Deus planejou e executou a sua criação, mas ele não estava sozinho nessa obra. O Filho e o Espírito trabalharam juntos com o Pai. Por meio de Cristo, que já existia desde o princípio, Deus Pai criou todas as coisas (Jo. 1.3; Cl. 1.15-17; Hb. 1.1,2). Cristo é aquele que executa os planos divinos (Jo. 1.3) e traz luz e vida para os homens. Cristo é a palavra da vida. Por meio dele, o Pai comunica vida aos que estão mortos e luz aos que estão nas trevas. Cristo é a vida eterna que estava com o Pai e foi manifestada aos homens (1.2). João afirma a divindade de Jesus ao referir-se a ele como a própria vida eterna que estava com o Pai. Jesus é o único que vive eternamente e possui a vida eterna para aqueles que crêem nele. Quem crê em Jesus tem a vida eterna (I Jo. 5.11,12). O que é a vida eterna que Cristo nos dá? (Jo. 17.3). Não é somente a vida que vai durar para sempre na eternidade, mas é também conhecer a Deus, ou seja, viver um relacionamento novo e íntimo com Deus já nesta vida em Jesus Cristo.
O Cristo que existia na eternidade e por meio de quem Deus criou todas as coisas, se tornou homem. Ele se manifestou entre os homens assumindo a natureza humana. Ele se encarnou tornando-se um homem real em um corpo físico. Ao contrário do que alguns falsos mestres estavam dizendo, ou seja, que Jesus apenas parecia um homem, João afirma que de fato ele se tornou um homem real. João testemunha sobre a real humanidade de Cristo no nosso texto (vs.1,2). A vida que se manifestou e foi vista, ouvida e tocada por João é o próprio Cristo.
A verdade do evangelho defendido e anunciado por João é que Jesus se tornou homem. João não está sozinho no seu testemunho acerca da encarnação de Cristo. Ele está ao lado dos demais apóstolos. Os apóstolos tiveram contato direto com Cristo, além de vê-lo e ouvi-lo (Jo.1.14). Os apóstolos deram testemunho de sua encarnação. O testemunho dos apóstolos é verdadeiro porque eles viveram com o Senhor e foram autorizados para proclamar o seu evangelho ao mundo. Eles não inventaram uma mensagem sobre Cristo, mas anunciaram aquilo que viram, ouviram e tocaram, ou seja, o Cristo Encarnado. Os apóstolos estiveram com Jesus durante todo o seu ministério. O Jesus que eles viram, ouviram e tocaram não era um tipo de fantasma, mas um homem real. Um homem que nasceu de uma mulher e sentiu fome, sede e cansaço, um homem que foi tentado, sentiu dores e morreu. Aquele que existia desde o princípio se tornou homem.
Qual a importância para nós do testemunho apostólico da encarnação de Cristo? A doutrina da encarnação é uma doutrina central da fé cristã e essencial para nossa salvação. Negar que Jesus se encarnou é negar que ele realmente morreu na cruz e ressuscitou para nos salvar. Se Jesus não viveu, morreu e ressuscitou como homem, então nossa fé é vã e ainda estamos mortos em nossos pecados (Gl. 4.4,5; I Co. 15.14,15). A vida se manifestou entre os homens. Jesus veio a este mundo como homem para salvar e resgatar os que crêem (I Jo. 3.5,8; 4.9). Ele teve de se tornar homem para conquistar e garantir a nossa salvação (Hb. 2.14). Além disso, o fato de Jesus ser verdadeiro homem significa que ele conhece profundamente o que é a natureza humana (suas lutas e fraquezas) e, portanto, pode se compadecer de nós e nos socorrer em nossas tentações (Hb. 2.17,18; 4.15). Quando você estiver passando por dificuldades na tua vida, se as aflições são grandes, se as tentações são fortes, lembre-se que você não está sozinho. Você tem um Salvador que conhece muito bem a tua vida e que está perto para te ajudar. Jesus se tornou homem para morrer em teu lugar e te dá o perdão dos pecados e a vitória sobre o pecado. Ele prometeu estar com você todos os dias para te ajudar nas tuas tentações e te consolar em tuas aflições.
- O Propósito do Seu Testemunho (vs. 3,4)
João e os demais apóstolos deram um testemunho fiel da divindade e da humanidade de Cristo. Eles não somente pregaram, mas também escreveram no Novo Testamento, o evangelho que receberam de Cristo. Hoje não temos mais apóstolos em nosso meio. No entanto, temos o testemunho fiel deles sobre Cristo registrado na palavra de Deus. Isso significa que a Bíblia é importante para nós. Nela encontramos a doutrina dos apóstolos, a doutrina daqueles que viram, ouviram e tocaram no Senhor e foram diretamente autorizados por Ele para pregar o seu evangelho. Devemos valorizar a leitura e o estudo da palavra de Deus, seja em nossa casa ou na igreja. Pois a Bíblia é a única fonte do conhecimento salvador de Deus e de Cristo. Somente lendo, estudando e ouvindo a palavra de Deus, podemos crescer no conhecimento de Cristo e também nos manter firmes contras as falsas doutrinas que surgem ao nosso redor.
O apóstolo João é uma testemunha oficial do evangelho de Cristo. Observe que no nosso texto João nos deu um testemunho fiel e seguro acerca da divindade e humanidade de Cristo. Por que João escreveu essas verdades sobre Cristo? (ler versos 3 e 4). Duas coisas se destacam no propósito de João ter escrito: comunhão e alegria. João deseja que haja comunhão e alegria no meio dos irmãos.
“O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco” (1.3). Essa comunhão que João fala aqui se refere à unidade na sã doutrina que deve haver entre os cristãos e os apóstolos. João deseja que os irmãos se unam a ele e aos demais apóstolos na verdade acerca da divindade e humanidade de Cristo. João também afirma que a comunhão dele e dos apóstolos é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Eles foram chamados e enviados por Deus e pelo próprio Cristo para dar testemunho da verdade. Eles não estão pregando e ensinando doutrinas inventadas por eles, mas simplesmente anunciando o que receberam do Senhor. Eles estão unidos na verdade do Pai e do Filho. Então, quem está firme e unido com a doutrina dos apóstolos está com Deus e com Jesus Cristo (I Jo. 2.24).
Aprendemos com isso que a doutrina dos apóstolos é a base para a verdadeira comunhão. A unidade deve ser firmada na verdade. Infelizmente este princípio não tem sido levado a sério hoje em dia. Muitas vozes gritam: “Vamos nos unir debaixo do mesmo teto, vamos caminhar de mãos dadas, independente das verdades em que cremos, afinal de contas somos todos cristãos e Deus é o mesmo. O amor nos une, mas a doutrina nos separa”. Irmãos. Devemos estar alertas a estas vozes que defendem o ecumenismo e dizer não a qualquer tipo de comunhão que não leva em conta a unidade na sã doutrina do evangelho de Cristo. Como podemos adorar a Deus e evangelizar de mãos dadas com pessoas que negam a divindade e a humanidade de Cristo, por exemplo? Como podemos adorar a Deus ao lado daqueles que também adoram os santos? Como podemos nos unir com aqueles que negam a doutrina da ressurreição dos mortos e crêem na reencarnação? Como podemos caminhar com aqueles que buscam a salvação por suas obras? É impossível. Só existe uma verdade: a verdade bíblica de Cristo e dos apóstolos. Os apóstolos disseram não a qualquer tipo de comunhão com aqueles que negam e desprezam a sã doutrina (II Jo. 9,10). Essa deve ser também a nossa atitude. Por outro lado, devemos buscar a comunhão com aqueles que crêem, defendem e amam a doutrina de Cristo e dos apóstolos. Jesus Cristo orou pela unidade da igreja, não por uma unidade solta onde cada um tem a sua própria verdade, mas a unidade na verdade da palavra de Deus (Jo.17.17). Só temos comunhão com Deus e com Cristo, se estamos unidos com João e os apóstolos na doutrina cristã.
Além do propósito da comunhão, João escreveu também para completar a sua alegria com os irmãos. “Estas coisas, pois vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa” (Jo. 1.4). João já estava alegre com a conversão dos crentes para quem ele escreveu. Ele se alegrava com o conhecimento do evangelho da salvação que alcançou aqueles irmãos. Sua alegria se completaria com a firmeza dos crentes na doutrina que ele e os apóstolos pregaram sobre a pessoa e a obra de Cristo. Sua maior alegria é ter a certeza de que seus irmãos andam firmes na verdade (III Jo. 3,4). O conhecimento do evangelho e a firmeza em perseverar nele é que completaria a alegria de João e dos outros apóstolos.
A Bíblia foi escrita para nossa alegria. O evangelho de Cristo testemunhado pelos apóstolos deve nos encher de alegria. Por que deve ser assim? Porque esse evangelho nos apresenta a boa notícia da nossa salvação em Jesus Cristo. Esse evangelho nos fala daquele que deixou a sua glória e se tornou homem para morrer em nosso lugar e nos dá eterna salvação. Existe notícia mais alegre do que esta? Você tem se alegrado com a sua salvação em Cristo? Se você tem experimentado essa alegria em sua vida, você não será um crente acomodado e preguiçoso, mas um crente que tem prazer em ler a palavra de Deus e recebê-la nos cultos. Não somente os apóstolos, mas também Cristo se alegra com isso. Ele também se alegra em nos ver firmes na doutrina da palavra de Deus. Seja um crente alegre. Não há motivo para você ser triste. Cristo é a nossa alegria, pois ele é o Nosso Salvador. Vamos andar alegremente em sua verdade sem se desviar da sã doutrina. Vamos também compartilhar com outros o evangelho do Nosso Salvador, o qual traz salvação e alegria para todo aquele que nele crê.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.