Leitura: Tiago 4.1-10
Texto: Tiago 4.1-10
Amados irmãos em Cristo,
Irmãos, os judeus têm a tradição histórica de ser um povo bem briguento. Eles fizeram guerras frequentes com os romanos por causa do seu povo e religião, que consideram o único povo de Deus e a religião judaica como a única religião verdadeira.
Entretanto, não só disputaram com seus invasores pagãos, como também brigavam entre si por questões diferentes.
Como Tiago escreveu a judeus dispersos, você pode imaginar que havia problemas entre irmãos dentro das igrejas da Dispersão, muito embora agora eles sejam cristãos.
Hoje chegamos no quarto capítulo da carta de Tiago, onde somos informados sobre a origem das contendas. Então, se queremos saber sobre a origem e resolução das brigas dentro da igreja, este é também um capítulo oportuno da Palavra de Deus.
No capítulo 3, observamos o problema das contendas através da língua. Entretanto, a língua é só um meio, um instrumento, o problema maior é o coração.
Nós observamos isso na pregação passada que foi o final do capítulo 3.
Agora o capítulo 4 vai falar mais sobre este coração e especificamente sobre um vício (um pecado) muito específico que gera toda a confusão que destroi a igreja.
Vamos analisar isto nesta manhã.
O texto que temos diante de nós pode ser dividido assim:
1) A fonte das contendas e a relação com as orações (vv.1-3)
2) A relação desta vida contenciosa com o viver mundano (vv.4-6).
2) A necessidade de arrependimento e submissão à vontade de Deus (vv.7-10).
Em primeiro lugar, a fonte. V.1: De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?
Observe que o problema do capítulo 3 não é a língua em si. Guerras, ou seja, os conflitos internos e contendas, de onde eles vêm?
Tiago responde. Eles vem dos prazeres que militam na vossa carne.
Os “prazeres” aqui no original tem a ver com a luxúria, desejos, cobiça.
Este prazer não é o mesmo do salmista no salmo 119: “prazer na lei…prazer em Deus”.
Este tipo de prazer é terreno. Para usar o texto da pregação anterior, no capítulo 3, verso 15, ela é terrena, animal e demoníaca. Nada tem a ver com o Espírito de Deus.
Ela faz parte do velho homem que ainda vive em nós. Quando o Espírito não opera, então é a carne que opera.
Gálatas 5.1 diz para jamais satisfazermos a concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si.
Esta militância, ou seja conflito, é falado no final do versículo 1 do nosso texto: “dos prazeres que militam na vossa carne”.
Então, voltando a pergunta: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde procedem as brigas na igreja? Da carne! Quando a carne prevalece sobre o Espírito. Rastreando o que Tiago já tratou nesta carta, podemos dizer que o problema acontece quando somos devagar para ouvir a Palavra. Então, falamos mais e não ouvimos muito. O problema é aliado do orgulho. Da sabedoria terrena e não do alto.
Tiago continua.
V.2. “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis”;
Observe. Esta cobiça é aquela condenada no Décimo Mandamento: “não cobiçarás”. A mesma palavra.
A explicação da cobiça em nosso catecismo, Dia do Senhor 44, mostra que é um forte desejo pecaminoso do coração. Insatisfação, falta de contentamento, prejudicar o próximo.
Por isso, um autor bíblico disse acertadamente: “O coração do problema, é o problema do coração”.
Todos os outros pecados da lei de Deus tem origem no coração, ou seja, na concupiscência, no desejo, na cobiça.
Não é sem razão que Tiago vai arrolar outros mandamentos aqui neste versículo. Vocês cobiçam e não tem o que desejam. Vocês matam. Isto não é literalmente, mas moralmente falando se eu não amo o meu próximo como a mim mesmo, então estou o matando.
O assassinato começa com alguns sentimentos do coração, como a “inveja”, citado por Tiago também. Inveja que tomou conta de Caim, também dos irmãos de José, dos Fariseus, etc.
E o assassinato, que procede da cobiça, gera o que Tiago diz lutas e guerras: “viveis a lutar e a fazer guerras”.
Irmãos, agora vocês sabem. E devem ficar bem alertas para lutar contra isso. Sempre que a igreja viver em brigas, contendas, problemas de relacionamento, e outras coisas que mancham o corpo de Cristo, a causa sempre será: um espírito carnal. Um coração que perde a luta para a carne. Um coração que precisa ser ainda fortificado do Espírito de Deus, para que possa produzir os belos frutos. Para que abandone o desejo por satisfação própria e egoísta. Por isso, tudo isso nçao tratado vai gerar guerras e lutas.
E o resultado disso? Tal pessoa briguenta obtém o que deseja? Não!
Tiago continua no final do versículo 2: Nada tendes, porque não pedis.
É claro, se tal pessoa é orgulhosa, é claro que nada vai pedir a Deus. Ela vai querer conquistar por si própria.
Mas, se ela ainda assim ora a Deus, Ele não responde.
v.3: “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres”.
Veja, ele não recebe o que pede. Pois tudo o que pede é diferente do amor a Deus e ao próximo. É sim para satisfazer seus prazeres egoístas. Tiago fala que isto é pedir mal. “Para esbanjardes em vossos prazeres”.
Irmãos, nossas concupiscências estragam nossas orações e as tornam uma abominação para Deus, sempre que são apresentadas a Ele.
Sempre que uma oração é feita por quem não abandona seu desejo pecaminoso, seu orgulho, e por quem está em guerra com o seu próximo, Deus não a recebe.
Veja isso também em 1 Timóteo 3. 7: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações”.
Se é assim com relação às orações privadas, o que você pensa sobre as orações no culto?? Também é assim com respeito às orações no culto. E, se é assim com respeito a um elemento de culto, que é a oração, então é verdade com respeito a todo o culto.
Irmão e irmã, Deus não recebe o seu culto se você está em briga com algum irmão ou irmã por causa de pecados em seu coração. Se seu coração é carnal, cheio de ira, inveja, e cobiça. Se você só pensa em si, e não na vontade de Deus. Se você não ouve a Deus, mas apenas a si mesmo…seu culto a Deus não sobe ao seu trono de graça.
Você entende isso meu irmão ou minha irmã? Por isso devemos tratar as coisas. Jesus disse: não termine o dia antes que você trate um pecado. Não se ponha o sol sobre a vossa ira (Mateus )
Agora, Tiago fala da relação com o mundo a partir do versículo 4. Parece um outro assunto, mas tem tudo a ver com o tipo de problema que temos aqui. Um espírito carnal é um espírito terreno, mundano.
v.4: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.”
A primeira coisa que vemos aqui é a palavra “infiéis” que no original é a palavra do sétimo mandamento: adultério (adúlteros).
Tiago não quer dizer que eles literalmente cometiam este pecado, mas que a atitude deles os colocava como quem divorciado de Deus.
Agindo como agiam, alguns estavam mostrando mais amor ao mundo do que a Deus.
O mundo aqui é o sistema mundano. Cheio de egoísmo, cobiça, brigas, guerras. Cheio do homem e vazio de Deus.
João foi outro que falou sobre isso.
Abramos em 1Jo 2.15–17 : “15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; 16 porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”. Irmãos, amizade com o mundo é inimizade com Deus.
Irmãos, inimizade com Deus não é uma coisa muito boa. Por isso, mais uma vez, este é um problema que deve ser corrigido logo.
Veja como isto entristece o Espírito de Deus: v.5 “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”
Irmãos, não se sabe exatamente de onde veio esta citação, mas parece ser uma combinação de outros textos que falam do zelo do Espírito e do fato que ele habita em nós.
O texto quer dizer que o Espírito é zeloso, em outra tradução, ciumento.
Não se pode ter dois espíritos: o do mundo e o de Deus..habitando na mesma pessoa. Isto causa o zelo de Deus contra nós.
E Deus se afasta de crentes assim.
v.6: “Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Esta é uma citação de Provérbios 3.34. A graça de Deus está com os humildes, e afastada dos soberbos.
A palavra “resistir” no original significa que Deus está se colocando em ordem de batalha contra pessoas arrogantes.
Por isso, é necessário arrependimento. É isso o que vamos ver na sequência.
Ao invés de arrogância e cobiças pessoais, v.7: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.
Veja o contraste: “sujeitai-vos”. Quer dizer, obedeçam a vontade de Deus.
E do outro lado, resistam ao diabo. Como ouvimos da sabedoria humana, animal e demoníaca na pregação passada, tal problema em nosso texto está alinhado ao diabo.
É interessante, pois em nossas confissões confessamos que temos três inimigos declarados que não cessam de nos atacar: o diabo, o mundo, e a nossa própria carne.
Todos esses estão neste texto.
Precisamos resistir rogando a graça do Espírito de Cristo.
Precisamos ir a Deus. v.8: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros”. Quando Deus nos chama a ir até Ele, Ele já revelou o seu amor a nós! Ele promete que vai chegar a nós.
Para chegarmos próximos dele precisamos v.8: “Purificar as mãos, pecadores”. Tiago fala em termos da cerimônia judaica de lavar as mãos para realizar o serviço do templo.
v.8: “e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração”. Tiago 1.8 já falou do homem de ânimo dobre, ou seja, dois espíritos. Um mundano e outro espiritual. Se somos assim dos que são meio mundo meio crentes, então precisamos limpar o coração no sangue de Cristo.
Esse tipo de arrependimento é sério. v.9: “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza.” . Lembro-me do Salmo 6 ou do 51 quando estou lendo este versículo.
Verdadeiro arrependimento é profunda tristeza por termos ofendido a Deus.
Mas há um grande encorajamento para este arrependimento. v.10: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará”.
Perceba que esta exaltação não é arrogante como antes, não é do espírito humano orgulhoso e carnal, mas procede da graça de Deus em Cristo.
Irmãos, Deus é o Deus da paz. Ele nos chamou a paz. Por isso, como vai o seu coração. Coloque o seu coração na “régua” de Deus!
Portanto, lembremos sempre desta pregação como um manual de como podemos fugir do comportamento arrogante que estraga a igreja e as relações. A solução está em buscar a Deus com verdadeiro arrependimento e sinceridade de coração. Está em encher o coração do Espírito de Deus. Que assim Deus nos conceda, consoante a sua graça. Amém!
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.