Leitura: Tiago 4.11-12
Texto: Tiago 4.11-12
Amados irmãos,
Há alguns domingos ouvimos sobre o nono mandamento no Catecismo de Heidelberg que diz assim em sua pergunta 112: “O que exige Deus no nono mandamento?” A resposta, em partes, é a seguinte: “Que eu não devo levantar falso testemunho contra ninguém, nem distorcer as palavras de ninguém, não fazer fofoca nem difamar, não condenar nem me ajuntar com ninguém para condenar a outrem precipitadamente e sem o ter ouvido”. E ainda: “Antes devo repudiar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus”.
Esta resposta tem tudo a ver com o assunto de Tiago neste texto. E ele fecha o ciclo de pregações sobre o pecado da língua (Desde Tiago 3).
Neste texto Deus nos proibe de julgarmos nossos irmãos de maneira pecaminosa, a fim de que não soframos o juízo de Deus, o legislador (tema).
V.1: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros.”.
Irmãos, nosso texto começa com uma ordem àqueles irmãos (e é assim como Tiago se refere a eles). “Não faleis mal uns dos outros”.
A primeira coisa que temos que observar é que o texto não proíbe que um irmão fale do outro. O nono mandamento envolve me coloca na responsabilidade de defender o nome e a reputação do meu irmão. Eu devo apreciar suas qualidades, dizê-las e salvaguardá-las. Eu devo pressupor sempre o melhor dele ou dela, e nunca o pior, até que se prove o contrário. Também devo fazer este e aquele irmão entender quando maculam a reputação de Deus por uma vida pecaminosa (por isso, Mateus 18 deve ser realizado).
O texto nos proíbe de “falar mal”. O que é “falar mal”? Aqui nós temos uma tradução. O original diz literalmente “falar de cima para baixo”. Ou seja, o texto diz que não devo ter uma opinião sobre alguém como se eu fosse maior do que ela. E então, falar dessa posição alta para baixo.
Na verdade, a palavra de Deus sempre nos chama a termos uma atitude na qual nos consideramos sempre menores do que nossos irmãos. Filipenses 2.3: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”. Esta humildade, que é contrário ao orgulho (vanglória) , será refletida nas ações e consequentemente na fala. Falaremos de baixo para alguém que consideramos em cima, com respeito.
A palavra traduzida como “falar mal” é melhor explicada quando a buscamos em outros textos. Dois deles são importantes: 1 Pedro 2.12 e 1 Pedro 3.16.
Vamos dar uma olhada nesses textos.
1Pedro 2:11-12: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, 12 mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”.
Percebam. Os crentes em Pedro estavam sendo acusados daquilo que não faziam. Eles foram acusados de malfeitores quando na verdade mantinham um proceder santo. Então, a verdade sobre eles era distorcida. E a eles era atribuído um estilo de vida que era pura mentira.
Também em 1Pedro 3.15-16: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,”
Perceba novamente que aquela distorção é chamada de difamação dos inimigos da fé sobre os crentes. Falar mal, então, tem a ver é difamar, caluniar. Com o desejo de estar por cima com muita arrogância em relação ao irmão.
Agora, tudo isso tem consequências em termos da Lei.
Veja a natureza do problema: v.11: “Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei”. E a conclusão: v.11: “ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.”
Como podemos entender que “o que fala mal do seu irmão, fala mal da lei e julga a lei”? Que lei é essa?
Primeiramente, respondendo a última pergunta, é a lei já dita em Tiago 2.8!: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”(que por sua vez é Lv 19.18). Esta é a lei do amor! Da consideração ao meu próximo, em submissão a Deus!
Quando alguém fala mal do seu irmão está falando contra este mandamento. Está dizendo que este mandamento é ruim. Está dizendo que Deus legisla errado.
Está dizendo que o que deve prevalecer é a minha lei no lugar da Lei de Deus! Por isso, tal pessoa se torna um legislador. O versículo 11 termina dizendo: “se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz”.
Meus irmãos, veja em que posição se coloca aquele que comete este pecado de difamar e caluniar o seu irmão.
Pense, nós não temos autonomia em relação às leis dos homens. Nós não podemos escolher não pagar nossos impostos. Estamos sujeitos às leis dos homens. Não somos legisladores nem das leis humanas.
Mas então, nos colocarmos como juízes acima dos homens e de Deus???
Se Deus já disse sobre o meu irmão ou irmã: “Justo!” Por causa da obra de Cristo. Se Cristo intercede por ele continuamente diante do Pai, como podemos dizer: “impuro, pecador, indigno, mentiroso!!”? “VocÊ não é digno de nossa comunhão, de nosso grupo!(apenas por invejas e outros sentimentos/comportamentos pecaminosos)”?
Irmãos, até mesmo os juízes e legisladores civis, que receberam uma ofício de Deus, vão prestar contas a Deus sobre como criaram leis e julgaram, o que podemos dizer de nós que não fomos chamados a legislar?
Por isso Tiago diz: “Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?”
O texto não está dizendo que devemos rejeitar os governos humanos como os anabatistas o fazem.
Mas, no contexto, em que nos assentamos na cadeira de juíz de forma pecaminosa, contra irmãos, estamos usurpando uma prerrogativa que pertence unicamente a Deus!
“Um só é Legislador e Juiz”. Aquele que tem todos debaixo do seu governo e julgamento!
“Somente ele pode salvar e fazer perecer”. Os governos humanos até podem colocar alguém na cadeia, justa ou injustamente. Mas não podem salvar ou fazer perecer no inferno. Somente ele condena e absolve!
A Bíblia nos chama a olhar este assunto à luz do temor a Deus!
Salmos 101.5: “Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei;o que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei”.
Por isso, Mateus 10.28 nos adverte: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma(uma referência aos julgamentos humanos); temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo(uma referência ao julgamento divino)”.
Tiago vai repetir este alerta de nosso texto no capítulo 5.9: “Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas”.
Ele diz que o juiz está às portas. Ele vai julgar tudo. Até o que sai de nossa boca conforme Mateus 12.36,37: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado.”
O juízo de Deus será implacável contra aqueles que não são humildes. Como foi dito na pregação anterior: Ele resiste aos soberbos (está em ordem de batalha contra eles), mas dá graça aos humildes.
Não podemos ser soberbos e arrogantes achando que somos donos do próprio juízo e destino. E este será o assunto da próxima pregação também.
Finalmente, irmãos, que possamos olhar para este assunto à luz da obra de Cristo em nossas vidas! Lembrar de quem fez a obra na vida de nossos irmãos. Lembrar de quem pode nos perdoar os pecados de julgamento pecaminoso. Ele oferece o perdão em relação ao pecado da língua como um todo. Pois foi caluniado e difamado para que hoje tivéssemos um bom nome. Ele é nosso rei e juiz, que advoga diante de Deus a nossa causa. Amém!
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.