Leitura: Salmo 131
Texto: Salmo 131
Amada Igreja do Senhor Jesus Cristo,
Este Salmo de Davi é um cântico de romagem ou de peregrinação, ou como aparece em algumas Bíblias: um cântico de ascensão. Entende-se que os Salmos 120 a 134, são assim chamados porque eram cantados quando os peregrinos de todo Israel se dirigiam a Jerusalém para cada uma das três grandes festas judaicas: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Entende-se que eles cantavam estes Salmos pelo caminho.
Podemos notar que neste pequeno Salmo, não se fala muito diretamente sobre o SENHOR. Na verdade encontramos aqui uma confissão de Davi, diante de Deus. E com essa confissão, aprendemos sobre a maneira como Deus espera que nos aproximemos dEle.
Como os peregrinos deveriam se achegar a Deus em Jerusalém? Como nós em pleno século 21, devemos nos achegar ao culto e viver diante de Deus?
O Salmo 131 nos oferece uma resposta simples e clara, que podemos dividir de acordo com os seus 3 versículos. O Salmo 131 no ensina Como devemos viver diante de Deus: com um coração humilde, contente e confiante.
Em primeiro lugar, aprendemos que devemos viver diante de Deus com um coração humilde (v.1).
Esta é uma confissão ante o Deus que não se deixa enganar, uma confissão àquele que sonda as mentes e os corações. Seria uma grande tolice fazer esta confissão, se esta não fosse a realidade. Então Davi, abre seu coração diante de Deus e declara: “não é soberbo o meu coração”. Coração nas Escrituras refere-se ao centro do nosso ser e envolve o intelecto, as emoções e a vontade. É também a sede de nossos planos, desejos e decisões.
Então o que Davi está dizendo é: “Eu sei Senhor que diante de ti Senhor, não posso manter aquela soberba, orgulho e arrogância que se esconde no coração dos homens. Eu sei que preciso viver de forma humilde diante de Ti.”
Davi também diz, “nem é altivo o meu olhar”, eu não olho para os outros com um olhar de superioridade, como se eu estivesse olhando de cima para baixo.
Notem bem, ao que parece Davi já era rei de Israel quando escreveu este Salmo, e aqui está ele confessando, que apesar de sua posição, por conta da ação de Deus em seu coração, seu olhar não era altivo.
Devemos notar uma relação entre aquilo que pode ser visto – um olhar altivo, com aquilo que permanece escondido – um coração soberbo. Um olhar altivo, ou qualquer outra indicação externa de altivez, procede de um coração soberbo. Assim a altivez que se revela no olhar ou no falar, é apenas um sintoma de um coração soberbo.
Em seguida, ele fala que também tem um coração humilde diante de Deus, ao dizer: “não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim”. “Não ando” significa: este não é o meu modo de vida. Eu não vivo inquieto atrás de grandes coisas.
Ainda no v.1, Davi confessa: “não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.”
“Grandes coisas” se refere àquilo que o coração humano deseja, como riquezas, honra, glória, reconhecimento e grandes empreendimentos. Refere-se àquilo para o qual Deus não nos chamou, mas, mesmo assim, queremos. Davi não procurou ser o que Deus ou ter o que Deus não havia determinado para sua vida. Ele não tentou controlar a Providência de Deus.
“Coisas maravilhosas” quer dizer “aquilo que está além de nosso poder” ou “aquilo que é difícil de entender”. Isso quer dizer que Davi não se envolvia em questões que não podia entender. Ele reconhecia seu limites.
Ele sabia que Deus em Sua Providência age muitas vezes de uma forma que não conseguimos compreender. A ideia aqui é que ele não procurava por coisas que estavam além dele, nem tão pouco procurava se colocar no lugar que pertence a Deus.
Amados irmãos e prezados visitantes, a adoração a Deus é antes de tudo uma atitude do coração. Em nossos dias as pessoas estão muito interessadas numa adoração que se revela por meio de posturas físicas: levantar as mãos, bater palmas, dançar etc. Mas o que vemos aqui, o que é realmente importante? Nosso coração diante de Deus. E a única forma que podemos ser aceitos diante de Deus, a única forma que podemos viver diante de Deus é com um coração humilde.
Então não devemos imaginar que seja bastante estar em um culto que não está centrado em emoções e tão pouco cheio de invenções humanas. A adoração é mais do que isso. A pergunta é: como está seu coração diante de Deus? Ao chegar para cultuar nesta noite, seu coração é humilde diante de Deus? É humilde ao ouvir a Palavra de Deus?
Mas essa humildade não se requer somente no culto. Ela se refere à nossa maneira de viver como um todo.
Sabemos que existe um grande perigo de termos um coração soberbo. E um coração soberbo é um coração inquieto. Um coração cheio de pensamentos grandes e exaltados. Que pensa de forma exaltada a respeito de si mesmo de tal forma que olha os homens com olhar altivo e que fica inquieto com a Providência de Deus.
O coração soberbo não aceita o que Deus soberana e sabiamente determinou. O coração soberbo diz: “Eu não posso aceitar isso, eu mereço coisa melhor! Por que Deus abençoa Fulano e não me abençoa? Eu não entendo, por que Deus está fazendo isso comigo? Por que estou sofrendo assim, eu não mereço? Teria sido melhor se Deus tivesse feito de tal e tal modo.”
No entanto, o coração humilde é aquele que agradece a Deus por onde está, pelo que tem, sem reclamar, sem murmurar contra a Providência Divina. O coração humilde aceita o que Deus ordenou.
Ele não permite que os aspectos da Providência de Deus que ele não entende roubem sua alegria de viver, sua gratidão, seu desejo de servir a Deus.
O coração humilde não busca entender coisas que Deus em Sua Soberania e Sabedoria resolveu ocultar ao nosso entendimento. Existe um limite para nossas perguntas quando o assunto é Deus e Sua Revelação e Providência. Quando tentamos ultrapassar estes limites, então queremos ocupar um lugar que não nos pertence. O lugar de Deus.
Podemos pensar em dois exemplos bíblicos. O primeiro é o próprio Davi. Quando ela ainda era um jovem, Deus enviara Samuel até a sua casa para lhe ungir como rei. Ele então ele tinha essa promessa de Deus, mas nós não encontramos Davi correndo atrás de sua coroação. Saul era o rei de Israel, e Davi não deu nenhum passo para retirar Saul a assumir o reinado. Ele mostrou-se bem tranquilo quanto a isso, ele não ultrapassou os limites de sua vocação. Ele sabia que se esta era a vontade de Deus, então um dia ele se tornaria rei.
Ele sabia que tentar alcançar, mesmo aquilo que se julga ser a vocação de Deus, sem que o próprio Deus tenha conduzido a essa posição, é no final das contas querer assumir o controle da própria vida, o que é querer ser Deus.
Outro exemplo bíblico: Jó. Ele sofreu debaixo da Providência de Deus. Foi muito difícil, ele perdeu tudo. E então temos as palavras de Jó e de seus amigos tentando compreender a Providência de Deus. O livro todo é uma grande discussão entre Jó e seus amigos a respeito da Providência de Deus. Mas vejam o que ele diz no final do livro, Jó 42.1–3:
“Então, respondeu Jó ao SENHOR: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.”
É o orgulho que nos faz insistir, e lutar por aquilo que muitas vezes Deus não quer nos conceder. É o orgulho que muitas vezes quer nos fazer ultrapassar os limites de nossa própria vocação. É o orgulho que nos faz querer saber o que Deus não nos permite saber. E um coração orgulhoso não é um coração aceitável diante de Deus.
O único coração aceitável diante de Deus é o coração humilde. Mas sabemos que naturalmente o coração de todo homem é soberbo. Então como podemos ter este coração humilde? Somente por meio de Jesus Cristo. Somente porque Ele nos deu um novo coração. Então mesmo humildade não é fruto de nossa determinação, mas da graça de Cristo operando em nós.
É só por meio da graça de Cristo que podemos dizer: “Não é soberbo o meu coração”.
Quando a graça de Deus nos ensina sobre a glória de Deus e sobre a nossa miséria, então esta mesma graça nos faz humildes. Humildes para não buscar aquilo que Deus não deseja nos dar, humilde para não querer saber aquilo que Deus nos têm ocultado.
É assim que está seu coração nesta noite? Você está ciente de suas fraquezas, de sua insuficiência? Você pode dizer como Davi: meu coração não é soberbo?
Você pode dizer: Eu não fico querendo assumir o lugar de Deus em minha própria vida, porque estou certo de tudo que preciso tenho em Cristo. Estou certo de Deus está cuidando de mim.
Se você pode dizer isso, então seja grato ao Senhor, pois a graça dEle está operando em seu coração.
Em segundo lugar, aprendemos que devemos estar diante de Deus com um coração contente (v.2).
No v.2, Davi diz “Pelo contrário”, a expressão hebraica utilizada aqui, é uma fórmula de juramento que pode ser traduzida por “seguramente” ou “deveras”. É como se fosse um juramento assim: “Eu tenho absoluta certeza que meu coração não está cheio de soberba, mas de contentamento diante de Deus.”
Davi utiliza uma metáfora: ele diz que sua alma era como uma criança que já foi desmamada. Isto é, sua alma (seus desejos) não era como uma criança recém-nascida gritando e chorando no colo de sua mãe, pedindo por leite. Mas como uma criança que já passou desta fase. E que agora está no colo de sua mãe, não à procura de alguma coisa, se não do amor de sua mãe. Davi está dizendo: estou contente, estou calado e sossegado diante de Deus.
Nós sabemos o que é uma criança que ainda não foi desmamada. Ela fica inquieta, agitada, ela chora pois deseja algo. Assim muitas vezes nossa alma quer estar por conta de nossos desejos e planos.
Você sabe o que é isso? As coisas não saem como queremos, temos dúvidas sobre o futuro, há problemas que nos pegam de surpresa, há coisas que desejamos e não podemos ter, há pessoas que falam mal de nós, há problemas financeiros, há a falta de emprego, enfrentamos dificuldades com nossos filhos ou com nossa esposa ou esposo, há frustrações, há enfermidades e tantas outras coisas que nos deixam inquietos.
Há hora que parece que nossa alma está dançando frevo dentro de nós. Nos sentimos inquietos, querendo nos levantar e resolver tudo pela nossa própria força mas não conseguimos. Nossa alma treme, nosso coração se perturba dentro de nós.
Temos de tomar cuidado porque toda essa agitação da alma pode indicar nossa falta de contentamento diante de Deus, nossa insatisfação com Sua Providência. E já sabemos o que por trás dessa falta de contentamento com a Providência de Deus – um coração soberbo. A alma se agita, fica desassossegada porque em nossa soberba queremos as coisas do nosso jeito.
Seu coração anda agitado? Há preocupações que lhe afligem? Você está descontente? Preocupado? Cuidado! Estes são sinais da soberba que procura se esconder me nosso coração.
O coração de Davi não estava assim, pelo contrário, ele disse que fez calar e sossegar sua alma. Como?
Não há uma resposta direta no próprio Salmo, mas pelo que lemos podemos concluir que ele fez calar e sossegar sua alma, apresentando-se diante de Deus com um coração humilde. Não tentando julgar as ações de Deus, mas simplesmente submetendo-se a Ele.
Fazer a alma sossegar e calar-se não é algo fácil. Certamente envolve conflitos internos. Trava-se uma luta interna no âmbito do coração. É preciso lutar contra a própria soberba, contra o desejo de riquezas, de glória, de honra, de aceitação, de reconhecimento. É preciso renunciar aos sonhos de criança e colocar a vida inteira como um sacrifício de gratidão a Deus.
Davi aprendeu a renunciar a seus altos planos e pensamentos soberbos. E você: está disposto a abrir mão de seus planos, de seus desejos, mesmo que você os julgue bons e edificantes? Está pronto para ter menos do que pensou? Para ser menos do que planejou? Está pronto a contentar-se com o que Deus lhe dá, em vez de agarrar-se ás suas expectativas?
O Salmo 131 nos ensina a estar contentes com o que Deus nos concedeu, não só em termos de bens, mas também em termos da posição que nos foi dada neste mundo, a vocação que Ele estabeleceu para nós. O Salmo 131 nos ensina que quando nos submetemos a Deus, e fazemos sossegar nossa alma, há uma mudança no centro gravitacional. O eu deixa de ser o centro, Deus se torna o centro de nossa vida.
Amados irmãos, se Cristo nos deu um coração humilde, então sabemos que não há motivos para o descontentamento. Nós merecíamos a morte, mas Cristo morreu em nosso lugar. Nós não merecíamos nada, mas vimos a glória do Unigênito do Pai cheio de graça e de verdade. Em Cristo podemos ter certeza que Deus cuida de nós, que Ele fará com que todas as coisas cooperem para o nosso bem. Em Cristo podemos estar contentes.
Nele temos tudo que precisamos. Nele nossa alma é como uma criança desmamada que se aquieta nos braços de sua mãe.
Em Cristo a alma encontra contentamento na comunhão com Deus. Deseja Deus não pelo que Ele pode dar, mas deseja a Ele mesmo.
Em Cristo, podemos dizer como o apóstolo Paulo escreveu em Filipenses 4.10-13: “… aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.”
Em Cristo, encontramos contentamento em Deus.
Em terceiro lugar, aprendemos que devemos estar diante de Deus com um coração confiante (v.3).
Agora Davi convoca todo o povo de Deus a seguir pelo mesmo caminho, ele diz: “Espera, ó Israel, no SENHOR”. É como se disse: “Povo do SENHOR, não há outra fonte de bênçãos, não há outro Salvador, não há Pastor como Ele, portanto, esperemos somente nEle.”
“Espera no SENHOR” quer dizer: entregue-se ao cuidado de Deus, confie nEle, descanse nEle. Não seja soberbo e agitado, mas humilde, contente e confiante.
Você não está entendendo o agir de Deus? O por que disso ou daquilo? Espera no SENHOR.
Você se sente incapaz de resolver as coisas? Não se inquiete, espera no SENHOR. Entregue a Ele toda a sua ansiedade, seus temores, suas dúvidas, as pessoas que você ama, seus problemas e suas lágrimas. Ele é completamente confiável, perfeitamente sábio, inteiramente poderoso. E te ama com amor profundo.
É isso que Ele nos diz nessa noite por meio de Sua Palavra. O evangelho é um anúncio do Amor e da Graça de Deus. É uma garantia de que podemos esperar nEle agora e para sempre.
Seu amor não falha, sua graça não se retrai, suas promessas são infalíveis. Podemos esperar agora, podemos esperar amanhã, podemos esperar todos os dias de nossas vidas, e mesmo na eternidade ainda será dEle que obteremos todas as bênçãos. Portanto, Israel, povo de Deus, Igreja de Cristo, Espera no SENHOR.
Amados irmãos, vocês percebem que em poucos segundos podemos ler este Salmo, mas que levaremos a vida inteira para aprender sua lição?
Somente pela graça dEle podemos ter um coração humilde, contente e que espera em Deus.
Que o Senhor nos dê essa humildade, este contentamento e esta esperança desde agora e para sempre.
Amém.
Elienai Batista
O Pastor Elienai Batista está servido como ministro da Palavra desde dezembro de 1998. Até o momento, pela graça de Deus, ele tem contribuído para a plantação de três igrejas reformadas: Igreja Reformada em Cabo Frio-RJ (2001-2013); Igreja Reformada do IPSEP, Recife-PE (2013-2016); Igreja Reformada em Paulista-PE (2016-2019). Atualmente possue um trabalho missionário na cidade de Campinas-SP.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.