LEITURA: Pv 19.21; 21.31; Mt 6.25-34
TEXTO: Salmo 127
Amados irmãos em Cristo,
Nas últimas eleições, ouvimos diversas vezes, os candidatos falarem sobre: moradia, segurança e trabalho. E muitos deles se apresentaram também como defensores dos interesses da família.
Eles falaram sobre esses temas, porque são temas do interesse de todos. O nosso bem-estar, e o bem-estar de quem amamos, está relacionado com moradia, segurança, saúde, emprego, e coisas similares. Essas coisas fazem parte de nossos sonhos e de nossas lutas diárias. Empreendemos grandes esforços para alcançá-las e para mantê-las. E de fato somos responsáveis. Mas existe um perigo aqui, o de excluir ou colocar Deus de lado e seguir em frente em nossos esforços como se dependesse de nós. Como se fossemos capazes de abençoar a nós mesmos. Como se o fundamento da felicidade fosse nosso próprio esforço.
Mas o Salmo 127, nos alerta sobre esse perigo. Como vocês podem notar este Salmo é atribuído a Salomão. E uma de suas características é que ele tem um certo tom sapiencial, ou seja, as palavras deste Salmo visam nos ensinar sabedoria. Mas o que precisamos saber para sermos mais sábios? Em primeiro lugar sobre a inutilidade da vida sem Deus, em segundo lugar sobre as bênçãos da vida com Deus.
Esses dois temas, não correspondem exatamente às duas partes principais do Salmo, mas chegam perto. A ênfase na primeira parte (vv.1,2), é de que sem o SENHOR é tudo em vão; a ênfase na segunda parte (vv.2-5) é de que a bênção depende do SENHOR.
Portanto, eu vos anuncio a Palavra de Deus sob o seguinte tema: Deus e a nossa vida.
A inutilidade da vida sem Deus;
A bênção da vida com Deus.
A INUTILIDADE DA VIDA SEM DEUS (VV.1,2).
O salmista começa com assuntos do dia a dia: moradia, segurança e trabalho. Ele quer através de exemplos particulares, chegar a um ensino de caráter geral. Ele fala da construção de uma casa, que é abrigo e proteção para a família. Fala da segurança de uma cidade o que permite seus moradores viverem em paz (v.1). E também fala do trabalho, do esforço para prover o que é necessário à subsistência (v.2).
Nessas três questões o homem está envolvido. Os construtores, os sentinelas e o homem que sai para trabalhar devem empreender conhecimento, atenção e esforço. No entanto, o Salmista procura mostrar que tais esforços sejam em construir uma casa, guardar uma cidade, ou trabalhar com o máximo de empenho, sem a bênção de Deus, dão em nada. No hebraico há um termo que aparece três vezes nos vv. 1,2, que é traduzido como “em vão” e como “inútil”. Refere-se a vaidade, mentira, a algo vazio, inútil.
Portanto, o conhecimento, o cuidado e o empenho humano, não são garantias de sucesso. Na verdade o Salmo está dizendo que sem Deus, eles falharão. Sem Deus todo esforço se torna inútil.
Isso necessariamente não quer dizer que a casa não seja construída, ou que a cidade não seja guardada, ou que o homem que acorda cedo e vai dormir tarde, não terá pão sobre sua mesa. Tudo isso pode até acontecer. Mas a questão é que no final das contas, isso dará em nada. No final, virá a triste constatação: foi tudo em vão. É isso que se repete aqui no Salmo por três vezes: Sem o SENHOR, tudo que você faz, todo seu esforço, seu trabalho, o que você compra, seus estudos, suas amizades, casar, ter filhos, é tudo em vão.
Isso se evidencia especialmente quando o salmista fala sobre um homem que levanta de madrugada e repousa tarde, ou seja, um homem dedicado ao seu trabalho, alguém que mal pode dormir. O salmista diz que tal pessoa comerá o seu pão, mas a respeito desse pão se diz: “que penosamente granjeastes”.
Essa linguagem nos lembra Gn 3.17, é portanto, um pão de dores. O pão está na boca, e chega ao estômago, mas não há alegria, não há verdadeira felicidade, não há verdadeira paz. Só inquietação, ansiedade e medo.
Por meio dessas ilustrações tão comuns, o salmista quer ensinar que tudo na vida depende da bênção de Deus e que sem essa bênção, todo empreendimento humano, todos os esforços, todos os planos e sonhos, no final das contas darão em nada. As realizações humanas sem Deus, podem ser como um tipo de droga que ilude por um tempo, mas quando seu efeito passa, só há um grande vazio.
O que o salmista ensina aqui, pode ser ilustrado de muitas formas. Isso talvez possa ser percebido ainda nessa vida.
Pensemos em uma mulher que dedicou sua vida à sua carreira profissional. Ela se torna bem sucedida. Mas sua escolha fez com não quisesse ter filhos. E com o tempo, seu trabalho também lhe separou de seu marido. Enquanto era nova e bela, tudo estava bem.
Mas a beleza e a saúde vão embora. E essa mulher termina seus dias sozinha. Ela tem quem cuide dela, porque tem dinheiro. Mas não tem que lhe ame. Então vem a pergunta: valeu a pena?
O mesmo poderíamos dizer em relação a um homem, cujo proceder é mencionado aqui no Salmo. Um homem dedicado a seu trabalho. Acorda cedo, dorme tarde, empenhado que está em deixar a seus filhos uma herança. Mas se esquece de instruí-los com a verdade, e estes crescem mimados e se tornam pessoas que não amam a Deus, não amam seus pais, e se entregam a ociosidade, a prostituição, às bebidas e às drogas. Depois de tanto esforço, em sua velhice, vendo seus filhos em tal situação. Talvez este homem diga para si mesmo: “todo meu esforço deu em nada”.
Amados irmãos, este é o resultado final de uma vida que não leva Deus em conta. Esse é o resultado de não temer a Deus, de não tê-lo como o centro de tudo, de não depender dEle e esperar Sua bênção. Diz o salmista: Sem o SENHOR é tudo em vão, é tudo sem sentido, é tudo um grande vazio. É trabalho inútil.
Sem o SENHOR, todos os nossos empreendimentos, por mais grandiosos que parecem aos nossos olhos e dos outros, não são, nada mais, do que cabanas de palha que serão queimadas pelo fogo, no dia do juízo.
Então lembre-se qualquer trabalho ou qualquer projeto, mesmo que nos esforcemos ao máximo, é algo inútil. Sem a bênção de Deus é tudo em vão. Você pode ter os melhores médicos e não conseguir o diagnóstico, pode ter grades e sistema de alerta, e o ladrão entrar em sua casa, pode ter um terreno e nunca conseguir construir. Pode fazer tratamentos, e não ter filhos.
Portanto, ainda que possamos ter os melhores médicos, ter um sistema de alarme, e ter um bom emprego. O Salmo 127, nos ensina a não confiar nos meios.
Então, não se case, não curse uma faculdade, não aceite uma promoção no trabalho, não construa, não compre, não venda, não faça nada sem ter certeza da bênção de Deus sobre sua vida.
O sucesso de seus empreendimentos não depende de sua capacidade de planejar, de sua diligência no trabalho ou qualquer outra coisa. Depende de Deus. Então devemos agir de forma dependente dEle. Não tente fazer nada por sua própria força.
Há pessoas que pretendem salvar seu casamento, criar seus filhos, suprir as necessidades de sua família, confiando em seus próprios esforços.
Mas nessa noite, o Espirito Santo nos adverte para termos cuidado. Cristo nos salvou não para vivermos de um modo independente de Deus. Pelo contrário, se você é salvo, se entende o que Deus fez por você, sabe então que deve viver em total dependência do Senhor.
Muitas pessoas terão a impressão de que são muito abençoadas. Mas se Deus não em suas vidas, governando, dirigindo, sendo a fonte de todo bem, tudo que elas possuem é como uma fumaça que logo se desfará. No diz do juízo descobrirão, que toda sua vida, não passou de uma grande inutilidade.
Então preciso perguntar: Há sinais dessa dependência em sua família? E em seu casamento? Em seus projetos? Em seu trabalho? Em seus estudos? Não tenha vergonha de depender de Deus, pois somente com sua bênção podemos seguir em frente.
Isso nos leva ao nosso segundo ponto.
AS BENÇÃOS DA VIDA COM DEUS (VV.2-5).
Aqui devemos notar a relação desta segunda parte com a primeira parte do Salmo. A edificação da casa na primeira, e a edificação da família na segunda. As sentinelas que guardam a cidade na primeira, e os filhos que protegem o pai na segunda.
Nessa segunda parte, em resposta a inquietude e a inutilidade da vida sem Deus, o salmista apresenta a vida abençoada por Deus. Ele fala sobre as dádivas de Deus. Primeiro em dar ao homem comer de seu trabalho, e depois o dom dos filhos.
A partir da parte final do v.2, o salmista coloca em contraste ao homem que trabalha incansavelmente como se o sucesso dependesse de seus esforço, o homem que é amado por Deus. A este o SENHOR dá o pão enquanto dorme.
Obviamente isso não quer dizer que Deus o alimenta enquanto está na ociosidade. Mas quer mostrar através do contraste, que enquanto o homem sem Deus trabalha quase que sem dormir para comer o pão de dores, aqueles a quem Deus ama, trabalham também, mas não neste afã, eles sabem que o sucesso é fruto da bênção de Deus, confiam em Deus e por isso podem dormir em paz.
Com isso o salmista quer mostrar que a bênção procede do SENHOR. Ele cuida de seus amados. Ele abençoa o trabalho diligente daqueles que confiam nEle.
A seguir, a partir do v.3, o salmista fala de bênçãos na família. Esse versículo começa com uma expressão que visa chamar a nossa atenção. Podemos ler “Eis que os filhos…”, ou “Sim, os filhos são…”.
O salmista se refere aos filhos como uma herança e galardão (ou recompensa). Devemos entender aqui, herança não de acordo com direito hereditário, mas uma livre concessão. Uma recompensa, que não é paga como dever, mas de alguém que livremente faz uma promessa, e depois a cumpre. O que o salmista quer dizer com essas palavras é que os filhos são uma dádiva de Deus. Uma bênção que Ele concede.
Portanto, filhos não chegam por meio de um processo mecânico, mas são uma dádiva na qual Deus está plenamente envolvido.
Então se alguém chega a ter filhos, deve saber que recebeu do Senhor dádivas das quais deve cuidar. E se alguém não tem filhos, por razões físicas, pode buscar os meios para cuidar de sua saúde, mas deve fazer isso confiando no SENHOR. Pois os filhos são dádivas dEle.
Notem então que o salmista quer ensinar algo geral. Deus cuida de seu povo, Deus abençoa seus amados. Mas o que o salmista utiliza para provar a bênção de Deus sobre seus amados? O fato que os filhos são uma dádiva dEle.
Portanto, a mentalidade mundana, que vê os filhos como problemas e impedimento à felicidade é contrária ao que Deus diz ser Sua bênção.
Os filhos aqui são comparados a flechas nas mãos de um guerreiro. Note que não são flechas na aljava, mas na mão do guerreiro, disponíveis para o uso. Ou seja, são como armas, que podem servir para defender seu pai.
Especialmente se este pai os teve ainda jovem, quer dizer que quando estiver velho, ele terá muitos homens dentro de sua casa.
Veja então no v.5, no que consiste a bem-aventurança neste Salmo. “Feliz o homem que enche deles a sua aljava”. “Aljava” é o lugar para colocar as flechas, e aqui equivale a dizer: feliz o homem que enche sua casa de filhos. Por que?
“Não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta”. Aqui se menciona inimigos à porta. Porta se refere à porta da cidade onde assuntos administrativos e judiciais eram resolvidos.
O que dá a entender que o pai sofreu uma acusação injusta e tem de apresentar-se perante o tribunal. Mas ele não chega só, seus filhos estão em sua defesa. O salmista diz que não serão confundidos, isto é, não serão intimidados. Esses rapazes não deixarão seu pai sozinho mas lhe darão apoio e proteção.
Assim notamos, que a bênção aqui não se refere só a ter muitos filhos, mas educá-los na piedade. Há pessoas que tem filhos, mas isso dá em nada. Pois suas vidas não tem sólido fundamento. Mas aqui este homem está cercado de filhos fiéis, que lhe amam e respeitam e que assim como ele, temem a Deus.
Amados irmãos, toda bênção que desfrutamos vem do Senhor. E até o que imaginamos ser fruto do nosso empenho vem do Senhor. Deus é quem constrói, Deus é quem guarda, Deus é quem dá o pão, Deus é quem dá filhos.
Então, se estamos em Cristo, essas bênçãos de Deus estão sobre as nossas vidas. Pois Cristo se fez maldito em nosso lugar, para que conheçamos as bênçãos de Deus.
À luz do Salmo 127, não há razões para nossos corações estarem inquietos. O que Cristo nos ensinou a este respeito? (Ler Mateus 6.31-33).
Se estamos em cristo, devemos trabalhar e agir dentro do que o Senhor nos confere, certos de que o sucesso, virá não por causa de nossos esforços, mas por causa da benção do Senhor.
Mas o Salmo 127, não só nos diz que Deus nos abençoa. Mas diz que bênçãos Ele costuma conferir-nos. Lemos aqui que é Ele quem nos dá o pão. Então cada vez que temos alimento sobre nossas mesas, devemos elevar nossos corações a Deus, e agradecê-lo por sua bênção.
Mas lemos aqui que os filhos também são bênção do Senhor. Mas aqui há um choque com o que o mundo diz. E por isso, se eu perguntar: quantos casais querem a bênção de Deus? Talvez todos levantem as mãos. Mas será que as mesmas mãos ficarão levantas se a pergunta for: quantos desejam ter mais filhos?
Não quero dizer que todos devem ter muitos filhos. Podem existir certas questões de saúde, ou outras questões que impeçam. Mas a questão que cada casal da igreja deve responder é: se podemos ter filhos, porque não queremos ter mais filhos? Se as razões forem as razões que o mundo apresenta, tais casais devem saber que estão construindo sem a benção do SENHOR. Portanto, não pense que irão muito longe. Então entendam, a questão não é quantos filhos alguém tem, mas o que está em seu coração.
Aos casais que desejam filhos, mas o Senhor ainda não lhes concedeu. Eu quero encorajá-los a confiar no SENHOR. É ele quem dá filhos. Se for da vontade dEle, Ele vos concederá. Lembrem-se de Sara, de Rebeca, de Raquel, da mãe de Sansão, de Ana a mãe de Samuel, e de Isabel a mãe de João Batista.
O Salmo 113.9 diz que o SENHOR “Faz com que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos”. Então descansem no Senhor.
O Salmo 127, também nos ensina que sendo nossos filhos herança e galardão do SENHOR, são eles tesouros que Deus nos dá para cuidar. Sejamos portanto, bons mordomos, guiemos nossos filhos a Cristo.
Mas o Salmo 127 também fala aos filhos. Os dons e as capacidades de vocês devem servir à família. Vocês devem ser para seus pais, uma defesa contra a solidão, um auxílio nas enfermidades um socorro na velhice.
Irmãos, vejam a graça de Deus, nossa vida só pode ter sentido, só pode ser plenamente desfrutada e cumprir seu propósito se tivermos a bênção de Deus, se Deus estiver em nossa vida. Mas isso não acontece naturalmente, por causa do pecado, estávamos afastados de Deus, não merecíamos sua bênção, mas somente sua maldição.
Dessa forma nossa vida estava fadada à inutilidade. Não importava o que fizéssemos, tudo seria vaidade, tudo seria um grande vazio, algo completamente inútil.
Mas Cristo nos resgatou da maldição do pecado, Ele nos redimiu da vida vazia e inútil. Ele nos levou a Deus, Ele nos concedeu a bênção de Deus. Então se estamos em Cristo, nossa vida não é sem sentido, não é vazia. Em Cristo, encontramos o propósito para o qual fomos criados.
Podemos edificar, guardar, trabalhar, comer o nosso pão, criar os nossos filhos e tudo isso tem o um sentido, pois visa mais do que nossa sobre vivência, mais que nosso interesse, visa a glória de Deus. Então glória a Deus porque em Cristo nossa vida ganha significado.
Então devemos orar para que o Senhor Deus, que nos abençoa em Cristo Jesus, nos conceda dependermos sempre de sua bênção. Que nada façamos se o Senhor não estiver conosco, pois já sabemos que todos os esforços sem o Senhor dão em nada. Mas se tivermos Sua bênção sigamos em frente sabendo que Ele não nega bem algum aos seus amados.
E certamente se vivemos em dependência dEle, a sua bênção estará sobre nossas vidas.
Com sua bênção construiremos, com Sua bênção estaremos seguros, com sua bênção faremos nosso trabalho e receberemos de suas mãos o nosso pão, com sua bênção criaremos nossos filhos. Que assim seja para a glória do Seu nome.
Amém!
Elienai Batista
O Pastor Elienai Batista está servido como ministro da Palavra desde dezembro de 1998. Até o momento, pela graça de Deus, ele tem contribuído para a plantação de três igrejas reformadas: Igreja Reformada em Cabo Frio-RJ (2001-2013); Igreja Reformada do IPSEP, Recife-PE (2013-2016); Igreja Reformada em Paulista-PE (2016-2019). Atualmente possue um trabalho missionário na cidade de Campinas-SP.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.