Lucas 13:01-05

Leitura: Lucas 12:01, 49-59
Texto: Lucas 13:01-05

Irmãos,

Muitas pessoas sofreram por causa das chuvas há três anos. Todo mundo pôde ver na televisão as imagens impressionantes: como os rios transbordaram, como as ruas estavam cheias de água, como a água entrou nas casas, aqui no Recife, mas também em outras lugares: Matriz, Porto Calvo, Barreiros, Recife, Palmares e varias outras cidades nos estados Pernambuco e Alagoas. Algumas cidades estavam numa situação de emergência e outras num estado de Calamidade pública. Mais de 20 pessoas morreram, e mais de 50.000 pessoas estão desabrigadas. O prejuízo era enorme.

No meio disso ouvimos pessoas dizendo: é um castigo de Deus! É por causa da injustiça, da corrupção dos políticos. Outras estavam dizendo que Deus estava nos castigando por que muitas pessoas não crêem em Cristo; até ouvimos pessoas falando sobre as vitimas que morreram. Deus as castigou, pois, eram mais pecaminosas do que as outras pessoas. Será que isso é verdade?

As pessoas sempre estão procurando os motivos quando acontece um desastre. As pessoas vão analisar a situação, procurar motivos, apontar pessoas culpadas. Assim funciona. A dor sempre tem um motivo, com o sofrimento sempre vem a pergunta: quem fez? Quem é culpado? Assim as pessoas se perguntam hoje, assim as pessoas se perguntavam antigamente também. Para mostrar isso, vamos para o texto de hoje de noite.

Vamos ver como o nosso Senhor Jesus reagiu quando foi confrontado com um desastre. O assassino horrível dum grupo de Galileus e o desastre da torre de Siloé. As pessoas perguntaram a Jesus para dar um comentário, especialmente sobre a questão: quem é culpado.

Vamos ler o nosso texto: Lucas 13, 1-5.

Irmãos,

Para entender este texto bem, devemos também ler o que aconteceu antes, pois prestem atenção no início! Lá está escrito: NAQUELA MESMA OCASIÃO, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos Galileus. NAQUELA MESMA OCASIÃO. Isso quer dizer: o momento em que as pessoas chegaram não foi uma coincidência. Foi um momento escolhido. O momento está em relação com as coisas que aconteceram antes! E por isso devemos dar atenção às coisas antecedentes. Vamos ler os versículos antecedentes e começamos em Lucas 12,1 (….). Podemos ver que Jesus está pregando. “Miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem”. Uma super manifestação, onde Jesus está falando. E parece que custa muito tempo, pois a pregação de Jesus continua até capitulo 13.9.

Nós não vamos ler tudo, mas eu vou dar um resumo. Essa super-reunião é umas das últimas na vida de Jesus. Ele está caminhando para Jerusalém para ser crucificado. Por isso ele está se despedindo das pessoas. Eles não devem andar ansiosos pela sua vida na terra, assim que perdem a visão do Reino de Deus. Jesus os advertiu para buscar o Reino de Deus (31). Esperando a vinda do Reino de Deus eles devem vigiar (35-48) e se decidir sobre Cristo. Em favor ou contra Cristo? Assim Jesus traz fogo e dissensão à terra. As pessoas devem se decidir. Não tem muito tempo para esperar. É a última chance, pois é a última viagem de Jesus. Quem não está em favor, está contra Jesus. Jesus sabe que o fim está chegando. Por isso fala também sobre os sinais dos tempos, sobre o último julgamento. Ele critica o seu público dizendo que são hipócritas. Sabem tudo sobre o tempo; sabem interpretar o aspecto da terra e do céu; quando vêem aparecer uma nuvem no poente, logo dizem que vem chuva. E assim acontece; quando vêem soprar o vento sul, dizem que haverá calor. E assim acontece. Eles podiam bem interpretar os sinais do tempo, como nós hoje. Muito esperto, entretanto não sabem discernir a época em que estão vivendo. Jesus deixa claro que Israel está andando para o seu julgamento. A parábola do homem que vai com o seu adversário ao magistrado fala por si mesmo: O julgamento está perto. Tem que se decidir.

Então, enquanto Jesus está dando estas admoestações, NAQUELA MESMA OCASIÃO, chegaram alguns com uma mensagem horrível. O Governador Pilatos fez um massacre. Um grupo de peregrinos, Galileus, estava no templo, fazendo sacrifícios, e os soldados romanos entraram no templo e assassinaram os Galileus, assim que o sangue deles se misturou com o sangue dos animais sacrificados.

É uma notícia curta. Os historiadores judaicos não falam sobre isso. Só Lucas. Mas sabemos que aquele Governador Pilatos pôde ser duro. Especialmente com os Galileus, pois naquela época Galiléia estava rebelde. Lá muitas pessoas se reuniram para lutar contra o governo romano, contra o Governador Pilatos.

Por isso o Governador sempre estava em Jerusalém durante as grandes festas dos Judeus, pois a chance que iniciariam uma rebelião era maior quando estavam muitos judeus em Jerusalém. Por isso, é provável que esse massacre está relacionado com uma tentativa de iniciar uma rebelião.

Como foi exatamente não é claro, mas é claro que essas pessoas saíram de Jerusalém assustadas. Foi um massacre horrível nos olhos dos judeus. O fato que os soldados entraram no santuário do templo; soldados ímpios! Isso foi uma violação da santidade do templo. E, além disso, eles assassinaram várias pessoas NO templo, ENQUANTO estavam sacrificando os seus sacrifícios. Sacrifícios para salvar a vida deles. Agora essas pessoas morreram e os sacrifícios deles não foram eficazes. Então, dá para entender que conforme as idéias dos judeus esses Galileus foram grandes pecadores. Por quê Deus deixou acontecer isso? Até no seu Templo! Esses Galileus deviam ser grandes pecadores. Miséria é um castigo. E cada um sofre por causa da sua culpa.

Essa idéia é bem forte nos pensamentos dos Judeus. Leia por exemplo a história de João 9, sobre o cego de nascença. Quando JESUS com os seus discípulos entram no templo e vêem o cego, eles logo perguntam a Jesus: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais?” Logo eles ligaram a miséria deste homem com um pecado, que pode ser o motivo da miséria. Eles pensaram assim: Ninguém sofre sem culpa!

O mesmo pensamento encontramos em outros lugares na Bíblia. Pense por exemplo no livro de Jó. Num dia Jó perdeu tudo: as sete mil ovelhas, os três mil camelos, as quinhentas juntas de bois e as quinhentas jumentas. E, além disso, os sete filhos e as três filhas. Tudo!!! Num dia só! E o que os seus amigos estão dizendo (Jó 4,7): “Lembra-te: Quem, sendo inocente, jamais pereceu? Onde foram os retos destruídos? Segundo tenho visto, os que lavram a iniqüidade e semeiam o mal, isso mesmo segam.”.

E o profeta Amós não diz a mesma coisa (Amós 3,6): “Sucederá algum mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?”. O mesmo Amós profetizou o castigo de Deus sobre Israel por causa dos pecados dele: fome, seca, gafanhotos, doenças, guerra.

Também sabemos que os Rabis naquela época ensinavam assim: ninguém sofre sem culpa. O tamanho do pecado decidiu o tamanho do castigo. Tanto maior o pecado, maior também o sofrimento. Assim pensavam os judeus. E Jesus se confronta com essa idéia. Ele diz: “Pensais vós que esses Galileus foram mais pecadores do que todos os Galileus, por terem padecido tais coisas? Não, eu vos digo! Antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis!”.

Essa resposta é uma surpresa. Jesus não diz nada sobre a relação entre o desastre e um pecado dos Galileus. Pode ser que há uma relação, pode ser que não. Nós não sabemos. Em todo caso Jesus não disse que os Galileus eram INOCENTES. Diante de Deus eles são culpados, MAS COM ELES também todos os outros Galileus! Essas vítimas não foram maiores pecadores que os sobreviventes. Quem pensa assim, pensa erradamente.

Jesus critica as pessoas que julgam as vítimas (sendo grandes pecadores) e que acham a si mesmos inocentes. Em lugar disso essas pessoas devem descobrir que eles mesmos são culpados diante de Deus. Não devem pensar que Deus castigou os maiores pecadores e mais nada. Mas não é assim! A morte dos Galileus deve ser um aviso. Pois por que a morte deles foi tal horrível? Por causa disso: eles morreram enquanto os pecados deles não foram absolvidos! Bom, morrer é ruim, mas pior é morrer, enquanto os seus pecados não são absolvidos. Pois, quem morre assim, morre eternamente.

E esse perigo está perto de todos que não se arrependem e se convertem para Cristo. “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis!”. As pessoas devem se arrepender. Procurar Cristo, seguir Cristo e assim receber perdão dos pecados. Quem não faz isso, morrerá horrivelmente. Pode ser que a morte aqui na terra ainda parece leve e que a família se consola com a boa morte de seus parentes. Ele não sofreu muito. Pode ser. Mas, mesmo assim, a morte dele pode ser horrível, pois ele morreu enquanto os seus pecados não foram absolvidos.

E Jesus logo continua e fala sobre um outro desastre: o acidente com a torre de Siloé. Provavelmente esse acidente foi bem conhecido, pois Jesus fala sem comentário sobre o lugar e as 18 vítimas. Sabemos que Siloé era um bairro em Jerusalém. Neste bairro tinha uma fonte, que providenciava água para a cidade. Parece que lá também tinha uma torre. Provavelmente eles estavam construindo essa torre. E durante o trabalho a torre caiu em cima de 18 trabalhadores. Não fazia muito tempo que isso tinha acontecido. Pois todo mundo sabia.

Mas por que Jesus fala sobre esse acidente? Pois a aplicação fica igual. Não era necessário falar sobre um outro acidente. Só quando ele queria dizer ainda mais. Então, o que Jesus queria mostrar com o segundo exemplo?

Quero apontar dois pontos. Primeiramente isso: No caso do massacre no templo, poderia dizer que Pilatos era o homem responsável pela morte dos Galileus. Neste caso não precisa falar sobre o motivo do sofrimento deles, pois é claro: eles foram as vítimas do pecado de Pilatos. Mas neste segundo exemplo, sobre a torre de Siloé, é impossível responsabilizar uma pessoa. Neste caso, a idéia que Deus castigou essas pessoas é mais forte. As pessoas poderiam ter dúvidas sobre a culpa dos Galileus, mas em respeito dos 18 pedreiros não tinha outra conclusão: Não pode responsabilizar nenhuma pessoa, então eles mesmos deviam ser culpados. Mas de novo Jesus diz: “E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou pensais vós que foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, vos digo! Antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis!”.

Nem no primeiro caso, dos Galileus, nem no segundo caso, dos 18 pedreiros podemos dizer que eles foram maiores pecadores do que os seus vizinhos. Diante de Deus TODOS são culpados, por causa do seu pecado. Nenhuma pessoa é sem pecado. Nem os Galileus, nem os pedreiros, nem os outros habitantes de Jerusalém.

Esse é um elemento fino no nosso texto. Para os Judeus existia uma diferença entre os habitantes da Galiléia e os habitantes de Jerusalém, a cidade santa. Os evangelistas mostram regularmente que os habitantes de Jerusalém desprezaram os habitantes de Galiléia. “Pode vir alguma coisa boa da Galiléia?” Jerusalém, foi o melhor.

Mas até essa idéia Jesus rejeitou. Pensais vós que foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? NÃO, senhor! Mesmo os Fariseus e os Sacerdotes foram pecadores do mesmo tamanho. E se eles não se arrependessem, eles pereceriam também.

Duas vezes Jesus disse que TODOS os homens são culpados diante de Deus; todos os homens são grande pecadores, que não merecem nada além de perecer horrivelmente, isso quer dizer: morrer eternamente.

Essa foi a mensagem dele: para as milhares de pessoas, que estavam lá naquele momento, mas também para todas as pessoas, que viveram depois; também para todos nós. Nunca pensem que os seus vizinhos, os seus colegas, ou qualquer pessoa, é mais pecador do que você. E nunca pensem que você é mais pecador do que as outras, se sofrer por causa duma doença ou por causa dum desastre; Mas também não pensem que você é um pecador menor em comparação com os outros. Às vezes parece que as pessoas pensam assim, se perguntarem: por que? Por que isso me acontece? Não tem outras pessoas piores do que eu? Eu que nunca magoei uma pessoa; eu que regularmente visito a igreja; eu que trabalho muito para ajudar os outros. Esse “EU” não é melhor do que as outras pessoas.

Vocês e eu, nós juntos, somos culpados diante de Deus e merecemos o castigo por causa dos nossos pecados. Nós não somos melhores do que outras pessoas, que estão fora dessa igreja. Há uma diferença: Nós sabemos e confessamos que somos pecadores e por isso estamos aqui, porque descobrimos que só existe perdão para nossos pecados em Jesus Cristo. Cremos nele; Confiamos nele. Ele é o nosso único Salvador.

Em toda situação: na saúde ou doença, riqueza ou pobreza, na vida ou na morte. Quem crê nisso, não vai morrer horrivelmente, pois sabe que os nossos pecados são perdoados por Cristo, O nosso Salvador.

Amém.

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Pr. Abram de Graaf

Abram de Graaf

O pastor Abram de Graaf é “Doctorandus” (Drs) em Teologia e um dos professores do Instituto João Calvino (Aldeia, Camaragibe-PE). Ele é pastor da Igreja Reformada de Hamilton, Canadá, enviado como missionário às Igrejas Reformadas do Brasil, desde o ano 2000. É Diretor do Projeto Dordt-Brasil. Ele mora em Maceió e também desenvolve projetos nessa cidade. Acesse o site graafeditora.com

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.