Leitura: Salmo 102.18-28, Hebreus 1.1-14
Texto: Dia do Senhor 8
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Todos os domingos de manhã, nós estudamos as doutrinas da fé Cristã, usando o Catecismo de Heidelberg como nosso esboço e nosso guia pelas escrituras. O objetivo deste estudo do catecismo é para nos dar a oportunidade de crescer no conhecimento de nosso Deus e de nossa fé para viver mais plenamente nossa vida e morrer com mais confiança, na alegria do Evangelho. Espero que os irmãos possam entender que esse é um desejo cristão natural. Você pode encontrar este desejo em cada uma das cartas de Paulo: em todas elas ele menciona sua oração que as igrejas crescessem no conhecimento e compreensão de Deus e do Evangelho de Jesus Cristo, porque é assim que você cresce em maturidade como cristão, e é isso que você precisa para viver a vida cristã com ousadia, alegria e confiança. E essa deve ser a nossa oração por nossa igreja também, que cresçamos no conhecimento e compreensão dos mistérios de Deus e do Evangelho, para nos tornarmos cristãos fortes, sábios e maduros e vivermos a nossa esperança evangélica com alegria e confiança.
Uma das doutrinas mais fundamentais da fé Cristã é a doutrina da Trindade. Foi isso que a igreja primitiva reconheceu rapidamente, e é por isso que os primeiros credos e confissões são centrados nessa doutrina. Sem a doutrina da Trindade, você perde o próprio cristianismo, porque a fé cristã não faz sentido. Você não pode falar do Filho de Deus sendo enviado pelo Pai e assumindo a carne e morrendo na cruz, e o Espírito Santo sendo então derramado sobre a igreja no Pentecostes, sem a Trindade.
Portanto, uma compreensão clara e sólida dessa doutrina é vital para uma fé cristã madura.
E talvez seja preocupante ouvir isso, porque muitos de nós não temos uma compreensão muito clara dessa doutrina. Quando somos confrontados por Mórmons ou Testemunhas de Jeová ou Muçulmanos ou quaisquer outros grupos que rejeitam esta doutrina, rapidamente nos sentimos desconfortáveis e inseguros. E, irmãos e irmãs, não deveria ser assim. Não deveria ser assim. Sim, há um mistério nesta doutrina que não podemos compreender completamente. Certo. Mas as afirmações básicas dessa doutrina e os lugares onde essas afirmações são fundamentadas nas Escrituras não devem ser difíceis para nós. Cada um de nós deve ser capaz de entender o que a doutrina significa e por que, a partir das Escrituras, acreditamos nela. Se esta é a doutrina mais fundamental da nossa fé, então é um fundamento sobre o qual devemos estar firmes como Cristãos maduros.
Então, o que eu quero fazer neste sermão é uma defesa bíblica básica da doutrina da Trindade. Começaremos simplesmente definindo nossos termos, vendo exatamente o que é que a doutrina significa, o que é sempre importante – e então vamos para as Escrituras para mostrar onde é que elas ensinam esta doutrina. E também vamos pensar um pouco sobre as implicações desta doutrina—por que ela importa, e como ela molda nosso relacionamento com Deus.
1. O que significa
Provavelmente o mal-entendido mais comum da doutrina da Trindade é a ideia de que Deus é três e um, no mesmo sentido. A idea de que de 1 +1 + 1 = 1. Que Deus é três e um, no mesmo sentido, e é apenas um mistério que desafia a lógica. Não é isso que a igreja confessa.
O que confessamos é que Deus é um em relação a Sua existência, e três em relação a Sua Pessoa. Em outras palavras, que é Um Deus em Tres verdadeiras Pessoas. Assim, sua existência ou “ser” refere-se ao que algo é, e pessoa refere-se a quem alguém é. Confessamos que há um sere três pessoas. Assim, Deus é um em relação ao ser, e três em relação às pessoas. Então não é um e três no mesmo aspecto, mas um em um aspecto, e três em outro ). Agora, essa é certamente uma realidade única, mas não é uma afirmação ilógica. É única, porque, como seres humanos, a única coisa que sabemos é uma correlação direta entre ser e personalidade (eu sou um único ser humano e sou uma única pessoa). Isso é tudo o que sabemos, e assim esta doutrina desafia nossa experiência; mas não contradiz a lógica.
Agora, quando falamos de “ser” e “pessoalidade”, temos que reconhecer que estamos usando linguagem humana que evoca analogias humanas que não expressam perfeitamente a realidade de quem Deus é. Então, quando falamos de “ser”, estamos falando da existência, mas é claro que Deus “existe” de uma maneira diferente da nossa. Nossa existência depende Dele, a Dele não depende de nada. E nossa existência é limitada no tempo e no espaço (existimos aqui e agora), enquanto a existência de Deus não é assim limitado. E quando falamos de “pessoalidade”, a palavra traz consigo certa bagagem que não se aplica a Deus – não devemos pensar em “seres” diferentes, como faríamos quando pensamos em pessoas, nem em múltiplos “corpos,” como faríamos quando falamos de pessoas. Não estamos dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito são “pessoas” da mesma forma que nós, com suas próprias personalidades e peculiaridades e assim por diante. Estamos simplesmente dizendo que cada um deles são pessoas, no sentido de que se relacionam entre si, se amam e, portanto, são verdadeiramente distintos.
Então é isso que a doutrina da Trindade afirma: Que há um Deus, que é três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Todos os três são Deus verdadeiro e eterno, igualmente Deus, e todos os três são pessoas verdadeiramente distintas.
O Credo de Atanásio, que foi escrito nos anos 500 e recebido pela igreja desde os tempos medievais, faz um bom trabalho ao resumir todos os diferentes elementos desta doutrina:
- Ele diz “Adoremos o único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundindo as Pessoas, nem separando o Ser.” Portanto, não podemos dizer que existem três deuses, nem podemos dizer que eles são de fato apenas uma pessoa.
- Ele diz: “o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; contudo eles não são três deuses, mas um só Deus.”
- E ensina que as relações entre o Pai, o Filho e o Espírito não são todas iguais. O Pai não é gerado nem procedente. Ele apenas é. Isso não é o caso do Filho. O Filho é gerado do Pai. E o Espírito não é gerado, mas procede, tanto do Pai como do Filho. Assim, as relações dentro da Trindade não são todas iguais, embora, ao mesmo tempo, todas possuem a mesma glória e majestade.
Então. Reconheço que nenhum de nós pode compreender como tudo isso funciona. E não estamos dizendo que conseguimos compreender. Estamos apenas afirmando esta doutrina.
2. Onde a encontramos nas Escrituras
Tendo declarado nossa definição, agora queremos saber por que a igreja crê nisso—isto é, de onde obtemos essa doutrina da Palavra de Deus.
A palavra “Trindade” não se encontra em nenhum lugar das Escrituras. Esse fato por si só já deixa muitas pessoas desconfortáveis com isso, e isso é compreensível: afinal, nós acreditamos que a palavra de Deus somente carrega a autoridade para definir nossa doutrina. Mas o fato da palavra não estar aqui no texto da Bíblia não significa que a doutrina é antibíblica. A palavra não está lá, mas a doutrina comprovadamente está. A palavra “Trindade” é simplesmente uma formar de se referir àquilo que Deusensina sobre Si mesmo em Sua Palavra.
Você pode dividir os dados bíblicos em dois pontos básicos, que são muito fáceis de mostrar nas Escrituras, e com estes dois pontos, você já tem a doutrina da Trindade.
- Primeiro, as Escrituras ensinam que Deus é um. É uma das doutrinas mais claras nas escrituras. Deut. 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” Isso é verdade no AT e no NT: 1 Tim. 2:5: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” Esta afirmação e pressuposição pode ser encontrado em toda a Escritura.
- Então, existe apenas um Deus. O cristianismo não é como o hinduísmo com seus muitos deuses. Há apenas um Deus, e nós O adoramos.
- Isso também nos diferencia dos mórmons. Muitas pessoas pensam que o mormonismo ainda se enquadra no campo do “cristianismo”, mas o mormonismo discorda desta verdade mais fundamental das Escrituras, que Deus é um. Os mórmons não acreditam que exista apenas um Deus. Pelo contrário, os mórmons acreditam que há um número infinito de deuses em um número infinito de universos, que o próprio Deus Javé também uma vez era um homem, nascido em outro planeta, com seus próprios deuses; e que nós também um dia nos tornaremos deuses como ele. O mormonismo é uma religião muito diferente. Mas a Bíblia ensina que Deus é um.
- Então esse é o nosso primeiro fundamento bíblico: que Deus é um. Existe um Deus.
- Ao mesmo tempo, descobrimos nas Escrituras que o Senhor Jesus é chamado Deus; e o Espírito Santo é chamado Deus; e estas não são apenas manifestações diferentes de Deus (como se fosse Deus às vezes aparece às vezes na forma do Pai, às vezes na forma do Filho, etc.) – estas pessoas não são apenas diferentes manifestações de Deus, mas verdadeiras pessoas, verdadeiramente distintas. Sabemos disso porque eles têm relacionamentos uns com os outros.
- Por exemplo, Jesus ora ao Pai. Ele foi enviado pelo Pai. Ele obedece ao Pai. Ele é chamado Filho do Pai. Então não é possível dizer que Ele é apenas uma manifestação diferente ou uma dimensão diferente. Ele é uma pessoa diferente. Não é o Pai.
- Mas isso não nega a realidade de que Jesus é claramente Deus. Ele é adorado em vários lugares, e Ele aceita essa adoração, o que seria uma blasfêmia para qualquer um que não fosse Deus. Em seu batismo, Deus disse: “este é meu Filho”. Em João 20:28, Tomé diz a Ele: “Meu Senhor e meu Deus!”
- Em vários lugares, Paulo o chama de Deus. Titus 2:13: “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.” Em Hebreus, Cristo é chamado do “esplendor da glória de Deus”.
- Em muitos lugares, Jesus chama a si mesmo de “Filho de Deus”.
- Em João 10, Jesus diz: “Eu e o Pai somos um”.
- Em João 17, o Senhor Jesus orou a Deus Pai e falou da glória que eles tiveram juntos na eternidade.
- De fato, o Senhor Jesus foi crucificado justamente por isso, porque se fez igual a Deus.
- Por exemplo, Jesus ora ao Pai. Ele foi enviado pelo Pai. Ele obedece ao Pai. Ele é chamado Filho do Pai. Então não é possível dizer que Ele é apenas uma manifestação diferente ou uma dimensão diferente. Ele é uma pessoa diferente. Não é o Pai.
Agora, a seita que mais notoriamente nega a divindade de Jesus é as Testemunhas de Jeová – e você pode ouvir, já no nome dessa seita, que eles se consideram defensores de Jeová – defensores de Jeová contra a suposta heresia do Trindade. E seu grande argumento é que somente Jeová (no caso, Deus o Pai) é Deus.
Agora, talvez muitos de vocês já tiveram discussões com as Testemunhas de Jeová, e o problema que sempre aparece nessas discussões é que eles usam sua própria versão da Bíblia (a “Tradução do Novo Mundo”, publicada pela Sociedade Torre de Vigia nos EUA) que reinterpreta esses textos; e se você tentar debatê-los sobre esses textos, é muito difícil porque eles já têm os argumentos memorizados, e você não fica pronto na hora para lidar com todos estes argumentos. Eles podem não saber de mais nada da Bíblia, mas podem falar ao longo sobre os argumentos que eles decoraram sobre estes textos. Eles podem falar sobre o grego original, mesmo que nunca aprenderam grego.
Então, se você ler João 20:28 na TNM, onde Tomé diz “Meu Senhor e meu Deus!”, eles traduzem como Tomé dizendo a Jesus: “Meu Senhor!” e então erguendo o rosto para o Céu e dizendo: “Meu Deus!” – como se fosse uma expressão de surpresa. Agora, isso ainda faz você se perguntar por que Tomé se curvou e O adorou, mas pra resolver isso eles tem outros argumentos, e assim a discussão vai.
Mas aqui está o problema. Os supostos “textos-provas” que eles re-interpretam são apenas a ponta do iceberg. Mesmo com todos os textos-provas “resolvidos,” você ainda tem um Novo Testamento escrito com a convicção clara de que Jesus é Deus, e não tem como escapar desta realidade, mesmo que reinterprete todos os textos-provas.
Então, em vez de debater os textos-prova, também podemos considerar os muitos, muitos textos em que o Novo Testamento cita passagens do Antigo Testamento que claramente se referem a Deus Jeová—mas que aplicam estes textos a Jesus. E existem centenas desses textos.
Lemos um exemplo no Salmo 102. No Salmo 102:12, o salmista diz,
Psa. 102:12: “Tu, porém, Senhor, (que está em maiúsculas, o que significa que a palavra hebraica ali é Javé, ou, no TNM, Jeová) permaneces para sempre, e a memória do teu nome, de geração em geração.”
E então o versículo 25:
Psa. 102:25–27: “Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permaneces; todos eles envelhecerão como uma veste, como roupa os mudarás, e serão mudados. Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim.”
Agora, isso está claramente falando de Javé. Até a própria TNM traduz “Senhor” como Javé— e corretamente. É obvio. E você pode ir mais longe e apontar – e eles terão que concordar – que as coisas que são ditas sobre Javé aqui, somente poderiam ser faladas sobre Javé mesmo, o Deus verdadeiro e eterno. Você não pode dizer isso sobre qualquer criatura.
Mas então, considere Hebreus 1, onde o autor aplica este mesmo texto a Jesus (até mesmo na TNM, isso claramente se refere a Jesus). E o texto chama Jesus de “kurios”, que é a palavra grega para “Senhor”, exatamente como a tradução grega do Antigo Testamento que os cristãos costumavam usar sempre traduziu o nome Javé.
Claramente, o autor de Hebreus acreditava que Jesus é Jeová.
E existem literalmente dezenas, até centenas desses tipos de exemplos no Novo Testamento. Filipenses 2 diz que “todo joelho se dobrará, no céu e na terra, e toda língua confessará que Jesus é o Senhor” – cita quase palavra por palavra Isaías 45, que se refere a Javé. João 12 diz que Isaías viu a glória de Jesus e falou dele, referindo-se claramente , no contexto, para Isaías 6, onde Isaías viu a glória de Javé.
Em todo o Novo Testamento, fica claro que o Senhor Jesus é Deus, Javé.
Mas, voltando à nossa defesa da doutrina da Trindade, claramente Jesus—Deus o Filho—é distinto do Pai, tendo sido enviado pelo Pai, que ora ao Pai e ama o Pai e assim por diante.
Podemos observar as mesmas coisas sobre o Espírito Santo. O Espírito Santo também foi enviado pelo Pai. Ele não é o Pai, e Ele não é o Filho. Mas Ele também não pode ser reduzido a uma mera força ou poder divino. Ele é uma pessoa. Ele é chamado Ele no pronome pessoa, e não “aquilo” no pronome neutro usado para coisas. Ele pode ficar triste. Ele pode ser provocado. Claramente, Ele é pessoal. Mas claramente Ele também é Deus. Quando Ele age, é Deus quem age.
E há muitos outros textos que podemos considerar:
- Quando você olha para o Antigo Testamento novamente da perspectiva do Novo Testamento, você descobre que essas coisas já foram reveladas lá, embora de forma menos clara.
- Já em Gênesis 1, Deus fala no plural: Ele diz: “Façamos o homem à nossa imagem”.
- Nos Salmos, e em outros lugares, você descobre que o Messias, o Salvador que foi prometido, claramente é o próprio Deus… mesmo que Ele também é um ser humano. Em Isaías 9, a criança que deveria nascer é chamada de “Deus Forte”. Em alguns dos Salmos, você descobre que Deus envia o Messias, mas que este Messias é o próprio Deus. O Salmo 45 é um dos salmos mais interessantes nesse sentido. O Messias, que é falado como Deus, é abençoado por Deus.
- Psa. 45:6–7: “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros.” A quem o salmista está falando?
- Por isso até muitos judeus entenderam que o Messias era de alguma forma divino, embora não entendessem como entender isso.
- Então nós vemos Deus Pai, Cristo Seu Filho e o Espírito Santo, e todos eles são apresentados na Bíblia como Deus , embora sejam indivíduos distintos.
- Você vê isso ainda mais claramente quando vê o Pai, o Filho e o Espírito Santo, todos juntos.
- No batismo de Jesus, em Mateus 3, você tem Jesus sendo batizado, e Deus Pai fala do céu, dizendo “este é o meu Filho amado”, e o Espírito Santo descendo sobre Jesus na forma de uma pomba. Todos os três estão lá juntos, e todos os três são claramente Deus… mas ainda assim, existe um só Deus.
- E, finalmente, se houver alguma dúvida, você também tem textos que falam de Deus como Pai, Filho e Espírito, juntos. Existem vários textos assim:
- Mateus 28:19, Jesus ordenou a seus discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”,
- 2 Coríntios 13:14: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.”
Então aqui está a pergunta: o que fazemos com esses textos?
Temos duas opções:
Podemos (1) procurar alguma maneira de fazer com que todos esses textos se encaixem de uma maneira que satisfaça nossa compreensão humana. É isso que toda heresia faz: reinterpretando textos para negar ou a unicidade de Deus, ou a divindade de Cristo ou do Espírito, ou a distinção das pessoas. Assim, alguns dirão que o Pai e o Filho são apenas modos diferentes ou manifestações diferentes de Deus, mas não pessoas verdadeiramente distintas; mas então eles acabam minimizando ou ignorando os textos que mostram a distinção das pessoas. O Filho ora ao Pai; o Pai e o Filho se amam; são coisas que não podem ser ditas modos sobre meros modos de existência, mas de pessoas.
Ou, (2) podemos receber a Palavra de Deus pelo que ela é – a Palavra de Deus! – e aceitar que Deus está além nossa compreensão. O que, realmente, não deveria ser um ponto controverso. Deveríamos ficar mais suspeito e desconfiado de alguma religião cujo deus não é além da compreensão humana.
Então aqui está a grande ideia: a doutrina da Trindade é muitas vezes descaracterizada como uma invenção da igreja, como se fosse uma construção humana; mas, na verdade, é exatamente o contrário. Nós nos apegamos a essa doutrina, não porque imaginamos que assim podemos explicar Deus, mas exatamente porque queremos resistir todas as tentativas humanas de explicá-lo e, em vez disso, queremos simplesmente confessar o que Deus nos revela em Sua Palavra, mesmo que esteja além de nossa compreensão. Tudo o que sabemos é que existe apenas um Deus, e que, dentro do ser de Deus, existem claramente três pessoas distintas. Não me pergunte como é que isso pode ser. Eu não sei. Mas não vou negar ou reinterpretar os textos, simplesmente porque minha mente não é capaz de compreender isso. Em vez disso, humildemente vou dizer: “Ele é Deus, e eu não.”
Então, quando somos confrontados nas Escrituras com um Deus que está além de nossa compreensão, devemos resistir ao impulso de sacrificar algumas partes das Escrituras às custas de outras partes para assim forçar Deus numa caixa lógica. Em vez disso, devemos simplesmente confessar o que As Escrituras nos ensinam, sabendo, e de fato esperando, que Deus é (e deve ser) além de nossa compreensão. É isso que a doutrina da Trindade se propõe a fazer.
3. O que isso significa para a nossa fé
Com isso dito, queremos finalmente pensar sobre as implicações desta doutrina para nossa fé e nossa vida cristã.
A realidade é que a fé cristã é fundamentalmente trinitária. Não há outra maneira de ser cristão. Retire todos os textos-provas e todos os argumentos, e você ainda terá Deus Pai enviando Deus Filho para morrer por nossos pecados e ressuscitar para nos dar uma nova vida, e Deus Espírito Santo nos unindo a Cristo, levando-nos à fé e transformando nossas vidas . Sem a Trindade, você não tem mais o Evangelho e não tem mais o cristianismo.
Mesmo que não possamos envolver nossas mentes em torno do Ser de Deus — pois somos apenas criaturas — mesmo assim, nossa fé repousa sobre esse fundamento mais essencial. Sem esta doutrina, não temos nada; ou melhor, temos uma religião totalmente diferente e um deus totalmente diferente.
O que diremos? Se Jesus não é Deus, então somos salvos pelo homem, e não por Deus? O que dizer então do cântico dos anjos, que “a salvação pertence somente a Deus”? Se não é Deus quem nos salva, então certamente estamos perdidos.
E não é surpreendente, então, que cada religião e seita que rejeita a doutrina da Trindade, acaba apresentando um Evangelho muito diferente. Segundo estas heresias, não somos salvos pela morte todo-suficiente de Cristo, mas sim por nossos esforços a nos aproximar a Deus e nos tornar igual a Ele. Cristo se torna apenas um exemplo para nós. Vivemos, não para glorificar a Deus por sua majestade e glória, mas para nós nos igualarmos a Ele por nossas próprias forças, e assim ser glorificado como Ele é.
Irmãos, que não façamos isso. Que não caiamos nesse erro. Em vez disso, permaneçamos comprometidos em buscar o único Deus vivo como Ele se revela na sua Palavra, e recebamos com gratidão a graça e salvação que Ele oferece gratuitamente em Cristo seu Único Filho. Sim, Ele está muito além da nossa compreensão. O que, afinal, esperávamos? Seus caminhos são mais altos que os nossos, e seus pensamentos mais elevados que nossos pensamentos.
Mas mesmo que não possamos entendê-lo, em Cristo, podemos sim conhecê-lo. Assim como uma criança pequena nem sempre entende a natureza do seu pai, nós, muito menos, compreendemos nosso Pai Celestial; mas isso não significa que não podemos conhecê-lo verdadeiramente, confiar nEle, e amá-Lo. A promessa de Cristo para nós é
John 14:6–7 “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto.”
Irmãos, embora ainda não tenhamos conhecido plenamente a Deus deste lado da eternidade, já temos esse vínculo de amor com Deus, aqui, embora ainda não perfeitamente, porque o amor de Deus é comunicado a nós, e somos trazidos a este amor, através do Espírito Santo. Isso nos transforma… e nos dá prazer e deleito para desfrutar a vida eterna com Deus já começando agora com a expectativa de experimentá-la plenamente na eternidade, para sempre… e isso nos enche já agora de amor para Cristo e para o Pai, que primeiro nos amou.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.