Leitura: Isaías 59.1-20
Texto: Dia do Senhor 6
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Nas últimas semanas, o catecismo tem nos guiado num estudo sobre o nosso pecado.
- O Dia do Senhor 2 olhou para a definição de pecado: como sabemos o que é?
- O Dia do Senhor 3 olhou para a origem do pecado: de onde ele veio?
- O Dia do Senhor 4 olhou para a resposta ao pecado: o que Deus, que é Santo, fará sobre o nosso pecado?
- E então, finalmente, o Dia do Senhor 5 (semana passada) considerou quais opções temos para escapar do julgamento de Deus.
Agora, se estamos pensando seriamente sobre essas coisas, essa provavelmente foi uma jornada dolorosa para nós. Quem quer pensar sobre o pecado? Mas estamos fazendo isso porque é necessário, e porque a Palavra de Deus nos chama a fazer isso. A Bíblia fala clara e frequentemente sobre a realidade do pecado. E você descobre enquanto lê que não se trata apenas de um grupo de pessoas em particular em um determinado momento da história, mas de algo que é fundamentalmente humano, que transcende as diferenças de raça, gênero, idioma e cultura. O pecado é uma condição humana: existe em você, e existe em mim. O pecado — e o julgamento de Deus contra o pecado — é nosso problema.
Agora, enquanto trabalhamos nestes Dias do Senhor, o catecismo tem sido especialmente útil para desmantelar certas “mentiras” que contamos a nós mesmos para aliviar nossos medos sobre o problema do pecado.
Por exemplo, no Dia do Senhor 3, fizemos a pergunta: “mas somos realmente tão corruptos?” Afinal, os seres humanos não são capazes de fazer bem também? Talvez não sejamos tão ruins assim.
O que descobrimos quando nos voltamos para as Escrituras, no entanto, é que Deus nos julga, não em uma curva – não nos comparando com outros pecadores – mas Deus nos julga da perspectiva de Sua perfeita santidade. E dessa perspectiva, Ele declara que somos gravemente corruptos. Ele é o único que é justo e o único que está qualificado para julgar a gravidade do nosso pecado, e ele não nos considera basicamente bons com apenas algumas falhas, mas profundamente maus. Gn 8:21, “É mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade.” Ec 9:3, “O coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem.” Jr 17:9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”
Deus considera nosso pecado como grave e mau; não é mero defeito ou imperfeição, mas uma condição profundamente decaída.
A segunda mentira que tivemos que renunciar é outra que muitas vezes contamos a nós mesmos, que apesar da gravidade do nosso pecado, Deus não vai nos punir. É a ideia de que Deus acabará por ignorar o nosso pecado – ou porque Ele tem outros casos mais sérios pra cuidar, ou porque Deus é amor e, portanto, seria fora de seu caráter punir o pecado. E vimos que isso também é uma invenção de nossas próprias mentes. Se estamos lendo as Escrituras honestamente, reconhecemos que Deus declara repetidamente que Ele não apenas leva nosso pecado a sério – e nós também devemos – mas que Ele certamente o punirá. Ele é misericordioso, mas também é justo.
Então, novamente, nosso objetivo aqui é permanecer honestamente diante da Palavra de Deus e nos desiludir de todas as mentiras que dissemos a nós mesmos para acalmar nossas consciências e acreditar que nossa situação é menos séria do que é. De qualquer forma, não nos faz bem a longo prazo nos consolarmos com inverdades, porque no final ainda estaremos diante do trono de julgamento de Deus, e esses argumentos não vão nos ajudar em nada. Então, nosso objetivo tem sido ouvir a Palavra de Deus agora, enquanto ainda nesta terra – já que Ele é misericordioso e gracioso – e procura dEle alguma maneira de sermos salvos.
O Dia do Senhor 5, então, trabalha para desmontar alguns dos falsos caminhos de salvação que a religião humana construiu. Esses falsos caminhos de salvação são construídos sobre as várias mentiras que contamos a nós mesmos.
Um falso caminho de salvação é o da justiça pelas obras. É a ideia de que o bem que fazemos pode superar o mal – e se isso acontecer, Deus nos recompensará como bons e não punirá nosso pecado. E isso se baseia em ambas as mentiras que vimos anteriormente: primeiro, a mentira de que nossos pecados não são tão ruins – que nossa dívida é algo que ainda podemos resolver por conta própria. E segundo, que o bom que fazemos compensa o mal que fizemos.
Mas a realidade que nossa dívida é muito maior de que imaginamos; e de toda forma, fazer o bem nunca compensa o mal que fizemos. A justiça não funciona assim.
Mas a Palavra de Deus é clara: não há um homem na terra que tenha feito mais bem do que mal; e mesmo se tivesse, o bem que ele fez ainda não removeria sua responsabilidade pelo mal que ele fez.
Então, novamente, estamos diante da Palavra de Deus, deixando Deus falar, na esperança de que Ele nos mostre Sua misericórdia; e estamos deixando de lado todo falso caminho de salvação, sabendo que eles não nos farão bem.
Lemos agora em Isaías 59, e é difícil encontrar uma passagem que enfatize essas verdades mais claramente do que esta. E embora isso foi escrito primeiramente para o povo de Deus, Israel, é igualmente relevante para todas as pessoas em todos os lugares. O apóstolo Paulo cita esses mesmos versículos em Romanos 3 e os aplica a toda a raça humana. É uma palavra que se estende a toda a humanidade.
Vamos escutar bem o que Deus nos diz aqui.
Primeiro, os versículos 1 e 2 apresentam o problema fundamental: o pecado nos separa de Deus.
Is. 59:1–2: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.”
O que Deus quer que saibamos em primeiro lugar é que nossos pecados nos separam de Deus. Nossos pecados são sérios, tanto que Deus não ouvirá as orações ou cuidará da “religião” de um povo impenitente.
Os versículos 3-8 descrevem então a natureza de nossos pecados. E é importante que reconheçamos que nesses versículos, Deus está chamando nosso pecado em Seus termos, não nos nossos. Quando Ele declara no versículo 3, “suas mãos estão cobertas de sangue”, Ele não apenas se refere a assassinos literais (embora isso certamente estivesse lá também); mas ele está falando ao povo de Deus como um todo, que participou de uma cultura assassina. Mesmo onde o assassinato real pode não ocorrer, há desrespeito pela vida e bem-estar dos outros e uma vontade de tirar vantagem dos outros, defraudar, fofocar, abrigar ódio, que acaba se esgotando, onde há oportunidade, em assassinato. Portanto, esta é uma palavra dirigida a todo povo de Deus.
Assassinato e engano não são apenas problemas de outras pessoas. São um problema humano. Eles são o resultado do egoísmo, inveja, ódio e assassinato que vivem no coração humano.
E a resposta piedosa a esta acusação de Deus está incorporada nos versículos 9-15, que não é negação, mas reconhecimento da veracidade da Palavra de Deus e da seriedade de nossa condição.
Is. 59:9: “Por isso, está longe de nós o juízo, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que há só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão.”
Esta é a admissão honesta de um homem que ouviu a Palavra de Deus, examinou seu próprio coração e reconheceu que essas palavras são verdadeiras.
“O juízo está longe de nós.”
O verdadeiro juízo: colocar o que é verdadeiro e correto acima do que é conveniente e interesseiro, é alheio à condição humana.
“A justiça não nos alcança.” Apesar de todas as nossas boas obras, nossos pecados parecem aumentar mais rápido ainda. A justiça para a qual Deus nos chama não é algo que podemos alcançar por nossa própria força.
“Esperamos pela luz, e eis que há só trevas”
Considere o chamado “iluminismo” dos séculos passados. A crença, especialmente no século 19, era que nós, como raça humana, saímos das trevas para a luz: através da razão, ciência e investigação, e que este era o alvorecer de uma nova era. E, em vez disso, tivemos o século mais sangrento e sombrio da história humana.
Versículo 11:
Is. 59:11–12: “Todos nós bramamos como ursos e gememos como pombas; esperamos o juízo, e não o há; a salvação, e ela está longe de nós. Porque as nossas transgressões se multiplicam perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniquidades.”
Versículo 14 (estou pulando alguns versículos por causa do tempo, mas cada versículo aqui vale a meditação e o exame honesto da alma); versículo 14:
Is. 59:14: “O direito se retirou, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar.
As pessoas sempre falam como os políticos são corruptos. Mas os políticos são corruptos porque vem de uma população corrupta. São humanos.
Você lê o livro de Reis e vê uma longa história de esperança por um rei justo que conduzirá o povo de Deus em retidão, e é apenas uma decepção após a outra. Até os melhores — Davi, Josias, Ezequias — ainda eram demasiadamente humanos.
“A verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar.”
Somos simplesmente incapazes de nos salvar. Somos incapazes de colocar a humanidade em uma trajetória melhor. Por todos os esforços que fizemos – na ONU, por exemplo – muitas vezes é a própria ONU que é responsável por perpetrar as maiores injustiças. A maior injustiça que ocorreu no século passado é o holocausto do aborto, onde muito mais vidas foram perdidas do que em qualquer outra guerra ou genocídio, e a própria ONU é uma das maiores promotoras desse mal.
Não somos capazes de nos salvar. Essa é a mensagem fundamental deste capítulo. Nossa condição é muito decaída, muito desesperada, muito má, para que possamos nos salvar.
O versículo 15 (b) é então o ponto de virada neste capítulo.
O Senhor viu isso e desaprovou o não haver justiça (literalmente, “era mau aos Seus olhos”). Viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor.”
Deus olhou para a raça humana e se entristeceu pelo fato de que a justiça estava totalmente ausente, e Ele viu que não havia ninguém na terra que pudesse interceder pela raça humana.
Nosso catecismo pergunta: que tipo de mediador e libertador devemos buscar?
Sabemos que Ele deve ser um homem verdadeiro; Ele deve ser um de nós. Deus não punirá alguém ou alguma outra coisa pelo nosso pecado.
Mas o que Deus nos mostra neste texto é que se Ele procurasse as fileiras da humanidade procurando por tal pessoa, ele nunca encontraria uma. Não há um homem na terra justo o suficiente para estar diante de Deus e defender a causa da humanidade caída e pecaminosa. Não podemos nos salvar.
E é isso que queremos levar a sério nesta tarde. A salvação, se vier a nós, só virá a nós da parte de Deus. Só Deus pode nos salvar. Se Deus não nos salvar, estaremos totalmente perdidos.
Há muitas razões pelas quais estamos convencidos de que o salvador precisa ser divino – não apenas um verdadeiro homem, mas também totalmente Deus. Como o catecismo aponta, nenhuma mera criatura pode sustentar a ira de Deus contra o pecado.
Mas, além disso, se há algo que as Escrituras nos ensinam repetidamente, é que somente Deus pode nos salvar. Está em toda a Bíblia, do começo ao fim. A salvação pertence somente a Deus.
Os judeus que esperavam pelo Messias ainda não tinham uma compreensão completa de como as naturezas Divina e Humana se uniriam nesta única pessoa, mas eles sabiam que o Messias teria que ser, em algum sentido, uma figura Divina, porque a Salvação poderia vir somente de Deus.
E é exatamente isso que vemos na segunda parte do versículo 16:
Is. 59:16–17: “Viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve. Vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se cobriu de zelo, como de um manto.”
O que confessamos neste Dia do Senhor sobre as duas naturezas de Cristo não é apenas teologia abstrata para satisfazer nossas mentes lógicas. De fato, de muitas maneiras, desafia lógica, que Deus e o Homem devam se unir em uma pessoa.
Mas é confessar o que vemos aqui nas Escrituras: que somente homem pode interceder pelo homem, mas somente Deus pode salvar.
Isso é o que Deus juntou na pessoa de Cristo.
E essa verdade deve despertar em nós uma profunda admiração pela profundidade do amor que Deus mostrou para com a raça humana indigna. Embora Deus não nos deva nada, ainda assim, por amor a Ele mesmo, porque fomos totalmente incapazes de nos libertar, o próprio Deus veio a este mundo para nos trazer a salvação.
Esse é o evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus, em quem — para usar a linguagem de Colossenses 1 — habitou a plenitude de Deus. Porque estávamos perdidos; porque fomos totalmente incapazes de nos salvar, Deus, em Jesus Cristo, entrou em nosso mundo, tornou-se um de nós, viveu uma vida justa em nosso meio e então foi para a cruz para satisfazer a justiça de Deus e Sua ira justa contra nossos pecados, para responder às exigências de Sua própria justiça ao custo de Sua própria vida, para que não tenha que vir à custa da nossa.
Essa é a obra graciosa e misericordiosa de Deus. Essa é a única maneira pela qual seremos salvos. Não minimizando nosso pecado. Não subestimando a justiça de Deus. Não fingindo com as religiões do mundo que podemos com nossas próprias forças compensar nossas más obras com as boas, em nossos próprios termos e por nossas próprias definições. Mas voltando para Deus como pecadores desamparados e sem esperança, e nos lançando sobre Sua misericórdia – e assim descobrindo que Ele já abriu um caminho para nós, vindo a nós na pessoa de Jesus Cristo, para pagar o preço pelos nossos pecados e dar seu Espírito para criar uma nova vida em nossos corações que estavam espiritualmente mortos. E assim, através da obra perfeita de Deus, com base no que Ele fez por nós, Ele agora também acolhe a nós que cremos Nele e confiamos Nele, para a vida eterna.
Irmãos, e quaisquer convidados que possam estar entre nós: se você está procurando por vida e paz com Deus em qualquer outro lugar que não seja a morte e ressurreição de Cristo, você está procurando no lugar errado. Se você está se agarrando à esperança de que pode ganhar seu próprio caminho, ouça a Palavra de Deus e reconheça que é uma esperança vã e até mesmo uma esperança ofensiva diante de Deus. Se a salvação vier, ela virá de Deus.
É a conclusão de que o Salmo 130 também chega (se desejar, vá para o Salmo 130). O Salmo 130 é o clamor do pecador, olhando para Deus:
Das profundezas clamo a ti, SENHOR.
Escuta, Senhor, a minha voz;
estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas.
Se observares, SENHOR, iniquidades,
quem, Senhor, subsistirá?
(você ouve o mesmo reconhecimento honesto de nossa desesperança e desamparo, que é o que focamos na semana passada.) Mas então o salmista diz:
Contigo, porém, está o perdão,
para que te temam.
(versículo 5) Aguardo o SENHOR, a minha alma o aguarda;
eu espero na sua palavra.
A minha alma anseia pelo Senhor
mais do que os guardas pelo romper da manhã.
mais do que os guardas pelo romper da manhã,
Espere Israel no SENHOR,
pois no SENHOR há misericórdia;
nele, copiosa redenção.
É ele quem redime a Israel
de todas as suas iniquidades.
O salmista, naquela época, escrevendo no Antigo Testamento, não sabia como Deus iria fazer isso. Ele não sabia exatamente o que Deus faria para redimir Seu povo. Mas ele reconheceu que, se a redenção viesse, viria de Deus. A única esperança para os pecadores está na intervenção e resgato por Deus.
Se a salvação vier, ela virá de Deus. E veio em Jesus Cristo.
Nas próximas semanas, o catecismo vai olhar em detalhes a pessoa e a obra de Cristo. E os dois princípios que ela enfatizará mais fortemente (porque as Escrituras assim os enfatizam) são as verdades de que (#1) Jesus Cristo é verdadeiramente um de nós, um homem e, portanto, capaz de se colocar no lugar dos homens; e (#2), que Ele é total e inegavelmente Deus e, portanto, capaz de nos salvar.
O debate sobre a divindade de Jesus não é apenas um debate teológico marginal. No fundo, é um debate sobre se nós podemos salvar a nós mesmos ou se essa salvação somente vem de Deus. A forma como respondemos a essa pergunta tem implicações eternas. E as Escrituras são muito claras em sua resposta a essa pergunta.
É um debate também sobre quem deve receber a glória por nossa salvação: se podemos nos dar palmadas nas costas por sermos bons cristãos e assim alcançar a justiça de Deus e equilibrar a balança da justiça por nossas próprias forças; ou se devemos cair de joelhos e dar a Deus a glória que Ele merece por fazer o que somente Ele poderia fazer.
Tome a sério, então, o que a multidão de pessoas redimidas clama em Apocalipse 7:10:
“Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.”
E novamente em Apocalipse 19:1:
“Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus.”
A salvação pertence a Deus, mas Ele a dá gratuitamente a nós em Jesus Cristo. Ouça a voz dele. Abandone qualquer outro pensamento, argumento e esperança vã. E venha a conhecer a Deus em toda Sua justiça e santidade, e também nas profundezas de Sua misericórdia e amor.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.