Leitura: 2 Samuel 11, Miquéias 2, Tiago 1.12-18
Texto: Dia do Senhor 44
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Um dos aspectos mais básicos de nossas vidas é o fato e a realidade de limites. Todos nós entendemos isso. É uma das primeiras coisas que temos que ensinar aos nossos filhos: que existem certas coisas que estão fora dos limites, que existem coisas que eles podem fazer e coisas que não podem fazer, lugares que podem ir e lugares que não podem. Os limites são uma parte essencial da nossa existência, tanto que nem seríamos capazes de imaginar como é viver como um ser humano sem limites. Temos nossos limites pessoais – espaço pessoal que deve ser respeitado. Temos os limites da lei – o que pode e não pode ser feito. Temos limites geográficos, conhecidos como fronteiras, que definem nosso país.
E os limites são importantes. Sem eles, a vida seria caótica. Se os limites que marcam nossa casa e nossa propriedade não fossem respeitados, então não haveria minha casa ou sua casa, meu espaço ou seu. Qualquer um que quisesse poderia entrar pelas portas. Ou retire as portas completamente. Se os limites que constituem a lei não fossem respeitados, a vida seria caótica e impossível de se viver. Se as fronteiras geográficas fossem apagadas, as leis perderiam o sentido e não teríamos mais um país onde a lei se aplicasse. Portanto, os limites são importantes.
E uma das coisas que aprendemos com as Escrituras é que essa realidade de limites não é apenas um acidente da história humana, mas é parte do projeto da criação de Deus. Encontramos em Gênesis 1 que Deus valoriza os limites. Na criação, ele fez distinções entre uma coisa e outra. Ele estabeleceu uma fronteira entre o céu e o oceano, e novamente entre o oceano e a terra seca. Ele fez o homem homem e mulher, com distinções entre eles. E Ele também estabeleceu limites para eles. Ele deu a eles todas as árvores do jardim, exceto uma – a árvore do conhecimento do bem e do mal – e disse-lhes que aquela estava fora dos limites.
Irmãos, chegamos ao 10º mandamento – o último mandamento da lei de Deus – e este mandamento é fundamentalmente sobre limites – sobre respeitar e honrar o que está fora dos limites e não violar esses limites. Agora, esse princípio está lá em cada um dos mandamentos, é claro – mas o décimo mandamento pega esse princípio e o aplica, não para onde vamos com nossos pés ou o que fazemos com nossas mãos ou o que dizemos com nossas palavras, mas para o que fazemos na privacidade de nossos corações. Deus coloca limites ali também. Isso torna este o único mandamento que realmente não pode ser aplicada à força, porque ele lida com nossos corações e com o que vive em nossos corações e desejos.
Agora, novamente, como em todos os mandamentos, nosso objetivo esta tarde, ao meditarmos sobre este mandamento, é entender que Deus está colocando diante de nós uma vida de liberdade – que agora que Ele nos libertou da idolatria e da escravidão ao pecado através da cruz de Cristo, o propósito de Deus é que sejamos livres, e o propósito da lei é nos ensinar o que significa ser livre, como é ser livre, e como ainda há de crescermos em deixar as correntes da escravidão ao pecado, e viver na alegria da liberdade com Deus. Vimos isso com o 9º mandamento na semana passada, como a mentira é uma armadilha que nos rouba a liberdade. Portanto, queremos manter isso em mente com este comandante também, que o propósito de Deus é nos ensinar como viver como um povo livre.
O significado do mandamento
Com o décimo mandamento, queremos começar certificando-nos de que entendemos o que esse mandamento significa. A palavra usada na lei em Êxodo 20 que é traduzida como “cobiçar” é uma das várias palavras hebraicas que significam “desejar”, mas há uma nuance aqui que é importante entendermos. Na versão dos Dez Mandamentos registrada em Deuteronômio 5 (se os irmãos lembram que os 10 mandamentos estão registrados em Êxodo 20 e também em Deuteronômio 5), o 10º mandamento usa duas palavras diferentes, que a ARA traduz como “cobiçar” e então “desejar.”
E há uma diferença entre essas duas palavras. Agora, uma vez que ambos são usados no décimo mandamento em Deuteronômio 5, obviamente eles não significam algo totalmente diferente, mas é útil observar uma pequena diferencia entre essas duas palavras. Uma das palavras – a palavra hebraica mais comum para “desejo” geralmente se refere a desejos naturais, impulsivos, ou podemos dizer desejos “impensados”. Desejos que não foram escolhidos conscientemente. Por exemplo, desejo por comida, água ou até coisas como dinheiro – coisas que as pessoas desejam naturalmente, sem necessariamente terem feito a decisão de desejá-las.
Mas a outra palavra – e esta é a palavra que é usada aqui em Êxodo 20 geralmente se refere a coisas que você conscientemente determina desejar. Para ser ainda mais preciso, a palavra se refer a uma escolha deliberada feita dentro do coração que diz: “Eu gostaria de ter essa coisa e estou disposto a entreter a questão em meu coração de como posso conseguir essa coisa.”
Nesses casos, há um movimento definitivo que ocorre dentro de nossos corações onde vamos de “ei, olha aquela coisa” para “sabe o que, eu posso ter isso se eu quiser”. Há um momento de decisão e transição desde observar algo desejável até entreter a ideia de obtê-lo. Esse momento pode durar apenas meio segundo, ou menos, mas ainda assim, há uma decisão que ocorre naquele momento que nos coloca em um caminho que leva a – se possível – adquirir aquilo que desejamos.
Vemos isso tão claramente na história que lemos em 2 Samuel 11, onde Davi, passando o tempo em casa enquanto os homens estavam em guerra, observou a esposa de seu vizinho tomando banho e, dentro da privacidade de seu coração, tomou uma decisão para prosseguir a obtê-la, se possível. Em algum momento, uma fronteira foi cruzada. Em algum momento, Davi tomou a decisão, dentro de seu coração – quer ele percebesse ou não – onde ele passou de observar para então contemplar para então decidir descobrir se aquela mulher era adquirível.
Você percebe, David ainda não decidiu se ele realmente iria pegá-la para si mesmo. A obtenção ainda estava em fase de “investigação”. Então ele primeiro enviou seu servo para descobrir de quem ela era esposa. Mas, em princípio, a decisão já estava feita. Se possível, vou tê-la pra mim mesmo.
É isso que é cobiça.
Agora, talvez seria útil para nós fazer uma distinção entre a inveja e a cobiça.
- A inveja é o desejo por algo que outra pessoa tem, junto com um ressentimento ou até ódio contra essa pessoa por tê-lo. Não é apenas um desejo pelo que eles têm, mas um ódio por eles ou ressentimento contra eles porque eles têm e você não. Neste sentido, a inveja é diferente da cobiça. A inveja não requer que eu seja capaz de realmente obter o objeto. Posso ter inveja de alguém por causa da sua boa aparência, ou inteligência, ou casamento, ou outra coisa, mesmo que não é nem possível eu ter a mesma coisa para mim. Então basicamente, a inveja diz: “Enquanto eu não tiver, você também não pode”.
- Você pode pensar em alguns exemplos de inveja na Bíblia?
- Talvez a mais chocante seja a história de Caim e Abel, né? Abel teve a sabedoria de oferecer um sacrifício agradável a Deus e, em vez de seguir a liderança de seu irmão e fazer o mesmo – como Deus exortou Caim a fazer – ele ficou com inveja de seu irmão e o matou. “Enquanto eu não tiver, você também não pode”—esta é a linguagem da inveja.
- A inveja é realmente um dos comportamentos mais irracionais do ser humano – um verdadeiro testamento da depravação do coração humano – porque nos rouba qualquer contentamento ou alegria que poderíamos ter e nos torna infelizes literalmente sem nenhum benefício. Vocês que têm filhos já sabem disso muito bem. Você compra um presente para cada um de seus filhos e, se eles não forem exatamente a mesma coisa, o que é que acontece? Você já sabe. Eles vão olhar um para outro pra ver o que o outro recebeu, caso tenha sido algo melhor do que o que eles receberam. É completamente irracional, mas mostra o egoísmo – a auto-adoração – que existe dentro de nós. Nós pensamos que merecemos o máximo e o melhor de tudo, e não podemos suportar se alguém tiver algo de bom que nós não tem. Isto é inveja.
- Provérbios 14:30 diz: “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos.”
- Outro exemplo famoso de inveja na Bíblia é a inveja dos fariseus e líderes religiosos contra Jesus. Os Evangelhos de Mateus e Marcos nos dizem que até Pilatos percebeu que foi por inveja que eles haviam entregado Jesus a ele. Foi sua popularidade, sua influência entre o povo, que os levou a odiá-lo – de modo que, por fim, eles inventaram uma maneira de matá-lo. E, novamente, é uma coisa totalmente irracional. Em vez de confessar sua hipocrisia e se arrepender e se voltar para Deus, eles escolheram matar Jesus. Isso é inveja. “Enquanto eu não tiver, você também não pode.”
- Agora, a cobiça é algo diferente Como já falei, a cobiça é um desejo pelo que pertence ao próximo e uma disposição de tomá-lo, se possível.
- Assim a cobiça é diferente da inveja. Não é necessariamente ressentido. Você pode cobiçar a casa do seu vizinho, mas sem ter nenhum mal-estar contra ele por tê-la; você pode até desapossá-lo de algum modo e ainda ficar feliz mais tarde em descobrir que ele encontrou alguma outra coisa melhor. Pensamos por exemplo no Rei Acabe em 2 Reis 21, que cobiçou o campo de Nabote, o jizreelita, mas estava disposto a pagar um bom preço por ele, até um preço melhor do que valia, para que Nabote pudesse comprar algo melhor. Só se tornou uma questão de ressentimento pessoal quando Nabote recusou o acordo, e se tornou uma questão de cobiça quando o rei Acabe começou a considerar a possibilidade de tirá-lo de Nabote.
Como vimos antes, então, cobiçar é mais do que apenas “desejo.” É uma decisão dentro do coração a desejar algo, o que quer dizer que há uma certa escolha envolvida. E sempre se refere às coisas que estão fora dos limites. Então, se você for para a casa do seu vizinho e gostar da casa e desejar morar lá, e então você faz uma oferta a ele, e ele aceitar, isto é cobiça? Não. Não há pecado aí. Mas se ele não quiser vender, e você ainda entretém a ideia em seu coração de descobrir uma maneira de tirar a casa dele, então naquele momento se tornou cobiça e pecado – porque você cruzou uma fronteira em seu coração. Você considerou aquilo que é dele como potencialmente o seu, se conseguir descobrir uma maneira de tomá-lo. E assim, mesmo que (até agora) ainda foi apenas dentro dos limites do seu coração, você já violou a propriedade do seu vizinho.
Da mesma forma a esposa do seu próximo – neste caso, não tem uma maneira legítima de você levá-la (ele não pode vendê-la); mas aqui também a cobiça envolve a violação de um limite. Cobiçar é mais do que apenas notar ou apreciar sua beleza, ou mesmo (se você for solteiro) desejar um dia ter uma esposa como ela; mas é – não importa quão pequeno ou sutil seja o impulso – desejar ela ela e nutrir a ideia de, de alguma forma, tê-la para você.
Então isso é cobiça.
E o que precisamos ver aqui é que a questão-chave aqui é esta ideia de cruzar uma fronteira moral dentro do seu coração. É por isso que o catecismo não restringe seu tratamento deste mandamento às coisas que pertencem ao nosso próximo, mas ele estende esse princípio a qualquer desejo contra qualquer um dos mandamentos de Deus. Você pergunta, “o que isso tem a ver com cobiça?” É o seguinte: a questão central aqui é a disposição e a decisão (consciente ou não) de cruzar uma fronteira dentro de seu coração – dentro de seus desejos – que você não deveria ter cruzado; para abrigar em seu coração o que você não deve abrigar.
É por isso que esta mesma palavra para “cobiça” (que é usada em Êxodo 20) também é usada para Eva em Gênesis, quando Satanás a tentou. O texto diz que ela viu que o fruto que Deus proibiu era “desejável” – é a mesma palavra usada lá – mesmo que não tem nada a ver com algo pertencente ao seu vizinho. Ela achou aquela fruta desejável e aí cruzou uma linha dentro do seu coração quando começou a pensar em obtê-lo.
Da mesma forma, se vocês se lembrarem da história de Jericó – a cidade ímpia que Deus dedicou à destruição total e total – e Deus proibiu os israelitas de saquearem qualquer coisa daquela cidade. Era pra ser completamente destruído – seu povo, seu gado, suas paredes e até mesmo seu ouro e prata. Foi proibido. Mas um dos israelitas, este homem Acã, “cobiçou” o ouro e a prata, quando pôs os olhos neles e decidiu tomá-los. É esta mesma palavra. E se vocês se lembram da história, este homem Acã finalmente foi descoberto, e admitiu que quando viu uma bela capa de Shinar, e 200 siclos de prata e uma barra de ouro pesando 50 siclos, então ele os “cobiçou” e os pegou.
É o mesmo problema. Em algum momento, um limite foi cruzado em seu coração. Ele deveria considerá-los como pertencentes apenas a Deus e dedicados à destruição, mas o pensamento cruzou sua mente “Eu poderia ter estes” e o resto é história. Então, esta questão da cobiça – embora o décimo mandamento apenas mencione o que pertence ao nosso próximo é realmente sobre nossos corações, e lida com todos os Mandamentos de Deus.
Então deixe-me perguntar a você: tem coisas que Deus proibiu, que você permitiu que sua mente acalentasse a ideia de obter? Você ainda pode estar muito longe de consegui-lo, com todos os tipos de obstáculos a cruzar; mas você se permite entreter a idéia de obtê-lo? Se for, então você já cruzou um limite muito sério dentro do seu coração. E onde você está agora, a única coisa que o separa do roubo, ou assassinato, ou adultério, ou seja o que for, é o tempo e a oportunidade. Você está em um lugar muito perigoso. Você já está transgredindo. E você já está em pecado contra Deus.
O coração que cobiça
E esse é o segundo ponto que queremos considerar: a condição do coração que cobiça.
Vou dizer de forma simples: o coração que cobiça é um coração que está longe de Deus.
O coração que está disposto a cobiçar, a transgredir os limites dentro do seu coração, onde ninguém pode ver (ainda), é um coração que já está vivendo longe de Deus.
Porque Deus conhece o coração. Deus vê o limite que foi cruzado. Deus sabe o que você se permite desejar e entreter em sua mente. E o coração que cobiça é um coração que diz: “Não me importo se Deus vê.” “Contanto que eu possa esconder isso dentro do meu coração, ou contanto que eu consiga guardar esta fantasia sem ninguém ver, tudo bem para mim.” Esse é um coração que está longe de Deus.
Você vê isso claramente no exemplo de Davi com Bate-Seba. Ele a viu, e deveria ter se afastado imediatamente, mas em vez disso estava disposto a olhar, quando ninguém mais o visse, e então ele começou a pensar sobre a possibilidade de tomar ela. Ele investigou. (E talvez ele deu a desculpa para si mesmo naquele momento: “Não, só quero saber quem é, só isso. só tou curioso.” Nós nos enganamos o tempo todo assim.) Mas ele enviou seu servo para descobrir, e—sendo honesto consigo mesmo ou não—seu coração e sua mente já estavam caminhando para um objetivo, e esse objetivo era o adultério. Então, depois de descobrir quem ela era, ele a chamou. E quando ela chegou, ele a seduziu. (É aquela história que a pessoa diz depois, “não sei, tudo aconteceu tão rápido, eu não estava realmente pensando…”—mas estava sim. A razão de tudo parecer ter acontecido tão rápido é porque você estava mentindo a se mesmo o tempo todo sobre seus verdadeiros objetivos. O pecado já foi cometido em princípio desde o início.)
E então, depois de engravidá-la, Davi tentou esconder seu pecado fazendo com que Urias voltasse para casa e dormisse com ela também. E quando isso não funcionou, ele mandou matar Urias.
E assim, quando Davi finalmente foi confrontado pelo profeta Natã, já tinha passado pelo menos nove meses, porque a criança já havia nascido. E assim, por nove meses—no mínimo—Davi estava conspirando, planejando, cobiçando, pecando, violando, cruzando fronteiras e, em resumo, vivendo muito, muito, muito longe de Deus. Por nove meses. Escondendo-se de Deus. Fugindo do Espírito de Deus. Não deixando seu coração ser examinado por Deus. Representando o exterior da religião, enquanto nega Deus interiormente.
E é por isso que, quando Davi finalmente foi confrontado pelo profeta Natã, e Davi finalmente reconheceu seu pecado – e Deus finalmente o quebrou, qual era sua oração no Salmo 51? Não foi apenas: “Deus me perdoe pela culpa do derramamento de sangue” … mas também “Deus, cria em mim um coração puro!” Cria em mim um coração puro. Porque meu coração não está. É um coração sujo que tem passado muito tempo longe, longe de Ti. E nada vai me salvar até que Tu renoves um espírito inabalável dentro de mim.
O coração que está disposto a cobiçar é um coração que está longe de Deus.
No Novo Testamento, a palavra para “cobiça” (que é a mesma palavra para ganância – é um conceito compartilhado no grego) – a palavra para “cobiça” e “ganância” está intimamente ligada ao conceito de idolatria. Em três passagens diferentes, a conexão é feita:
- Col. 3:5: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria.”
- Eph. 5:5: “Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.”
- 1 Cor. 5:11: “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.”
O que a ganância e a cobiça têm em comum é que ambas proclamam: Eu vou conseguir para mim o que eu puder. Farei tudo que puder—seja lícito ou não—para conseguir para mim mesmo o que eu quiser.
É uma questão de auto-adoração. É uma questão de idolatria.
O coração que cobiça é um coração que está longe de Deus.
E, claro, o coração que cobiça também é um coração que está longe do seu próximo. Deus nos criou para viver em comunidade, em comunhão, para amar o nosso próximo e desfrutar de amizade e comunhão. Mas você não pode fazer isso quando está vivendo por se mesmo. Então, o coração que cobiça é um coração que vive longe do seu próximo.
Temos uma representação gráfica realmente feia disso no capítulo 2 de Miquéias. O capítulo é dirigido aos ricos e poderosos em Israel, e fala sobre a questão da cobiça:
Mic. 2:2: “Se cobiçam campos, os arrebatam; se casas, as tomam; assim, fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança.”
Aqueles que cobiçam, quando têm oportunidade, roubam campos, roubam casas, roubam heranças; eles defraudam aqueles que confiam neles. Versículo 8:
“Além da roupa, roubais a capa àqueles que passam seguros, sem pensar em guerra.”
E este capítulo nos ajuda a avaliar o quão triste e feio isso realmente é. O resultado de sua cobiça é que eles mandam mães e crianças para fora de suas casas: você transforma crianças inocentes em moradores de rua. Você rouba deles o prazer de ter sua própria casa. Muito bem, você venceu. Quem morre com mais brinquedos vence, não é? Você venceu.
É feio, é triste.
E na realidade não dá alegria nem satisfação a quem o faz. Eles violam seu vizinho e não ganham nada com isso. Porque é assim que o pecado funciona, não é? É idolatria. São ídolos, falsos deuses, fazendo promessas que não podem cumprir; e corações idólatras, vendidos ao pecado, escolhendo seguir estes deuses.
E no final, isso leva à morte.
O apóstolo Tiago nos dá uma imagem gráfica disso em Tiago 1.
O pecado começa com o desejo. Aqui, deste mesmo desejo perverso de que já falamos – não desejos legítimos que são buscados de maneiras providenciadas por Deus – mas desejos que violam a vontade de Deus – que cruzam essa fronteira.
E esse desejo, diz Tiago, dá luz ao pecado. Enquanto ele permanece no confinamento do coração, esse pecado está crescendo, se desenvolvendo, tomando forma. Como diz o salmista no Salmo. 36:1-2, 4:
“Há no coração do ímpio a voz da transgressão; não há temor de Deus diante de seus olhos. Porque a transgressão o lisonjeia a seus olhos e lhe diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta, nem detestada…No seu leito, maquina a perversidade, detém-se em caminho que não é bom, não se despega do mal.”
O desejo dá à luz o pecado. De repente, ele aparece, e é por isso que costumamos dizer “tudo aconteceu tão rápido” – sim, aconteceu tão rápido porque você estava planejando e alimentando por meses e meses antes. Aconteceu tão rápido porque você já havia se treinado mentalmente para isso, entretendo-o mil vezes antes em seu coração.
E finalmente aquele pecado, diz Tiago, quando está totalmente crescido dá à luz a morte.
Para Davi, aquele pequeno pecado começou com: “deixe-me descobrir quem é essa mulher”. E acabou em morte. Morte por Urias. Morte para o bebê. Morte para boa parte da descendência de Davi.
O coração que cobiça está caminhando pela estrada que leva à morte. E é por isso que a fronteira nunca deveria ter sido cruzada no início. Se você tivesse escolhido sair dessa estrada no começo, quando ela ainda era pequena, você poderia ter seguido um caminho muito diferente.
E irmãos, se é aí onde você está, então Deus está chamando você, impelindo você a sair dessa estrada agora, enquanto você ainda pode.
Encontrando liberdade
Bom, temos que encerrar.
Aqui está o problema: este último mandamento chama nossa atenção para o coração – talvez o único lugar para onde não estamos prontos para ir.
Talvez seja por isso que, em Romanos 7, quando o apóstolo Paulo reflete sobre a lei e como a lei expõe o pecado, ele menciona especificamente este mandamento. Talvez tenha sido este mandamento que finalmente quebrou seu orgulho exterior e o fez enxergar o miserável coração idólatra dentro dele.
Vimos que Deus deu a lei para nos mostrar a vida que é livre. Vimos que o coração de Deus e o propósito de Deus para nós é que vivermos livres. Que o pecado é uma escravidão que rouba nossa alegria e nos põe num caminho que leva à miséria e à morte. Espero que nas últimas semanas, ao meditarmos na lei de Deus, tenhamos crescido em nossa compreensão dessa liberdade … e em nosso desejo por essa liberdade. Que vimos o quanto precisamos dessa liberdade; como fomos feitos para essa liberdade; como o pecado destrói essa liberdade.
Mas no processo, conforme a lei nos instrui no caminho da liberdade, a lei também expõe o pecado em nossas vidas – áreas em nossas vidas que não estão bem com Deus – áreas em nossos corações que não estão vivendo perto de Deus, mas longe dEle.
Onde for esse o caso, irmãos e irmãs, isso precisa ser tratado pelo Evangelho. É aí que começa a liberdade. Não há liberdade em se agarrar ao exterior caiado enquanto o interior continua morto, escravizado, e corrompido. Não encontramos a liberdade fazer apenas alguns ajustes aqui e ali. “Os olhos do Senhor, diz o Salmo 37, estão voltados para os justos – para os limpos – e Seus ouvidos estão abertos à oração deles; mas a face do Senhor é contra os que praticam o mal.”
Então, onde a lei expôs o seu pecado, isso precisa ser tratado pelo Evangelho. Confessem seus pecados a Deus. Coloquem seus pecados ao pé da cruz. Reconheçam que Cristo morreu aquela morte terrível na cruz para pagar o preço por seus pecados, e creiam na promessa de Deus de que aqueles que se voltam para Ele em arrependimento e tristeza pelo pecado, e colocam sua confiança Nele, serão verdadeiramente perdoados, agora e para sempre.
A verdadeira liberdade precisa começar aí. Como os israelitas, a liberdade começa com a saída do Egito, que custou o cordeiro pascal – simbolizando a morte de Cristo.
Não se encontra a liberdade apenas “consertando algumas coisinhas.” Fazendo algumas pequenas mudanças em sua vida. A liberdade se encontra ao se entregar totalmente e incondicionalmente a Deus na cruz de Cristo. Ao reconhecer: “Eu mereço estar lá. Essa é minha cruz. Meu Salvador morreu lá por mim. Ele suportou a punição por este coração cobiçoso e transgressor.”
E é apenas quando estivermos ali, no perdão comprado por nós pelo sangue de Cristo, que podemos então começar a aprender como andar na liberdade que Ele coloca diante de nós.
E é isso que Cristo enviou Seu Espírito para nos ajudar a fazer.
Como vimos no início, no Dia do Senhor 32, antes de começarmos nossa jornada pelos 10 mandamentos, Cristo morreu para nos salvar não apenas da culpa do pecado, mas do próprio pecado; e para isso, Ele nos dá Seu Espírito. Não haverá liberdade do pecado, exceto pelo poder do Espírito de Deus, vivendo dentro de você. Para viver uma nova vida, precisamos do mesmo poder de ressurreição de que Cristo precisava para sair da sepultura.
E para isso, então, precisamos clamar a Deus. Não é isso que diz o catecismo? Por quê pregamos os mandamentos tão estritamente? Não somente para que busquemos mais avidamente o perdão dos pecados e da justiça em Cristo, mas também para que, “enquanto oramos a Deus pela graça do Espírito Santo, nunca possamos deixar de nos esforçar para sermos mais e mais renovados segundo Deus imagem.”
Se começamos a ver a beleza da lei de Deus e a vida que é livre – para amar a Deus e amar nosso próximo como fomos criados para fazer – então precisamos orar pela graça e poder do Espírito Santo para trabalhar em nós. Isso é algo que acontece aos poucos, dia por dia, onde dia por dia nos afastamos do pecado, nos voltamos para Deus, e encontramos a liberdade e a vida. E a promessa da lei é: Deus pode fazer isso em seu coração também. E Ele sim o faz, para todos os que estão unidos a Cristo pela fé. Ele faz. Ele muda você. Ele renova você. Nem todo o caminho para a perfeição, ainda; não nesta vida; mas, no entanto, verdadeiramente, profundamente, significativamente. E isso vale a pena. É difícil, às vezes é doloroso quando o pecado é extirpado e cortado para fora de nossos corações. Mas vale a pena, mil vezes mais.
A mensagem da lei começa com a promessa: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, que te libertou. E vós sois o meu povo, minha herança preciosa, meus filhos, a quem encherei com meu Espírito, para viverem como meus filhos neste mundo, para serem verdadeiramente livres.”
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.