Leitura: Provérbios 4, 1 Samuel 2:22-36, Efésios 6:1-9
Texto: Dia do Senhor 39
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Ao estudar os Dez Mandamentos, talvez você já notou como a lei de Deus é totalmente contracultural em nossa cultura moderna. E realmente é. Já quando Deus deu a lei ao povo de Israel, recém-liberto do Egito, a lei era contra-cultural. A lei foi dado para ensinar uma nova vida, uma vida completamente diferente daquela que eles viviam no Egito. Da perspectiva da Lei de Deus, a nossa vida anterior—a vida do mundo ao nosso redor—é escravidão. Escravidão a ídolos, vaidades, e ilusões. E a mesma é verdade em nossa cultura também. Deus nos ensina a Sua Lei, e é algo totalmente diferente do que nós vemos no mundo, em uma cultura que está presa à morte e perdida nas trevas.
E isso é muito claro com respeito a este, o 5º mandamento, no qual Deus nos chama a honrar nossos pais e mães. Vivemos em uma cultura onde a juventude é idolatrada e colocada como a meta e glória da vida; e onde a velhice e até mesmo a meia idade são vistas com desprezo como algo ultrapassado e irrelevante. A nossa cultura olha para os jovens como fonte de sabedoria e direção para nossa cultura, e não os velhos. Os filmes muitas vezes reforçam este preconceito, mostrando os pais como incompetentes e sem noção enquanto os jovens realmente entendem o mundo. Em outras culturas a velhice é honrada com reverência, mas em boa parte da cultura ocidental é desprezado a favor da juventude. E essa tendência cultural certamente nos influencia também, dentro da igreja, o que torna este mandamento ainda mais importante para nós.
Além disso, outro desafia em relação a este mandamento é que muitos de nós, quando ouvimos esse mandamento, lembramos de uma infância que não foi necessariamente boa e de pais que não eram necessariamente piedosos. Alguns até usaram este mandamento para justificar seu egoísmo e abuso.
Então temos alguns desafios grandes diante de nós ao tratar este mandamento.
Mas temos que lembrar do propósito da Lei: é a Lei da liberdade. Deus não nos deu esta lei para nos sufocar, mas para preservar a nossa vida e a nossa liberdade do engano do pecado.
Então em primeiro lugar, vamos olhar para o propósito de Deus para este mandamento. Depois disso, vamos pensar sobre as implicações para os pais. E no final, vamos aplicar este mandamento em duas situações específicas.
O propósito de Deus para este mandamento
Primeiramente, vamos pensar sobre o propósito de Deus ao dar este mandamento.
A visão muito positiva que a nossa cultura tem sobre a juventude flui, em parte, de uma visão muito otimista e progressista da natureza humana: que o ser humano é basicamente bom, e só precisa seguir seu coração e descobrir sua própria verdade neste mundo.
Quando abrimos a Palavra de Deus, rapidamente descobrimos que a Bíblia tem uma visão muito menos otimista do coração humano do que a nossa cultura. O coração humano, por natureza, está profundamente caído no pecado e preso à tolice, orgulho, ilusão e pecado. Por natureza, entregues a nós mesmos, escolhemos o pecado e tropeçamos no caminho que acaba levando à morte. Por natureza, confiamos em nossa própria sabedoria, seguimos ilusões, corremos atrás do vento, tropeçamos na escuridão e somos como animais expostos a armadilhas por todos os lados, nas quais certamente cairemos. Esta é a premissa básica do livro de Provérbios: deixados a nós mesmos, somos inerentemente tolos e certamente tropeçaremos e cairemos.
E neste livro, Deus chama os pais e as mães que O conhecem e O temem para intervir para salvar a vida de seu filho ou filha.
Prov. 22:15: “A estultícia está ligada ao coração da criança.”
Por isso, os pais são chamados a ensinar, corrigir, disciplinar e conduzir seu filho ou filha para longe da morte e para o caminho da vida.
E assim o livro de Provérbios é, em grande parte, a súplica de um pai piedoso a seu filho, chamando-o para ouvir sua instrução e obter sabedoria, e exortando-o a não confiar em seu próprio coração ou seguir sua própria sabedoria. Deixados a nós mesmos, não vamos nos tornar sábios, mas pelo contrário, o pecado que começa pequeno só se tornará adulto, e os pecados de criancinhas fofas se tornarão pecados adultos muito feios e malignos.
Então o Pai aqui em provérbios chama a seu filho, ouça a minha voz e se torne sábio! Crianças, jovens, especialmente se você tem pais que amam ao senhor e obedeçam aos seus mandamentos: Deus chama a você para ouvir a voz deles, que Deus colocou em sua vida para levá-lo do pecado e da morte para a sabedoria e a vida.
Crianças: Vocês ouviram o que nós lemos em Provérbios 4? Deus diz que a sabedoria é a coisa mais preciosa que você pode possuir, que vale muito mais do que qualquer outra coisa na terra. E Deus deu pra vocês um pai e uma mãe, que amam a Deus e guardam seus mandamentos, que é o melhor presente pra você. Se você escuta seus pais, e obedeça seus pais, Deus vai lhe abençoar e dar muita sabedoria. Não siga apenas seu próprio coração, mas escute a voz dos seus pais, que amam a Deus e amam você também. Eles querem que você viva, e eles querem que você viva livre de todo o sofrimento e miséria que o pecado pode causar na sua vida. Eles querem que você vive, especialmente, em comunhão com o Senhor, porque foi pra isto que Deus fez você.
É por isso que este mandamento vem com uma promessa: “que se prolonguem os teus dias na terra que Deus te dá.” Deus falou essas palavras por meio de Moisés ao povo quando eles estavam prestes a entrar na terra de Canaã. Nossa herança, como cristãos, não é somente a terra de Canaã, mas a terra inteira na vida eterna.
Então, crianças e jovens: Deus lhes deu seu pai e sua mãe porque Ele te ama e Ele quer ver você evitando os caminhos que levam a morte, e andando nos caminhos da vida.
O livro de Provérbios nos dá alguns exemplos desses caminhos que levam à morte: ele fala muito sobre a mulher “adúltera” e a mulher proibida, que é uma das grandes armadilhas que capturam os corações dos jovens tolos, que imaginam que estão aproveitando as diversões da vida, e não descobrem, até que é tarde demais, que eles estão destruindo suas vidas, a nem falar de suas almas. São touros em caminho pra o arrebatador, sem nem saber.
O livro de Provérbios também fala muito sobre amigos: bons amigos e também maus amigos, que convidam você a se juntar com eles em uma vida ímpia (Pv 1:8-19).
Fala muito sobre o trabalho, e adverte contra a preguiça e a negligência.
Fala muito sobre o seu falar: como você pode, com suas palavras, evitar e acalmar conflitos e se manter fora de brigas.
E fala sobre muito mais coisas: todas as coisas que um jovem precisa saber pra evitar as armadilhas do pecado que, por natureza, iríamos seguir. E então o “pai” em Provérbios exorta seu filho: escute meu ensino, porque é pra seu bem!
Então crianças, adolescentes e jovens: Deus deu a você um presente muito precioso em seu pai e sua mãe. Deus os deu a você por seu bem. Nem sempre parece que é para o nosso bem, quando nossos pais não nos permitem a fazer o que nós queremos; às vezes a instrução dos nossos pais não parece sábio aos nossos olhos, mas Deus nos chama a confiar neles para o nosso bem.
Veja também, crianças—adolescentes e jovens também, e especialmente rapazes—veja que Deus nos chama para honrar tanto nosso pai quanto nossa mãe. Muitas vezes as crianças tem uma tendência a temer e respeitar o pai mais do que a mãe. Nem sempre, mas muitas vezes. Tenho certeza de que alguns de vocês já ouviram esta frase antes: “Espere até o seu…….pai chega em casa” como ameaça. Às vezes é a culpa da mãe por não disciplinar como deveria, mas nem sempre. Mas escute bem: Deus está chamando você a honrar e obedecer a sua mãe tanto quanto ao seu pai. O filho sábio honra a sua mãe. Rapazes, enquanto você mora na casa dos seus pais, você deve obedecer e honrar a sua mãe. Mesmo que você já seja grande, um jovem mais alto de que sua mãe, e você sinta que não deveria estar mais debaixo da autoridade de sua mãe. Enquanto você não saiu de casa para ficar independente, você precisa honrar e obedecer sua mãe. E em todos os momentos — moças também — vocês devem respeitar sua mãe da mesma forma que vocês respeitam seu pai, e falar com ela com respeito e honra. E vocês homens, pais, vocês precisam insistir nisso, que seus filhos, e seus filhos adolescentes também, sempre respeitam sua mãe.
O chamado de Deus para pais e mães
Agora, este mandamento também tem implicações para os pais.
Se o propósito de Deus ao dar este mandamento é dar vida , liberdade e alegria aos Seus filhos: então o seu chamado é ensinar, instruir, guiar, disciplinar, e corrigir seus filhos. É o que o apóstolo Paulo diz em Ef. 6:4:
“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.”
O que isso significa é que você não foi chamado para ser o “amigo” do seu filho. Você foi chamado para ser seu pai ou sua mãe. Isto significa que você tem a responsabilidade por suas almas. Você precisa levar a sério o perigo mortal em que eles estão se forem deixados à própria sabedoria, sem instrução e correção. Você precisa assumir a responsabilidade pela sua instrução dos seus filhos e ser diligente em discipular e pastorear seu coração.
Isso também significa corrigi e discipliná-los enquanto são pequenos, para o bem deles, para mantê-los no caminho da vida e salvá-los da ruína e da miséria. Prov. 13:24: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” Fazemos isso com nossos filhos como o próprio Deus também nos disciplina quando somos rebeldes. Prov. 3:11-12:
Prov. 3:11–12: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem.”
O sinal mais seguro de um pai que ama seu filho ou filha é quando ele disciplina para o seu bem. Agora, é claro, não me refiro aos pais que simplesmente perdem a paciência e batem nos seus filhos por raiva só pra eles sofrerem e sentir sua ira. Isto não é disciplina, é abuso. Também existem muitos pais que disciplinam para subjugar e controlar seus filhos por sua própria satisfação. Isto é abuso. Não tem nada a ver com a disciplina bíblia que provérbios está falando aqui, que é feita por amor, para correição, para salvar a vida de seu filho. Se nós batemos em nossos filhos porque queremos bater, isso não é disciplina, é punição. Quando você disciplina seus filhos por amor e em obediência ao senhor, acontece que você disciplina quando menos quer—seu coração está cheio de compaixão, e dói mais em você do que em seu filho. Todo pai piedoso aqui sabe como é difícil fazer isso – ser paciente quando estamos chateados e também disciplinar quando você tem pena do seu filho.
A disciplina dói. Ele é projetado para fazer isso mesmo. Se não dói, não funciona. Mas o propósito da dor é salvar a vida da criança e restaurar a comunhão entre pai e filho, que foi quebrada pelo pecado.
Lemos anteriormente em 1 Samuel 2, e lá nós vemos uma cena do que acontece quando um pai se recusa a disciplinar e corrigir seus filhos. Vemos o importante papel da disciplina ao lado da instrução. Eli estava disposto a instruir seus filhos (você pode ler sobre isso no capítulo 1, onde Eli diz a seus filhos que o que eles estavam fazendo era errado). Mas ele se recusou a discipliná-los. E porque ele recusou, eles finalmente seguiram o caminho da loucura, até que ficou tarde demais para salvá-los. Prov. 19:18: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança.”
Então Deus repreendeu Eli pelos pecados dos seus filhos. Veja o que Deus diz a ele no versículo 29. Ele diz: “por que honras a teus filhos mais do que a mim?”
A recusa de Eli em disciplinar seus filhos – por qualquer motivo: se ele era muito carinhoso com eles quando eram pequenos, ou com medo deles à medida que cresciam – sua recusa em discipliná-los foi, em última análise, uma recusa em honrar a Deus. Assim como os filhos são chamados a obedecer a seus pais “no Senhor”, os pais também são chamados a criar seus filhos “no Senhor”, o que também significa em obediência ao Senhor. Como pais, criamos nossos filhos para o Senhor, não para nós mesmos. Se prezamos a aprovação deles acima da aprovação de Deus, desonramos a Deus. E isso acaba levando à sua destruição também.
Deus deu a você autoridade sobre seus filhos. Se seu filho mora na sua casa mas não quer ir pra igreja, você tem a autoridade e o dever de obrigá-lo. Você prestará contas a Deus pela vida—e a vida eterna—do seu filho. Se seu filho está andando maus amigos, proíba este contato. É a alma do seu filho, e sua vida eterna! Você vai colocar isso em jogo porque não quer que seu filho fique com raiva de você? Você está satisfeito a viver a eternidade sem seu filho?
Pais, quando você intervém na vida do seu filho pra salvá-lo do pecado e da morte, você mostra a ele que você o ama. E você mostra a Deus que você teme a Ele. O temor dos homens é desprezo por Deus. Mas o temor de Deus tira todo outro temor.
Assim, neste mandamento, onde os filhos são chamados a honrar pai e mãe, pais e mães também são chamados a criar seus filhos como filhos que pertencem, em primeiro lugar, a Seu Pai Celestial.
Então vejam, irmãos, a grande honra que você tem—vocês que são pais—que Deus dá a você o privilégio de criar estes futuros homens e mulheres dentro de sua casa, debaixo da sua responsabilidade. Sal. 127:3: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão.” Seus filhos são uma bênção. Precisamos começar pensando biblicamente sobre nossos filhos, e não como o mundo pensa. O mundo vê as crianças como um fardo, e por isso os pais também falam sobre elas e as criam como um fardo. Não veem a hora que eles se livram delas. Deus nos diz que nossos filhos são uma bênção, e nós devemos mostrar isso em nossas atitudes e na forma de criá-los—tanto diante do mundo, como também diante dos nossos próprios filhos! Devemos dar graças por eles. É um grande privilégio, e um privilégio que passa rapidinho, tê-los em nossas casas pelo tempo que Deus nos dá. Receba isso com gratidão, e dê graças a Deus muitas vezes por isso.
Ao mesmo tempo, reconheçam que as nossas crianças não pertencem a nós mesmos, mas os criamos para o Senhor. Eles são Seus filhos. Queremos apresentá-los a Deus como homens e mulheres cristãos, como flechas atiradas na batalha.
Não podemos esquecer que nossos filhos pertencem ao senhor, e começar a criá-los só para nossa própria satisfação, ou para nosso próprio orgulho (para nos fazer parecer bem ou nos sentir bem na frente dos outros). Eles são nosso oferta a Deus, nosso sacrifício a Ele. E assim, quando os criamos, fazemos isso com sabedoria, olhando além dos bebês de fraldas e reconhecendo que estamos criando a próxima geração da igreja e do reino de Deus. Isso moldará nossas prioridades: nossa queremos apenas que eles sejam pessoas “morais,” mas que sejam homens e mulheres que amam a Deus de coração e O adoram por toda a vida. Nosso foco é pastorear seus corações. Nosso objetivo não é meramente conformidade com o padrão de Deus, mas ensiná-los a amar a lei de Deus: amar Sua Palavra e ser cheios de Seu Espírito – que Deus promete operar neles enquanto falamos e ensinamos a Palavra a eles.
Irmãos, pais, os filhos que Deus lhes deu são sua responsabilidade, pela qual você prestará contas a Ele. Assumem a responsabilidade por eles. Embora a igreja tenha uma responsabilidade, e os professores da escola tenham uma responsabilidade, nós, como pais, temos que assumir a primeira responsabilidade pelo coração e pela vida de nossos filhos. Não podemos entregá-los a ninguém para fazer o que nós fomos chamados a fazer. Podemos fazer uso de escolas, contato que eles honrem e servem a Cristo fielmente; mas nós que prestaremos contas pelas almas deles.
E finalmente, para os pais: a sua responsabilidade de instruir os seus filhos nos caminhos do Senhor começa com o exemplo que você dá. Ninguém terá maior influência na compreensão do evangelho por seu filho do que você como pai e mãe. Eles precisam aprender com você como confessar o pecado, como se arrepender, como orar e lançar suas preocupações sobre o Senhor e confiar em Sua provisão, como adorá-Lo, como servir aos outros com amor, como mostrar paciência e bondade. Você deve liderá-los pelo exemplo ao proclamar, como cabeça da família, como Josué fez, “eu e minha casa, serviremos ao Senhor”.
Honrando nosso pai e nossa mãe na velhice
Eu disse no início que iríamos olhar duas situações específicas na aplicação deste mandamento. A primeira é a questão, como podemos honrar os nossos pais na velhice?
O mandamento não diz apenas “obedeça” teu pai e tua mãe, mas “honra” teu pai e tua mãe. Devemos lembrar que quando este mandamento foi dado pela primeira vez, no Monte Sinai, foi dirigido não apenas às crianças, mas também aos adultos. Este mandamento nos ensina não apenas a obedecer nossos pais durante nossos anos de infância, mas também a honrá-los à medida que envelhecem.
No antigo Israel, os pais normalmente trabalhavam a vida toda até ficarem fisicamente cansados demais para trabalhar. Não havia idade definida para a aposentadoria, e mesmo o conceito de “aposentadoria” era muito diferente, pois pais e avós idosos continuariam a servir na família em outras capacidades.
Mas isso significava que, quando eles finalmente fossem incapazes de trabalhar e não pudessem mais gerar uma renda, os pais se tornariam totalmente dependentes de seus filhos para o sustento. E assim, quando este mandamento foi dado, “honra teu pai e sua mãe”, isso claramente implica cuidar deles e sustentá-los na sua velhice. Quando nós éramos bebês ou criancinhas, nossos pais faziam grandes sacrifícios por nós; eles deram tudo o que tinham para cuidar do nosso bem-estar e para nos proteger em nossa condição muito vulnerável. Nós precisávamos e dependíamos deles. Agora, quando nossos pais envelhecem, Deus nos chama para não esquecer disso, e agora é a nossa vez de fazer o mesmo por eles. Isso é o que significa “honrá-los” na velhice.
Paulo ensina isso também no Novo Testamento, em 1 Timóteo 5, onde escreve sobre como cuidar das viúvas. E ele instrui os membros da igreja a cuidarem de seus pais. As viúvas não deveriam ser colocadas na lista dos diáconos se tivessem filhos que pudessem cuidar delas. E Paulo tem algumas palavras muito fortes aqui para seus filhos. Ele diz:
“Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa [e aqui ele está se referindo claramente a pais idosos], tem negado a fé e é pior do que o descrente.”
Deus nos chama a nos responsabilizar por nossos pais na sua velhice, como questão mais básica da nossa fé.
Graças a Deus, aqui no Brasil a prática de colocar os pais em asilos não é tão comum como lá na América do Norte. Mas eu temo que irá crescer. À medida que o país cresce economicamente, e seculariza, estas coisas geralmente vão em mãos dadas. Os pais colocam seus filhos na creche, e seus pais no asilo, pra se concentrar nas suas carreiras e viver sem aperreio.
Não tem coisa mais triste de que visitar um asilo, onde, em muitos casos, os pais são abandonados por seus filhos. Infelizmente, até asilos “cristãos” às vezes são assim. Isso é pecado. Este não é o desígnio de Deus. Nós não queríamos isso de nossos filhos. E não podemos nos desculpar por tratar nossos pais desta maneira. Deus nos chama para honrá-los, e certamente honrá-los também significa amá-los e nos sacrificar por amor deles, como eles fizeram por nós—ou até mesmo se não fizeram por nós.
Graças a Deus, dentro das igrejas na America do Norte, a situação está mudando aos poucos. Mais famílias estão construindo casas com um quarto extra com cozinha e banheiro onde seus pais podem ficar durante os últimos anos. E é uma benção maravilhosa quando os avôs podem viver como membros vivos da família, e contribuir à transmissão da sabedoria e do temor de Deus para a próxima geração.
Honrando pais e mães desonrados
Finalmente, mais uma questão que precisamos tratar: como podemos obedecer este mandamento e honrar nossos pais, caso eles não são pais crentes ou até pecaram gravemente contra nós? Estes casos não são poucos. Embora Deus nos chame para honrar nosso pai e nossa mãe, para muitos isso fica muito difícil por causa da forma como eles criaram (ou não criaram) seus filhos e os pecados que eles cometeram ou até agora ainda cometem.
1. Em primeiro lugar, é claro, devemos examinar nossos próprios corações nisso, e perguntar se estamos respondendo de acordo com a graça que nós recebemos de Deus em Cristo, e conscientes também de nossos próprios pecados e falhas. As Escrituras ensinam que é uma “glória” ignorar uma ofensa (Pv 19:11), e o Evangelho mostra a verdade disso da forma mais bela, pois Deus nos amou em Cristo e perdoou nossas ofensas, mesmo quando estávamos ainda Seus inimigos.
Então devemos ser humildes e examinar nossos próprios corações, se estamos vivendo pela graça de Cristo. Com relação aos nossos pais, isso significa suportar suas fraquezas e deficiências. Como o catecismo diz, “e também ter paciência com suas falhas e fraquezas, pois é a vontade de Deus nos governar por suas mãos”.
2. Em segundo lugar, também somos chamados a perdoar nossos pais pelos pecados cometidos. Se eles ainda não mostraram arrependimento, ainda assim somos chamados a ter um coração pronto e disposto a perdoar, e devemos mostrar amor e misericórdia, como Deus faz conosco.
Precisamos também guardar nosso próprio coração contra a amargura, que somente leva à morte. Somos chamados a ser cheios do Espírito e do Evangelho da paz. Não podemos fixar os nossos olhos nos erros e pecados dos nossos pais—inclusive porque muitos assim acabam repetindo os mesmos erros—mas devemos fixar nossos olhos em Cristo e na misericórdia e graça de Deus em Cristo, pela qual fomos libertos dos “caminhos vazios e fúteis herdados de nossos pais”, para ser um novo povo, filhos de Deus neste mundo.
3. Em terceiro lugar, mesmo quando estamos lidando com pais que se mostraram desonrosos, ainda assim somos chamados neste mandamento a honrá-los pela posição que eles têm, que Deus lhes deu, e pelo nome que Deus lhes deu de pai e mãe. Ao fazer isso, nós mostramos a nossa honra e obediência a Deus quem os colocou sobre nós. No exército, eles falam da necessidade de “saudar o uniforme.” Se o homem dentro dele não está digno deste respeito, ainda assim você saúda o uniforme.
Devemos falar sobre nossos pais com honra e de maneira respeitosa, e assim honrar Deus que está acima deles.
Ao mesmo tempo, este respeito pela autoridade que Deus os deu—caso ainda estamos dentro de sua casa—se estende além deles para as autoridades por cima deles. Se seus pais estão abusando sua autoridade, eles tem autoridades por cima deles, tanto na igreja como no governo civil. Ninguém tem autoridade absoluta. Os pais também são chamados a se submeterem a Deus e à liderança da igreja, a qual também são confiadas as chaves do reino para exercer disciplina sobre aqueles que se recusam a se arrepender.
4. E, finalmente, devemos lembrar que, tendo pais amorosos ou não, nós temos um Pai Celestial em Cristo, que é nosso único Pai Perfeito; e temos uma nova família aqui na terra que é nossa verdadeira e eterna , que é a igreja. E assim, ao olharmos para Cristo e Sua obediência ao Pai celestial, queremos aprender, cada vez mais, o que significa ser Seus filhos e Sua casa aqui na terra.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.