Leitura: Deuteronômio 6.1-15, Isaías 45.18-25
Texto: Dia do Senhor 34
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Esta semana, estamos começando um estudo sobre os Dez Mandamentos. Ao fazer isso, devemos ter em mente o propósito da Lei que é mencionada nas primeiras palavras dos Dez Mandamentos: “Eu Sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa de escravidão.” A Lei de Deus foi dada ao povo de Israel, logo após de Deus ter os libertado do Egito, para que não fossem mais escravos, mas vivessem livres. A escravidão no Egito não era apenas física, servindo os egípcios, mas também espiritual, obedecendo os deuses do Egito, que mantinham o povo em escravidão. Então foram libertos para servir a Deus e ser verdadeiramente livres. Este é o propósito da Lei. O pecado é escravidão. Sempre é. Ele promete prazeres e satisfação, mas sempre o único pagamento que ele dá é a morte. A Lei de Deus foi dada para nós para sermos pessoas livres.
E é aqui que entra o primeiro mandamento. O primeiro mandamento diz respeito ao nosso relacionamento com Deus, e esta é a questão fundamental que vai determinar se vamos viver livres ou escravizados. O ser humano foi feito por Deus, e somente em relacionamento com Deus, ele entende o que é ser livre. A parte de Deus, só tem escravidão. Então é um mandamento muito simples, mas trata da questão mais importante da sua vida, que moldará tudo o que você fizer. “Não terás outros deuses além de mim.”
Há uma razão pela qual este mandamento vem em primeiro lugar, porque esta é a questão mais fundamental em sua vida: quem é o seu Deus? Tudo o mais que você pensa, crê e faz flui dessa questão. Quem é o seu Deus?
Outra maneira de fazer a pergunta é perguntar: por que você existe? Para que você existe?
Todos os anos no início do ensino catequético, eu faço essa pergunta aos jovens. Deus nos criou pra o quê?
A resposta mais comum que eles dizem é: “para servi-Lo”. E essa é uma boa resposta. Isso é verdade.
Mas vamos investigar mais a questão. Então Deus nos fez para servi-Lo. Como é esse serviço? Que tipo de serviço Deus está procurando de nós?
Hum. Talvez um aluno esperto pode dizer: bem, é os Dez Mandamentos. Não é esse o serviço que Deus nos ordena?
Sim. Você tem razão. Isso é.
Mas agora, deixe-me insistir na questão. Qual é o coração desse serviço? Se você pode resumir em uma única coisa, pra o quê Deus nos fez?
Agora, o estudante pode dizer: bem, Jesus resumiu os Dez Mandamentos dizendo (o quê?) “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, alma, mente e força”.
Pronto. Agora. Tem razão: O Senhor Jesus disse que esse é o maior mandamento.
E você notou que isso é essencialmente a mesma coisa que o primeiro mandamento? “Não terás outros deuses além de mim.” Ou seja, Deus deve ser o seu Deus, o que Jesus interpreta como significando, portanto, você deve amá -lo com todo o seu coração, alma, mente e força.
Irmãos, nós precisamos saber que é pra isso, mais de que tudo, que Deus nos fez. Você foi criado para conhecer a Deus, amá-lo e viver com ele, para sua glória e sua alegria. Eé exatamente disso que este mandamento trata.
Agora, você pode ver isso também em nossas confissões. No Dia do Senhor 3, ele pergunta como éramos quando Deus nos fez, e diz que a humanidade foi feita em verdadeira justiça e santidade, para este propósito exato:
para que ele pudesse conhecer corretamente a Deus seu Criador,
amá-lo de coração
e viver com ele em eterna bem-aventurança
para louvá-lo e glorificá-lo.
Nossos irmãos presbiterianos expressam a mesma coisa de forma semelhante em suas confissões: a primeira pergunta do catecismo menor de Westminster é: “Qual é o fim do homem?” E a resposta que dá? “Para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” Está dizendo essencialmente a mesma coisa. Deus nos fez para conhecê-lo, amá-lo e viver com ele, e ao fazê-lo, nós O glorificamos.
A palavra “glorificar” literalmente significa “tornar glorioso” ou “mostrar ser glorioso”. Agora, claro, nós não tornamos Deus glorioso (Ele já é), mas nós revelamos e manifestamos a sua glória, ao conhecê-lo, amá-lo, e viver com Ele (ou como diz Westminster, ao “gozá-lo”). Quanto mais O conhecemos, mais O amamos, e mais plenamente seremos capazes de viver com Ele em perfeita comunhão. Essa é a razão pela qual você foi feito. Não meramente para servi-lo com suas obras, como se fôssemos escravos de um divino senhor (como os deuses pagãos foram servidos); mas para conhecê-Lo com nossas mentes, amá-Lo com todo nosso coração e alma, e, a partir desse amor, viver em comunhão com Ele com todas as nossas forças.
Se você quer de bem resumida, é isso: Deus te fez para um relacionamento com Ele mesmo. Essa é a razão de você existir. Para desfrutar de um relacionamento pleno, profundo, doce e abençoado com Ele: no nível do seu coração, alma, mente (pensamento e inteligência) e força (tudo que você faz).
É disso que trata este primeiro mandamento. Foi para isso que você foi criado. E quando Deus deu este mandamento a Israel, Ele queria que eles soubessem: também foi para isso que Eu vos salvei. E o mesmo é verdade para nós, que fomos comprados com o sangue de Cristo e libertos do nosso pecado. Deus nos comprou para Si mesmo para que tivéssemos relacionamento com Ele.
Agora, lemos em Isaías 45, e vejam ali como Deus nos chama a conhecê-lo:
O profeta Isaías foi enviado por Deus ao povo de Israel para chamá-los de volta a Si mesmo depois que eles o abandonaram e foram adorar outros deuses. Esse é o coração do ministério de Isaías. Às vezes por isso o livro de Isaías é uma leitura pesada e difícil, porque tem muitas advertências sobre punição e exílio. Mas no meio de cada uma dessas advertências, também há promessas sobre a graça de Deus. A punição foi destinado para trazê-los de volta a Ele, e a promessa é que, quando eles voltarem, eles encontrarão Sua graça. E assim a mensagem básica é: “Retornem para mim”.
Então Deus chama Israel de volta a Ele, e Ele se apresenta a Israel como se fosse pela primeira vez—já que eles esqueceram quem Ele é.É isso nós vemos no versículo 18. Ele diz,
Is. 45:18: “Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro.”
Deus se introduz a nós, porque Ele quer que nós o conheçamos. E para o povo de Israel, quando eles O esqueceram, Ele os chamou de volta e se apresentou novamente.
A mensagem é bem clara: Deus quer que você O conheça. É por isso que Deus castigou tão severamente a Israel—para trazê-los de volta a Ele, o único Deus.
Ele diz no versículo seguinte: “Não falei em segredo, nem em lugar algum de trevas da terra.” Em outras palavras: Deus não tem se escondido de nós. Ele não nos criou e depois se manteve distante de nós. Talvez alguns de nós ainda pensam em Deus dessa maneira. Que Deus nos fez, e então Se escondeu de nós, para ver se poderíamos encontrá-Lo. Irmãos, esse não é o caráter de Deus, de forma alguma. Desde o início, Deus se revelou. Diz em Gen. 1:27–28: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou.” Ele nos fez em sua imagem para ser uma criatura muito especial, diferente de todos os animais, que O conhece e se relaciona e comunica e ama a Ele, como seus filhos. Continuando, diz, “homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” Veja, Deus criou os nossos pais, e qual a primeira coisa que Ele fez depois? Ele os abençoou e falou com eles.
Então irmão, leva isso a sério. Deus fez você para conhecê-Lo, e Ele quer que você O conheça, como o propósito mais fundamental para o qual fomos criados. Você possui Sua imagem, para poder conhecê-lo como seu filho ou filha. Cada um de nós precisa saber disso. Quando você compreende isso, isto tem enormes consequências em sua vida, porque quando conhecemos o nosso propósito fundamental, então todo o resto da nossa vida será orientado corretamente da maneira que deveria ser. O propósito mais fundamental para o qual você foi criado é o relacionamento com seu Criador. Se você não O conhece, então, qualquer outra coisa que você usa para encher sua vida e dar satisfação, não vai dar certo. O grande teólogo da Igreja antiga, Agostinho disse em suas confissões: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.” Deus criou você para se mesmo.
Em segundo lugar, Deus se revela como um Deus bondoso e amável. Assim, ao conhecê-lo, também iremos amá-Lo. Nos versículos 20 e 21, Ele fala às nações que servem ídolos de madeira, e Ele chama estas nações pra ver como esses deuses de madeira são impotentes e não podem fazer nada para salvá-los. E ele diz no versículo 21,
Is. 45:21: “Quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz eu, o Senhor? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim.”
Deus se revela como justo. Ele se revela como Salvador. E Ele disse estas coisas para que Israel (e nós) aprendessem a amá-Lo e se apegar a Ele.
Quanto a justiça de Deus, talvez isso seja para nós mais razão de temor de que amor. Mas é algo que devemos Reconheça que a justiça de Deus é algo que devemos valorizar. Mas pensem nestes deuses falsos que as nações adoravam. Por todas as qualidades divinas que eles supostamente tinham, não foram conhecidos por serem justos. Estes deuses, a criação da imaginação do homem, refletiam todas as falhas morais de seus adoradores. Tinham suas deficiências morais. Às vezes lutavam uns contra os outros. Eram egoístas em seus interesses. Poderiam ser invejosos e cruéis. Eram imprevisíveis. É assim em todas as religiões politeístas. A história humana é uma reflexão das brigas e vaidades dos Deuses.
Mas Deus é justo. Ele ama a justiça e nunca muda. Em um mundo injusto e ímpio, a justiça de Deus é uma verdade preciosa. Ele castigará todo pecado. Ele nunca mudará Sua Palavra. O certo sempre será certo pra Ele, e o errado é sempre errado.
E, Deus diz ao Seu povo, Ele é um Salvador. Ele os livra e os resgata. Ele deseja salvar, e não deseja castigar eternamente. Ele diz em Ezek. 18:23–24: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? — diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?” E é por isso que Cristo veio à terra, mesmo quando nós ainda éramos seus inimigos: para abrir um caminho para nos afastarmos do pecado e voltarmos para Ele, e assim vivermos. Ele viveu a vida que deveríamos ter vivido, e morreu a morte que merecemos morrer, para que nós pudéssemos ser salvos, porque essa é a natureza de Deus. Ele é um Salvador.
E assim Deus diz novamente no versículo 22: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.” Irmãos, e queridos visitantes aqui conosco: esses versículos são tanto um chamado para vocês quanto para Israel: Ele diz: “Voltem-se para mim e sejam salvos, todos os confins da terra”.
Então, irmãos, o desejo de Deus é que você venha a conhecê-Lo, porque quanto mais você O conhece, mais você O amará, o valorizará e se deleitará nEle. Ele nos fez em Sua imagem para um relacionamento amoroso com Ele, como filhos com seu Pai.
Isto é o que significa glorificar Deus. Deus nos fez, acima de tudo, para Sua glória. Quanto mais que o conhecemos e amamos, nossa vida serve para sua glória. Se O conhecemos verdadeiramente, então O amaremos, O honraremos e O estimaremos muitíssimo.
E é disso que trata o primeiro mandamento: Deus diz: “Não terás outros deuses diante de mim.” Em outras palavras, nada e ninguém pode ocupar o lugar de Deus em nossos corações e vidas. Ele nos fez para Si mesmo e insiste que nunca substituamos nada em Seu lugar.
Agora, antes de abordar algumas das aplicações práticas disso, deixe-me responder a duas objeções muito comuns. E eles estão relacionados. A primeira é: “Deus não é muito orgulhoso para exigir isso de nós—a nossa adoração exclusiva?” E a segunda é: “Como pode um Deus que exige tal adoração exclusiva ser verdadeiramente amoroso?”
A primeira pergunta: Deus não é muito orgulhoso para exigir nossa adoração exclusiva? De fato, se qualquer outra pessoa exigisse que nós a adorássemos e somente a ela, diríamos que ela é muito egoísta. E estaríamos certos.
A diferença, porém, é que essa pessoa não é Deus. Se alguém que não é Deus exigir tomar o lugar de Deus em nossas vidas, então realmente é egoísta e muito orgulhosa. Mas Deus nos criou. Ele é Deus.Ele somente é digno de nossa adoração. Ele não demanda algo que é mais do que Ele merece, mas o que é certo é consoante com sua própria glória.
Deus é zeloso pela honra que Ele merece, e ele está certo em ser, porque Ele merece. Se você, por exemplo, realiza algo difícil, na força de trabalho, por exemplo, é razoável você esperar o crédito e a honra pelo que fez, e seria errado alguém desprezar ou desrespeitá-lo. Isso acontece neste mundo caído, e os sábios entendem isso e esperam pacientemente suas obras falarem por si mesmos. Mas estamos certos em esperar o respeito que merecemos, tanto por nosso integridade, diligencia, coragem, e outras virtudes; como também por nossos trabalhos bem-realizados. É certo esperar este respeito. Isso, claro, com o senso apropriado de perspectiva, pois nossa honra é limitada, e temos também muitas falhas e pecados.
Mas se isso é verdade em nosso caso, onde nossa glória e honra são limitadas, quanto mais com Deus, que é perfeito e infinitamente glorioso! Ele não merece o nosso respeito por ter nos criado, com toda a nossa glória e beleza que reflete a Sua? Ele não merece a nossa gratidão por nos sustentar em cada momento, que nos dá cada respiração e batimento de coração? Que faz tantas operações maravilhosas em nossos corpos que os cientistas ainda hoje não compreendem, e muitos mais que nem descobrimos ainda? Ele não merece a nossa adoração por sua integridade perfeita, por sua justiça, por sua sabedoria, por seu poder? Deus é errado em esperar de nós a apropriada adoração e respeito, como Suas criaturas?
E ainda mais nós, os pecadores, devemos a Ele a nossa adoração por sua misericórdia e amor imerecida.
Deus é zeloso por sua honra porque merece esta honra. Ele não exige ser honrado além do Seu honra, mas em proporção a ela, como nós mesmos temos razão de esperar.
E de fato, as Escrituras mostram claramente que Deus faz tudo para a glória do Seu Nome, porque tão grandioso é que não merece nada menos. A exibição de Sua glória é o bem maior em todos os Seus propósitos, porque é a causa mais digna que pode ser servida. Que causa pode ser mais justa do que honrar aquilo que é honrável, amar o que é amável, valorizar o que é valioso, e deleitar-se com o que é bom. Deus é infinitamente honrável, amável, valioso e bom. E assim Ele – com toda justiça – faz tudo o que Ele faz para demonstrar Sua própria glória.
Agora, isto nos leva uma segunda preocupação: Se Deus faz tudo que Ele faz por sua honra, então Ele não faz pensando em nosso bem. Como Deus pode então ser “amoroso”? Será que é compatível com amor, Deus buscar Sua glória acima de tudo?
Para responder isso, veja os versículos finais em Isaías 45. Versículos 24 e 25:
Is. 45:24–25: “De mim se dirá: Tão somente no Senhor há justiça e força; até ele virão e serão envergonhados todos os que se irritarem contra ele. Mas no Senhor será justificada toda a descendência de Israel e nele se gloriará.”
Veja como a glória de Deus e a alegria do Seu povo são unidos. Esta frase “nele se gloriará” mostra exatamente que a glória de Deus e a salvação e alegria do seu povo são unidos. Como Paulo diz em Romanos 8, “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.” E pra aqueles que O amam, não há outro bem melhor de que Ele seja glorificado em nós. Não há nada que possa nos dar maior alegria do que um relacionamento correto com nosso Criador, porque é exatamente para isso que fomos criados. E esse é o ponto de todo este capítulo. Deus nos chama para adorá-Lo, porque não há outro deus e, portanto, nada pode nos dar alegria e satisfação eternas a não ser Ele. Em outras palavras, a busca de Deus por Sua glória… é para você a coisa mais amorosa que Deus poderia fazer. Seu propósito é que você se deleite nEle. Ou, para dizer de outra forma: Deus é mais glorificado em nós, quando mais nos regozijamos nEle.
É disso que trata o primeiro mandamento. “Não terás outros deuses além de mim”, é a prioridade mais amorosa que Deus poderia ter para nós.
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Vamos ver algumas implicações agora para nossas vidas.
Ter outro deus é ter qualquer coisa ou pessoa que ocupe em nossas vidas o lugar que pertence a Deus, ou seja, a quem entregamos nossa vida acima de tudo.
Entenda que isso não significa apenas outros deuses como Baal ou Krishna ou Allah que atendem por outros nomes. O Senhor Jesus falou sobre o deus “Mamom”, que era a palavra aramaica para “dinheiro”. Ninguém realmente adorava um deus com esse nome, mas o ponto de Jesus era que muitas pessoas adoram esse deus. E isso incluiria pessoas que alegavam adorar o Deus da Bíblia. A questão é: “quem ou o que eles amam acima de tudo?”
Ou, deixe-me colocar de outra forma: O que precisa pra ser feliz? O que você não pode carecer e ainda ser feliz? Esse é o seu Deus.
Pode ser um emprego, pode ser uma namorada ou namorado, ou pode ser uma casa ou algum outro bem. Pode ser o seu orgulho. Se é nisso que você “se gloria”, esse é o seu deus. Se é isso que você busca como a coisa mais valiosa em sua vida, esse é o seu Deus.
O salmista no Salmo 73 diz: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.” Esse é a verdadeira adoração. Davi diz assim no Salmo 63: “a tua graça é melhor do que a vida.”
O catecismo define a idolatria na linguagem da confiança: “ter ou inventar algo em que depositar nossa confiança em vez ou além do único Deus verdadeiro que se revelou em sua Palavra”.
Aqui se torna muito prático:
- Será que sua conta bancária te dá mais conforto do que o amor de Deus?
- Será que seus relacionamentos pessoais te dão mais satisfação do que a proximidade de Deus? Não que nossos relacionamentos não podem nos alegrar; Deus nos criou para viver em comunhão. Mas se valorizamos os nossos relacionamentos com qualquer pessoa mais do que a proximidade de Deus, então isso se torna um ídolo.
- Ou será que divertir-se é mais importante para você do que viver na graça de Deus? Então esse é o seu deus.
- Ou será que o respeito e a aprovação dos outros importam mais para nós do que a aprovação de Deus?
- Ou será que seu próprio orgulho importa mais para você do que a honra de Deus?
Sei que todas essas são perguntas perspicazes, e realmente nenhum de nós pode responder a essas perguntas honestamente sem reconhecer a sedução da idolatria. O grande teólogo reformado João Calvino disse que o coração humano é uma “fábrica” de ídolos.
E é isto que vamos ver com mais clareza ainda quando estudamos os demais mandamentos da Lei. Por trás de todo o pecado é a idolatria—algo tomando o lugar de Deus em nossa vida. Os mandamentos da lei nos levam a examinar nossos corações e devem nos levar à cruz – para confessar nosso pecado e ver novamente nossa necessidade de um Salvador.
Mas agora, lembrando também que Deus nos deu esta lei para nos ajudar a viver livres, vamos confessar os nossos pecados e vamos lembrar que Cristo morreu para nos libertar deles. O fato é, colocar nossa esperança em nossa conta bancária, ou em nossos relacionamentos, ou em nossos “tempos divertidos”, ou no respeito e aprovação dos outros, é tornar-se escravo dessas coisas. Nenhum deles pode nos dar satisfação duradoura. Podemos persegui-los por toda a vida, e eles nunca nos darão a alegria verdadeira, profunda e duradoura que estamos procurando, e sempre chegará o dia em que eles nos decepcionarão. Quando Deus nos ordena que não tenhamos outros deuses além Dele, Ele nos diz isso para que vivamos livres. A verdadeira liberdade é viver para Quem nós fomos criados, conhecê-lo, conhecer seu amor por nós e amá-lo com todo o nosso coração.
Deus fez você para Ele, e substituir qualquer coisa ou qualquer outra pessoa por Ele é substituir a luz pelas trevas; é trocar a glória majestosa pelo vento passageiro; é violar a coisa mais fundamental para a qual você foi criado, que é conhecer e amar a Deus seu Criador. Deus nos dá este mandamento para Sua glória e para nossa alegria.
Neste mandamento, Deus não está nos ensinando que não podemos amar outras coisas ou outras pessoas. Claro que podemos e devemos. Amamos as nossas famílias, tesouramos as nossas amizades, nos alegramos com nossos filhos, e desfrutamos de nossos hobbies e os bens que Deus nos dá. A questão não é que não devemos amar ou desfrutar dessas coisas.
Em vez disso, Deus nos ensina que essas coisas são dádivas das mães dEle, e devem ser recebidas com gratidão, dentro do contextode nosso amor por Ele. 1 Tim. 4:4: “Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável.”
A questão é que não podemos adorar essas coisas. Em outras palavras, eles podem não tomar o lugar de Deus. Não vivemos para eles e não depositamos nossa confiança neles como fonte de nossa realização ou satisfação. No momento em que o fazem, tornamo-nos escravos daquilo que não pode satisfazer.
O catecismo menciona uma série de violações específicas deste mandamento: feitiçaria, superstição e oração aos santos – o que todos eles têm em comum é a incapacidade ou falta de vontade de se aproximar de Deus como nosso Pai e ter um relacionamento pessoal profundo, direto e íntimo com Ele. Os católicos romanos obviamente não concordam com a menção de orações aos santos aqui nesta lista, mas o fato é que Jesus nos ensinou a orar ao nosso “Pai”, e este é o modelo de oração que você vê em todo o Antigo e Novo Testamento. Também nos Salmos que são orações íntimas a Deus. A questão permanece, por que deveríamos (1) supor que os santos no céu têm a capacidade de ouvir mil orações simultâneas ao redor do mundo – uma capacidade que, até onde sabemos, pertence apenas a Deus; e (2) mais preocupante, a questão mais profunda é, mesmo supondo que eles tenham tal habilidade, por que nos sentimos mais à vontade orando para um santo do que orando a Deus nosso Pai? Esta prática está enraizado no pensamento de que Deus não ouve ou não se importa, ou pelo menos que é mais provável que ele ouça um santo do que a nós. Assim, esta prática contradiz diretamente o chamado de Deus para conhece-Lo pessoalmente e nos aproximar a Ele. Ele não quer ser substituído por um santo.
Então, irmãos, escutem o chamado de Deus aqui. “Voltem-se para mim e sejam salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e não há outro.” Se você ouve este mandamento e vê que tem coisas pra confessar e se arrepender, então confesse-as a Deus e depois volte-se novamente para o seu Salvador. De fato, cada um de nós é culpado de idolatria. Mas Jesus Cristo pagou o preço por nossa idolatria, para que nos convertêssemos, nos arrependêssemos, fôssemos perdoados e recebidos por Deus. Esse é o chamado do Evangelho. Volte-se para Ele e seja salvo.
E então, tendo sido salvo, viva livre! Aproxime-se de Deus e venha a conhecê-lo, e deixe que Ele lhe dê o amor, a alegria, a satisfação e o significado que somente Ele pode dar. Conheça-O, ame-O e viva com Ele, para Sua glória… e para sua alegria!
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.