Dia do Senhor 32

Leitura: Tito 2.1-15

Texto: Dia do Senhor 32

Amados irmãos em Cristo,

Se um amigo ou parente seu chegasse até você e perguntasse: “Por que Jesus morreu na cruz”? Isso seria uma boa oportunidade para evangelizar! Mas o que você diria? Qual seria a sua resposta? É bem provável que você respondesse: “Jesus morreu na cruz para perdoar os nossos pecados, para nos reconciliar com Deus, para nos livrar do inferno! Ele morreu na cruz para nos levar para o céu e nos dá a vida eterna”! Saiba que sua resposta estaria correta. No entanto, ela não seria uma resposta completa. Pois a Bíblia afirma que Jesus morreu na cruz não somente para nos dá o perdão dos pecados e nos levar para o céu, mas também para fazer de nós um povo zeloso de boas obras (ver Tito 2.14)

Infelizmente esse aspecto da salvação tem sido esquecido por muitos que se dizem crentes. A verdade é que muitos querem receber o perdão dos pecados e ir para o céu, mas não estão dispostos a negar a si mesmos e seguir a Cristo em obediência. Muitos querem os benefícios da cruz, mas não carregar a cruz no sentido de sofrer por amor a Cristo e se comprometer em viver para ele na prática das boas obras. 

Precisamos nos lembrar que ser salvo por Cristo, além de ser perdoado e ir para o céu, significa também ser restaurado ao propósito original da nossa criação que é viver para a glória de Deus. Por meio do Seu Espírito, Cristo nos dá uma vida nova e nos capacita a cumprir o principal objetivo da nossa existência que é glorificar a Deus. E como nós glorificamos a Deus? Por meio da prática das boas obras. Mediante as boas obras nós mostramos nossa gratidão a Deus pela salvação que ele nos deu de graça em Cristo. A gratidão do crente pela salvação é o assunto do Dia do Senhor 32. 

Eu vos proclamo a palavra de Deus no seguinte tema: O CRENTE FOI SALVO POR CRISTO PARA MOSTRAR GRATIDÃO A DEUS POR MEIO DAS BOAS OBRAS. Vejamos duas coisas sobre a gratidão do crente: 1) A Origem da Gratidão do Crente; 2) O Propósito da Gratidão do Crente

1) A Origem da Gratidão do Crente

Perceba em primeiro lugar, que o Dia do Senhor 32 liga a gratidão do crente com a salvação da sua miséria. “Fomos libertos da nossa miséria por Cristo” (perg.86). O crente reconhece isso. Ele sabe que é um pecador que nada merece de Deus senão o castigo. Mas ele também reconhece e crê que foi salvo da sua miséria por Cristo. Por miséria o catecismo quer dizer a nossa condição de pecadores corruptos e culpados diante de Deus. Cristo veio para nos redimir da culpa e do poder do pecado. Ele veio dar a sua vida em resgate de muitos. Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido. 

Reconhecendo a grandeza da sua salvação, o crente não deseja fazer outra coisa senão mostrar a Deus profunda gratidão por sua salvação graciosa. Salvação resulta inevitavelmente em gratidão (veja Salmo 116.12,16,17). Um crente que reconhece e aprecia o grande sofrimento e esforço de Cristo em carregar uma cruz pesada e morrer pendurado nela para salvá-lo, não deixará de vir à igreja para dar graças ao Senhor no seu santo dia por motivos banais e injustos. Um crente que se comove com o profundo amor de Cristo em dar a sua vida por ele, não medirá esforços para amar seus irmãos e servi-los com generosidade. 

Em segundo lugar, o Dia do Senhor 32 valoriza as boas obras e as coloca no seu devido lugar na vida do crente. A Igreja de Roma acusa a doutrina bíblica e reformada da salvação pela graça como uma doutrina que produz crentes relaxados e ímpios. “Não preciso fazer boas obras, pois já sou salvo pela graça”. Por isso, os romanistas enfatizam as boas obras como meio de ajuda na salvação do pecador. Mas essa acusação de Roma é falsa. A fé bíblica reformada valoriza as boas obras e as coloca no seu devido lugar, ou seja, não como um meio de adquirir salvação, mas como uma expressão de gratidão a Deus pela salvação que é de graça. A salvação pela graça não produz crentes relaxados e preguiçosos, mas crentes zelosos e agradecidos (veja P&R 64 e 87). Fé sem obras é morta e sem gratidão não há vida cristã nem salvação. Mas não devemos pensar que nossas boas obras dependem de nós mesmos e nos ajudam na nossa salvação.

Observe que a pergunta 86 ao tratar do nosso dever de praticar boas obras, aponta para a obra de Cristo em nosso favor. O que isso significa? Significa que Cristo é o segredo da nossa gratidão. Ele é a fonte e a origem das nossas boas obras. Praticamos boas obras por causa da boa obra de Cristo. Mediante o seu sangue Cristo ganhou para nós não somente a nossa justificação, mas também a nossa santificação. Não podemos dar frutos se não estivermos ligados a videira que é Cristo. Ele mesmo disse: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo. 15.5). A palavra de Deus deixa bem claro que nós fomos salvos pela graça e recriados em Cristo Jesus para fazer boas obras (ler Ef.2.8-10). Portanto, as boas obras de gratidão do crente resultam da obra de Cristo, da salvação que ele conquistou na cruz.

Observe que o catecismo fala da obra de Cristo por nós e em nós. Veja resposta 86: “Porque Cristo, tendo nos remido pelo seu sangue (obra de Cristo por nós), também nos renova por seu Espírito Santo à sua imagem… (obra de Cristo em nós). A obra de Cristo por nós já foi realizada na cruz quando ele derramou seu sangue para perdoar todos os nossos pecados (obra única e perfeita). Mas a obra de Cristo em nós é a renovação diária do Seu Espírito que ele já derramou em nossa vida e que continua trabalhando em nós (obra contínua).  Cristo é nossa justiça e também a nossa santificação. Ele nos renova por seu Espírito. O Espírito de Cristo habita nesta igreja; ele mora no coração de cada crente. Ele nos faz andar em novidade de vida. Ele nos capacita a ser um povo grato a Deus e zeloso de boas obras. Antes éramos um povo morto em nossos pecados. Agora somos um povo vivo e restaurado para a glória de Deus. Antes vivíamos levados pela vaidade dos nossos pensamentos e cativos às obras da carne. Hoje, em Cristo, nos deleitamos na sua lei e em andar nos seus caminhos. Tudo isso pela graça de Deus e pela obra de Cristo em nosso favor. 

Meus irmãos! Isso é a nossa salvação. Não só receber o perdão dos pecados e ir para o céu um dia, mas também ser renovado pelo Espírito de Cristo aqui na terra a fim de parecer com Cristo e viver para a glória de Deus (Rm. 8.29). Isso é a obra de Cristo em nós. Ele é a origem e a fonte da nossa gratidão. Ele nos capacita por Seu Espírito a viver para ele mesmo mediante a prática das boas obras. Ele se entregou na cruz para fazer de nós um povo exclusivamente seu e zeloso de boas obras. Agora ele te chama a mostrar gratidão a Deus pela salvação que ele te deu. A pergunta que surge é esta; Você tem experimentado a obra de Cristo em sua vida? Você tem demonstrado a sua gratidão a Deus pela salvação? Há deleite no seu coração em viver para Deus somente, honrar o seu nome, deleitar-se no seu dia para adorá-lo com os demais irmãos? Você é grato a Deus por todos os seus benefícios, sobretudo a sua salvação? Avalie a sua vida! Sonde o seu coração e veja se a boa obra de Cristo tem sido evidenciada em seu viver! 

2) O Propósito da Gratidão do Crente

Cristo nos renova por seu Espírito para praticar boas obras. Qual é o propósito das boas obras do crente? “Para que com toda a nossa vida, mostremos a Deus nossa gratidão por seus benefícios e para que ele seja louvado por nós. Além disso, para que tenhamos a certeza de que nossa fé é verdadeira pelos seus frutos, e para que ganhemos nosso próximo pela vida cristã que levamos” (perg. 86). Temos três propósitos aqui pelos quais devemos fazer boas obras: 1) Glorificar a Deus por seus benefícios: esse é o propósito geral e ligado a este tem mais dois; 2) Ter a certeza de que nossa fé é verdadeira; 3) Ganhar o nosso próximo para Cristo por nossa boa conduta.

O propósito da nossa prática de boas obras tem a ver com o nosso relacionamento conosco mesmos (certeza da fé), com o nosso próximo (ganhá-lo para Cristo) e com Deus (viver para sua glória). A linguagem do Catecismo é um reflexo da linguagem bíblica. Veja Tito 2.11,12. Conforme esse texto, a graça de Deus se manifestou salvadora na nossa vida para deixarmos o pecado e vivermos no presente século de modo sensato, justo e piedoso. Note essas três últimas palavras: sensato, justo e piedoso. Viver de modo sensato tem a ver conosco mesmos – é viver com domínio próprio e sabedoria o que vai resultar na certeza da nossa fé. Viver de modo justo tem a ver com a maneira como nos relacionamos com o nosso próximo – é ser íntegro e honesto no seu relacionamento com os outros. Viver de modo piedoso – é viver uma vida devotada a Deus em adoração, comunhão e gratidão.

Devemos praticar boas obras em primeiro lugar para que mostremos com toda nossa vida que somos gratos a Deus e para que ele seja louvado por nós. Se as nossas boas obras não vêm de nós mesmos, mas de Cristo, então, elas devem ser feitas não para nossa glória, mas para a glória de Deus. Tem pessoas que fazem boas obras para mostrar que são melhores do que os outros ou para alcançar favores de Deus. Mas essas motivações são erradas. Por outro lado, a motivação do crente para praticar boas obras é glorificar e agradecer a Deus por sua salvação.

Ser grato a Deus é reconhecer o que ele fez por você em Cristo e louvá-lo por isso. Deus tem nos dado muitas bênçãos em Cristo Jesus: perdão, nova vida no Espírito, comunhão dos santos, cuidado paternal, vida eterna. Você estava perdido nesse mundo, mas agora é um filho amado de Deus. Você passou da morte para a vida. Você era um pobre pecador e agora participa das riquezas de Cristo. Lembre-se sempre dessas bênçãos e seja um crente agradecido. Pergunte a si mesmo: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl.116.12). Viva para a glória de Deus. Ele é digno de seu louvor, pois a sua salvação é uma obra exclusiva e graciosa dele. Ele fez tudo por você e quer somente a sua gratidão, o seu amor por ele.  

O crente agradecido é aquele que mostra sua gratidão a Deus com toda a sua vida, quer dizer, em cada atividade que ele faz. “Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (I Co. 10.31). Em nossos relacionamentos familiares, na maneira com trabalhamos ou estudamos, ou no modo como curtimos as férias e buscamos o lazer ou em qualquer outra atividade, nosso alvo maior é que o nome de Deus seja glorificado. 

Glorificar a Deus por meio de boas obras é o seu chamado como cristão. Agora lembre-se que boas obras não se limitam a obras sociais de caridade como visitar doentes e cuidar dos pobres, por exemplo. Boas obras têm a ver com obediência à lei de Deus, é mostrar amor por Deus guardando os seus mandamentos (guardar do dia do Senhor, amar o próximo, honrar o pai e a mãe, não falar mal do próximo, não adulterar, mas honrar o casamento, não ser cobiçoso ou invejoso, mas generoso). Na continuação da explicação do catecismo, a lei de Deus será apresentada a nós como uma regra de gratidão. Glorificar Deus é obedecer aos seus mandamentos, buscar o seu reino em primeiro lugar, temer o seu nome, confiar nos seus cuidados, e servi-lo com amor e alegria. 

Devemos praticar boas obras para ter certeza de que nossa fé é verdadeira. Boas obras são frutos da verdadeira fé. Ao praticá-las, o crente percebe o agir do Espírito Santo na sua vida e, ao mesmo tempo, recebe deste mesmo Espírito a certeza de que sua fé é verdadeira. Que benção maravilhosa possuir o Espírito Santo em nossos corações. Ele nos torna crentes produtivos e também crentes confiantes, pois ele nos dá a certeza da nossa salvação pelas boas obras que praticamos. O apóstolo Pedro afirma que é mediante uma vida de diligência e piedade que a nossa vocação e eleição é confirmada (ver II Pedro 1.10,11; ver também artigo 12 do capítulo I dos Cânones de Dort – a Certeza da Eleição).

Finalmente, devemos praticar boas para ganhar o nosso próximo para Cristo. Deus abençoou a nossa vida para sermos uma benção para aqueles que nos cercam. Existe uma possibilidade real de ganharmos nosso próximo para Cristo pela vida cristã que levamos. A maneira como você vive nesse mundo é muito importante para o testemunho do evangelho e a salvação dos pecadores. Deus renova sua vida porque ele quer usar você como um instrumento para ganhar outros. Você é o sal da terra e a luz do mundo. Quando você vive de modo digno do evangelho, o Senhor pode usar o seu testemunho para salvar outros. É isso que Jesus nos ensina em Mateus 5.16 (ler). 

Você já parou pra pensar bem sobre isso? Seu próximo pode ser ganho para Cristo pela vida cristã que você leva. Outros podem glorificar a Deus ao verem as suas boas obras. Como está a sua vida como um cristão? Você tem orado por seus parentes e amigos descrentes? Tem dado testemunho de Cristo a eles mediante uma boa conduta? Cristo tem sido visto em sua vida por eles? Às vezes até oramos por nossos parentes e amigos descrentes, mas o que temos feito na prática? Vivemos de modo justo e santo? Aproveitamos as oportunidades para falar de Cristo pra eles?

Talvez você se preocupe em como ganhar seu filho rebelde, seu marido incrédulo, seu vizinho descrente para Cristo. O que posso fazer? Já orei tanto. Continue orando e zele por uma boa conduta (ver I Pe.3.1,2). O Senhor é Misericordioso e Poderoso para salvar outros por meio da sua conduta. Mas lembre-se sempre que a glória na salvação é só dele e não sua, pois é ele quem te capacita a praticar boas obras e somente ele é capaz de operar a fé salvadora no coração do pecador.

Meus irmãos! Nossa prática de boas obras também pode ser uma benção para os nossos irmãos na igreja. No corpo de Cristo, devemos estar dispostos a servir e edificar uns aos outros com o uso dos nossos dons. Paulo nos ensina isso na sua instrução a Tito (Tt. 2.1-10). Os homens idosos devem ser uma benção na igreja (v.2); as mulheres idosas devem dar um bom exemplo e aconselhar as mulheres mais jovens (3-5); as jovens recém casadas devem ser boas esposas e mães (5); os jovens devem ser ajuizados e honrar a Cristo com suas vidas (6); os oficiais devem ser homens fiéis na igreja para edificar os santos (v.1,7,8). Não importa a idade ou a posição que ocupamos no corpo de Cristo. Importa cada um servir ao outro em amor e dar testemunho cristão para honrar o nome de Cristo e da sua igreja (v.5,10).

Meus irmãos! Se temos o nome de cristãos, mas não vivemos como cristãos não vamos ser benção para os outros. Pelo contrário, seremos pedra de tropeço. O nome de Cristo não vai ser honrado nem o nosso próximo vai ser ganho para Cristo se envergonhamos o nome de Cristo vivendo em nossos pecados. Sem uma vida de gratidão, você não pode glorificar a Deus, ter certeza da sua fé e muitos menos ganhar seu próximo para Cristo. Sem gratidão também não há salvação. A P&R 87 fala sobre aqueles que vivem no pecado (ler). Não há salvação para eles se não se converterem a Cristo. Alguém pode até dizer que é um cristão, mas se não vive como tal, além de desonrar o nome de Cristo, engana a si mesmo, não é benção para o próximo e não poderá ser salvo. Mas não é isso que Cristo deseja de nenhum de nós. 

Afinal de contas, ele veio ao mundo para te libertar da miséria do teu pecado a fim de te perdoar, te levar para o céu, mas também capacitar você a viver para Ele. Por seu Espírito, Ele te restaurou ao propósito da sua criação que é viver para a glória de Deus.  Sua vida só tem sentido e felicidade quando você vive para a glória de Deus. Além disso, seja um crente útil na sua vida e na casa do Senhor. Viva de tal modo que seus irmãos sejam edificados na fé e os descrentes conheçam a Cristo para a salvação deles. Que o Senhor nos ajude a mostrar sincera gratidão e viver para sua glória com toda nossa vida! Amém.

Voltar ao topo

Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.