Leitura: Gênesis 3, Efésios 2
Texto: Dia do Senhor 3
Congregação do nosso Senhor Jesus Cristo,
Semana passada, começamos o processo de abrir a Palavra de Deus para nos vermos como realmente somos. O Dia do Senhor que vimos na semana passada termina com a pergunta: “Você consegue guardar tudo isso perfeitamente? — isto é, amar a Deus com todo o nosso coração, alma, mente e força, e amar o próximo como a nós mesmos. E a resposta foi direta: “Não. Pelo contrário, sou inclinado por natureza a odiar a Deus e ao próximo”. Se olharmos para nós mesmos honestamente, comparando-nos não com outras pessoas, mas com a lei perfeita de Deus, começamos a reconhecer até onde caímos.
Esse é o ponto que este Dia do Senhor quer que exploremos mais. É importante que reconheçamos que, por mais desagradável que seja esse assunto, é aqui que começa a fé cristã. Nunca entenderemos a profundidade do amor de Deus em Jesus Cristo ou a magnitude de Sua graça até que conheçamos a nós mesmos e nosso pecado à luz da Palavra de Deus. Nunca correremos para um Salvador que achamos que não precisamos. Então é aqui que devemos começar.
Assim, na semana passada, começamos nos comparando com a Lei de Deus, e vimos que, medidos por esse padrão perfeito, só podemos concluir que somos, por natureza, inclinados a odiar a Deus e ao próximo.
O próximo passo que queremos dar esta tarde é reconhecer que essa realidade – que há em nossos corações um profundo egoísmo e hostilidade em relação a Deus e às outras pessoas – que essa realidade não é a maneira que devemos ser.
Este é um ponto importante para lembrar, porque senão é muito fácil se acostumar com o nosso pecado. Egoísmo, luxúria, violência, ganância — ruptura no relacionamento com Deus e outras pessoas — esse é o único mundo que conhecemos. O anormal nos parece normal . Nós olhamos ao redor, e todos os outros são do mesmo jeito. Portanto, não esperamos nada de diferente — a ponto de não mais reconhecermos nosso pecado pelo que ele é. Ser pecador – não é apenas ser humano?
É por isso que este Dia do Senhor nos ensina a reconhecer nas Escrituras que, de fato, não é assim que deveríamos ser. Se entendermos o que já fomos quando Deus nos criou, então entenderemos melhor a tragédia do que somos agora. Ou, dito de outra forma: só entenderemos a profundidade em que caímos, se primeiro entendermos a altura em que fomos criados.
Isso também é importante porque uma parte desta glória original ainda permanece conosco. É o que nos dá valor. Se sondarmos as profundezas de nossa depravação com uma honestidade brutal, podemos chegar à conclusão de que não somos nada além de monstros maus e inúteis sem valor. E isso é meia verdade. Existe um grande mal dentro de nós, sim. Podemos ser monstros. Mas não somos inúteis sem valor. Ainda há dentro de nós uma grande dignidade e valor.
É isso que torna tão difícil para muitas pessoas encarar a verdade de nossa pecaminosidade. Somos incapazes de manter essas duas realidades em tensão. Como seres humanos, somos um terrível amálgama de dignidade e depravação. Somos feitos à imagem de Deus e dotados de grande valor e dignidade; e somos pecadores até o âmago, e capazes de extrema maldade e crueldade.
É muito difícil manter essas duas verdades juntas. Tendemos a ver o mundo em preto e branco. Ou somos pessoas boas com grande valor e dignidade, ou somos pessoas más e, portanto, inúteis e indignas de respeito.
Você pode ver isso, muito claramente, na maneira como o mundo lida com o mal—o mal que o mundo reconhece. Abusadores de crianças, estupradores, terroristas – são designados pela sociedade como totalmente inúteis—bichos sem valor. Sua depravação é reconhecida, e assim sua dignidade é negada.
Você pode ver isso claramente agora na cultura brasileira. Uma longa história de corrupção e falhas na aplicação da lei criou a realidade de que os criminosos são capazes de correr como reis – armados até os dentes e capazes de exigir o que quiserem de uma população incapaz de se defender. Eles roubam, estupram e assassinam sem pensar. E porque a lei é tão fraca contra eles – está acontecendo cada vez mais que as pessoas estão fazendo justiça com as próprias mãos.
E quando isso acontece, não há respeito pela dignidade humana. Eles são considerados escória e, se forem pegos, muitas vezes são espancados até a morte e seus corpos violados de maneira feia e indigna. Sua depravação é reconhecida, e assim sua dignidade é esquecida.
Mas então nos viramos, olhamos para nós mesmos e reconhecemos, inequivocamente, nosso próprio valor e dignidade, que é igualmente inconfundível – a preciosidade absoluta da vida humana, diante, por exemplo, de uma pequena criança – quando reconhecemos o valor e a dignidade da vida humana, então somos tentados a ignorar ou minimizar a realidade da depravação. Vemos o mundo em preto e branco. Mas a realidade é que todo abusador cruel, estuprador, terrorista, ditador e nazista tem a mesma dignidade. Começou a vida como uma linda criança. E não adianta passar a culpa para os pais deles. Embora eles certamente compartilhem a culpa, eles também começaram a vida como uma linda criança.
A realidade muito desconfortável é que estas duas coisas são verdades sobre todos nós. E isso é muito perturbador. Isso significa que toda pessoa má, que preferimos considerar como animal e escória, é de fato uma pessoa de valor sagrado; e por outro lado que cada criança “inocente”, e cada um de nós, cuja vida é preciosa, também é capaz da pior crueldade e maldade. Está escrito em nossa própria natureza. Temos dentro de nós uma grande dignidade e uma terrível depravação. Somos, nas palavras de Francis Schaeffer, uma “ruína gloriosa”. Somos feitos à gloriosa imagem de Deus, com um valor tremendo e inviolável; e somos por natureza filhos de Satanás, com corações voltados contra Deus em hostilidade, dedicados a derrubar Seu reino e estabelecer o nosso próprio, sem consideração pelo sofrimento e agonia que infligimos aos outros. Isso é quem somos por natureza. Essa é a nossa condição.
É disso que se trata este Dia do Senhor. O catecismo nos ensina abrir a Palavra de Deus e reconhecer essas duas verdades, para que apreciássemos a grande tragédia de nossa condição atual.
Portanto, devemos começar na criação.
Nossa dignidade e nossa glória reside no fato de que fomos criados à imagem de Deus.
Gen. 1:26–27: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”
Agora, o que isso significa? – ser criado à imagem de Deus. Usamos esse tipo de linguagem com frequência. Dizemos: “Joãozinho é a cara de seu pai”. O que queremos dizer com isso é que Johnny se parece com o pai. Ele tem as mesmas características físicas.
Mas o que significa para nós sermos criados à imagem de Deus? Deus tem 173 centímetros, com cabelo preto, olhos castanhos? Obviamente não. Então o que isso quer dizer?
Em Gênesis 1 e 2, fica claro que a imagem de Deus é o que diferencia o homem e a mulher do resto dos seres vivos que Deus criou. Deus fez todos os animais de acordo com suas espécies, e então Deus disse: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Há um contraste em Gênesis entre os animais, que se reproduzem de acordo com suas espécies, e o homem, que foi feito à imagem e semelhança de Deus.
A imagem de Deus não significa que os seres humanos se fisicamenteparecem com Deus, porque Deus é Espírito e não um ser físico. Mas ela significa que os seres humanos são, de maneira profunda, filhos de Deus feitos para se assemelharem a Deus. Em Lucas 3, temos a genealogia do Senhor Jesus traçada até Adão, e conclui: “filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus”. Paulo diz a mesma coisa em Atos 17, citando poetas pagãos que descobriram a mesma verdade profunda de que “somos os filhos dEle”. A diferença entre o homem e os animais é que o homem foi criado para ser um reflexo único, requintado e inconfundível de Deus na terra. Então, assim como Deus é bom, sábio, justo, misericordioso, amoroso e verdadeiro; assim nós também fomos criados bons, sábios, justos, misericordiosos, amorosos e verdadeiros. Lemos em Gênesis 1 que Deus olhou para sua criação e declarou que era muito boa.
Com cada uma dessas qualidades que herdamos de Deus – bondade, sabedoria, justiça, misericórdia, veracidade, amor – podemos reconhecer uma correspondente capacidade como moralidade, razão, justiça, criatividade, autoconsciência e a capacidade de se comunicar e se relacionar a Deus e aos outros. Essas capacidades também fazem parte da imagem de Deus em nós, que nos permite conhecer Deus, amá-lo, viver com ele e refleti-lo, como filhos refletindo um Pai perfeito.
Agora, é importante entender que essas capacidades por si só não são o que nos faz à imagem de Deus – elas não são o que torna a vida humana sagrada – mas são consequências daquela dignidade especial que Deus nos concedeu para nos chamar de Sua imagem. Mesmo que um ser humano individual possa carecer de algumas dessas qualidades, ele ainda é feito à imagem de Deus, que é uma dignidade conferida e não uma capacidade inerente. A incapacidade de raciocinar ou de se comunicar, ou a falta de autoconsciência (quem está em coma, por exemplo, ou o feto no ventre da mãe), não torna o ser humano menos filho de Deus. É uma honra sagrada que Deus confere.
O que tudo isso significa é que você e eu temos uma dignidade sagrada que nunca pode ser violada. Nós somos os portadores da imagem de Deus. Nossas vidas têm valor inviolável. Mesmo a pessoa mais perversa e má ainda carrega essa imagem. Essa é a nossa dignidade.
Um autor colocou desta forma. Ele escreveu:
O homem é um castelo majestoso, intrincada e magistralmente construído pela mão de um artesão que projetou Seu trabalho sem pensar em despesas ou praticidade. Uma preocupação adequada com a própria glória e majestade de Deus foi Sua única força orientadora na criação do homem.
Essa é a nossa glória, e ela pertence a cada ser humano na terra, de todas as raças, de todas as formas, independentemente de deficiência ou fraqueza ou mesmo pecado e maldade. Nós carregamos a imagem de Deus, porque fomos feitos de forma única entre todas as criaturas de Deus para refleti- Lo e viver em relacionamento com Ele. Isso é verdade, mesmo depois da queda no pecado; embora a imagem de Deus seja quebrada e obscurecida em nós de muitas maneiras, essa dignidade ainda é nossa e não pode ser tirada. É o que Deus diz a Noé—depois da queda—em Gênesis 9:6: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.”
É por isso que a evolução darwiniana é tão profundamente inconsistente com a mensagem cristã, e é isso que a torna tão terrivelmente perigosa. De acordo com a evolução darwiniana, o homem nada mais é do que um animal altamente evoluído.
Se isso for verdade, então não há dignidade ou valor inerente a um homem ou mulher, assim como não há em um cachorro ou gato, ou pulga ou micróbio. Ou até uma pedra.
Você não precisa de muita imaginação para reconhecer as implicações dessa crença. Se não somos nada além de animais, não há razão para defender, preservar ou honrar a vida humana. Muitos ateus se recusam a levar essa crença à sua conclusão lógica (graças a Deus), mas existem alguns.
E o século 20 – o século mais sangrento da história humana, por muito – foi um testemunho das consequências dessa crença.
A fé cristã começa com a convicção de que os seres humanos, homens e mulheres, crianças e bebês, são criados à imagem de Deus e, portanto, suas vidas são preciosas aos olhos de Deus. Esta é a nossa dignidade e valor, e é inviolável diante de Deus.
——
Então, o que aconteceu? Quando consideramos a perfeição e bondade com que fomos feitos—o que já é muito difícil de imaginar de nossa atual condição caída (como seria uma vida caracterizada com o amor por Deus com todo coração e o amor pelo próximo como a se mesmo—é até difícil imaginar, quão longe estamos da nossa condição justa) -Quando consideremos a glória e a dignidade com que fomos criados, e então olhemos honestamente para o mal que existe – tanto lá fora quanto também em nós mesmos – precisamos nos perguntar: o que aconteceu conosco? Como nos tornamos o que somos?
Esta é a nossa depravação.
E começa com nossos primeiros pais, Adão e Eva. É sobre isso que lemos em Gênesis 3.
Agora, acho que muitas pessoas lutam para entender como uma coisa aparentemente trivial como comer o fruto proibido pode ter levado a todo o quebrantamento e miséria que encontramos neste mundo – sem nem falar do julgamento de Deus! Veremos o julgamento de Deus na próxima semana. Mas queremos pensar sobre a questão, como o erro aparentemente tão pequeno e simples de Adão e Eva — como isso poderia ser a fonte de todo o mal e miséria que agora existe na raça humana? Parece uma explicação insuficiente. Será que todo o curso da história humana realmente depende de duas pessoas comendo o fruto proibido?
Em resposta a isso, eu diria em primeiro lugar que isso realmente não deveria ser um grande mistério para nós, porque muitas vezes é assim que o pecado funciona. Um único pecado, que pode ocorrer ao longo de alguns minutos, pode levar a uma vida inteira de miséria e destruição. Um único caso de adultério, cometido em um momento de negligência, pode trazer uma vida inteira de miséria. Um momento de imoralidade pode trazer DSTs e AIDS que mudam o rumo de uma vida e destroem uma família inteira. Uma decisão de dirigir pra casa depois de beber um pouco demais, e uma vida inteira é destruída. Ou uma pequena e impensada decisão de enviar uma mensagem de texto enquanto dirigimos pode terminar em (justamente) passar o resto de nossas vidas na prisão por homicídio. O pecado que leva um mero instante para ser cometido, e pode ser feito sem pensar, pode ter implicações retumbantes que perduram por gerações.
Assim com o pecado de Adão e Eva. Uma única decisão de desobedecer ao mandamento de Deus e tomar o que era proibido, mergulhou eles e todos os seus descendentes na ruína e na miséria.
Agora, tem uma distinção importante que é feita nos Cânones de Dort, e é importante que entendamos.
Quando olhamos para o pecado da raça humana, perpetrado de uma geração para outra, poderíamos pensar que é transmitida por imitação.Esta é uma explicação de como é possível que uma criança “inocente” possa se transformar em um monstro do mal. Imaginamos que deve ser questão da sua criação. São “vítimas da sociedade”. E sem dúvida, há alguma verdade nisso. Mas até se for sómente isso, temos que perguntar: o que é essa “sociedade”, senão outros seres humanos? Isso não resolve a questão de onde vemos a nossa depravação. Certamente há algo dentro de nós, dentro da natureza humana própria, que nos faz assim.
O mal da raça humana não pode ser reduzido a uma questão de imitação. Desde o momento em que Adão e Eva caíram em pecado, as Escrituras nos ensinam que sua própria natureza foi corrompida, e nós, como seus filhos, herdamos essa corrupção. Ela surge de dentro de nossos próprios corações.
Assim, os Cânones de Dort fazem a distinção:
Capítulo 3, artigo 2:
Depois da queda o homem se tornou corrompido e como pai corrompido gerou filhos corrompidos. Assim a corrupção, de acordo com o justo juízo de Deus, propagou-se de Adão a todos os seus descendentes — à exceção de Cristo somente — não por imitação, como afirmavam os antigos pelagianos, mas pela propagação de uma natureza pervertida.
Em outras palavras, o pecado não passa de uma geração para outra apenas por causa do mal-exemplo dos pais, mas é mais como uma desordem genética: uma corrupção em nossa própria natureza que é transmitida. Quando Adão e Eva caíram em pecado, eles perverteram irreversivelmente sua própria natureza, e é essa natureza que agora herdamos. Assim o salmista confessa no Salmo 51:5: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” Ou, como Paulo diz em Romanos 5: “Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”
Há algo em nossas almas e até mesmo em nossos corpos que é irreversivelmente corrompido pelo pecado.
Quão ruim é essa corrupção? Vimos isso brevemente na semana passada, onde confessamos, à luz da Palavra de Deus: “Estou inclinado por natureza a odiar a Deus e ao meu próximo”. Agora, ódio pode parecer uma palavra forte, mas estamos nos medindo aqui pela Palavra de Deus. Embora possamos nos dar bem com nosso próximo, ainda assim, se é verdade que o coração humano deseja tirar Deus de Seu trono e se estabelecer como o centro do seu universo, então naturalmente odiaremos nosso próximo quando ele ameaçar nosso domínio absoluto. É “venha o meu reino, faça-se a minha vontade”. E uma vez que todos os outros corações humanos estão comprometidos com o mesmo objetivo, realmente existe um profundo ódio e hostilidade dentro de nós em relação a Deus e a todos as outras pessoas, na medida em que ameaçam nossos objetivos finais do reino. O ódio se torna evidente no momento em que o reino deles ameaça o nosso.
Então, novamente, estamos aqui para abrir a Palavra de Deus, e deixar Deus falar sobre nossa verdadeira condição.
- Gn 6:5: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração.”
- Rm 8:7: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.”
- Ef 2:1–3, que lemos anteriormente: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”
- Ou Tito 3:3: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.”
A tragédia de nossa condição é que, embora tenhamos sido criados para amar a Deus e ao próximo, nossa inclinação natural é odiar a Deus e ao próximo. Quando uma outra pessoa comete até mesmo a menor ofensa de me cortar no trânsito, já veio lançando maldições sobre ele. Assim é que, mesmo nossos filhos (estou errado, pais? mães?) – até nossos próprios filhos, quando ameaçam nossa paz, nossa reputação (à medida que envelhecem), ou o que quer que tenhamos feito nosso Deus, então eles se tornam vítimas de nossa ira. E quando deixados por nossa conta, dado o motivo e a oportunidade, não há limite para o mal e a crueldade que somos capazes de cometer. Vi hoje uma reportagem de uma mãe que deixou seus filhos—um menino de 2 anos e uma menina de 1 ano—amarrados no quarto por dias, sujos de fezes, e com feridas que Não é exagero descrever nossa natureza nesses termos.
Não ignoro que o mundo ouve os cristãos confessando isso, e eles balançam a cabeça em horror. “Como os cristãos podem acreditar que somos tão maus? Olhe para a bondade da humanidade. Veja a alegria das crianças inocentes.”
Mas, honestamente, estou surpreso que alguém possa acreditar no contrário.
Se alguma vez houve um século que provou que isso não é verdade, é o século passado. 5 milhões de judeus massacrados nos campos de concentração da Alemanha nazista. 65 milhões que morreram na China. 20 milhões na União Soviética. 2 milhões no Camboja. 2 milhões na Coreia do Norte. Milhões na África, Afeganistão, nos estados comunistas na Europa Oriental, na Vietnã. 800.000 tutsis massacrados em Ruanda nos anos 90. E, muito maior do que tudo isso: os 40 milhões de crianças não nascidas assassinadas no útero nos EUA desde 1973 e os 4 milhões mortos no Canadá desde a legalização em 1969: 100.000 a cada ano.
E esses assassinatos foram cometidos não por pessoas primitivas e sem inteligência — mas pelas elites e pelos educados; e sociedades inteiras— os membros “decentes”, “educados” da sociedade — eram inteiramente cúmplices.
Foi o século do secularismo — do otimismo; da crença de que a ciência, a medicina e as filosofias como Karl Marx levariam a humanidade a uma nova e gloriosa era. E se transformou em um século de maldade como nenhum outro que o mundo já viu.
É incrível que o mundo olhe para a violência do século passado e ainda se apegue à noção de que a natureza humana é de alguma forma “basicamente boa”. Já deveria ser uma questão de verdade universalmente aceita agora que o mal e a crueldade estão entrelaçados na condição humana.
Assim, somos trazidos face a face com a realidade de nossa condição. Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso. Deixe a Palavra de Deus falar, e vamos nós ouvir.
- Gn 8:21: “É mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade.”
- Jó 15:14: “Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo?”
- Sl 51:5: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”
- Pv 22:15: “A estultícia está ligada ao coração da criança.”
- Jr 17:9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”
- Ec 7:29: “Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”
- Ec 9:3: “O coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.”
- Sl 130:3: “Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?”
- Rm 3:10: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.”
Novamente, estamos aqui para ver isso porque reconhecemos que este é o ponto de partida da fé cristã. É somente quando nos conhecemos por quem somos, e nossa condição pelo que é, que entendemos nossa necessidade de um Salvador, e corremos e nos apegamos a Jesus Cristo.
Muitas vezes, nós, cristãos, esquecemos o quanto precisávamos ser salvos. Quão miserável é a nossa condição.
Claro, confessamos isso. Sabemos que a Bíblia ensina isso. Mas é óbvio que muitas vezes não acreditamos nisso sobre nós mesmos.
Conta-se a história de uma mulher que procurou seu pastor e disse: “Pastor, sou uma pecadora pobre e miserável”. E o pastor disse a ela: “Sim, já ouvir falar disso.” E ela imediatamente ficou indignada e perguntou: “Quem disse isso??”
É óbvio, também, que não acreditamos que somos pecadores tão miseráveis, toda vez que os outros pecam contra nós. Estamos chocados. Pensamos: “Como é possível que eles fizeram isso?” E o que está implícito é: “Eu nunca faria isso”.
Sim, você faria. Você é capaz de fazer também. Dado o tempo e oportunidade, você faria até pior.
E precisamos saber disso se quisermos viver uma vida de gratidão pela graça de Deus para conosco. Muitas vezes passamos a vida cantando o hino:
“Graça banal, quão tédio canção, que salvou uma pessoa muito legal como eu”.
Deixe Deus te ensinar o contrário.
Deixe Deus ensiná-lo a confessar seus pecados especificamente, usando a terminologia bíblica.
“Senhor, eu odiei minha esposa hoje. Sua filha, a quem você me deu para amar, cuidar e liderar. Eu a desprezei, eu a menosprezei, eu me permiti esfriar a sua beleza.”
Aprenda em sua confissão de pecado – especialmente um para o outro– a ver que pecador miserável você é.
Pode destruir seu orgulho. Pode mudar seu comportamento. Pode fazer com que você veja um lado de si mesmo que não queria ver.
Mas vai ensiná-lo a cantar: “Graça maravilhosa, quão doce canção, que salvou um miserável como eu”.
——
A última parte do Dia do Senhor 3 nos deixa com uma nota de esperança. Ainda é uma palavra difícil, mas há esperança. “Mas somos tão corruptos que somos totalmente incapazes [em nós mesmos] de fazer o bem e inclinados a todo o mal?
Sim. (Essa é a dura verdade que devemos aceitar) A menos que… sejamos regenerados pelo Espírito de Deus.
A fé cristã repousa na convicção de que estamos caídos e mortos em nós mesmos, mas aponta para a esperança de que Cristo veio para os pecadores, para nos redimir, nos resgatar e nos fazer novos.
E Ele pode, e ele sim faz.
Irmão, você que foi batizado em Cristo não está mais condenado a ser um pecador sem esperança. Você é um filho de Deus. Você é feito novo. O Espírito de Deus vive em você para dizer não ao pecado e dizer sim a Deus.
Cristo veio para ganhar um povo para si, para comprá-lo com seu sangue, para morrer por eles e suportar a justa ira de Deus pelo mal que existe em seus corações, para que possamos nos reconciliar com o Deus de quem outrora fugimos, contra quem uma vez nos rebelamos; para que fôssemos perdoados e também renovados. Ele morreu para nos salvar, não apenas da culpa do nosso pecado, mas do próprio pecado.
Portanto, irmãos, humilhem-se diante da Palavra de Deus, porque o mesmo Deus que chama nosso pecado e nosso mal pelo que é, também enviou Cristo ao nosso mundo para nos comprar e nos redimir, para nos reconciliar com Ele.
Permaneçam na luz da verdade, porque é a verdade, pela graça de Deus, que também o libertará. Confessem com o salmista: “Eis que fui concebido e nasci em pecado”, para que os irmãos também possam orar com ele: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais branco que a neve. Deixe-me ouvir alegria e alegria; regozijem-se os ossos que quebraste.” “Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.”
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.