Leitura: Filipenses 03.01-16; Hebreus 09.11-22
Texto: Dia do Senhor 23
Amada congregação do Senhor Jesus Cristo,
Quando estudamos o domingo 22 falamos que nossa alma e nosso corpo são levados diretamente para Deus e vimos que isto tem causado muitas batalhas na igreja. No domingo 23,porém, a situação é bem diferente. Este domingo nasceu da grande batalha no período da reforma do século xvi.
Neste domingo nós chegamos ao coração da confissão reformada, a saber, a justificação pela fé somente. Esta confissão tinha sido redescoberta e defendida, não somente contra Roma, mas também contra os anabatistas e depois contra os arminianos. Na verdade, esta doutrina tem sido o maior motivo entre as batalhas na igreja através dos séculos. Cristo batalhou por ela contra os fariseus, Paulo contra os judaizantes, os pais da igreja contra os pelagianos; e hoje nossa batalha contra os “cristãos” humanistas e modernistas tem sido em torno deste mesmo ponto.
Este domingo trata sobre o fundamento da fé cristã, a saber, justificação pela fé. E desde de que a fé é um dom de Deus, este domingo é um hino de louvor à soberana graça de Deus. É maravilhoso que muitos hereges tem lutado contra este domingo, porque uma coisa que os hereges tem em comum é que a salvação deles depende, se não em todo, pelo menos em parte, deles mesmos, ou seja vem do homem, enquanto que o catecismo diz que vem de Cristo, e isto é recebido somente pela fé. Isto é o coração de todas as escrituras, e é a parte mais importante do catecismo.
Esta é uma confissão sem igual e ela é o pivô da confissão. Aqui está a chave para o verdadeiro entendimento da bíblia. Eu proclamo o evangelho a vocês sob o seguinte tema:
Tema: A justiça é somente pela fé em Jesus Cristo
- O dom da justiça em Cristo
- O caminho para esta justiça é por meio da fé
- O dom da justiça em Cristo
O catecismo pergunta: mas que proveito tem sua fé no evangelho? Outra versão diz: em que isto beneficia voce? Esta questão já vem há muito tempo. Que proveito tem crer em tudo isto?
O catecismo tem tratado com esta “fé” durante vários domingos. Este assunto começou no domingo 7, falando sobre a necessidade e atividade da verdadeira fé, e continuou desde o domingo 8 até o 22, falando sobre a o conteúdo desta fé, e agora, finalmente, depois que tudo isto foi exposto, ele pergunta: que proveito tem crer em tudo isto? Realmente importa se voce é um crente ou não? Sua vida é realmente diferente ou melhor?
Da necessidade, da atividade, e dos conteúdos desta fé, nós chegamos agora aos benefícios desta fé. Isto é uma bonita seqüência. Nós algumas vezes tendemos a fazer o caminho inverso. Freqüentemente nos perguntamos sobre os benefícios, antes de nos comprometermos com esta fé. Primeiro perguntamos: que proveito isto terá para mim se eu crer? Então depois eu começo a crer. A pergunta do mundo é: o que eu consigo com esta fé?
Mas o catecismo formula diferentemente este questão. Há primeiro aqui a confissão alegre de que cremos. Nós cremos. Cremos em tudo isto, a saber, tudo o que tem sido explanado pelo credo apostólico. A pergunta sobre o beneficio vem depois de crermos, ai sim se pergunta pelo beneficio, porque cremos. Portanto somente depois de confessarmos nossa fé é que perguntamos sobre a fé e seus benefícios.isto é o estilo da igreja de Cristo. Porque cremos, queremos saber sobre as riquezas desta fé.
A questão é respondida em duas partes: em Cristo eu sou justo diante de Deus, e herdeiro da vida eterna. Isto tudo está contido nas perguntas e respostas 60 e 61.
Eu posso aqui me restringir a falar por um momento sobre a primeira parte desta resposta. Em Cristo sou justo diante de Deus. Esta é o primeiro grande beneficio. Vamos examina-lo agora mais de perto.
“justo diante de Deus”. Devemos ser cuidadosos de que não vamos compreender esta frase corretamente. Freqüentemente se entende esta palavra, justo, como sendo sem pecado. Nos lembremos do salmo 1 verso , que fala do justo que é como uma arvore e que floresce em tudo o que ele faz. Então nós facilmente pensamos em alguém que quase não peca.
Sem pecado? Esta é exatamente a interpretação romanista, e não há nenhuma surpresa que as pessoas confundam justificação e santificação. Não ensina a igreja de Roma que primeiro voce deve apresentar-se a si mesmo para ser santo? Só então é que voce após esta santidade aparente, você pode ser considerado justo, que é, sem pecado, perfeito quase, de uma forma muito santa.
Na reforma, a Igreja, aprendeu o oposto disto: primeiro alguém precisa ser justificado, declarado justo, e então esta pessoa deve ser santificada, feita santa. Primeiro vem o perdão dos pecados e depois disto a renovação da vida.
Embora esta palavra “justo diante de Deus”se aplique a nós ela não significa sem pecado. Pois o que é que confessamos antes de virmos a cada santa ceia? Que somos cientes de nossos muitos pecados e faltas. Eu sou justo diante de Deus, mas não sem pecados.
As igrejas reformadas entenderam que a palavra justo é um termo legal, uma questão da lei de Deus. Alguém que deve ser justificado, é primeiro acusado e denunciado. Quando eu digo: eu sou justo diante de Deus, isto é o resultado de um processo judicial. Isto significa que eu tenho sido absolvido, eu fui declarado inocente! Eu fui restaurado a posição de honra.
A acusação era: escravidão e inabilidade em viver de acordo com a lei de Deus e com sua glória. E isto é uma seria acusação, pois se isto é verdade, eu sou merecedor da eterna condenação. Então eu não posso aparecer na comunhão do Senhor, e também não posso aparecer em sua mesa. Voce percebe quão importante é que sejamos declarados inocentes ou justos, pois de outra maneira não podemos entrar ou permanecer na comunhão com Deus!
Este assunto ainda causa hesitação para muitos. Eu justo? Não de forma nenhuma. Quem neste mundo, não nos ensina que Senhor olhou para todo o mundo e não encontrou ninguém que fosse justo. Todos são culpados e igualmente merecedores da condenação eterna.
Podemos facilmente enganar as pessoas. Podemos colocar uma boa aparência externa e impressionar as pessoas. Podemos parecer até bonitos para os de fora. Podemos ser considerados até justos pelos de fora. Mas justos aos olhos de Deus? Diante de Deus, aquele que conhece o coração e os pensamentos, que não pode ser enganado, que sempre mede diferentemente as pessoas, e que sabe melhor que ninguém o que você vive e o que você pensa? Como posso estar justo diante deste Deus as pessoas podem pensar que tudo está muito bem conosco, se elas pudessem ver como de fato estamos…. e Deus de fato ver como realmente estamos e somos.
Justo diante de Deus. Há muita coisa em nossa vida que nos faria rejeitar este pensamento. Na resposta 60 nós lemos a respeito das realidades que a qual somos confrontados. Em primeiro lugar, o catecismo diz: “minha consciência me acusa”. É até um pouco milagroso que minha consciência me acuse pois sabemos muito bem como faze-la dormir. Mas tudo bem, minha consciência me acusa. Mas não nos esqueçamos que esta é a consciência daqueles que o Senhor ainda se aproxima por meio de sua palavra e espírito. E esta consciência se auto-incrimina. Minha consciência me diz: eu tenho gravemente pecado contra todos os mandamentos de Deus, não tenho mantido nenhum deles. E sou inclinado a todo o mal.
Eu tenho pecado contra todos os mandamentos; eu não tenho mantido nenhum deles. Isto é uma confissão contraditória a primeira afirmação de que nós somos justos diante de Deus. Talvez pensemos que esta confissão vai longe demais. Não gostaríamos de pensar que temos guardado pelo menos alguns mandamentos? Não temos transgredido todos! Isto é mal, mas não tão mal assim.
Mas o catecismo diz que temos pecado contra todos os mandamentos de Deus. Não temos mantido nenhum se quer. Vamos ver a lista: idolatria, culto de vontade própria, maldição, assassinato, adultério, ambição, está é a lista toda. A balança da minha vida é totalmente depravada. Talvez, nem sempre isto se mostre externamente, mas o meu coração pecaminoso procure todos estes pecados.
E o catecismo ainda acrescenta: sou inclinado a todo o mal. Notem bem a pequena palavra chama ainda. É importante aqui esta palavra. Pois estamos fazendo estas confissões como cristãos, que aceitam as escrituras. Temos nascido de novo para uma viva esperança e estamos servindo a Deus. E isto é importante pois, o catecismo não diz que ainda fazemos mas que somos inclinados a faze-lo. Haverá vitórias e progresso na batalha da fé. Mas a inclinação básica sempre está presente.
Este domingo não é impressionante? De um lado confessamos nossa grande riqueza: justos diante de Deus. Por outro lado confessamos nossa profunda pobreza: injustos diante de Deus. Realmente somos ao mesmo tempo justos e pecaminosos. Como isto pode ser? Notem que estas duas coisas se levantam ao lado uma da outra sem nenhuma tensão. O catecismo somente proclama estas duas verdades.
A balança nos mantém longe do perfeccionismo, como se não tivéssemos mais nada dentro de nós, e pudéssemos alcançar um estado de perfeição aqui nesta terra. De forma nenhuma alcançaremos isto. O apostolo são Paulo adverte os crentes de Filipos sobre estas noções de perfeição farisaicas. Esta balança do catecismo ainda nos preserva do pessimismo e do medo de que nunca seremos justos diante de Deus. Nós somos justos. Não temos que nos elevar com isto. Nem devemos nos abater abaixo do que realmente somos. Somos pecaminosos, e ainda assim somos justos! Esta é a maravilhosa confissão do povo reformado, o coração da doutrina reformada.
Agora eu posso ouvir questões: como isto é possível? Como posso ser justo diante de Deus e ainda ser injusto? Estas questões nos trazem ao centro da questão. O catecismo diz: EM CRISTO eu sou justo diante de Deus. A justiça que tenho diante de Deus não é minha própria. Ela não é de minha própria vontade ou construção. Não é de meus próprios esforços. Isto é garantido a mim, imputada a mim, diz o catecismo. O apostolo Paulo escreve a igreja de Filipos a respeito disto (LER Fp. 3.9)
Eu tenho esta justiça, mas ela é um dom. isto quer dizer que eu não fiz nada por ela. Eu não fiz nada e eu não tenho nada a dar por esta justiça. Ela é sem nenhum mérito de mim mesmo, é pura graça.
A grande conseqüência da reforma foi que a igreja voltou a entender que a justificação é um dom de Deus, não um mérito de homem.
Há somente um que é justo, nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é sem pecado algum, completamente dedicado a Deus. Ele pagou o preço por nossos pecados, e quando o pai exigiu a pena de morte, ela se deu voluntariamente a esta morte e morte de cruz.
Em conseqüência disto esta justiça de Cristo completamente em nossa conta. Este fato é confirmado a nós hoje, e de novo na santa ceia. O catecismo fala desta grande milagre em termos altos:… se nunca tivesse cometido pecado algum ou jamais tivesse sido pecador; e como se tivesse cumprido pessoalmente toda a obediência que Cristo cumpriu por mim”. Deus faz somente isto em Cristo, e em conseqüência disto somos completamente justos diante de Deus. Como filhos que realmente são perfeitos. É assim que o pai nos vê. Assim ele garante a nós o dom da justiça em Cristo! E podemos dizer somo justos diante de Deus.
Isto é agora o que devemos crer. Qualquer que rejeita a Cristo, não compartilha desta justiça. A justiça é de Cristo e o único caminho para compartilharmos desta justiça é pela fé. Passemos ao segundo ponto.
- O caminho para esta justiça é pela fé
Somos justos diante de Deus. Agora o catecismo adiciona a este primeiro beneficio um segundo beneficio: eu sou um herdeiro da vida eterna. Somos agora confrontados com a expressão “herdeiro”. Esta é uma importante palavra na doutrina concernente ao pacto. Eu penso no que Paulo escreveu aos romanos e aos gálatas, e também a carta aos hebreus.
Você sabe que um herdeiro é um recipiente. Ele recebe alguma coisa por garantia e imputação. Ele não tem ganho isto dele mesmo, mas ele recebe através de uma promessa. E ele recebe isto, realmente, quando alguém morre. O herdeiro recebe a herança somente quando a pessoa que prometeu morre. Isto terá efeito, lemos sobre isto em hebreus 9.
Devemos, é claro, que um herdeiro precisa acreditar a herança que lhe prometeram, será realmente dada. O herdeiro deve perceber que ele não tem nenhum direito nesta situação, ele apenas deve basear sua herança na promessa que lhe foi feita. A herança foi assinada e selada. Ele deve carregar isto durante sua vida. E quando aquele que prometeu morrer. O herdeiro deve se apresentar a si mesmo como herdeiro, firme de que o que lhe foi prometido será dado.
Agora Cristo, é aqueles que nos deu a promessa, lemos isto em hebreus 9verso 15. debaixo do antigo pacto, o Senhor Deus prometeu salvação em Cristo. Esta promessa incluía a morte expiatória de Cristo, o filho de Deus. Vemos isto ainda em hebreus 9. Em outras palavras a herança prometida somente pode ser recebida se Jesus Cristo a obteve e preparou isto para sua igreja, e então assegurar com sua morte.
Cristo tinha que morrer para que a herança pudesse ser passada legalmente para seus herdeiros. Ele morreu, e agora a herança pode ser recebida! Isto é a essência do novo pacto ou testamento no sangue de Jesus Cristo. Então podemos confessar: eu sou um herdeiro da vida eterna.
Mas, então, a fé é requerida. Cristo, ele mesmo disse: aquele que crer terá a vida eterna. Nós temos que nos conhecer como herdeiros e nos comportar como herdeiros deste reino! A herança é recebida somente pela fé. Isto não é a condição mas, o caminho para a justiça, para receber a herança.
Confessamos que a fé é o único caminho. Se não formos pelo caminho da fé. nós perderemos as promessas de Deus incluindo a a herança. Em conseqüência na resposta 60 quando perguntado: como voce é justo perante Deus? A resposta imediatamente diz: somente pela verdadeira fé em Jesus Cristo. E a resposta termina deste jeito, dizendo: somente se eu aceito com todo o meu coração.
Eu sou um herdeiro. Devo agir como um herdeiro. Eu devo aceitar esta promessa em fé e confiança. A herança foi prometida. E as promessas de Deus são seguras e verdadeiras, mas eu devo também receber elas em uma fé firme. O catecismo não afirma que é o tamanho da fé que assegura a minha herança. Isto seria um pensamento arminiano. O catecismo afirma somente pela fé. se somente eu crer. Esta condição sempre acompanha a pregação e os sacramentos.
A fé é o caminho, a mão, e o braço, pelo qual eu alcanço e recebo a herança em Cristo. A confissão de fé belga fala sobre isto no artigo 22, fala da fé como instrumento pelo qual abraçamos Cristo, nossa justiça. Sim, a fé é somente um instrumento. Isto deve ser claro que a fé não é o fundamento desta herança. A única base para nossa salvação é a perfeita obra de Cristo. Não somos justificados por causa de nossa fé mas somente pela fé. de outra maneira a base para nossa herança seria presa a nós mesmos e não em Cristo.
Somos justificados pela fé como um instrumento e não por causa da fé. pois a fé é um dom de Deus, e não um merecimento pelo nosso próprio trabalho. Se cremos isto é o resultado da ação de Deus em nossas vidas. Nossa única justiça diante de Deus permanece sendo Cristo e sua obra perfeita. Este caminho nunca será confundido ou negado na igreja de Cristo.
A ultima questão e resposta deste domingo dá uma ênfase sobre isto um pouco mais. Nós precisamos da fé; ela é o único caminho. Mas não sou salvo graças ao valor da minha fé. não devemos fazer de nossa fé o motivo para sermos salvos e assim nos sentirmos superiores aos descrentes. Pois de ato nossa fé é um dom e por meio deste dom herdamos o que não merecíamos.
Eu não sou salvo pelo valor da minha fé. minha fé é freqüentemente fraca e pequena. Ela sempre precisa ser fortalecida pela palavra e pelos sacramentos. Se para receber a herança depende da qualidade da minha fé, eu devo esquecer esta herança. A única base permanece sendo: a satisfação a justiça e a santidade de Cristo! Tudo isto vem Amim somente pela fé. não há outro caminho mais que o caminho da fé nas promessas de Deus!
Aqui bate o coração da fé reformada. Aqui nos mantemos em nosso lugar. Aqui somos confortados em nosso lugar. Aqui Deus é glorificado em Cristo! Justificação pela fé é o grande tema da reforma. Quando há esta fé, a vida se renova e nós realmente nascidos de novo. Então sabemos o que significa ser justo diante de Deus e um herdeiro da vida eterna. Começamos a vier justamente na alegria da fé, como herdeiros da promessa. Tendo a salvação fora de nós mesmos, encontramos toda a justiça e santidade somente em Cristo.
Amém.
Clarence Stam
O pastor Clarence Stam (1948-2016) foi um pregador renomado nas igrejas das Igrejas Reformadas do Canadá. Ele serviu como ministro em várias igrejas reformadas nos Países Baixos e no Canadá. Durante os últimos anos de sua vida, dedicou-se à escrita. Seus muitos livros tiveram um impacto significativo nas igrejas reformadas do Canadá e além.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.