Dia do Senhor 22

Leitura: Mateus 16:24-28, 2 Coríntios 4:7-5:10, Apocalipse 20:11-21:8
Texto: Dia do Senhor 22

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,

Chegamos agora no final do Credo Apostólico, e podemos ver que ele termina com uma nota forte de esperança, com a declaração que acabamos de ler: “Creio na ressurreição do corpo e na vida eterna.” Entendam, irmãos: isso não é apenas uma afirmação teológica. Quando lemos isso dois mil anos depois, podemos esquecer que quando os cristãos confessaram isso nos primeiros séculos quando o Credo Apostólico estava se formando, eles disseram isso diante da morte. Eles confessaram isso diante da boca dos leões, na frente de multidões aplaudindo. Diante dos fogos que iriam consumir seus corpos. Diante de espadas e outras punições. Às vezes unidos como famílias, pais juntos com seus filhos, enfrentando uma morte horrível.

Este último artigo do Credo é um desafio contra todos os perseguidores: Vá, leve-nos. Conduza-nos como ovelhas ao matadouro. “Eu creio na ressurreição do corpo, e na vida eterna.”

É também uma declaração de conforto para aqueles que já perderam seus entes queridos. Creio na ressureição do corpo. Meu Deus cuidará desse corpo. Ele vai vivificá-lo novamente. Nos veremos novamente e viveremos para sempre na presença de Deus.

Será que nós, quando recitamos o credo semanalmente no culto, confessamos este artigo com a mesma profundidade de convicção? 

Esse era o mundo em que o credo foi escrito. 

Mas não é como se esta promessa bíblica fosse dada apenas para o povo de Deus que estava enfrentando a morte. Na verdade, é o reverso. Eles estavam enfrentado a morte por causa desta confissão. Eles ousaram de enfrentar a morte por causa desta convicção. A promessa da ressurreição e da vida eterna não nos foi dada para que a tomemos e a usemos de vez em quando quando precisarmos desse consolo. Não, é uma confissão que deve moldar a nossa vida. O Novo Testamento está repleto dessa promessa da ressurreição, para que ela se mantenha em nossas mentes, para que assuma o comando de nossas vidas e, finalmente, para que não somente morramos como um povo que espera no ressurreição, mas para que vivamos de acordo com esta esperança: que nossos objetivos e prioridades nesta vida sejam um testemunho dessa esperança. É isso que você vê no Apostolo Paulo, por exemplo. Pense no que ele diz em Filipenses 3: 

Considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor… para ganhar a Cristo e ser achado nele… para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Vejam como a certeza da ressurreição moldou toda a vida de Paulo. Não foi apenas um conforto em sua morte. E Deus deixa essa promessa clara nas Escrituras para que ela também molde nossas vidas. Não é apenas para os que estão em luto.

  • A promessa da ressurreição é para os jovens, que ainda precisam tomar as grandes decisões de vida. Eles precisam saber que este presente corpo, com todos seus desejos, vai morrer; mas os que pertencem a Cristo tem a esperança da ressurreição e da vida eterna.
  • A promessa da ressurreição é para as famílias jovens, que precisam decidir o que é mais importante em seus lares e que precisam ensinar seus filhos o que significa viver como cristãos.
  • A promessa da ressurreição é para os de meia-idade que estão percebendo as limitações e fraquezas dos seus corpos. Só basta ver quantos homens de 50 anos que, percebendo pela primeira vez sua idade avançando, pintam seu cabelo, compram um carro esportivo, ou cometem adultério para se sentir jovem novamente. Nossa esperança não está aqui. Este presente corpo precisa morrer. Mas creio na ressurreição do corpo, em Cristo.
  • A promessa da ressurreição é para os avós que estão cientes do limite do seu tempo na terra, querendo inculcar nos seus filhos e netos os valores e as prioridades da vida cristã.

A esperança da ressurreição não é dada apenas para aqueles que estão morrendo ou sofrendo. É dado para todos nós que temos que decidir pelo que vamos viver. E pode ser que alguns de nós terão que até entregar suas vidas a morte por causa da esperança da ressurreição, pare serem fiéis a Cristo, como foi no caso dos primeiros cristãos que confessar este credo.

É isto que Cristo nos ensina em Mateus 16:24-28. Essas são palavras muito famosas do Senhor Jesus: “Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.” É uma promessa da ressurreição. E se você acredita nisso, é uma verdade que transforma a vida! Existe uma vida que precisa ser salva que vale a pena até morrerpara salvar.

Paulo acreditou nisso, e veja como isso transformou sua perspectiva dos seus sofrimentos em 2 Coríntios 4 e 5. Ele diz no versículo 17: “A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.”

Paulo não aceitou a promessa da ressurreição para se consolar em seus sofrimentos. Não, pelo contrário: Foi a esperança na ressurreição que o levou a adotar uma vida de sofrimento. Não faz sentido, pra quem pensa que esta vida é tudo que nós temos, encher esta vida com sofrimento. Neste caso, é melhor só procurar prazeres e confortos. Mas Paulo seguiu o chamado de Deus corajosamente, suportado enormes sofrimentos, porque sua herança não estava nesta vida, mas na ressurreição com Cristo. É uma promessa que transforma a nossa vida presente.

Então é para isso que também daremos nossa atenção nesta tarde. O tema do sermão é este: Em Cristo temos vida agora e um futuro glorioso para sempre. Veremos primeiro (1) Nosso conforto para o presente: é melhor estar longe do corpo e em casa com o Senhor. Então veremos, primeiro neste capítulo de Paulo, e depois também no Apocalipse de João, (2) Nossa herança no futuro: a morada de Deus estará conosco na terra.

Então, há um duplo conforto. Se você perguntasse a Paulo, “qual é a sua esperança?” Ele responderia logo, conforme versículo 14: “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco.” Essa era sua esperança. A ressurreição de nossos corpos, e viver na presença de Cristo. Essa sempre foi a esperança cristã.

E esse é o ponto que ele enfatiza nos próximos versos também. Capítulo 5:2: “Neste tabernáculo (referindo-se a este corpoele usa a metáfora de uma tenda), nós gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial.” Nós gememos. É um fardo, ele diz no versículo 4. “[Enquanto] estamos neste tabernáculo gememos angustiados.” Esta tenda – este corpo, diz Paulo, é um fardo. Por que? Por que está aflito com as consequências do pecado. Tem tendências pecaminosas. Desejos pecaminosos. E a morte que é a consequência do pecado também pesa sobre ele. Este corpo, junto com toda a pecaminosidade que está ligada a ele, precisa passar.

Mas então Paulo esclarece. O problema, de fato, não é o corpo em si. Não somos Budistas, querendo só libertação do corpo. Não, pelo contrário, fomos criados como seres corporais tanto como espirituais. Então Paulo explica: não queremos libertação deste corpo para viver sem um corpo; mas almejamos a renovação e purificação dos nossos corpos. 

Paulo viveu em uma época em que o corpo era considerado inferior. Muitas pessoas acreditavam que a morte era uma coisa boa porque a alma seria libertada do corpo. Mas Paulo diz: “Nós gemamos — mas não por esse motivo. Não porque queremos ser despidos— ou sem corpo.” Observe que no versículo 4. Ele diz que nosso desejo não é sermos despidos, mas vestidos, com um corpo que não nos faça gemer. 

O corpo em si é bom. Faz parte da boa criação de Deus, e faz parte da nossa natureza. Não queremos escapar deste corpo. Mas queremos que este corpo seja renovado e libertado da sua corrupção.

Então essa é a esperança do cristão: a ressurreição e a glorificação de nossos corpos.

Mas observe, voltando ao texto, que essa não era a expectativa imediata de Paulo. Não, sua expectativa era ser deixado, por um tempo, “sem vestimenta”—ou seja, sem o corpo—deixando seu corpo e indo estar com Cristo. Ele diz no versículo seis: “enquanto estamos no corpo, estamos ausentes do Senhor.” Embora Cristo está conosco com seu espírito, não é a mesma coisa de estar fisicamente na presença de Cristo. E isto é melhor. Então a realidade, a expectativa imediata dos cristãos, é que vamos deixar estes corpos aqui na terra, e partir e ficar na presença de Cristo. Estaremos “em casa” com o Senhor (o que é melhor), mas longe do corpo (o que não o nosso desejo). 

O desejo de Paulo é ser vestido com um novo corpo. Mas ele sabe que isso não vai acontecer imediatamente. Então os cristão enfrentam uma certa ansiedade diante da morte, mesmo que sabemos que estaremos com o senhor. Qual você prefere? Para manter seu corpo, mas ficar longe do Senhor? Ou perder seu corpo, mas estar com o senhor.

Paul foi honesto: não era seu desejo ficar despido. E também não é nosso desejo. Sim, nós gememos porque nossos corpos ficam velhos e fracos, e talvez eles não funcionem como deveriam. Então, precisamos de novos corpos. Mas não desejamos ficar sem corpos. 

Mas, diz ele, sabemos que enquanto estamos “em casa” no corpo, estamos longe do Senhor. E então observe o que ele diz no versículo 8:

“Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.”

Então Paulo diz, tendo que escolher, ele preferiria perder seu corpo e ser “despido” se assim ele pudesse estar “em casa” com o Senhor, no céu. Isso é melhor.

E essa é a luta em que também nos encontramos. Não é natural que queiramos morrer. A morte é um inimigo. Esta terra é a nossa casa. Este corpo é a nossa casa natural. Quando os cristãos enfrentam a morte, muitas vezes compartilham o desejo de Paulo de estar em casa com o Senhor, mas também muitas vezes sentimos essa tensão… é difícil entregar os nossos corpos e o nosso tempo aqui na terra. Não fomos feitos para viver no céu, sem nossos corpos. Fomos feitos para viver na terra. Não é fácil se despedir disso.

Mas confessamos com Paulo, ainda assim, é melhor. Como ele diz também em Filipenses capítulo 2: “Meu desejo é partir e estar com Cristo, pois isso é muito melhor.” Sem dúvida, quando nós que pertencemos a Cristo partimos desta terra, vamos estar com o Senhor, e isso é muito melhor, gloriosamente melhor. Como também dizem os salmistas, “melhor é a tua benignidade do que a vida.” “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.”

Mas estar no céu com Cristo não é nosso objetivo final. O próprio Paulo o diz. Estar com o Senhor é melhor do que qualquer outra coisa, mas a nossa esperança final é para que o Senhor habitasse conosco, na nova terra, vestidos novamente em nossos corpos.

É importante destacar isso porque existe um certo pensamento no cristianismo popular que vamos passar a eternidade no céu tocando harpas com uns anjos fofinhos nas nuvens. Esta imagem é muito longe do ensino bíblico. 

Por uma coisa, os anjos não são fofos; são terrivelmente majestosos e poderosos. Quando João os encontra em Apocalipse, ele caiu com rosto no chão, aterrorizado. 

Mas mais importante, a Bíblia não apresenta o céu como o nosso eterno lar, nem uma existência imaterial como nosso eterno estado. Cremos na ressurreição de nossos corpos. Retornaremos a esta terra. Cristo estará conosco, e reinará aqui na terra.

Estou enfatizando este ponto porque esse erro é tão persistente na teologia cristã contemporânea. Há uma velha canção gospel que diz: “Este mundo não é meu lar, estou apenas passeando.” A realidade é quase exatamente o oposto: deveríamos estar cantando “O céu não é o nosso lar, estaremos apenas passeando.” É verdade, Paulo diz em um lugar que nossa cidadania está no céu, mas essa é nossa cidadania, não a nossa residência, e não se refer ao lugar em se, mas ao domínio de Deus. Somos chamados a viver, aqui na terra, como cidadãos desse reino; devemos trazer o reino de Deus para cá, não deixar este lugar para trás para que possamos ir para lá. Esta é a nossa casa. Somos ensinados a orar: “Venha o teu reino,” que, como o catecismo explica, é uma oração por esta terra, até antes da volta de Cristo e a consumação do século. É aqui que Cristo estará por toda a eternidade, na terra renovada. Esta terra é nosso lar, e esta terra, como Paulo diz em Romanos 8, está com dores de parto, esperando ser libertada de sua escravidão à corrupção – da maldição que recebeu depois que Adão pecou. 

Os santos no céu, mesmo estando em alegria e glória, ainda estão ansiosos pelo dia final, quando suas almas serão reunidas aos seus corpos – corpos glorificados e ressuscitados. O céu não é o fim. E os santos também estão muito cientes do sofrimento que ainda existe na terra, e em Apocalipse 6, eles clamam a Deus por justiça contra os perseguidores da igreja. Eles estão ansiosos pelo dia em que Cristo retornará à terra, e a terra será purificada pelo fogo, renovada e glorificada, e então eles finalmente receberão seus corpos, agora glorificados e aperfeiçoados, e eles finalmente herdarão a nova terra.

2. E é nesse ponto que vamos passar os últimos minutos do nosso tempo esta tarde. Paulo diz em 1 Coríntios 2:9: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” Lógico, neste caso isto torna meio difícil de pregar. Mas a Bíblia sim fala em termos gerais sobre esta esperança.

Temos muitas dúvidas sobre como será a vida naquele dia. Durante os dias de Jesus na terra, havia dois grupos principais entre os judeus: os fariseus e os saduceus. Muitas vezes pensamos neles como basicamente a mesma coisa, já que ambos se opuseram ao Senhor Jesus. Mas eles eram muito, muito diferentes. Os saduceus eram os judeus liberais que haviam aceitado certas idéias gregas, e os fariseus eram os fundamentalistas religiosos. E os saduceus, como os gregos, não criam que haveria uma ressurreição. (Eles também não acreditavam em espíritos, anjos ou demônios.) E uma vez eles confrontaram o Senhor Jesus sobre este ponto – você pode ler sobre isso em Mateus 22 – e inventaram uma história sobre uma mulher que se casou sete vezes, e cada marido faleceu. E então lhe perguntaram: “Qual será o marido dela na ressurreição?”

De fato, é uma boa pergunta para muitos hoje que imaginam que o casamento é eterno. Às vezes na música popular encontramos esta ideia de que marido e esposa esperarão um a outro no céu, como se o casamento continuasse.

Reconheço que é difícil imaginar um mundo melhor sem casamento. É natural que imaginamos que um relacionamento tão intimo como o casamento deveria continuar para sempre. Mas o que esquecemos é que o mesmo Deus que criou o casamento, com toda a sua sabedoria, pode preparar algo muito melhor, que futuramente olharemos para trás ao casamento como agora conhecemos, e diremos: “isso não foi nada” em comparação com o que Deus preparou para nós agora. 

E esse é o ponto que o Senhor Jesus fez aos Saduceus. Ele lhes diz: “Vocês não conhecem nem as Escrituras, nem o poder de Deus”. Eles não conheciam as Escrituras, porque as Escrituras falam claramente sobre a ressurreição.

“E,” ele diz, “vocês não conhecem o poder de Deus.” Se Deus foi capaz de criar este mundo, com toda a sua beleza, prazer, glória e maravilha; Se Deus foi capaz de criar as montanhas mais altas e os menores insetos com toda a sua complexidade e perfeito funcionamento mecânico interno; Se Deus foi capaz de criar a sexualidade humana, com todo o seu mistério e beleza e maravilha… então por que imaginamos que Deus não poderia criar algo ainda melhor, tão melhor que quando chegarmos a esse dia, olharemos para trás e diremos, isso não foi nada! 

O incrédulo autor Mark Twain disse uma vez: “Você pode ir para o céu se quiser – eu prefiro ir para o Caribe.” Talvez podemos simpatizar com ele até certo ponto porque ele tinha aquela ideia muito errada do céu que passaremos a eternidade flutuando nas nuvens. Quem não escolheria o Caribe em vez disso? Mas Mark Twain estava tão errado, porque ele, como os Saduceus, não conhecia nem as Escrituras nem o poder de Deus. O Caribe—com seus prazeres limitados e fugazes, e sujeito às consequências do pecado, não é nada comparado com à Nova Terra. A beleza deste mundo caído, quebrado, amaldiçoado e pecaminoso não é nada comparado à beleza dessa terra.

Aqui na terra, todos os nossos prazeres, até os melhores prazeres, são limitados e geralmente têm vida curta. A comida deliciosa é maravilhosa, mas logo acaba. A sexualidade que Deus criou tem sua beleza, mas é limitada e sujeita a decepção, egoísmo, fraqueza, e velhice. E quem vive para estes prazeres sempre sai decepcionado. São limitadas. Os prazeres da juventude são boas, mas envelhecemos muito rapidamente. Nossos corpos estão sujeitos a dor. Muitos de nós nasceram com dor, fraqueza ou deficiência. E de certa forma, eles são abençoados, porque aprendem cedo que não devem colocar suas esperanças neste mundo. Mas todos terão que aprender essa lição. Todos nós envelheceremos. Todos nós vamos morrer. Todos nós somos como uma flor do campo que cresce e depois desaparece. Mesmo Mark Twain, em sua velhice, experimentou profunda depressão e dor. 

Quando Deus amaldiçoou a terra, ele estabeleceu um limite para os prazeres desta vida, para que não adoremos a criação, mas voltemos nossos olhos para Ele e encontremos nossa mais profunda alegria e satisfação nEle. Foi para o nosso bem que ele amaldiçoou esta terra, para que nos voltemos para a única fonte de verdadeira satisfação, que é Ele.

Apocalipse 21 nos dá uma pequena imagem, em símbolos, de como são os Novos Céus e Terra. Não devemos tomar literalmente as dimensões da cidade, ou as ruas de ouro, ou a ausência do mar. É linguagem figurativa. O Apocalipse é um livro de símbolos.

Mas o que não é simbólico é o que lemos nos versículos 3 e 4:

“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.”

A beleza de nosso lar eterno é indescritível. E Deus deixou isso como uma surpresa. Certamente é incomparavelmente melhor do que esta vida, com todas as suas fragilidades. Podemos pensar nas montanhas gloriosas desta terra e imaginar caminhar por essas montanhas, ainda mais gloriosas, na nova terra, e sem a dor e a fraqueza que agora experimentamos. Podemos pensar nos lugares desta terra que mais amamos. Podemos pensar nas comidas mais deliciosas que desfrutamos, na companhia de irmãos e irmãs na fé. Podemos pensar naqueles momentos em que ficamos maravilhados com a grandeza de Deus e seu poder, em tempestades ou tornados, e pensar como seria ver o poder e a majestade de Deus sem ser ameaçador.

E especialmente aqueles que, nesta vida, são afligidos por fraquezas e doenças; com dor e com corpos ou mentes disfuncionais, que não funcionam como deveriam; Como eles correrão e pularão de alegria! Como aqueles que agora estão cercados por limitações e fraquezas mentais, desfrutarão desta força, clareza, e paz de espírito e mente.

O coração do homem, diz Paulo, não pode nem imaginar o que Deus preparou para aqueles que o amam. Nunca teríamos tido a sabedoria de projetar este mundo atual. Como podemos imaginar o que Deus preparou para a Nova Terra?

Mas observem, irmãos, qual é a razão central da alegria e celebração na Nova Terra. Não está no fato que estamos unidos com nossos corpos. Não é a beleza da nova terra como tal. O que Apocalipse 21 foca acima de tudo é a presença de Deus junto conosco. Cristo habitará conosco na terra. Esse é o maior motivo de comemoração! Existe algo melhor do que estar na presença de Deus? Como vimos Paulo dizendo em Filipenses 2: “considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.” 

Devemos treinar esse instinto espiritual. Ansiamos por nossos corpos ressurretos e ansiamos pelo novo lar que herdaremos, mas nunca devemos ansiar por essas coisas mais do que ansiamos por estar na presença de Cristo e desfrutar do favor de Deus. É para isso que fomos feitos. Como diz a Confissão de Westminster, nosso objetivo principal é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. É isso que devemos desejar, mais do que qualquer outra coisa. Quanto mais crescemos em nosso amor por Deus, mais valioso e precioso Seu amor se torna para nós, e mais Ele será glorificado por nós. E Ele, acima de tudo, será nossa recompensa. Então Ele diz em Apocalipse 21 versículo 6: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho.” Que herança melhor existe do que essa?

E uma última coisa a notar, irmãos e irmãs. Uma das maiores alegrias daquele dia será a libertação do pecado. O Senhor diz: “O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho.” O que significa ser filho de Deus? Significa tornar-se como ele. Para se parecer com ele, como uma criança se parece com seu pai. 

Eu nem sei como é não poder pecar. Para nem sentir mais a força da tentação de pecar. Isso é inimaginável. O pecado está profundamente enraizado em nós. Pecamos em milhares de decisões subconscientes que tomamos. E esses pecados causam danos a nós e aos que nos rodeiam. O pecado nos rouba a nossa alegria! Você pode imaginar como é nem mesmo ser capaz de pecar? Esse pensamento pode não ser um tesouro para aqueles que não estão engajados na luta contra o pecado. Para aqueles que estão contentes com seu pecado, eles nem têm olhos para ver como seu pecado lhes rouba a alegria, e assim eles não anseiam pelo dia em que estarão livres do pecado. Mas para aqueles que estão diariamente, fervorosamente engajados na luta contra o pecado, que reconhecem como seu pecado lhes rouba sua alegria e os separa de Deus, e que o odeiam e o entristecem; para eles, o pensamento de estar finalmente sem pecado e assemelhar-se à santidade de Deus de tal forma que realmente nos parecemos comoseus filhos, essa é uma esperança gloriosa. 

E é nisso que devemos terminar. O apóstolo João escreve: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.”

Essa esperança está escrita em todas as páginas do Novo Testamento. É o desejo cristão mais profundo, ser como Deus em sua santidade, ser, reconhecivelmente, Seus filhos. Sabemos que somos seus filhos, porque Cristo nos comprou. Mas sabemos que nem sempre nos parecemos com ele. E esse é o desejo profundo do cristão. Começar a se parecer com seus filhos e desfrutar de seu favor não apenas por causa de Cristo, mas também por causa de quem ele nos fez.

E João diz, todo aquele que tem esta esperança… se purifica como Deus é puro. Se essa é a nossa esperança, então, já agora, começaremos a nos purificar. Se essa é a nossa herança, então já nos prepararemos para ela. Por que nos agarraríamos ao pecado que sabemos que Deus detesta e que não pode existir em nossa herança eterna? É por isso que João diz: “Ninguém que permanece nele continua pecando, e ninguém que continua pecando o viu ou o conheceu.” Não que nos tornemos sem pecado – ainda não. Mas aqueles que têm sua esperança em Deus detestam o pecado que vêem em si mesmos e começam a se purificar, de todas as maneiras que puderem, em preparação para esse dia glorioso. 

Então, irmãos e irmãs, vamos fixar os olhos nessa herança. Esta leve e momentânea aflição está preparando para nós um eterno peso de glória além de toda comparação, quando não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Digamos como Paulo, eu considero todas as coisas como perda por causa do valor supremo de conhecer a Cristo e ser achado nEle. A herança que temos nEle está muito além de qualquer comparação. Vale a pena lutar. Vamos deixar esta esperança moldar nossas vidas agora. Vamos desejar agora a santidade teremos na eternidade. Vamos estar dispostas a perder nossas vidas agora, para salvá-las eternamente com Cristo. Vamos viver já agora como aqueles que bebem do rio da vida, Ele sendo nosso Deus, e nós sendo os seus filhos, em Cristo e na prática, agora e para sempre.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.