Leitura: Salmo 2; João 5:16-30; Efésios 4:1-16
Texto: Dia do Senhor 13
Versão Original: https://theseed.info/sermon.php?id=2271
Amada congregação de nosso Senhor Jesus,
Se você algum dia visitar a cidade de Roma, muitos dizem que é imprescindível visitar as catacumbas. Durante muitos anos, na história primitiva da igreja cristã, essas cavernas e túneis subterrâneos foram usados não apenas como cemitérios, mas também frequentemente como locais de culto (devido à perseguição). Hoje, se você visitar essas catacumbas, poderá ver os locais onde muitos cristãos primitivos foram sepultados e onde eles adoravam. Essas catacumbas também estão repletas de inscrições e arte.
Um dos símbolos mais retratados nas catacumbas é um desenho simples de um peixe. Ainda hoje, o peixe é um símbolo comum da fé cristã. Mas por que um peixe? A palavra grega para peixe é Ichthus. Cada uma das letras dessa palavra em grego serve como uma abreviação para a frase: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. Em outras palavras, o símbolo do peixe era uma espécie de confissão inicial sobre nosso Senhor Jesus. Com esse símbolo, os primeiros cristãos podiam resumir brevemente os pontos importantes sobre Cristo. Essa confissão trazia conforto aos cristãos primitivos, assim como o nosso Catecismo de Heidelberg nos traz conforto hoje.
Nosso Catecismo começa com conforto, mas esse é um tema que permeia todo o conteúdo. Muitas pessoas perceberam que, comparado a outros catecismos reformados, o Catecismo de Heidelberg é a apresentação mais calorosa e sincera dos ensinamentos essenciais da Bíblia. Isso porque os autores queriam nos mostrar como a fé cristã é inteiramente sobre conforto, do início ao fim. E isso também é verdade em relação à nossa confissão de Cristo como o Filho de Deus e nosso Senhor.
Hoje, ao considerarmos o ensino bíblico do Dia do Senhor 13, vamos focar nas promessas consoladoras do evangelho presentes aqui. Proclamo a vocês a Palavra de Deus enquanto examinamos “O que o evangelho promete sobre Cristo, o Filho unigênito de Deus e nosso Senhor”.
Aprenderemos sobre:
- As sombras dessas promessas no Antigo Testamento
- O cumprimento dessas promessas no Novo Testamento
Há pouco lemos o Salmo 2, onde vemos algumas das sombras do Messias como Filho de Deus. No versículo 2, já encontramos uma referência ao Ungido de Deus – o Messias. Então, no versículo 7, ouvimos Yahweh dizendo a ele: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.” O Salmo 2 é um dos salmos mais citados no Novo Testamento. Na verdade, apenas o Salmo 110 é citado com mais frequência. E, quando o Salmo 2 é citado, geralmente é o versículo 7, sempre entendido como uma referência a Cristo.
Por exemplo, quando Paulo estava pregando em Antioquia da Pisídia, em Atos 13, ele citou o versículo 7 do Salmo 2 e disse que isso se referia a Jesus. O autor de Hebreus fez o mesmo no capítulo 1 de sua carta. Além disso, o Salmo 2 era universalmente considerado pelos antigos judeus como uma profecia sobre o Messias. É claro que a visão profética de Davi se refere diretamente a Cristo. Ele é o Messias e o Filho de Deus.
Mas alguém pode dizer: “Mas está escrito: ‘Hoje eu te gerei.’ Algumas traduções dizem: ‘Hoje me tornei teu Pai.’ Nós cremos que Cristo é o Filho eterno de Deus, então como isso pode se referir a Cristo?” Muitas vezes, na Bíblia, encontramos situações em que uma pessoa ou coisa “se torna” quando é revelada ou declarada como tal. Com essa compreensão, podemos parafrasear a última parte do versículo 7: “Hoje declarei que você foi gerado por mim.” Basicamente, isso equivale a dizer: “Eu declarei você como meu filho.” Essa também foi a forma como Paulo compreendeu essa expressão em Atos 13:33, onde ele afirma que a ressurreição foi o momento em que Cristo foi declarado por Deus como o Filho de Deus. Ele já era o Filho de Deus antes disso, mas na ressurreição, no momento de sua glorificação, Deus anunciou publicamente seu status.
O Messias glorificado e exaltado relata nos versículos 8 e 9 que Deus lhe concedeu o direito de governar sobre todas as nações e os confins da terra. Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele governará com poder – com um cetro de ferro – e, quando se desviarem ou se rebelarem, Ele os despedaçará como vasos de barro. Nada nem ninguém poderá impedir seu caminho.
Este é o nosso Salvador descrito aqui nesta profecia. Quando lemos e cantamos este Salmo, devemos pensar nele e no seu governo. Mas há mais, porque estamos unidos a Ele por verdadeira fé. Acreditamos neste Messias, e isso nos conecta a Ele. E o Novo Testamento nos diz que o que foi dado a Ele em Sua glorificação também será dado a nós em nossa glorificação. Em Apocalipse 2, temos a carta de Cristo à igreja de Tiatira. No final dessa carta, o que é dito sobre Cristo no versículo 9 do Salmo 2 é aplicado à igreja de Tiatira. A igreja governará as nações com um cetro de ferro, a igreja as despedaçará como vasos de barro. Cristo diz em Apocalipse 2:26: “Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações” – e então vem o versículo 9 – “como também eu recebi autoridade de meu Pai.”
Então, este Salmo não fala apenas sobre Cristo, mas também sobre aqueles que têm união com Ele. Através dessa união, um dia reinaremos com Ele. Essa promessa está aqui de forma embrionária neste Salmo — ela se desenvolve mais tarde no Novo Testamento, mas já está presente como uma semente. Deus promete que reinaremos com Cristo, o Filho de Deus. Lembram-se de “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”? Assim como Edmund, Lucy, Susan e Peter foram juntos Reis e Rainhas sobre Nárnia, nós também seremos Reis e Rainhas na era vindoura. Reinaremos sobre o céu e a terra, e todos os inimigos de Cristo serão subjugados sob seus pés e os nossos. Essa é uma promessa de glória futura que nos encoraja na fragilidade do presente.
As sombras se cumprem no Novo Testamento, e o que Jesus diz sobre si mesmo como o Filho de Deus. Em João 5, ele provoca uma raiva mortal nos judeus porque chamou Deus de seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. Em seguida, o Senhor Jesus explica um pouco do que significa para Ele ser o Filho de Deus. E nisso, vemos mais de como isso é uma boa notícia para nós.
A chave aqui é que o Filho faz a obra do Pai. O Filho não faz nada por si mesmo. Ele simplesmente faz o que o Pai faz. O Filho é a imagem do Pai. Existem três coisas em particular que Jesus menciona que ele faz como o Filho, refletindo a imagem de seu Pai.
Primeira, Ele dá vida. “…assim também o Filho dá vida a quem ele quer.” Claro, quando ele diz “vida”, está se referindo à vida em seu sentido mais completo, o que inclui a vida espiritual, a vida eterna. Ele veio para dar vida e para dá-la com abundância.
Em segundo lugar, o Filho dá a sua Palavra, que nos conduz da morte para a vida. Versículo 24: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” A Palavra do Filho, claro, é encontrada nas Escrituras. Através do seu Espírito Santo, o Filho nos deu a sua Palavra, que também é a Palavra do Pai. Este é um presente gracioso de Deus pelo qual podemos conhecê-lo e conhecer o seu amor por nós.
Finalmente (terceiro), o Pai deu ao Filho autoridade para o dia final de julgamento. No último dia, o Filho chamará os mortos de seus sepulcros. Todos os mortos ressuscitarão, tanto os justos quanto os ímpios. Os justos são aqueles que fizeram o bem. Em outras palavras, os justos são aqueles que creram em Cristo, foram declarados justos e que deram frutos de fé em boas obras. Eles ressuscitarão para viver para sempre nos novos céus e na nova terra.
Portanto, o Filho de Deus é revelado com todas essas funções especiais, refletindo a imagem do Pai. Isso é uma boa notícia para nós. Temos um Salvador que é um Filho fiel e isso faz parte das promessas do evangelho para nós. Podemos ter a certeza de que este Filho sempre cumprirá o que lhe foi dado para fazer – pois ele é o eterno Filho de Deus. Ele sempre foi o Filho de Deus e sempre será. É impossível para ele ser removido da família de Deus, do amor e cuidado de Deus. Ele sempre será o Filho de Deus, e isso é algo que ele é e algo que ele faz por nós, como parte das boas novas.
Agora queremos olhar para as sombras da soberania de Cristo no Antigo Testamento. Já havia sombras disso no Salmo 2. Cristo possuirá os confins da terra. O que é um “Senhor”? Em hebraico, a palavra é “adonai” e, em grego, “kurios”. Ambas se referem a um mestre, um proprietário, alguém que possui. No Salmo 2, Cristo é aquele que possui os confins da terra. Os reis precisam se submeter a ele, até mesmo beijá-lo, porque ele é o Senhor deles, seu superior.
Depois há também o Salmo 68, que cantamos anteriormente. Esse Salmo foi originalmente escrito para celebrar a conquista da Terra Prometida. Davi celebra o poder vitorioso de Deus, como Ele dispersou os inimigos de Seu povo e lhes deu a terra. Uma das imagens mais interessantes nesse salmo está no versículo 18, onde Deus ascende às alturas, conduzindo cativos em Sua comitiva. Temos aqui um quadro de Deus triunfante, que fez de certas pessoas Sua própria posse. A pergunta é: quem são os cativos aqui? Os inimigos de Deus, neste salmo, são retratados como completamente destruídos – o versículo 21 diz que suas cabeças estão esmagadas. Assim, os cativos são o povo de Deus – eles pertencem a Ele, são Seus servos e Sua posse. Ele lutou por eles e os redimiu.
Agora, essas são apenas sombras do que o Messias faria. Lemos em Efésios 4, onde as palavras do Salmo 68 são aplicadas ao que Cristo realizou. Lá, as sombras desaparecem e o quadro completo emerge. Cristo ascendeu aos céus, e isso incluiu fazer de nós Sua própria posse. Mas, como Sua posse, também somos os destinatários de Seus dons. Pertencer a Cristo é algo maravilhoso porque Ele é um Senhor e Mestre cheio de graça. Ele é generoso.
Especificamente em Efésios 4, ele menciona os dons de vários tipos de oficiais. Alguns desses ofícios são extraordinários e existiram apenas no tempo em que o Novo Testamento foi escrito – por exemplo, os apóstolos e profetas. Outros ainda existem, como o ofício de pastor. O que nosso Senhor faz por meio desses ofícios? Ele equipa os santos. O Senhor, que possui Seu povo, distribui generosamente dons para que eles sejam edificados e cresçam. O Senhor está interessado no crescimento e no desenvolvimento daqueles que pertencem a Ele.
Amados, é por isso que nunca devemos desprezar os ofícios da igreja. Eles são um lembrete de que pertencemos a um Senhor e Salvador generoso e gracioso. Os ofícios da igreja são sinais de seu amor. Por meio dos ofícios especiais de ministro, presbítero e diácono, o Senhor cuida de nós e nos conduz à unidade na fé e no conhecimento de Deus. Ele nos guia rumo à maturidade e, como Paulo diz, em direção a “alcançar a medida da plenitude de Cristo.”
Alguns veem o conceito de Senhorio como algo autoritário, sombrio e pouco atraente. A ideia de possessividade geralmente não é vista de forma positiva. Por exemplo, não é uma qualidade que jovens buscam em seus parceiros, seja homem ou mulher. Pertencer a alguém ou ter alguém que deseja nos possuir normalmente não é considerado algo bom. Queremos ser independentes, seguir nosso próprio caminho. Mas a verdade é que sempre pertencemos a algo ou alguém. Isso faz parte de ser humano. Se não pertencemos a Cristo e ao seu reino, pertencemos a outro e ao seu reino. Se não pertencemos a Cristo, pertencemos ao poder do diabo e estamos sob o domínio do pecado. Ninguém escapa dessa realidade, por mais que tente se enganar com mentiras.
Então, a pergunta é: quem será o seu Senhor? A quem você pertencerá? É aqui que o evangelho nos chama. O evangelho declara que é bom pertencermos a Cristo. Ele é um Senhor e Mestre bondoso. Seu jugo é suave, e seu fardo é leve. Pertencer ao reino das trevas pode parecer atraente. Parece divertido e fácil. Mas é enganoso; tudo não passa de uma miragem. No fim, as palavras de Provérbios 13:15 sempre se provarão verdadeiras: “O caminho dos infiéis é áspero. (O caminho dos pérfidos é intransitável – ARA)” É infinitamente melhor ser servo do Senhor Jesus do que escravo do pecado. Há alegria e paz em pertencer a Ele. Embora a vida nem sempre seja fácil, você tem a confiança de saber do amor do seu Pai celestial. Você pode ter certeza de que o que experimenta aqui são apenas aflições leves e momentâneas.
Temos um Senhor bom, um Mestre bondoso. Isso também se evidencia no preço que Ele pagou para que pudéssemos pertencer a Ele. No Antigo Testamento, o Messias é retratado como uma figura que sofreria pela redenção do povo de Deus. No Novo Testamento, isso se cumpre. Um dos trechos que destaca essa verdade está em 1 Pedro 1, onde Pedro nos lembra de como fomos redimidos, comprados de volta da maneira vazia de viver herdada de nossos antepassados. Essa maneira vazia de viver é problemática porque está repleta de pecado. E o pecado é um problema porque Deus é santo e não tolera o pecado; na verdade, o pecado provoca sua ira e indignação.
E como fomos redimidos dessa maneira vazia de viver e de suas consequências? Não com prata ou ouro, mas com o precioso sangue de Cristo, um cordeiro sem defeito ou mácula. O Senhor nos comprou para si com a coisa mais valiosa do universo: o próprio sangue dele. O sangue de um homem que nunca pecou foi oferecido por você e por mim. Esse sangue afastou a ira de Deus, esse sangue é a nossa propiciação. O preço foi pago, e agora pertencemos a Ele – e isso não é apenas algo bom, é algo grandioso!
Queridos, ao reconhecermos isso, há um impacto em nossas vidas. Certamente, isso nos conforta e nos assegura. Mas também nos motiva. Em 1 Pedro 1, o fato da soberania de Cristo e de Ele nos ter comprado com Seu sangue é usado para motivar os leitores de Pedro a serem quem realmente são. Eles pertencem a Cristo, e suas vidas devem refletir isso cada vez mais. Eles pertencem a Ele, o amam, estão n’Ele, têm união com Ele – todos esses fatos se tornam evidentes quando os crentes vivem vidas santas.
Somos chamados a ser santos como nosso Deus é santo, vivendo nossas vidas aqui como peregrinos, não como pessoas confortáveis e satisfeitas com o status quo (estado atual das coisas), mas como aqueles que estão a caminho de algo muito melhor.
Como diz 1 Pedro 1:13:
“Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.”
Confessamos Jesus Cristo como o Filho de Deus e nosso Senhor. Nessa confissão, de fato, há mais do conforto que Deus nos promete no evangelho. Ele promete que seu Filho veio para o nosso benefício, para nos mostrar o amor do Pai. Ele promete que Jesus é o nosso Senhor e que somos a sua posse. Irmãos e irmãs, continuem a olhar para Ele com fé e o evangelho sempre os encorajará.
AMÉM.

Wes Bredenhof
Wes Bredenhof é um pastor e teólogo canadense, atualmente servindo na Free Reformed Church of Launceston, na Tasmânia. Formado em Teologia pelo Canadian Reformed Theological Seminary, obteve um Doutorado em Teologia pela Reformation International Theological Seminary. Iniciou seu ministério como missionário entre os indígenas de Fort Babine, BC, e pastoreou igrejas no Canadá antes de se mudar para a Austrália. Autor de vários livros e artigos.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.