Leitura: Atos 02.18-36
Texto: Dia do Senhor 08
“Cremos no Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo“
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo
As igrejas reformadas no Brasil e no mundo possuem alguns documentos históricos que resumem a fé cristã. São as nossas confissões de fé. Nossas igrejas adotaram pelo menos seis confissões de fé: os três credos ecumênicos, a saber, o credo apostólico, niceno e atanasiano. Estes credos constituem a fé universal e indubitável da igreja de Cristo em todos os séculos. Além disso, temos as três formas de unidade que são: a Confissão de Fé Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort. Neste momento você, ao ouvir sobre estas confissões, deve estar se perguntando: “Por que tantas confissões? É necessário tê-las? A Bíblia não é suficiente? Qual a importância destas confissões para a igreja?” Devemos entender o seguinte: 1) A igreja de Cristo tem o direito de resumir o conteúdo das Escrituras em confissões de fé, pois a ela foi confiada a palavra de Deus. A igreja é a coluna e baluarte da verdade; 2) as confissões não estão acima ou ao lado das Escrituras, mas estão debaixo da autoridade da Bíblia que é nossa única regra de fé e prática; 3) as confissões servem para: a) dar testemunho público da fé e doutrina da igreja; b) preservar e ensinar a verdade bíblica para as futuras gerações; c) promover a união dos que crêem, pois há uma só fé; d) defender e manter as doutrinas da Bíblia contra as heresias.
Em todas estas confissões, especialmente nos três credos ecumênicos, uma doutrina bíblica que se destaca é a doutrina da trindade. A igreja de Cristo sempre confessou, ao longo dos séculos, a sua fé no Deus Triúno – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Os três credos ecumênicos mostram isso. Cada um destes credos tem o seu contexto histórico diferente, mas todos eles têm um ponto em comum: preservar e defender a doutrina bíblica da trindade. Além disso, a confissão de fé belga confessa a doutrina da trindade nos artigos 8 e 9 e o catecismo de Heidelberg apresenta e confessa essa doutrina no domingo 8.
Neste sermão vamos tratar da doutrina da trindade com base no domingo 8 do nosso catecismo. Por isso é importante entender o lugar de domingo 8 no catecismo. Para entender domingo 8, precisamos voltar ao domingo 7. No domingo 7 aprendemos que a verdadeira fé é o conhecimento e a certeza de que é verdade tudo o que Deus nos revelou em sua palavra e também é a plena confiança em Deus e nas suas promessas. Todo cristão deve crer em tudo o que lhe é prometido no evangelho. E o que nos é prometido no evangelho? O credo apostólico nos apresenta um bom resumo das promessas de Deus no evangelho. Neste credo confessamos que o próprio Deus foi dado a nós juntamente com as suas promessas de salvação. Confessamos quem é Deus, o que ele é para nós e o que ele tem feito por nós. Neste credo, todo verdadeiro crente confessa pessoalmente a sua fé no Deus Triúno: “Eu creio em Deus Pai, Todo Poderoso; eu creio em Jesus Cristo, seu único Filho; eu creio no Espírito Santo”. No domingo 8 nós temos um resumo da doutrina da trindade. Domingo 8 nos explica, de modo geral, o ensino bíblico sobre a pessoa e a obra do Deus Triúno que se revelou na Bíblia.
No Domingo 8 do catecismo, o Verdadeiro Crente Confessa a Sua Fé na Doutrina Bíblica da Trindade.
Talvez você já tenha se perguntado: “De onde vem a palavra “trindade”? O que essa palavra significa? Podemos encontrar a palavra trindade na Bíblia?” A palavra trindade não está na Bíblia, mas o conteúdo do que ela significa nos é revelado na Bíblia, conforme veremos mais adiante. A palavra “trindade” (trinitas) significa o estado de ser três. Esse termo foi primeiramente usado por um dos pais da igreja chamado Tertuliano. Embora ele tenha sido o primeiro a usar o termo, ele não entendeu bem o verdadeiro significado da trindade, pois ele afirmava que o Filho era subordinado ao Pai. No entanto, o termo “trindade” passou a ser utilizado corretamente pelos teólogos da igreja para indicar a doutrina bíblica de que existe um único e verdadeiro Deus que subsiste em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É isso que a igreja confessa acerca da trindade à luz da Palavra de Deus: O Único, Verdadeiro e Eterno Deus é o Deus que se revelou em sua Palavra em três pessoas distintas: Pai, Filho, Espírito Santo. Isso significa que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus e que cada um deles é, ao mesmo tempo, uma pessoa distinta. Essa é a confissão de fé bíblica do crente acerca da trindade.
Olhando para a história da igreja vemos que não foi fácil para a igreja formular e defender a doutrina bíblica da trindade em seus credos. A igreja teve de lutar contra muitas heresias levantadas contra a doutrina da trindade. Por volta do quarto século a igreja de Cristo combateu várias heresias contra a doutrina da trindade. O resultado disso foi a formulação dos credos que expõem e defendem a doutrina bíblica da trindade. Primeiro, a igreja se posicionou contra o falso ensino de Ário, o qual afirmava que Jesus não era Deus, mas uma criatura de Deus. O concílio de Nicéia (325) rejeitou este ensino e afirmou que Jesus é Deus. Pouco tempo depois, um bispo chamado Macedônio chegou a afirmar que o Espírito Santo era apenas um “ministro e servo de Deus”, estando no mesmo nível dos anjos. Com isso ele negou a divindade do Espírito. O concílio de Constantinopla (381) condenou as idéias de Macedônio e preservou a doutrina bíblica da trindade, afirmando que não só o Pai e o Filho, mas também o Espírito Santo é Deus. Dessa forma, a igreja, guiada pelo Espírito Santo, preservou a doutrina bíblica da trindade que hoje é confessada por nós.
Acontece, porém, que em nossos dias, há muitos que, mesmo usando a Bíblia e se dizendo crentes, não confessam a doutrina da trindade. Podemos pensar, por exemplo, na seita das testemunhas de Jeová. Esta seita não traz nada de novo, mas simplesmente repete as heresias do passado. Assim como Ário, os membros dessa seita negam que Jesus é Deus e afirmam que o Espírito é apenas uma energia divina. Eles não querem acreditar no que não entendem pela lógica. “Como três pode ser igual a um?”, eles argumentam. A questão é que não podemos raciocinar sobre Deus e compreendê-lo com a nossa mente limitada. Ele é incompreensível. A doutrina da trindade é um mistério que ultrapassa o nosso entendimento. Somente na glória vamos desfrutar do pleno conhecimento dessa doutrina. Deus é maior do que o nosso entendimento. Mas isso não quer dizer que não podemos conhecê-lo. Pois ele se revelou a nós na sua palavra. E como ele se revelou a nós na sua palavra? De forma maravilhosa, ou seja, como o Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo. As testemunhas de Jeová fecham os olhos para esta verdade e até mudam alguns textos da Bíblia para defender suas heresias. A igreja de Cristo, porém, com humildade e fé crê na doutrina da trindade, apesar de não entendê-la completamente ainda. Eu creio em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, porque Deus se revelou em sua palavra de tal maneira que essas três pessoas distintas são o único, verdadeiro e eterno Deus. Essa é a confissão de todo verdadeiro crente.
Vejamos, agora o que a Bíblia nos revela acerca da doutrina da trindade. Em primeiro lugar, a Bíblia nos ensina que existe apenas um único e verdadeiro Deus. O único Deus que existe é o Deus que criou os céus e a terra e também o Deus que salva o seu povo. A Bíblia nos mostra isso claramente. Em Deuteronômio 6.4 o SENHOR diz ao seu povo: “Ouve, Israel, o SENHOR, Nosso Deus, é o único SENHOR” (Tb. Is.45.5). O Novo Testamento também nos ensina que há apenas um único Deus ( I Co. 8.4, 6). Por que a Bíblia enfatiza essa verdade de que só existe um único Deus? 1) Para que o povo de Deus não caia na idolatria dos povos pagãos que têm seus falsos deuses (6.14), mas para que o povo de Deus ame de todo coração o Único Deus Vivo e Verdadeiro que criou os céus e a terra e que salva o seu povo por sua graça (Dt. 6.5). O fato de existir um único e verdadeiro Deus significa que a nossa vida deve ser totalmente dedicada a ele. Saber que existe um único Deus não é suficiente. Muitos até sabem que Deus existe, mas não se importam com ele, não guardam os seus mandamentos. Crer no único Deus é viver para ele, é confiar nele e não em nós mesmos ou em nossas riquezas, é mostrar amor por ele em obediência à sua lei. Deus se revelou a nós como o único Deus porque ele quer que nós o conheçamos e vivamos em comunhão com ele, amando-o de todo o nosso coração.
Em segundo lugar, a Bíblia nos ensina que o Único Deus se revelou em três pessoas distintas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Isso significa que cada pessoa da trindade é Verdadeiro Deus. O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Mas isso não quer dizer que existam três deuses. Existe um único Deus. E o Ser deste único Deus é tão rico e glorioso em si mesmo que ele existe em três pessoas. Este é o mistério da trindade que nos foi revelado nas Escrituras. Tanto o AT quanto o NT nos dão provas dessa doutrina, sendo que aquilo que é “para nós um tanto obscuro no Antigo Testamento é bem mais claro no Novo Testamento”. Alguns textos no AT já mostram que há mais de uma pessoa em Deus (Gn.1.26,27; 3.22). Estas pessoas, evidentemente, são o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Gn.1.1; Jo.1.1). No NT nos é ensinado com mais clareza ainda que há três pessoas num único ser divino (batismo de Jesus – Mt.3.16,17; anúncio do nascimento de Jesus – Lc.1.35; a grande comissão – Mt.28.19). Além disso, as Escrituras também nos ensinam que cada uma das pessoas da trindade possuem a natureza divina. Não somente o Pai, mas também o Filho e o Espírito Santo compartilham da mesma natureza divina. O Filho é Deus (Is.9.5; Jo.1.1,14; Jo.20.28; I Pe.1.1). O Espírito Santo é Deus (At.5.3,4; Sl.139.7; I Co.12.11).
Um outro detalhe que chama a nossa atenção ao falar da doutrina da trindade é que as três pessoas da trindade são distintas umas das outras (Resposta 25). Qual o sentido da palavra “distintas”? Em que sentido o Pai, o Filho e o Espírito Santo se distinguem entre si? É claro que essa distinção não se refere à participação na natureza divina, pois tanto o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo pessoas distintas, possuem uma só divindade e são iguais em glória, honra, poder e majestade. O que o catecismo quer enfatizar ao usar a palavra “distintas” é que as três pessoas da trindade se distinguem entre si quanto as suas obras como podemos ver na explicação da resposta 24 (ler). Não temos aqui uma simples divisão do credo apostólico, mas um destaque na obra específica de cada pessoa da trindade. A obra específica do Pai é a criação, a do Filho a salvação e a do Espírito Santo a santificação. Isso quer dizer que o Filho e o Espírito Santo não tem nada a ver com a obra da criação e que o Pai não participa da obra da salvação? Não é nada disso. O fato das três pessoas serem distintas quantos as suas obras não quer dizer que elas trabalham separadamente. O Pai, o Filho e o Espírito trabalham juntos em todas estas obras, mas eles se distinguem na realização de suas obras específicas.
Como podemos ver a distinção das três pessoas quanto as suas obras? A Bíblia nos ajuda nesse ponto. Basta lermos o sermão pregado pelo apóstolo Pedro logo depois do dia de Pentecostes. Neste sermão o apóstolo Pedro se refere ao Deus Triúno e faz uma distinção das três pessoas da trindade quanto às suas obras. Quem veio ao mundo para sofrer a morte da cruz e depois ser ressuscitado e subir ao céu para está à direita de Deus não foi o Pai nem o Espírito, mas o Filho (At.2.22-24, 32-36); A obra específica do Deus Filho é a nossa salvação; ele é o Nosso Salvador em quem depositamos nossa esperança. Não foi o Filho quem enviou o Pai, mas foi o Pai quem enviou o Filho para nos salvar conforme sua determinação e graça (At.2.23). O Pai que criou todas as coisas também planejou a nossa salvação por meio do seu Filho. No Deus Pai devemos depositar a nossa confiança, pois ele faz tudo cooperar para nossa salvação. Não foi o Pai nem o Filho que foi derramado no dia de Pentecostes para habitar na igreja, mas o Espírito Santo que procede tanto do Pai quanto do Filho (At.22.17,18, 33). A obra específica do Deus Espírito Santo é a nossa santificação; ele habita em nós e nos capacita a viver uma vida santa. É isso o que nós cremos e confessamos acerca da doutrina da trindade.
Será que faz alguma diferença confessar a doutrina da trindade? Qual a importância de crer no único Deus que se revelou a nós em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo? Não confessamos a doutrina da trindade porque achamos essa doutrina maravilhosa ou porque queremos seguir a tradição e nem simplesmente para combater aqueles que negam essa doutrina. Conhecemos e confessamos a doutrina da trindade primeiramente porque ela é uma doutrina bíblica e nós cremos em tudo o que nos é revelado e prometido no evangelho. Em segundo lugar, confessamos a trindade porque ela é uma doutrina essencial para a nossa salvação. É um grande consolo crer no Deus Triúno. Cremos num Deus Grandioso e Poderoso para nos salvar da nossa miséria e nos guardar para sempre em nossa salvação. Se Jesus não fosse Deus, mas apenas um simples homem, não teríamos nenhuma esperança quanto a nossa salvação. Se o Espírito Santo fosse apenas um poder e não verdadeiro Deus, ele não poderia nos dar a fé e habitar em nós para sempre e, portanto, estaríamos perdidos.
Mas graças ao Deus Único e Todo Poderoso que se revelou a nós em sua palavra como o Deus Triúno que subsiste em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Essa doutrina da trindade, apesar de ultrapassar nosso entendimento, é a base da nossa fé e nela cremos, pois ela nos traz alegria e consolo tanto nesta vida quanto depois da morte. Que consolo confessar: “Creio em Deus Pai”: Creio no Deus Todo Poderoso, Criador do céu e da terra e que é o meu Pai que cuida de mim e faz tudo cooperar para meu bem e minha salvação. Que consolo confessar: “Creio em Jesus Cristo (Deus Filho)”: Creio no meu Salvador Poderoso, o qual se tornou homem, mas não deixou de ser Deus e por sua obra redentora me comprou com seu próprio sangue e garantiu minha salvação. Que consolo confessar: “Creio no Espírito Santo”: Creio no Espírito que é Deus Poderoso para aplicar a obra de Cristo na minha vida, dando-me a fé e me santificando para a salvação. Ele habita em mim para sempre e me garante a vida eterna. Ao Deus Triúno, Pai, Filho e Espírito Santo seja dada toda honra e toda gloria pelos séculos dos séculos.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.