Apocalipse 22:01-05

Leitura: Ezequiel 47:01-12
Texto: Apocalipse 22:01-05

Meus irmãos,

John Lennon, um cantor britânico famoso da banda The Beatles, escreveu uma música que se tornou um dos maiores símbolos da esperança de paz, “Imagine” (Imagine) é o nome da música. Nela John Lennon, “Imagine não haver o paraíso…/Nenhum Inferno abaixo de nós/Acima de nós, só o céu/ Imagine… Nenhum motivo para matar ou morrer/E nem religião, também/Imagine que não há posses…/Sem a necessidade de ganância ou fome/Uma irmandade dos homens/ Imagine todas as pessoas/Partilhando todo o mundo. E ele termina a música dizendo: “Você pode dizer que eu sou um sonhador/Espero que um dia você junte-se a nós/E o mundo viverá como um só”.

Ele fez essa música tentando levar as pessoas a imaginar uma terra sem conflitos, guerras, sem ambição e egoísmo, mas cheia de paz e igualdade entre os homens. Mas ele morreu sem ver a paz. Ele foi assassinado. Ainda hoje esta música é lembrada principalmente em dias de conflitos e guerras. Recentemente, a música foi tocada por um músico alemão em público num dos lugares em que aconteceu o atentado terrorista na França. Isso levou muitas pessoas a chorar a dor provocada pelo mal e a nutrir uma esperança de paz.

De fato, pelo menos uma coisa é verdade nesta música, é que não há paz neste mundo. E tentar prover uma alternativa de alívio para a dor causada pelo mal com apenas “imagine”, tentando imaginar um paraíso-mundo com homens bons, é apenas imaginação. É o desespero humano em busca de uma paz que não existe, de uma paz sem Deus.

Os dias, em que o livro de Apocalipse foi escrito, também não eram dias de paz. A igreja estava sofrendo sob a mão do terrível imperador Domiciano. O próprio apóstolo João dá testemunho disso porque ele mesmo estava preso por causa do evangelho (1:9): “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. Por isso, Apocalipse é conhecido como o livro do testemunho, porque esse é o seu objetivo: testemunhar acerca do Senhor Jesus Cristo.

Por causa da perseguição, alguns cristãos estavam naufragando na fé; outros estavam se enfraquecendo; já outros batalhando pela fé como testemunhas de Cristo. Assim, o livro de Apocalipse foi escrito com o objetivo de encorajar a estes irmãos a testemunhar de Jesus Cristo, pois eles poderiam ter esperança em que iriam passar pelas tribulações confiantes na vitória de Cristo sobre o mal. Então, o livro de apocalipse não é um livro de enigmas e simbolismo. É verdade que há muito simbolismo e sinais no livro, mas este livro é uma mensagem de Jesus Cristo de esperança na vitória completa sobre o mal para a sua igreja para que ansiemos por estar com Deus.

Este capítulo 22 é o final da última visão do livro. João está vendo novo céu e nova terra, que ele chama (21:2) de “a cidade santa”, “a nova Jerusalém”. Neste texto, Deus no revela o céu para que, estando certos de que um dia tudo será restaurado, encontremos conforto nos dias em que as dores do pecado forem fortes. Por isso, o texto mostra como será a nossa reconciliação com Deus. A revelação enfatiza pelo menos três verdades nessa reconciliação na nova Jerusalém.

1º Será como uma restauração bendita

A primeiro coisa que João descreve nestes versos são as bênçãos desta nova terra. A visão muda de uma cidade para um jardim. E a primeira coisa que ele descreve é que há um rio lá.

Todos nós sabemos que um rio representa vida. As grandes civilizações na história se formaram em torno de rios, porque por meio deles podemos ter água para beber, para lavar, podemos ter um solo fértil para plantar. Enfim, um rio é vital para a vida humana. Nas Escrituras, a água do rio é sinônimo de refrigério. Um dos Salmos mais conhecido, que é o Salmo 23, fala das águas tranquilas: “Leva-me para junto das águas de descanso” (v.2). As profecias do AT fazem várias referências às águas do rio como alívio. No livro de Isaías, o Senhor diz aos que antes foram presos (49:9-10): “Saí, e aos que estão em trevas: Aparecei. (…) Não terão fome nem sede (…); porque o que deles se compadece os guiará e os conduzirá aos mananciais das águas.” E no capítulo 55:1, diz: “Ah! Todos os que tendes sede, vinde às águas.” Alívio, conforto!

Mas este rio do novo céu e da nova terra é diferente de todos os outros. Porque, apesar de sabermos que um rio representa vida, João faz questão de descrever que o rio que ele estava vendo era o rio da água da vida, brilhante como cristal. Isso faz muita diferença, porque não era somente um rio com águas tranquilas, mas um rio com a água da vida.

No livro de Apocalipse, a referência à água da vida aparece em mais três passagens. Em Ap 7:15-17, o Senhor diz: “E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” Em todas as outras passagens, a água da vida é o consolo de Deus aos que sofrem com o pecado. É o refrigério para o que tem sede de justiça.

Está claro que esta água não é água que tomamos apenas para o nosso corpo. A água da vida é a água que sacia a sede da nossa alma. Lá, na nova Jerusalém, a sequidão da nossa alma será suprida. Sua água cristalina é a garantia de que não haverá mais sujeira, nem poluição, mas clareza e pureza. Ao contrário do rio de sangue, descrito em Ap 14:20, que é um rio de impureza, morte e condenação. Este rio limpo e cristalino irá regar constantemente nossos corpos e almas.

E a garantia disso é que a sua fonte está em Deus. Diz o texto que ela sai do trono de Deus e do cordeiro. É importante destacar que não é a primeira vez em que a Bíblia fala de um rio vindo de Deus para trazer vida. No AT, já havia profecias que anunciavam isso. Em Ez 47:1-12, o profeta fala de águas que saíam de debaixo do templo e corria para o Oriente e formavam um rio. Estas águas se espalhavam e todo o ser vivo que tinha contato com esta água viveria. Até no mar morto, onde nem um ser vivo pode estar (por isso este nome), ao ter contato com estas águas, ficava saudável. Está claro aqui de Deus fluir abundância de vida. Esta água vem de Deus.

No verso 2, João nos apresenta a visão completa. Agora, fica claro que esta visão é a visão de um jardim (ler v.2). Ele fala de praça, que na verdade é uma espécie de uma estrada larga, que fica entre uma extremidade e outra do rio. E no meio desta praça, há uma árvore, que é chamada de a árvore da vida. Meus irmãos, toda essa descrição dos versos 1 e 2 nos dá a imagem de outro lugar, o Éden, o jardim do Éden.

Abra sua Bíblia em Gn 2:8-10. Aqui vemos um jardim, uma árvore e um rio. Uma atenção especial é dada a esta árvore porque ela ficava no meio do jardim, exatamente como ficava a árvore de Apocalipse 22. E ela era chamada de “a árvore da vida”. O Senhor Deus diz (em Gn 3:22) que esta árvore era a árvore que tinha o poder de fazer o homem viver eternamente. Só que o homem, depois da queda, foi proibido de comer desta árvore. E foi lançado fora do jardim (Gn 3:24).

O que isso quer dizer? Que acabou! Que, depois da queda, a comunhão entre Deus e o homem foi quebrada. O homem foi tirado do jardim, porque era o lugar em que Deus tinha comunhão com ele (Éden=prazer). Depois, disso é queda e maldição. O homem se tornou maldito. Perdeu os privilégio da comunhão com Deus. Tornou-se digno de todo o castigo, inclusive da morte, o principal agente da maldição. Ele não teve acesso à árvore da vida. Está claro aqui.

Mas, em Apocalipse 22:1-2, nós vemos exatamente o contrário. O paraíso está de volta, mas com outra situação. Primeiro que há um rio que vem diretamente de Deus que nos rega com a vida continuamente. Segundo, nós comemos da árvore da qual Adão foi proibido de comer, a árvore da vida que é regada pelo rio da água da vida O fruto da árvore é contínuo. Não há estação certa para dar o seu fruto porque ela sempre dará, cada mês. Até as suas folhas serão trarão cura. Se as folhas trazem cura, que dirá os seus frutos? Que lugar pode ser mais frutífero e prazeroso do que um lugar regado pelo próprio Deus. Meus irmãos, esta água e os frutos desta árvore nos farão provar o sabor do céu.

O que nós estamos vendo aqui, meus irmãos? É o jardim “do prazer” restaurado. Gn 2 é o início de nossa comunhão com Deus e Gn 3 é a nossa queda. Ap 21 é o fim desta queda e Ap 22 é o início da nossa comunhão com Deus plena. Ap 22 é a consumação de Deus de toda a recriação. É quando Deus de fato concretiza todo o plano de restaurar o mundo, quando ele torna realidade a restauração do mundo e principalmente de sua comunhão com o homem.

Por isso, a conclusão do verso 3: “Nunca mais haverá qualquer maldição”. Em comunhão com Deus, os homens desfrutarão de cura. Não haverá mais dor, sofrimento e morte, mas a cura pela árvore sempre nos fará lembrar de nossa salvação e libertação da maldição do pecado. Essa cura no novo jardim fará com que a obra de Cristo esteja sempre presente em nossas vidas, porque nos lembrará da cura e do perdão que obtivemos nele.

Adão e Eva foram expulsos do jardim como punição pelo pecado e foram impedidos de desfrutar da árvore da vida. E nesta expulsão encontraram desprazer e sofrimento. Na queda a terra foi amaldiçoada, mas aqui tudo o que é maldito será banido. A criação tinha se tornado maldita, mas desfrutará de bênçãos. Em Gênesis 3, vemos a esposa do primeiro Adão pecando e sofrendo as dores da condenação. Em Apocalipse 22, vemos a esposa do segundo Adão desfrutando das bênçãos do seu casamento com ele. Então, Gênesis começa com a criação, o jardim e depois a queda. E Apocalipse termina com a recriação, o jardim restaurado e a reconciliação.

Por isso a presença do cordeiro. Se você notou, há uma pessoa a mais na comparação entre os dois jardins. Este jardim é diferente dos outros porque somente nele encontra-se o cordeiro. Dele também flui a água que rega o jardim e a árvore da vida. Essa restauração de todas as coisas e principalmente da nossa comunhão com Deus só foi possível por causa dele, do cordeiro. O que Cristo começou na cruz do calvário encontra a sua realidade aqui.

Em Cl 1:19-22, Paulo diz que houve paz pelo sangue de Cristo da sua cruz, e com isso Deus reconciliou todas as coisas, quer sobre a terra, quer sobre os céus, inclusive a nós com Ele. Mas, no paraíso, Cristo não estará na cruz, ele estará sentado no trono. Isso quer dizer que a nossa comunhão e reconciliação com Deus não será mais pela fé. Mas será real.

Deixe-me perguntar uma coisa: você acha que Adão teve uma comunhão abençoada com Deus? Você pensa que Adão teve muito mais bênçãos do que desfrutamos hoje? Saiba de uma coisa: você terá muito mais no novo jardim, no paraíso. Do fruto que Adão não pôde nem estar perto, vocês irão comer para sempre! Na consumação, a nossa relação com Deus será superior a que Adão e Eva tiveram no paraíso, porque será uma intimidade plena e consumada.

2º (essa reconciliação) será com uma intimidade consumada

Diz o verso 3b: “Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro”. Na Bíblia o trono é o privilégio de um rei. É o seu lugar que não divide com ninguém e dele só se aproxima quem ele permite. Só os mais próximos do rei podem chegar ao seu trono. E vejam como a Escritura descreve o trono de Deus.

Abra sua Bíblia em Is 6 (1-5). diz que havia um alto e sublime trono. E apenas a aba de suas vestes enchiam o templo. E serafins voavam por cima. Serafins são anjos que queimam como fogo. Eles cobriam o rosto e os pés como um sinal de reverência e temor. Quando Deus falava, as bases do lugar tremiam e tudo enchia de fumaça. Quando Isaías viu aquilo, Gritou: Ai de mim! Estou perdido!

Agora, na visão de João em Apocalipse, o trono de Deus com o cordeiro estará no jardim. A glória de Deus no seu trono tão distante até mesmo dos anjos que temem diante dele estará diante de nós no jardim. E João diz (ainda no verso 3) que nós o serviremos. E servir aqui não é como um servo servindo ao seu senhor, mas como adoradores adorando ao grande Deus no seu trono. Será uma adoração constante como aqueles anjos que louvavam a Deus. Não estaremos diante do trono de Deus com medo por causa dos nossos pecados, mas adorando.

Será uma aproximação com intimidade. Talvez você possa dizer: “mas eu tenho intimidade com Deus, em Cristo”. Sim, você tem, mas não como o verso 4 diz: “Contemplarão a sua face, e nas suas frontes está o nome dele”. Você já viu uma cena como esta antes. Quem já foi a um casamento viu o momento em que o noivo e a noiva se olham. O véu da noiva é tirado e eles se veem. Este verso 4 nos mostra a intimidade de um casamento que agora está consumado.

Veremos a face do Senhor de perto como a noiva contempla a face do noivo. E Deus verá em nós a sua marca, o seu nome. Quão íntimo será! Não num alto e sublime trono, mas face a face. Nenhum homem podê contemplar a face de Deus nesta vida. Mas nós veremos. O Salmo 42:1-3 descreve o ver a face de Deus como um momento de consolo para as nossa lágrimas. O noivo estará lá conosco frente a frente. O seu nome estará em nossa testa como sinal de que nós pertencemos a ele. Estaremos seguros e protegidos de toda e qualquer investida contra nós; diferentemente do sinal da besta.

Esta marca da besta dá aqueles que a têm uma vantagem política e econômica (Ap 13:16-18), mas traz sobre eles a ira de Deus (Ap 14:9-10). Eis a diferença entre os que têm o selo de Deus e a marca da besta. Os que receberam o sinal da besta serão condenados por meio dele. Ap 14:10 diz que o adorador da besta que recebeu sua marca beberá do vinho da cólera de Deus, do cálice da sua ira e será atormentado com fogo. Já os selados com o nome de Deus recebem livramento do castigo, porque eles terão o nome de Deus na testa e serão a propriedade dele.

Quem poderá tocar em você? Quem poderá tirá-lo das mãos do Senhor? Ele estará diante de você e a sua marca na testa. A nossa intimidade com Deus estará consumada. E assim estaremos para sempre. É assim como o texto termina, com a eternidade com o rei.

3º (essa reconciliação) será num reino eterno

O verso 5 mostra como será a nossa eternidade com Deus. Ele não só é o encerramento da visão da nova Jerusalém, a cidade-paraíso, como também é o fechamento de toda a visão do livro. A visão de Apocalipse termina como começa o livro de Gênesis, a criação (1:1-3): “No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz.” Gênesis começa com luz e Apocalipse termina com luz.

Mas de um modo diferente. Não sabemos exatamente como foi essa luz porque os luzeiros só foram criados no quarto dia. Mas, de qualquer forma, mesmo quando a luz foi criada, as trevas continuaram, tanto é que Deus fez separação entre os dois. E assim começa a criação. Já Apocalipse termina de modo diferente. O texto começa dizendo: “Já não haverá noite”. Não haverá trevas. Nem haverá os luzeiros. Então, qual vai ser a luz? Deus! A razão de não precisar de nada para iluminar é porque o próprio Deus será a luz.

“O Senhor Deus brilhará sobre eles”. Aqui está a recriação de Deus. Deus mesmo será a nossa luz. Então,, quem poderá estar em trevas? Ninguém mais. Não haverá o sol, pois não haverá dias finitos. A relação entre a luz e as trevas é a relação entre dia e noite, mas não haverá dias para serem contados, porque será a eternidade. Estaremos reinando eternamente com Deus. Em Dn 7:27, se diz: “O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.” Equilíbrio, harmonia e paz entre os homens, sem religião… Não! Reino! E Deus será a nossa luz.

Apocalipse tem relações com coisas futuras sim, mas coisas futuras que interferem no modo como vivemos hoje. Como está o seu anseio pelo céu? A estratégia de satanás é fazer você esquecer isso. Mas Cristo termina o livro com a visão dos céus para que este seja o nosso anseio. Meus irmãos, as delícias do céu nos esperam. Eu não sei qual é o sabor do céu, mas eu tenho certeza de uma coisa: será infinitamente melhor do que qualquer imaginação, porque será REAL e será com Deus eternamente. Que testemunhemos de Cristo neste mundo, agora, desejosos para estar no novo paraíso, para que não nos iludamos com as ofertas de satanás. Tenhamos expectativa deste grande dia, do dia em que estaremos com Deus face a face, e que nenhuma maldita culpa e ofensa nos perturbará. Maranata, Senhor Jesus! Vem logo!

Amém!

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Iraldo Luna

É formado em Letras Vernáculas pela UFPE com pesquisas voltadas para a área de linguística de texto. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino. É pastor na Igreja Reformada de Brasília. Professor do curso on-line de introdução ao Grego Bíblico no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.