1 João 01.03

Leitura: 1 João 01.01-10
Texto: 1 João 01.03

Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo,

Vivemos numa época em que nós podemos ter mais contato com outras pessoas do que em qualquer outra época na história. Temos Facebook; Instagram; WhatsApp; texto; celular. Temos métodos de comunicação e transporte baratos e facilmente disponíveis. Podemos conhecer centenas, possivelmente até milhares de pessoas nas nossas vidas – se não na “vida real,” então online. Nossos vizinhos moram só alguns metros distante, não quilômetros. Nunca precisamos estar sozinhos!

Mas até com todos esses supostos avanços, o que é que causa muitas pessoas na nossa sociedade a reclamar? Isolamento. A inabilidade de realmente relacionar com outras pessoas. Uma falta de conexão. Separação. Distância. Solidão. E, inevitavelmente, pessoas vão experimentar uma de duas coisas: a primeira opção é desesperar, e desistir no tentativo a fazer conexões com outras pessoas. E a outra opção é tentar encontrar significado em relacionamentos superficiais e sem sentido que não tem nenhum fundamento. E enquanto o desespero pode ser escondido, ainda existe, como uma grande ferida coberta com um curativo.

No nosso contexto moderno, muita gente utiliza várias técnicas para tentar criar conexões genuínas com outras pessoas. Mas a mensagem da Palavra de Deus, a mensagem que experimentamos quando novos membros são batizados ou fazem uma profissão pública da fé, ou quando nós celebramos a Santa Ceia, é que só existe uma maneira possível a experimentar a comunhão verdadeira e significativa – e aquele meio é em Cristo Jesus. Quando novos membros fazem a profissão pública, e se unem com a igreja com votos solenes, quando nossos filhos e novos membros recebem o selo e sinal da aliança no batismo, eles são enxertados nesta comunhão. Num mundo de conexões falsas e relacionamentos superficiais, num mundo em que uma outra pessoa se torna o seu “amigo” com um clique de um botão na tela do computador, na igreja nós experimentamos o que é a comunhão verdadeira.

A verdadeira comunhão, o relacionamento vivo e vital, é comunhão como Deus Pai, através do seu Filho Jesus Cristo, e comunhão uns com os outros – a comunhão que somente pode acontecer porque vem da fonte daquela comunhão com Deus.

Neste primeiro capítulo da primeira carta do Apóstolo João, nós lemos exatamente por que ele escreveu esta carta. João queria comunicar uma mensagem importante, e aquela mensagem foi a mensagem da verdade – a verdade eterna, a verdade que foi ouvida, vista, olhada, e até tocada. É a verdade que dá a vida, a vida encarnada numa única pessoa – e aquela pessoa é Jesus Cristo, o Filho Eterno de Deus. E é uma mensagem da verdade com propósito. E o propósito é a comunhão.

E neste mundo cheio de solidão, ansiedade, e desespero, esta única mensagem é tão significativa hoje quanto a mensagem foi lida pela primeira vez, quase dois mil anos atrás. E aquela mensagem é esta: a verdadeira comunhão é somente possível quando se baseia na verdade; aquela comunhão é expressa na unidade da Igreja, em Cristo; e o resultado daquela comunhão é alegria – verdadeira alegria eterna.

Durante a encarnação de Jesus Cristo, esta foi a Sua mensagem: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim.” Ele dizia ser, em si mesmo, a personificação da verdade. No primeiro capítulo do seu evangelho, o Apóstolo João falou sobre Jesus e disse isso: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” A mensagem da Escritura é completamente o contrário de todas as afirmações do pensamento popular hoje, o tipo de pensar que diz, “A verdade não é absoluta, algo pode ser verdadeiro para você e não para mim, porque a minha verdade pode ser diferente do que a sua! Nada é certo, tudo é uma questão de interpretação, o que dá para uma pessoa pode não dar certo para uma outra.”

Claro, até a declaração, “Não existe tal coisa como a verdade absoluta,” é uma declaração de verdade objetiva, e por isso o pensamento popular é auto-destrutivo. Mas é o clima intelectual em que nós vivemos! Claramente contrário a essa forma de pensar, a mensagem de Jesus foi clara: Eu sou a verdade. Existe uma verdade absoluta, e eu sou a encarnação daquela verdade.

Foi uma afirmação forte. Mas esta foi a verdade que o Apóstolo João e os outros apóstolos proclamaram; o que era desde o princípio, o que existia desde a eternidade, esta mensagem verdadeira das boas novas, esta Palavra da Vida – nós a ouvimos. Nós a vimos com os nossos próprios olhos. As nossas mãos a apalparam. E agora, nós testificamos a esta verdade, e nós proclamamos esta verdade a vocês. E aquela mensagem é a mensagem da vida eterna – a vida que era com o Pai desde o princípio, a vida que apareceu a nós na pessoa de Jesus Cristo. Esta mensagem, esta verdade, encarnada em Jesus Cristo, feita perfeitamente clara no nosso Salvador, que nos mostrou a glória do Deus Pai, não muda. Era desde o princípio, e existirá para toda a eternidade.

Não é uma mensagem que muda com os tempos. Não é uma mensagem que precisamos adaptar a nossa cultura. É uma mensagem de verdade absoluta, uma mensagem que precisamos comunicar a nossa cultura, para chamar a sociedade a aceitar e se adaptar a ela. Esta é a mensagem que João, inspirado pelo Espírito Santo, comunicou aos seus leitores, a mensagem que o Espírito Santo nos comunica hoje.

E por que é que João proclama esta mensagem? “Para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.” Os apóstolos proclamaram a mensagem de Jesus Cristo, aquele “Verbo da Vida” – o Verbo que dá a vida. Eles testemunharam ao que eles viram e ouviram e tocaram – eles eram testemunhas àquela verdade, e então eles proclamaram aquela verdade – chamando os seus ouvintes a arrepender e crer aquela mensagem. E isso é o que a Igreja continua a fazer até hoje, e continuará a fazer até Cristo volta em glória.

A aceitação desta Palavra da Vida vai levar a comunhão – e esta comunhão será expressa por ser unido a Cristo, como parte do Seu corpo, a Igreja. Em 1 Timóteo 3.15, Paulo escreveu que a casa de Deus, a igreja do Deus vivo, é a coluna e baluarte da verdade. A Igreja é construída na verdade imutável do Verbo da Vida. É o fundamento inabalável da Igreja. Em Efésios 3.10, o Apóstolo Paul escreveu que “pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais.” A Igreja e chamada a ser guardião da verdadeira Palavra da Vida, celeiro da verdadeira Palavra da Vida, mensageira da verdadeira Palavra da Vida, fundada naquela Palavra da Vida.

É dentro da Igreja onde nós expressamos aquela comunhão que temos uns com os outros, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, somos chamados a levar a sério a membresia na Igreja. Cristo morreu pela Igreja. Ele “amou a igreja e a si mesmo se entrougou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5.25-27). O relacionamento entre Cristo é a Igreja é o modelo da relação entre o marido e a mulher – unidade perfeita, com os dois se tornando uma só carne – um mistério profundo.

Então, não é suficiente para crentes em Jesus Cristo dizer, “Eu tenho relacionamento pessoal com Cristo, e portanto é não preciso ser membro da Igreja.” Ou, “Eu creio em Deus, mas eu não preciso me tornar membro da igreja – eu posso servir a Deus sozinho, e não quero suportar comunhão como todas essas outras pessoas.” Porque o nosso relacionamento com Deus é um relacionamento pactual; é um relacionamento corporativo. Deus relaciona com o Seu povo, através de Jesus Cristo, por meio do Corpo de Cristo, a Igreja. E, como Paulo escreve em Filipenses 2.1-2:

“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.”

Como podemos mostrar que pensamos a mesma coisa, que temos o mesmo amor, que somos unidos de alma, tendo o mesmo sentimento? Mostramos essas coisas ao tornar-nos parte do corpo de Cristo, a Sua Igreja, o povo de Deus, separados do mundo para servir a Ele.

Nosso Senhor Jesus orou por esta unidade, esta verdadeira comunhão, e podemos ler a Sua oração no evangelho de João, capítulo 17.11:

“Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós.”

Assim como o Pai e o Filho estão unidos, então somos chamados a nos unir – e essa unidade é expressa por ser membros vivos da Igreja.

E o Senhor Jesus continuou na sua oração:

“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.”

Esta foi a oração de Jesus Cristo por nós! E ele continuou com estas palavras:

“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (v.22-23).

Não devemos nos contentar com o fato de que existem muitas diferente igrejas e denominações no nosso pais, cada uma com sua própria identidade, com sua própria mensagem. Não devemos nos contentar com essa situação, e pensarmos, “Bem, eles podem acreditar um pouco diferente do que nós, mas todos nós precisamos trabalhar juntos como amigos.” Devemos lutar pela unidade do corpo de Cristo – uma unidade visível, uma verdadeira unidade, para que o mundo conheça que Deus Pai enviou ao Seu Filho para salvar o seu povo do pecado e da morte. Mas naquela luta, precisamos lembrar disso: a verdadeira unidade nunca pode ser encontrada por minimizar ou relativizar a verdade. Lembre-se: a Igreja é chamada a ser o pilar e o baluarte da verdade, a verdade eterna e imutável. Qualquer unidade que não resida nessa verdade é a falsa unidade.

Mas onde existe unidade na verdade, há comunhão. E essa comunhão é claramente expressa quando nos juntamos uns com os outros como membros do corpo de Cristo, como experimentamos aqui e agora. E essa comunhão significa que talvez estamos nos unindo a pessoas com as quais não temos nada em comum, superficialmente. Somos de diferentes origens étnicas. Temos diferentes interesses e formas de nos expressar. Podemos nos vestir de forma diferente, comunicar de forma diferente, e pensar diferentemente sobre uma série de assuntos.

No mundo, talvez nunca tenhamos juntado um com o outro, porque parece que não temos nada em comum. Mas a igreja não é um clube social. Não é um grupo de pessoas que compartilham um interesse comum. Não é um grupo de apoio, ou um clube de hobby, ou um grupo de interesse especial. Na superfície, talvez não tenhamos muito em comum um com o outro. Mas onde realmente importa, no cerne da questão, é aí que a unidade real que experimentamos é encontrada: em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Salvador. Nossa amizade mútua é amizade real e profunda. Mas é apenas comunhão real e significativa porque é antes de tudo comunhão com o próprio Senhor.

E, finalmente, qual é o resultado dessa comunhão? Qual é o resultado desse relacionamento que temos com o Senhor e um com o outro? É alegria. Verdadeira alegria. Alegria duradoura. Alegria completa. Não é alegria falsa que o mundo oferece. Não é a alegria que vem uma noite, e desaparece na próxima manhã com forte dor de cabeça e estômago irritado. Não é alegria que vem de momentos de êxtase, seguido por dias, ou semanas, ou uma vida, de decepção e de desapontamento. Esta é a alegria que vem de conhecer Deus – ou melhor, de ser conhecido por Deus.

E quando dizemos que há alegria nesta comunhão, não estamos dizendo que nunca haverá lutas, nem dor, nem frustração, dentro dessa comunhão. Somos pessoas caídas que vivem no mundo caído. Não somos pessoas que decidiram nos associar uns aos outros porque nos gostamos tanto; somos o povo escolhido por Deus, pessoas pecadoras, pessoas com falhas, pessoas que nem sempre vivem em acordo com a sua confissão. Mas quando enfrentamos dificuldades, precisamos nos lembrar que a nossa alegria não é baseada apenas em nossas emoções. Não buscamos excitação emocional; recebemos a alegria que vem de ser unido ao Senhor Jesus Cristo pela fé nEle, a alegria que nunca terminará.

E no mundo vindouro, quando deixamos para trás todo o pecado, tristeza, divisão, e tragédia deste mundo manchado de pecado, a nossa alegria será perfeitamente completa. O que nós experimentamos em parte, em sombras, nesta vida, vamos desfrutar por toda a eternidade, pela graça de Deus. Nossa alegria nesta vida é mais significativa por causa disso. Mas quando entramos na presença de nosso Salvador, na eternidade de comunhão perfeita com Ele e com nossos irmãos, essa alegria será completa.

Portanto, nós celebramos. Nós nos alegramos. Porque o Senhor, na Sua misericórdia, nos escolheu, pessoas pecaminosas, pessoas que muitas vezes são ingratos e esquecidos, pessoas que muitas vezes são egoistas e individualistas, para sermos membros do Seu corpo vivo. Ele nos escolheu, pessoas, que deixados a nós mesmos, não queríamos relacionamento com Ele ou com o povo dEle. E por isso, nós agradecemos.

E a melhor maneira em que nós podemos concluir esta mensagem é com as palavras de Deus, a Palavra da verdade que Ele nos deu:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provacoes, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória, e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1 Pedro 1.3-9).

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, unsa aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada” (1 Pedro 1.17-25).

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.