Dia do Senhor 14

Leitura: Mateus 1.18-25, Lucas 1.26-38
Texto: Dia do Senhor 14

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,

Nas últimas semanas, nós temos estudado os nomes e os títulos de Jesus. Olhamos para o nome dado a ele na infância—Jesus—que o anjo Gabriel instruiu a Maria e José para dar ao bebê. Vimos o títulos Cristo, que significa “Messias,” o “ungido do Senhor” profetizado no Antigo Testamento. E na semana passada, nós vimos os nomes “Filho de Deus” e “Nosso Senhor.” Então todos estes nomes respondem à questão de Quem é Jesus. A partir disso, agora a confissão antiga dos Credo Apostólico parte para expor o que Jesus tem feito.

Ao refletirmos sobre isso, devemos fazer a observação de que a fé cristã envolve crenças e convicções sobre a história. Isso é importante lembrar. Aproximadamente 75% da Bíblia, de fato, é narrativa histórica. A fé cristã não é apenas um conjunto de valores, um conjunto de filosofias, nem muito menos uma mera atitude sobre a vida. É uma convicção sobre a verdade— tanto a verdade sobre quem Deus é, como também a verdade sobre o que Deus tem feito, desde o início da criação até agora. Ela está enraizada e fundamentada em fatos históricos. É por isso que que nomes como Pôncio Pilatos, por exemplo, são mencionados no Credo Apostólico, porque é uma maneira de dizer: foi neste tempo e nesta região que estas coisas aconteceram.

A primeira coisa que nós confessamos sobre a vida de Jesus é sobre seu nascimento da Virgem Maria. É o ensino claro das Escrituras, e a convicção universal da igreja desde o início, que Jesus Cristo nasceu pelo poder de Deus no ventre da virgem Maria.

Isso é ensinado explicitamente em dois dos quatro Evangelhos, Mateus e Lucas. Lucas nos conta que, sendo Maria ainda virgem, desposada com um homem chamado José e morando em Nazaré, o anjo Gabriel foi enviado por Deus para dar-lhe a notícia de que ela conceberia e daria à luz um filho, e deveria dar a Ele o nome de Jesus, e que Ele seria grande e seria chamado de “Filho do Deus Altíssimo”. Lucas registra como Maria respondeu ao anjo Gabriel com a pergunta:como pode ser isso, já que ainda sou virgem? E aqui queremos prestar muita atenção à resposta do anjo Gabriel. Ele disse, Lucas. 1:35: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.”

Então, o que sabemos sobre o nascimento virginal?

#1, sabemos que foi um milagre. No versículo seguinte, o anjo Gabriel continua e diz: “pois nada é impossível para Deus”. Foi um milagre.

A concepção virginal e o nascimento de Jesus é um daqueles pontos da fé cristã que é rotineiramente ridicularizado porque é feito o argumento de que “as virgens não podem conceber”. Sim. Nós sabemos. Esse é o ponto. Por isso é um milagre.

Foi sobre esta questão que o presbiterianismo se dividiu um século atrás. O presbiterianismo americano sempre tinha uma aliança impura (e às vezes não bem reconhecida) com o secularismo humanista e progressista. Por isso os fortes laços que as igrejas presbiterianas tinham com os maçons. Então um século atrás, apareceu uma grande rachadura nas igrejas presbiterianas e na universidade de Princeton, porque a doutrina da concepção e nascimento virginal foi rejeitada. Assim finalmente ficou evidente que no meio do presbiterianismo americano, até na sua liderança, havia muitos que nem poderiam ser chamados de cristãos. E finalmente, a denominação rachou sobre esta questão.

Poderíamos dizer aos que rejeitaram a concepção virginal: se você tem dificuldade com esta doutrina, isso é o mínimo de seus problemas. Já confessamos que Deus criou o céu e a terra do nada, e tudo o que há neles – este é o Deus apresentado em cada página da Escritura. Para este Deus, a concepção da virgem é coisa pequena. O que é mais difícil, acreditar que Deus criou o universo por Sua Palavra – e a evidência para a criação divinamente projetada é esmagadora – ou acreditar que Deus, por Seu poder, fez uma virgem conceber?

O que isso significa é que tudo se resume ao que você acredita sobre Deus.

Então, em primeiro lugar, sabemos que foi um milagre.

#2, em segundo lugar, quanto aos detalhes do milagre, diz apenas que o Espírito Santo veio sobre Maria, e o poder do Deus Altíssimo a cobriu, e assim Deus a capacitou a conceber. O que isso significa, de maneira importante, é que Jesus Cristo é o verdadeiro filho natural de Maria. A consequência, então, é que Jesus é verdadeiramente humano e verdadeiramente divino. Ele é verdadeira e plenamente um de nós. Ele não apenas “pareceu” humano, como disseram as seitas gnósticas durante os primeiros anos da igreja apostólica. Ele é um de nós. Mas também é verdadeiramente Deus. Colossenses 1 diz que “nele aprouve habitar a plenitude da divindade”. Assim, ali, no seio da virgem Maria, pelo poder de Deus, o Verbo se fez carne, para usar a linguagem do Evangelho de João.

#3, Em terceiro lugar, um detalhe que às vezes fica esquecido aqui é que, embora o bebê Jesus não tenha compartilhado a carne biológica de seu pai terreno José, ele foi adotado por José e, portanto, é um herdeiro legítimo de seu nome e de sua linhagem. O Evangelho de Mateus — que registra essa linhagem — faz questão de mencionar que é José quem deu o nome Jesus ao bebê, mostrando assim sua adoção legal deste filho de sua esposa. Isso é importante porque o Messias prometido é o Filho de Davi e o legítimo herdeiro do trono de Davi, que era José e, portanto, Jesus também era. (Embora Maria também era descendente de Davi, ela não era da linhagem real.)

Agora, com isso dito, há muito que não sabemos sobre a concepção virginal de Jesus; e não devemos deixar de notar os muitos erros que foram acrescentados a esta doutrina pela Igreja Católica Romana. A Igreja Católica Romana ensina a doutrina da “imaculada concepção,” que não se refere aconcepção de Jesus, mas de Maria: ela afirma que a própria Maria foi concebida de tal forma que ela estava livre do pecado original. A igreja Católica Romana pronunciou esta doutrina oficialmente em 1854, sem nenhuma prova da bíblia ou até mesmo da tradição magisterial, mas por simples declaração do Papa. Isto foi a culminação do grande culto que a Igreja Romana presta a Virgem Maria. Embora dizem que apenas “veneram” os santos, a Igreja Romana ensina que Maria contribui para a nossa salvação com o “mérito” dela, e que ela exerce sua influencia maternal sobre seu filho Jesus até agora, com o resultado de que os crentes podem fazer orações a ela para interceder por nós perante o filho. A consequência na prática é que Maria muitas vezes recebe mais atenção e adoração do que o próprio Jesus. O mesmo papa Pio IX que declarou esta dogma da concepção imaculada, afirmou que “toda a base de nossa confiança é colocada na Santíssima Virgem”, uma vez que “Deus investiu nela a plenitude de todo bem, de modo que doravante, se houver em nós alguma esperança, se houver alguma graça, se houver alguma salvação, devemos recebê-la unicamente dela, de acordo com a vontade daquele que nos deseja possuir tudo por meio de Maria.” Diga pra mim se isso é apenas “veneração” e não adoração.

A Igreja Católica Romana defende essa visão porque dizem que é necessário que Maria também seja sem pecado, pois como Jesus poderia ser concebido no ventre de um pecador e tirar sua natureza humana de um pecador, sem Ele mesmo ser contaminado? 

No entanto, isso simplesmente não é uma doutrina que a Escritura ensina. Maria era “a mais favorecida entre as mulheres”, e Maria recebeu uma grande honra por ser a mãe de Jesus, mas Maria ainda era uma pecadora como o resto de nós. As Escrituras em nenhum lugar ensinam que Maria estava livre do pecado. A Igreja Católica Romana desenvolveu uma obsessão com Maria que vai muito além do que a Escritura ensina. O fato é que Jesus sim obteve Sua carne da virgem Maria, apesar do fato de que ela era uma pecadora; e Ele não foi contaminado, porque Ele é Deus.

Além disso, a Igreja Católica Romana também ensina que Maria permaneceu virgem pelo resto de sua vida. Além da obsessão doentia da Igreja Católica Romana com Maria, eles também têm uma obsessão doentia com o celibato e a virgindade, como evidenciado pelos votos de celibato exigidos de padres, monges e freiras. É uma visão distorcida da sexualidade que historicamente falhou em ver a bondade e a pureza da intimidade sexual como um dom de Deus e, em vez disso, viu a sexualidade como algo animalesco. E assim, não surpreendentemente, eles construíram muito mais sobre esta doutrina da concepção virginal do que as Escrituras ensinam.

De fato, esta visão da “virgindade perpétua” de Maria é algo que não é apenas nãoensinado nas Escrituras, mas é contrário às Escrituras. Mateus 1:25 nos diz que José não teve relações sexuais com Maria até que ela deu à luzimplicando que eles tiveram relações depois. As Escrituras (e a tradição histórica) mencionam o nome de pelo menos quatro irmãos de Jesus e duas irmãs. Um deles, Tiago, escreveu a carta de Tiago que temos em nossas Bíblias. E, pelo que sabemos, pode ter havido ainda mais irmãos que não são nomeados. Além disso, sem dúvida teria sido um pecado para Maria ter feito um voto de celibato, como a Igreja Romana ensina que ela fez, e, no entanto, continuar e se casar. Não há nenhuma evidência de que ela fez um voto de celibato, e se for o caso, ela deveria ter também desistido do casamento.

Portanto, como Igreja Reformada, queremos que todas as nossas convicções sejam fundamentadas na Palavra de Deus e não nas tradições dos homens. Embora honremos Maria como grandemente abençoada entre as mulheres, não acreditamos que ela seja sem pecado.

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Então, com tudo isso dito, por que a concepção virginal de Jesus é importante? Por que importa que Jesus foi concebido no ventre de uma virgem?

Isso certamente não é porque as relações sexuais são inerentemente profanas, como alguns tem ensinado. A Escritura simplesmente não ensina isso. Deus criou Adão e Eva e—ainda no estado de perfeição—disse “Sede fecundos, multiplicai-vos.” A sexualidade é criação de Deus e altamente honrada e elogiada. Pode ler em Provérbios 5-6 sobre a bondade da sexualidade dentro do casamento, ou do livro de Cânticos de Salomão. 

Então Deus não designou que Jesus nascesse de uma virgem porque a virgindade seja um estado mais santo ou puro.

Então, se a razão não é essa, por que estou doutrina da concepção virginal e o nascimento de Jesus são importantes?

Podemos responder de duas maneiras:

1. Se a pergunta é “por que é importante que confessemos e defendemos a doutrina da concepção virginal de Jesus”, então a reposta é bem simples: porque é isso que as Escrituras ensinam. Um dos argumentos dos presbiterianos liberais nos anos 1900’s é que esta doutrina não contribui nada. Nada depende dela. Mesmo se fosse o caso, Deus claramente nos ensina esta doutrina, e isso já é razão suficiente para aceitá-la pela fé. A fé humildemente aceita o que Deus nos ensina.

2. Agora, se todos nós aceitamos isso, então podemos perguntar de forma piedosa: por que foi necessário que Jesus nasceu da virgem? Você pode ver que essa é uma pergunta diferente. Não estamos questionando o fato, mas querendo entender o por quê.

Alguns defendem a teoria de que Jesus precisava ser concebido em uma virgem porque o pecado original – a pecaminosidade inerente à natureza humana – é transmitido através do pai e não da mãe. Sinceramente, acho esta explicação bem duvidosa. A bíblia não ensina isso. O salmista Davi diz em salmo 51: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” Semelhantemente, o amigo de Jó diz em Jó 25:4: “Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?” O ponto é, não há evidência nenhuma de que o pecado original se transmite apenas pelo pai, e não pela mãe.

E essa não é a razão que a Escritura dá para Jesus ter nascido sem pecado. Jesus nasceu sem pecado porque Ele é Deus. De novo, Lucas. 1:35: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” Ele é Santo porque Ele é Deus. Não é a ausência de nada na natureza humana, mas a presença de natureza divina, que santificou a pessoa humana de Jesus.

Então porque Jesus precisava nascer de uma virgem?

A resposta mais óbvia parece ser que era necessário, em primeiro lugar, porque assim se tornou evidente de que Cristo é plenamente Deus e plenamente homem. É exatamente porque Jesus foi concebido pelo poder especial do Espírito Santo, que a criança que nascer será legitimamente chamada de Filho de Deus. A concepção de Jesus demonstra que Ele é o Deus-homem: totalmente Deus, totalmente homem. Esta é a conclusão que o anjo mesmo faz: “por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.”

Assim, a ausência de um pai humano e a presença do poder miraculoso especial de Deus demonstram à Divindade da criança.

Por outro lado, o nascimento de Jesus através de uma mulher é importante para demonstrar que Ele é verdadeiramente homem. Ele não simplesmente desceu do céu, ele foi concebido no ventre de sua mãe biológica. Por meio da carne e do sangue de Maria, nosso Salvador tornou-se um verdadeiro homem e, portanto, capaz de ser nosso mediador. A carta aos Hebreus realmente enfatiza esse ponto. Hebreus 2:11 diz: “Tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. E mais adiante em Hebreus 2:14 diz: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou.” E novamente no versículo 16,

Heb. 2:16–17: “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo.”

Portanto, nosso catecismo faz a pergunta: “O que você confessa quando diz: Ele foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria?” E ela responde: “O eterno Filho de Deus, que é e permanece verdadeiro e eterno Deus, tomou sobre si a verdadeira natureza humana da carne e do sangue da virgem Maria, por obra do Espírito Santo. Assim, ele também é a verdadeira semente de Davi, e como seus irmãos em todos os aspectos, mas sem pecado.” Nosso Salvador precisava ser um de nós para nos salvar.

Assim, a concepção de Jesus no ventre da virgem Maria demonstra que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Também pode ser acrescentado que esta doutrina é importante porque é o cumprimento das Escrituras anteriores. Jesus nasceu de uma virgem para cumprir as Escrituras. Este é o ponto que o Evangelho de Mateus faz. Um anjo do Senhor apareceu a José e lhe disse que a criança em Maria havia sido concebida pelo Espírito Santo, e então diz: “isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor tinha falado pelo profeta, “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e eles o chamarão pelo nome de Emanuel.” Você pode dizer que esta profecia tinha um cero cumprimento imediato, já naquela época—mas esta profecia—e nome “Emanuel”—foi reconhecido como apontando para algo além do presente momento para o futuro Messias. (Muitas profecias bíblias tem mais de que um cumprimento.) E isso fica bem claro quando você vai adiante para Isaías 9:6, onde continua e diz, “um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz…” Os próprios Judeus reconheceram desde então que esta profecia se referiu ao Messias. 

Então a concepção de Jesus no ventre da Virgem Maria é muito importante: Demonstra que Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; e foi o cumprimento das Escrituras. Por mais misteriosa que seja esta doutrina, isto tem sido a confissão da igreja cristã desde os próprios apóstolos, e fundamentada nas Escrituras inspiradas por Deus. E nós devemos dar toda honra e louvor a Deus por isso. É um fato maravilhoso de que o eterno Filho de Deus que nos criou, e nunca foi implicado em nosso pecado e desobediências, que Ele não teve vergonha de se identificar conosco, e se tornar um de nós, para assim nos salvar. O Filho de Deus agora será um de nós—um ser humano—para toda a eternidade. Assim foi seu amor para nós. Como ser humano—como o Segundo Adão—ele suportou para nós todo o peso da ira de Deus, para assim nos libertar da maldição que pesava sobre nós. E agora que Ele ressuscitou, assim podemos saber que nossa própria carne, nossa natureza humana, está lá na glória, na presença de Deus. E onde Ele está, nós também estaremos.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.