Dia do Senhor 51

Leitura: Gênesis 4:17-26, João 13:1-11, Romanos 12:9-21
Texto: Dia do Senhor 51

Amados irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Com esta, a quinta petição da oração do Senhor, chegamos a um dos elementos centrais e fundamentais da mensagem do Evangelho, quando nos dirigimos a Deus orando: “perdoa-nos os nossos pecados.”

Isso nos lembra que esta oração, a oração do Senhor, não é uma oração genérica a Deus que qualquer pessoa poderia fazer. É uma oração que pertence exclusivamente aos cristãos. Já vimos isso no início da oração, onde nos dirigimos a Deus como nosso “Pai,” mas agora vemos isso novamente com clareza cristalina: esta é uma oração que somente os cristãos podem fazer. É uma oração que só faz sentido no contexto do Evangelho.

Agora, é claro que a mensagem do Evangelho é sobre muito mais do que apenas o perdão dos pecados. Ela é muito maior do que isso. Trata de toda a vida e diz respeito ao mundo inteiro. Vimos isso claramente nas primeiras petições, orando para que o nome de Deus seja santificado, para que o reino de Deus venha à terra, e a vontade de Deus seja feita aqui na terra. O Evangelho fala sobre a conversão das nações a Deus, a reconciliação entre o homem e Deus, e entre o homem e seu próximo. E muitas consequências seguem disso. Vemos isso claramente nos salmos e nos profetas. A libertação dos oprimidos, o levantamento dos pobres, o fim da escravidão e do tráfico sexual, o estabelecimento da paz entre as nações do mundo, e muitas outras coisas. Tudo isso faz parte da mensagem do Evangelho e da nossa esperança cristã.

Mas, mesmo assim, o problema do pecado, a nossa culpa diante de Deus, e a nossa necessidade do perdão de Deus são o problema central que o Evangelho aborda. Se há alguma maneira de resumir o que é a fé cristã, é isso. O Evangelho nos ensina que não há nada mais importante, nenhum problema mais urgente e premente, do que a nossa necessidade, como pecadores, de sermos reconciliados com o Deus justo e santo.

Dessa forma, a fé cristã dá continuidade à substância de tudo o que a Antiga Aliança ensinou. Esse era o propósito de todo o sistema mosaico: como pecadores culpados podem viver em paz e em comunhão com Deus. E todo o sistema mosaico, com o tabernáculo, os sacrifícios e tudo mais, proclamava esta única verdade: nada importa mais para os pecadores do que ser perdoados e reconciliados com Deus; não há questão mais urgente enfrentando não apenas o povo de Deus, mas toda a raça humana. Quando pensamos no tabernáculo e, mais tarde, no templo, uma coisa que imediatamente chamava atenção, quando você entrava no templo, era o grande altar de bronze que ficava logo em frente, proclamando em alta voz: pecadores não podem entrar aqui, na presença de Deus, a menos que seus pecados sejam expiados.

Essa também era a grande e central promessa relacionada à Nova Aliança, que Deus fez por meio dos profetas:

Jeremias 31:34: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.”

Da mesma forma, quando João Batista apareceu, ele veio pregando um Evangelho de arrependimento e perdão de pecados; e assim também fez o Senhor Jesus depois dele.

Do mesmo modo, após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus ao céu, quando o Espírito de Deus foi derramado sobre os discípulos de Jesus, Pedro se levantou, pregou à multidão e proclamou exatamente a mesma mensagem:

Atos 2:38: “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.”

Então toda a mensagem cristã proclama, em contraste com todas as outras religiões e filosofias, que o grande problema da humanidade não é a doença, a pobreza, a injustiça, o sofrimento ou até mesmo a morte, mas é o pecado e a culpa em que nos encontramos diante de Deus. Não negamos que todas essas outras coisas são problemas, mas elas não são o problema, o primeiro e principal.

Com certeza, a mensagem do evangelho não termina com o perdão dos pecados. Cristo nos salva não apenas da culpa e condenação por nosso pecado, mas também do poder do pecado. O Evangelho são as boas novas não somente de perdão, mas também de transformação, renovação de coração e vida, discipulado, e até a transformação das nações do mundo: onde o evangelho prevalece, as estruturas da sociedade mudam, promove-se a paz e a justiça. Mas tudo começa no perdão, na reconciliação entre Deus e o homem. E no momento em que o perdão dos pecados perde seu lugar central, todas essas outras coisas também se perdem. (Esse é um dos grandes erros do evangelho social, da teologia da libertação, etc., que, embora compreendam corretamente que o Evangelho traz uma mensagem de esperança e transformação para este mundo, esquecem que isso ocorre somente por meio do perdão dos pecados e da restauração dos pecadores a Deus).

Portanto, é isso que estamos pedindo em oração, e reconhecemos isso como a necessidade mais urgente que enfrentamos.

Com isso em mente, então, não é surpresa que o Senhor Jesus tenha incluído isso na Oração do Senhor.

Um aviso muito sério

Agora, então, não podemos ignorar a segunda parte desta petição: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”

Esta petição é a única que vem explicitamente acompanhada de uma condição.

E é também a única petição que Jesus destaca da Oração do Senhor para um comentário extra depois. Ele diz, logo após ensinar a Oração do Senhor em Mateus 6:

Mateus 6:14–15: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.”

Isso é um aviso muito sério.

NÓS DEVEMOS perdoar. NÃO PODEMOS guardar ressentimentos. NÃO PODEMOS receber o perdão de Deus de um lado e, por outro, nos recusar a estender esse mesmo perdão. Fazer isso é demonstrar total ignorância sobre o que Deus fez por nós e viver em completa contradição com isso.

Isso precisa nos confrontar todas as vezes.

Esta é a lição que Jesus enfatizou com a parábola do servo impiedoso em Mateus 18, que lemos anteriormente. Acho que é uma parábola conhecida para a maioria de vocês, então não entraremos em todos os detalhes. Mas a lição que Jesus ensinou através dessa parábola deve ser absolutamente clara. Ele diz, a respeito do servo impiedoso:

“Assim também meu Pai celestial vos fará, se do íntimo não perdoardes, cada um a seu irmão.”

Este aviso precisa pesar profundamente em nossos corações. Deus não perdoará aqueles que não perdoam. Deus não mostrará misericórdia àqueles que não mostram misericórdia. Ou, como Jesus disse em outra parte, em Mateus 7: “Com a medida com que medirdes, sereis medidos.” Não espere que Deus te perdoe se você não perdoar diariamente, deliberadamente e sinceramente aos outros.

Agora isso nos confronta com uma pergunta difícil: a outra pessoa precisa se arrepender para que eu a perdoe?

É uma questão séria. Mais uma vez, lemos anteriormente em Mateus 18, onde Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar meu irmão?” E Jesus diz: “Até setenta vezes sete,” que é uma forma de dizer: “sem limite.” Mas, se você procurar a passagem paralela no Evangelho de Lucas, veja o que Jesus diz. Isso está em Lucas 17:3:

“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.”


Claramente, há uma conexão entre perdão e arrependimento — assim como existe entre nós e Deus. Deus não perdoa aqueles que não se arrependem. E o perdão de Deus para conosco é o modelo para a forma como nós perdoamos aos outros.

Ao mesmo tempo, você pode apontar para outros lugares nos Evangelhos onde o perdão parece ser incondicional. Podemos pensar nas próprias palavras de Jesus na cruz. Enquanto estava sendo crucificado, Ele orou: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo.” Você vê uma oração semelhante nos lábios do diácono Estêvão, enquanto ele estava sendo apedrejado pela multidão. Ele orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado.” Claramente, nesses casos, as pessoas que estavam pecando não haviam se arrependido, pois ainda estavam cometendo o pecado, e mesmo assim Jesus e Estêvão já estenderam o perdão.

Como então reconciliamos estes dados bíblicos? Por um lado, Deus mesmo não perdoa os não-arrependidos, e claramente Cristo condiciona o perdão que nós estendemos no arrependimento do nosso próximo. Por outro lado, tanto Cristo quanto Estevão aparentemente rogaram a Deus que seus inimigos sejam perdoados.

Temos que distinguir entre a “disposição” de perdoar, e o ato de perdoar. Jesus não chegou a perdoar aqueles que o estavam crucificando ali, no momento. Ele não disse: “eu vos perdoo”. Ele orou ao Pai para que fossem perdoados. O mesmo acontece com Estêvão.

Como cristãos, devemos sempre ter o coração de Cristo, que é um coração de misericórdia e compaixão. É o mesmo amor que Deus demonstrou por nós, mesmo enquanto éramos inimigos de Deus. Romanos 5:8: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Se Deus demonstrou esse tipo de amor por nós, mesmo antes de nos arrependermos, mesmo enquanto ainda estávamos no pecado, essa graça precisa transformar o nosso coração e a nossa atitude em relação àqueles que pecam contra nós. Mesmo antes de sabermos se eles se arrependeram ou não, e mesmo que, no final, permaneçam endurecidos em seu pecado e recusam de se arrepender, nós, por nossa parte, se conhecemos a compaixão e a misericórdia de Deus, devemos ter um coração de sincera compaixão e misericórdia para com aqueles que pecam contra nós.

O que isso significa, na prática?

  1. Significa, em primeiro lugar, abandonar toda amargura. Um cristão amargurado é um cristão que se esqueceu da misericórdia de Deus para com ele.
  • Paulo diz em Efésios 4: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.” Então, quando somos de fato ofendidos, é natural e não é pecado sentirmos raiva. E, particularmente, quando vemos os outros sendo ofendidos, é apropriado se irar. Mas não devemos deixar que essa ira nos domine. Devemos lidar com essa ira diante do Senhor e não deixar que o sol se ponha sobre nossa ira: isso significa lidar com ela imediatamente, sem nem mesmo permitir durmamos sem conseguir dormir em paz e com um coração de misericórdia e perdão.
  • É o que também diz o Salmo 37:8: “Deixa a ira, abandona o furor; não te indignes; isso só leva ao mal.”
  1. Em segundo lugar, isso significa amar o nosso próximo, ou o nosso irmão — aquele que pecou contra nós — de coração. Do íntimo, como Cristo diz. Devemos amar como Deus nos amou e demonstrar esse amor, não apenas em palavras, mas também em ações. Não foi isso que Cristo ensinou no sermão do monte e o que também lemos em Romanos 12?
  • “Seja o amor sem hipocrisia. Detestem o mal, apeguem-se ao bem.
  • “Abençoai os que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoai.”
  • “A ninguém devolva mal por mal; procure fazer o que é correto aos olhos de todos.”
  • “Amados, não vos vingueis a vós mesmos, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.”
  • E isso não é algo que Deus ensinou apenas no Novo Testamento, mas também ao povo de Deus no Antigo Testamento. Neste último texto que eu citei (Rom 12), Paulo está citando Provérbios 25. 
  • Da mesma forma, Deus disse através de Moisés em Êxodo 23:4–5: “Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o seu jumento, lho reconduzirás. Se vires prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo.”
  • Então ame o seu próximo, ame o seu irmão, ame o seu inimigo de coração. E demonstre esse amor, não apenas em palavras, mas também em ações. Ame, até mesmo sacrificialmente, como Deus em Cristo amou você primeiro.
  1. Isso também significa orar por aquele que pecou contra você, para que ele se arrependa e encontre a misericórdia de Deus.
  • É assim que Paulo ora pelo povo de Israel que havia rejeitado Cristo: Romanos 10:1: “Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus por eles é que sejam salvos.”
  • O arrependimento é um dom de Deus. Ninguém se arrepende a menos que Deus o conduza a isso e lhe dê a capacidade de se arrepender e abandonar o pecado. Então ore por aqueles que pecaram contra você.
  1. Podemos fazer tudo isso, demonstrando o coração de perdão como Cristo fez para com aqueles que pecaram contra Ele, e como Deus fez para conosco, independentemente do arrependimento ou não da outra pessoa. Devemos ser, fundamentalmente, um povo de misericórdia e graça, assim como Deus tem sido para conosco.

Mas agora, o perdão não acontece apenas no coração; ele também deve, se possível, ser demonstrado em ação. É importante que tenhamos a disposição de perdoar, mas isso por si só ainda não é perdoar. Perdão não é algo que acontece na privacidade do nosso coração, mas em palavras e atos com a pessoa que pecou contra nós. E isso começa falando com a pessoa que pecou.

  1. Mateus 18:15: “Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o erro dele, apenas entre vocês dois. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão.”
  • Não há justificativo para guardar uma ofensa sem nunca falar diretamente com o ofensor. Não temos este direito.
  • Se for algo que não tenha importância, que você não considera necessário tratar, então esqueça—sinceramente e completamente. Deixe para lá. Mas, se você não consegue esquecer e deixar para lá, então você deve ir e falar com ele.
  • Alguns pecados realmente são pequenos o suficiente que nós podemos “tolerar” em amor e realmente deixar para lá. Uma palavra descuidadosa, uma expressão que não gostamos. Tem coisas que o cristão suporta dos seus irmãos com paciência e amor. Se você consegue fazer isso e seguir em frente, ótimo, desde que seja sincero e realmente deixe isso para trás, siga em frente e ame essa pessoa de coração.
  • Mas, se você não consegue deixar para lá, então você precisa falar com seu irmão. Ou, se por algum motivo você não puder — por exemplo, se for perigoso fazer isso —, então você precisa levar o assunto a alguém que possa intervir e ajudar você, como os presbíteros ou até as autoridades civis.
  • Mas o que não é permitido é simplesmente continuar guardando rancor contra a pessoa por causa do que ela disse ou fez, cortando a pessoa fora, ignorando ou desprezando a pessoa, não amando a pessoa de coração e de fato. Não é permitido dizer, “eu perdoei a pessoa, mas eu não quero mais contato com ela; não quero vê-la, não quero conversar com ela; não vou amá-la.” Isto não existe. Não é perdão de fato. Não é como Deus em Cristo nos trata.
  1. Agora, se a pessoa reconhecer o pecado e expressar um arrependimento genuíno, então somos obrigados a perdoar.
  • Na verdade, obrigados não. Se você quer guardar a ofensa sem perdoar seu irmão, se apegando a “justiça,” então tem o direito a fazer isso. Mas então Cristo diz, assim Deus fará também com você. 
  • Se você tiver razões para acreditar que o arrependimento dela não é sincero, pode ser que precise continuar lidando com o assunto. Mas você deve, mesmo assim, perdoar.
    • Não temos tempo para abordar tudo, mas você pode consultar a história de José, onde, depois que os irmãos de José percebem que o homem no Egito é o irmão deles, José, eles conspiram juntos para inventar uma história de que seu pai, Jacó, tinha ordenado que José os perdoasse, porque estavam com medo do que José poderia fazer. Então claramente ainda estavam tentando esconder o seu pecado e preservar a si mesmos. Um arrependimento que deixou muito a desejar ainda. Mas, quando José ouviu isso, mesmo sendo óbvio que eles estavam mentindo, ele os encara e diz: “Por acaso sou Deus? Vejam, o mal que vocês planejaram contra mim, Deus planejou para o bem. Portanto, não tenham medo. Eu cuidarei de vocês e de seus filhos.” Mesmo que o arrependimento deles ainda deixasse muito a desejar, você vê que José vence o mal com o bem.
    • Isso não significa que o arrependimento insincero não seja um problema a ser tratado. Mas significa que, se formos abordar o problema, devemos fazê-lo por amor. A disposição básica do cristão é uma disposição de amor.
  • Mais uma vez, lembramos o forte aviso de Jesus: “Na mesma medida que julgarem os outros, serão julgados.” Devemos levar isso a sério. Sabemos que nosso próprio arrependimento muitas vezes deixa muito a desejar, mas há questões que Deus deixa para tratar em nós depois de já termos sido perdoados.
    • É verdade que existem momentos em que alguns expressam arrependimento e Deus não o aceita, porque é claramente insincero. Podemos pensar no exemplo de Saul diante de Samuel, em 1 Samuel 15. Então isso pode acontecer. Mas não devemos exigir dos outros um padrão mais elevado do que aquele que Deus exige de nós. Lembre-se: na medida em que você julgar, e no padrão que estabelecer, esse padrão Deus também usará com você.
  • Essa é a diferença, irmãos e irmãs, entre o reino das trevas e o reino de Deus; entre o reino da morte e o reino da vida. Como Paulo nos ensina em Romanos 12, devemos “vencer o mal com o bem”—como Deus fez conosco.
    • Pense no que lemos em Gênesis 4, o cântico de Lameque, filho de Caim. Lameque canta o cântico da vingança: “Matei um homem por me ferir, um rapaz por me golpear. Se Caim é vingado sete vezes, Lameque será setenta e sete vezes.”
    • E compare isso com o que Jesus diz aos seus discípulos: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”

Então, existe o que poderíamos chamar de um “coração” ou uma “disposição” de perdão, e o ato de perdão. Se nosso irmão se recusa a se arrepender o nosso coração para ele deve ser de misericórdia. Devemos mantê-lo em amor, assim como Cristo faz por nós. Mas não é possível, nem comandado, perdoá-lo de fato.

Neste caso, Deus nos ensina que devemos deixar a questão nas mãos dele. “A vingança é minha, diz o Senhor, eu retribuirei.”

Vemos exemplos disso na Escritura. Muitos dos salmos contêm clamores por justiça—orações para que Deus não esqueça as injustiças cometidas. O apóstolo Paulo, da mesma forma, fala sobre um certo Alexandre que o havia ferido severamente:

2 Timóteo 4:14: “Alexandre, o latoeiro, me causou muitos males; o Senhor lhe dará a retribuição segundo as suas obras.”

Portanto, se não podemos estender o ato de perdão, porque a pessoa se recusa a se arrepender, somos instruídos a deixar a questão para Deus, que julgará. E fazemos isso, mesmo mantendo o coração de perdão e orando pelo arrependimento da pessoa. Ainda preferiríamos que ela fosse salva do que se perdesse.

E devemos ter em mente que, de uma forma ou de outra, ela morrerá. Ou morrerá a morte do arrependimento, morrendo para o velho homem e tornando-se um novo homem; ou morrerá no inferno, para sempre. O pecado também, de uma forma ou de outra, será punido: ou será punido, perfeita e completamente, na cruz de Cristo, ou será punido eternamente no inferno.

Então, irmãos e irmãs, levem a sério as palavras do Senhor Jesus aqui. Quando oramos: “Perdoa-nos as nossas dívidas,” lembramo-nos da grande misericórdia que Deus nos mostrou, pecadores indignos, perdoando todos os nossos pecados; e reconhecemos que essa é a graça que Deus nos mostra diariamente, perdoando nossos pecados dia após dia, lavando nossos pés sujos repetidas vezes.

E levamos a sério também a advertência. Queremos orar a Deus com integridade: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como (já) perdoamos aos nossos devedores.” Queremos ser capazes de orar isso com uma consciência limpa, desejando que Deus, de fato, considera e pese como nós temos perdoado ao nosso próximo, e que ele nos julgue pela mesma medida que nós julgamos ao nosso próximo.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.