Dia do Senhor 48

Leitura: Daniel 2, Miquéias 4:1-8, João 18:33-38
Texto: Dia do Senhor 48

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Ao retomarmos nosso estudo sobre a Oração do Senhor, queremos ter em mente o motivo pelo qual estamos nos dedicando a isso. E o motivo é este: reconhecemos que a oração é nossa linha vital com Deus, o meio mais básico pelo qual nos relacionamos com Ele. Deus promete dar Sua graça e Seu Espírito àqueles que Lhe pedem constantemente. A oração é o meio pelo qual alinhamos nossos corações com a vontade de Deus, e Ele nos fortalece e nos dá coragem para segui-la. Vemos isso na vida do Senhor Jesus, que passava horas em oração e, como resultado, cumpria Seu ministério com sabedoria, coragem e uma clara compreensão da vontade de Deus para Ele. E assim, assim como os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”, esse é também o nosso pedido.

Com isso em mente, na semana passada consideramos a primeira linha da Oração do Senhor: “Santificado seja o Teu Nome.” Vimos que essa primeira parte da oração define o tom para toda a oração, trazendo nossos corações e mentes em harmonia com o que mais importa para o próprio Deus—o louvor, a glória e a reverência ao Seu Nome, para que todas as pessoas, em todos os lugares, O temam e O amem como a maior alegria de suas vidas.

Agora chegamos à segunda petição: “Venha o Teu Reino.”
A primeira pergunta que queremos fazer é: “o que realmente significa essa petição?” O que Cristo está nos ensinando a pedir?

Um mal-entendido muito comum sobre esta petição é que ele se refere principalmente ao retorno de Cristo para concluir a história, iniciar o julgamento final dos vivos e dos mortos, e inaugurar a nova terra. De fato, às vezes a frase “Reino de Deus” se refere ao reino “consumado” na nova terra. Então, por exemplo, na Ceia do Senhor, Cristo disse aos discípulos: “Não beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus.” Aqui fica claro que o “Reino de Deus” se refere ao estado final. 

Mas o “Reino de Deus” é muito mais de que isso. O “Reino de Deus” é um dos grandes temas nos evangelhos que relatam a vida e o ministério de Cristo na terra. Por exemplo, Marcos 1:15 introduz o ministério de Cristo nestas palavras: Mark 1:14–15: “Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” Então temos que perguntar “qual tempo foi cumprido?” e “o que é o reino de Deus que Cristo disse—dois mil anos atrás—que está ‘próximo’?” Em outros lugares nos evangelhos Cristo anuncia que o evangelho já chegou, e em um outro lugar ele diz “O reino de Deus está aqui no seu meio”.

Então, o que é o “reino de Deus”? É claro que os judeus na época de Cristo tinham alguma ideia sobre o significado desta frase. Os judeus usaram a frase frequentemente. Os fariseus usaram a frase. Lucas diz sobre José de Arimateia (o homem que providenciou o sepulcro para Jesus) que ele era um “homem bom e justo… e que esperava o reino de Deus”. Lucas diz algo bem parecido sobre o profeta Simeão que estava esperando a “consolação de Israel”, e a profetiza Ana e muitos outros que estavam “esperando a redenção de Jerusalem”. São termos diferentes mas claramente se referem à mesma coisa. Então na época do novo testamento, todo o povo judeu estava em um estado de expectativa, esperando este “reino de Deus”—e é isso que Cristo pregou que estava “próximo”.

Então o que é o “Reino de Deus”? Bem, acredito que já entendemos o que é um “reino”. Um reino é um território ou domínio sobre o qual um rei governa. Ou também a frase pode se referir a um período de tempo em que un rei governou (por exemplo o “reino de Davi” ou o “reino de Salomão”). 

Então, o que é o reino de Deus? É o domínio de Deus sobre as corações e vidas de todos os homens e todas as nações. Em outras palavras, o Reino de Deus existe onde for que as pessoas o conhecem, o amam, e o obedecem. Isto é o Reino de Deus. E foi isto que José de Arimateia, Simeão, Ana, e muitos judeus fieis estavam esperando. O fato que eles estavam “esperando” o Reino de Deus também nos mostra que não era só uma realidade presente (na vida deles e dos outros que amavam e obedeciam a Deus) mas também uma promessa sobre o futuro. Uma época futura em que Deus esmagaria os seus inimigos, restauraria a Israel, e governaria sobre toda a terra.

Na verdade, essa é a esperança de todo o Antigo Testamento. A história das Escrituras, e a história da humanidade, é uma guerra entre dois reinos: o reino de Deus e o reino de Satanás. Deus colocou Adão e Eva no jardim do Éden e ali, em sua forma inicial, estava o reino de Deus—duas pessoas, colocadas na terra como vice-governantes, ordenadas por Deus a serem fecundas e a se multiplicarem por toda a terra, tendo domínio sobre ela e governando com perfeita justiça e sabedoria como portadores da imagem de Deus; para subjugar a terra e torna-a plenamente o reino de Deus.

Mas quando Adão e Eva caíram em pecado, encontramos um outro reino, que as Escrituras chamam de reino de Satanás ou reino das trevas. Em um sentido muito real, Satanás tornou-se o governante do mundo. Agora, é verdade que Deus ainda permanece soberano sobre todas as coisas—nada acontece fora de Seu controle—mas quando se trata de corações e vidas humanas, a Bíblia ensina que os homens caíram sob o domínio e o reinado de Satanás. Assim, o apóstolo João escreve em 1 João 5:19: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no poder do maligno.” Da mesma forma, Efésios 2:2 fala de Satanás como “o príncipe da potestade do ar.” E em Colossenses 1:13, Paulo diz sobre nós, como crentes: “Deus nos libertou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor.”

Basta dar uma olhada na história do Antigo Testamento (e na história secular) para ter uma ideia de como é esse reino. É escuridão e horror do começo ao fim. Lemos sobre pais queimando seus filhos como sacrifício aos seus deuses. Lemos sobre assassinatos, egoísmo, estupros, ódio e todo tipo de perversão e maldade.
E ainda vemos esse reino operando em nosso mundo hoje. Grande parte do mundo ainda existe sob o domínio de Satanás, e permanece em escuridão, ódio, inveja, imoralidade, e destruição. De vez em quando, essa escuridão transborda em eventos especialmente horríveis, como o Holocausto da Segunda Guerra Mundial ou os campos de extermínio em Ruanda. E também vemos a feiura de reino de Satanás manifesta em nossa própria cultura: a violência, a corrupção, a imoralidade, pecado sexual e abuso sexual, negligência e abuso de crianças, negligência e abuso de idosos, o assassinato de bebês no ventre. As Escrituras dizem que, por natureza, somos “insensatos, desobedientes, extraviados, escravos de paixões e prazeres diversos, vivendo em maldade e inveja, sendo odiados e odiando uns aos outros.” Isso assim que as Escrituras descrevem o “Reino do Homem” ou “reino de Satanás” ou “reino das trevas”.

E a história da Bíblia é a história de Deus reunindo um povo, chamando-o para fora do domínio de Satanás—fazendo aliança com ele, perdoando seus pecados, e preparando a história para a promessa de restaurar o Reino de Deus neste mundo por meio deles. Essa foi a promessa de Deus a Abraão quando o chamou para fora de Ur: “Eu te abençoarei e farei de ti uma grande nação, e por meio de ti abençoarei todas as famílias da terra.” A história das Escrituras é a história de Deus redimindo este mundo, estabelecendo Seu reino contra os reinos deste mundo.

Na nossa leitura de Daniel, temos uma ideia da dimensão desse reino. Nabucodonosor tem um sonho de uma estátua que representa seu próprio reino e três impérios poderosos que viriam depois dele. Mas então ele vê uma pedra, cortada sem o auxílio de mãos humanas, e esta pedra vem e destrui toda a estátua, despedaçando-a e reduzindo-a a pó, e depois crescendo até se tornar uma montanha que enche toda a terra. Essa pedra, diz Daniel, é o reino de Deus.

Agora, algumas lições que queremos aprender deste capítulo:
Em primeiro lugar, aprendemos algo sobre quando esse reino vem: durante os dias daquele último império mundial; assim, depois da Babilônia temos a Pérsia, a Grécia e, finalmente, a Roma. Foi exatamente por isso que o povo judeu estava tão esperançoso na época do novo testamento. Eles sabiam que seria neste período que o Messias viria e o Reino de Deus seria estabelecido. E foi nesse período que o Senhor Jesus veio. 

Em segundo lugar, é claro que o Reino de Deus não é como os reinos deste mundo. Ele é cortado “sem o auxílio de mãos humanas.”Não é um movimento político ou militar. É uma obra de Deus.

Em terceiro lugar, observe como ele vem: ele começa pequeno e cresce até se tornar uma montanha que enche toda a terra. Não acontece em um só momento, mas há uma progressão.

E, por fim, considere o impacto que ele tem no mundo. Embora seja uma obra divina e não humana, ele tem um impacto enorme e esmagador neste mundo. Ele não coexiste com os outros impérios, mas os destrói, de forma que se tornam como palha levada pelo vento, e o Reino de Deus toma o seu lugar.

Essa visão em Daniel 2, e outros semelhantes, são muito importantes para nós entendermos as expectativas dos judeus nos dias de Jesus. Eles sabiam que estavam vivendo no tempo do último reino. Sabiam que o reino de Deus se manifestaria em breve. É por isso que encontramos judeus tementes a Deus descritos como aqueles que estavam “esperando o reino de Deus.”

Também lemos de Miqueias 4. Esta é outra visão do reino de Deus, dada pelo profeta Miqueias—e você também pode encontrá-la em Isaías capítulo 2.
Aqui temos uma visão da montanha da casa do Senhor (o monte Sião, onde o templo estava) sendo exaltada acima de todas as outras montanhas do mundo, e as nações e povos do mundo fluindo para a montanha para serem ensinados por Deus; ao mesmo tempo, vemos a Palavra de Deus fluindo para fora de Sião, sendo proclamada a todas as nações.

E assim como vimos em Daniel, nesta profecia também vemos que o reino de Deus tem um efeito transformador no restante do mundo; neste caso, as nações não são destruídas, mas transformadas. Eles se tornam o reino de Deus. No final desta transformação, o texto diz que “nação levantará espada contra nação, nem aprenderão mais a guerrear”; e a Palavra de Deus julgará entre eles e resolverá suas disputas. É uma visão de uma terra restaurada, um mundo convertido a Deus.

Aqui também nós vemos—assim como em Daniel 2—que o reino de Deus não é um movimento militar como os reinos e impérios do mundo. É uma obra de Deus. A Palavra de Deus é proclamada, e as nações são reunidas e transformadas.

Com estas profecias em mente, agora podemos entender melhor agora o que o Senhor Jesus quis dizer quando declarou que o Reino de Deus estava próximo.

Mas ainda tem uma questão não fica tão clara. Muitos textos do Antigo Testamento que falavam sobre o “reino de Deus” falam sobre a vinda do Messias—um filho de Davi—e a restauração do trono de Davi em Jerusalém. Por isso, muitos judeus na época do novo testamento entenderam que o prometido filho de Davi lideraria uma revolução política e militar. Eles pensavam sobre o reino de Deus em termos muito humanos ainda. Vemos este entendimento até nos discípulos de Cristo, e Cristo teve que corrigi-los vez após vez. Ninguém imaginou que o Messias teria que morrer pelos pecados, ou que será levado para o céu em vez de reinar fisicamente em Jerusalém. Até hoje isso é uma das mais comuns objeções dos judeus modernos contra o cristianismo: eles dizem que Jesus não se encaixa bem nas promessas do antigo testamento. Mas eles não compreenderam bem suas próprias escrituras. Os profetas não falaram de um reino temporal de um Messias meramente humano, mas ele é chamado “Deus Poderoso” e seu reino é um reino “eterno”. Eles não compreenderam a essência do reino de Deus, que começa com a reconciliação entre Deus e os homens, e o perdão dos pecados. O grande problema do antigo testamento nunca foi política, mas sempre espiritual; e o reino de Deus não tem sua essência em um movimento político, mas sim na transformação dos corações vidas dos homens (e consequentemente suas vidas).

Cristo teve que ensinar repetidas vezes a seus discípulos que o Reino de Deus é espiritual e é radicalmente diferente de qualquer reino humano. É por isso que, quando Jesus estava sendo julgado por Pilatos e foi questionado se Ele era de fato o “rei dos judeus,” Jesus teve de explicar a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo.”

Isso não significa que o Reino de Deus não se manifesta visivelmente neste mundo. Mas ele não vem deste mundo; não deriva seu poder deste mundo, como os reinos terrenos. Ele não virá por meio de levantes violentos ou golpes militares, mas por meio da transformação de Deus dos corações dos homens, através da morte e ressurreição de Cristo, e da proclamação do evangelho. 

Então este é o reino de Deus de qual Cristo fala quando nos ensina a orar, “venha teu reino”. 

Não é—em primeiro lugar—uma oração para o retorno de Cristo e o juízo final. Muito pelo contrário, é uma oração para este mundo. É uma oração que Deus cumpra todas as suas promessas, que traga as nações deste mundo e todos os seus habitantes ao conhecimento do Deus verdadeiro e o seu filho; que todos abandonem seus próprios reinos com toda a sua idolatria, violência, ganância, crueldade e maldade; encontrem o perdão, a reconciliação e a paz com Deus por meio de Cristo, e assim sejam levados (como nós) em submissão e obediência ao perfeito governo e domínio de Deus. É isto que estamos pedindo. Estamos olhando para fora a este mundo, e reconhecendo que o mundo “jaz no maligno”, mas que Deus prometeu que por meio de Cristo ele quebraria o domínio de Satanás sobre as nações, e aqueles que habitam em trevas verão sua maravilhosa luz. 

Quando Cristo ressuscitou, e antes de ascender, Ele disse aos seus discípulos:
“Toda autoridade no céu e na terra foi dada a mim; portanto, vão e discipulem todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-as a obedecer tudo o que lhes ordenei.” Veja que grande coisa aconteceu! Até a vinda de Cristo, todas as nações andavam, cada um no nome de seu Deus—como diz Miqueias 4:5. Só os judeus andavam em nome do Senhor (e olha aí). O mundo jazia no maligno. Mas quando Cristo morreu, ele morreu pelos pecados da humanidade, e assim comprou as nações por si mesmo, e agora reivindica toda a autoridade. O “principe deste mundo”—Satanás—não tem mais direito de governar, e na ascensão de Cristo ele foi até expulso do céu e lançado para a terra, sem mais o poder de enganar as nações como antes. 

Então a nossa esperança, e a promessa de Cristo é que o mundo que antes (e ainda hoje em grande parte) que jazia nas trevas, agora está sendo levado para Cristo. E estas também são as nossas ordens. “Discipulai as nações, batizando-as, e ensinando-as a obedecer tudo que Cristo nos tem ordenado.” 

E é isso que estamos pedindo nesta petição. Sabemos que temos muitos desafios em nossa frente. Sabemos que não cada última pessoa será convertida—existe um juízo final, e muitas pessoas rejeitarão o evangelho. Mas estamos orando—com toda expectativa, porque Cristo assim nos prometeu—que este mundo seja convertido a Deus. Que o evangelho avance. Que os inimigos de Deus sejam esmagados. Que as trevas se dissipem cada vez mais.

Muitas vezes nós imaginamos que temos a capacidade de prever o futuro, e já pronunciamos a nossa visão de como as coisas serão daqui a 20, 50, ou 100 anos. Mas na realidade, ninguém entre nós sabe. Não temos este poder. Por mais que pensamos que sabemos, não sabemos. E muito frequentemente, nós olhamos para este mundo com olhos humanos e sem uma gota de fé, e já declaramos que o mundo está perdido, aparte talvez de um pequeno remanescente de crentes eleitos em cada nação. Vemos tanto mal acontecendo ao nosso redor; vemos as coisas piorando cada vez mais; e então levantamos as mãos em desespero e oramos simplesmente que Cristo volte logo. 

E muitos assim interpretam esta petição.

Será que este pensamento é bíblico? 

É muito fácil desesperar. E de fato, se a nossa esperança fosse na inteligência dos homens, ou na bondade dos homens, então sim não teríamos a mínima esperança. Mas Cristo nos deu uma promessa, umas ordens, e uma oração que deve estar em nossos lábios e em nossos corações.

Pense sobre Abraão, quando Deus o chamou fora de Ur. O mundo inteiro estava em trevas. Mas Abraão creu na promessa de Deus, e obedeceu ao chamado de Deus. Durante toda a sua vida ele andou na terra prometido, sem possuir nada dela fora de um sepulcro que ele comprou para sua esposa Sara. Se ele dependesse no que os seus olhos viram, ou no que ele lesse nos jornais, então certamente desesperaria. 

Pense sobre os judeus na época de Miqueias. Ouvindo uma profecia desta sobre a lei de Deus indo e transformando as nações do mundo. Será que era possível? E eles responderam: Mic. 4:5: “Todos os povos andam, cada um em nome do seu deus; mas, quanto a nós, andaremos em o nome do Senhor, nosso Deus, para todo o sempre.”

Cristo nos deu ordens e nos deu uma oração que deve estar em nossos corações e os nossos lábios: “venha o teu Reino”—por mais que nós não conseguimos imaginá-la se implantando em nosso brasil. 

Ouça como o catecismo explica esta petição:
Qual é a segunda petição?
R. Venha o teu reino. Isto é:

  1. Que nos governes pela tua Palavra e Espírito, de tal modo que cada vez mais nos submetamos a ti.
  2. Que protejas e faças crescer a tua igreja.
  3. Que destruas as obras do diabo, todo poder que se levante contra ti, e toda conspiração contra a tua Palavra.
  4. Que faças todas essas coisas até que venha a plenitude do teu reino, em que serás tudo em todos.

Veja como a explicação do catecismo é cheia de esperança e expectativa. Não devemos desistir, mas devemos orar e trabalhar pela fé. Não podemos predizer o futuro, mas temos que ser fiel cada um em nosso ofício e crer e trabalhar no poder do Espírito para transformar terra árida em aguas correntes e pastos verdejantes. A pregação do Evangelho, acompanhada pelo Espírito, tem o poder de trazer uma transformação real—de corações, de vidas, de lares, de comunidades e até mesmo de nações. Se fez isso em nós, porque nós imaginamos que seja impossível na vida do nosso próximo?

É isso que Cristo nos ensina a pedir nesta oração. É para isso que os discípulos foram ordenados a trabalhar. E é isso que Cristo promete que fará. (Mateus 16: “Edificarei a minha igreja, e os portões do inferno não prevalecerão contra ela.”) O que são estes “portões do inferno”? Elas representam o reino das trevas. E entenda bem a imagem representada aqui: não é a igreja que está sob ataque nesta figura, mas os portões do inferno. E Cristo nos promete que estes portões não resistirão o avanço de sua igreja. A igreja que está armada com o aríete do Evangelho, batendo-o contra os portões do reino de Satanás, e Cristo nos promete que estes portões antigos não resistirão o ataque. Eles desmoronarão diante do Seu Reino, assim como Nabucodonosor viu em seu sonho. 

Para os judeus na época do novo testamento, isso foi uma das profecias messiânicas mais conhecidas. Salmo 2:7–9: 

“Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.

 Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.

 Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro.”

É isso que acontece toda vez que os missionários saem e proclamam o Evangelho; toda vez que pecadores são confrontados pela palavra de Deus, e se arrependem e submetem suas vidas a Cristo; toda vez que nos combatemos o pecado em nossas vidas pelo poder de Espírito Santo; toda vez que ajudamos um irmão ou irmã que estava desviado, e ele retorna à graça de Deus; toda vez que uma mãe cristã cria um filho ou filha que ama e teme ao Senhor: BOM! é outro choque contra os portões do inferno, e eles desmoronam um pouco mais.

Agora, certamente não chegamos ainda ao final. E a plenitude e consumação do reino de Deus, sabemos que será só na vinda de Cristo e depois do juízo final. Sabemos que muitos rejeitam o evangelho e serão julgados. Sabemos grande parte do mundo ainda jaz no maligno. Satanás pode ter sido lançado fora do céu, e pode ter perdido seu poder de enganar as nações, mas ele continua assolando a igreja em todos os lugares, e ele ainda segura o seu domínio em muitos lugares deste mundo, como também em nosso próprio país do brasil. Às vezes ele até avança em uma parte ou outra, ou em momento ou outro na história. Ele também reivindica suas vitórias. Às vezes perdemos um irmão ou uma irmã para sua sedução ou intimidação. Mas temos que crer que Cristo—o Rei dos reis—está conosco, e seu domínio sim avançará aqui também, como Cristo prometeu. 

Finalmente, reconhecemos que a guerra não é apenas lá fora—mas também está aqui dentro. Em nossos próprios corações, vidas, lares, e igrejas. Existem trevas logo aqui que precisam ser expostas à luz e tratadas pelo evangelho; areas em minha vida, em meu coração, que ainda precisam dobrar os joelhos plenamente ao governo e domínio de Cristo.

Então o catecismo nos ensina, quando fazemos esta oração, a começar com nós mesmos. “Que nos governes pela tua Palavra e Espírito, de tal modo que cada vez mais nos submetamos a ti.” 

E se estamos fazendo esta petição sinceramente, então vamos também fazer uso dos meios que Ele nos deu: Sua Palavra e Seu Espírito. Ouvir a Palavra e orar no Espírito.

Agora sabemos que, à medida que o Reino das Trevas desmorona, Satanás se tornará ainda mais violento. Ele não suporta perder seu território. Ele sabe que no final desta história, ele e seus servos serão lançados no lago de fogo para todo o resto da eternidade. Então ele faz tudo no seu poder para deter o avanço do evangelho. Além disso, temos como inimigos um mundo que ainda está sob seu controle, e a nossa própria carne que ainda carrega os vícios e as fraquezas do pecado que não são eliminados por completo ainda. Então somos chamados para guerra. A batalha—nas fronteiras da terra lá fora, e em nossos próprios corações—será violenta, e dependemos da força que Deus somente pode suprir. Paulo nos lembra em Efésios 6:12:
A nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, contra as potestades, contra os poderes cósmicos desta presente escuridão, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.”
Se levamos essa petição a sério, também reconhecemos o quanto precisamos da ajuda do Espírito, já que Cristo nos chama às linhas de frente dessa batalha, onde sabemos que Satanás lutará mais violentamente para manter seu domínio. E resto da oração—as últimas três petições—tratam das nossas necessidades nesta batalha. 

Também sabemos que a “vitória” nem sempre parece como vitória neste mundo. Somos chamados a negar a nós mesmos, levar a nossa cruz, e seguir atrás de Cristo. Somos chamados a ser fieis, não a garantir os resultados. Temos que viver pela fé, não pela visão. Um dos pais da igreja, Tertuliano, disse contra os perseguidores da igreja na sua época: “Nós nos multiplicamos quando vocês nos ceifam. O sangue dos cristãos é a semente da igreja.” Então ninguém deve se enganar por uma visão de vitória fácil do evangelho, ou de proeminência ou status ou posição nesta terra. Este foi um erro em que os discípulos muitas vezes caíram, e Jesus teve que os repreender. 

Mas quando nós suportamos as aflições desta vida com paciência, e buscamos fazer não a nossa próprio vontade, mas a vontade de nosso Deus; quando renunciamos os nossos reinos e buscamos o Reino e a justiça dEle, podemos ter certeza que a nossa vida ou a nossa morte será semente para a igreja e o reino de Deus.

Então, irmãos, que esta petição que Cristo nos ensinou esteja sempre nos seus lábios e nos seus corações, todos os dias. Orem para que o Reino de Cristo venha a este mundo que tanto precisa dele, e que as trevas que ainda preenchem grande parte deste mundo sejam dissipadas, e que o Evangelho de Cristo venha e cresça e encha este mundo—começando com os nossos próprios corações e vidas, até o dia que Cristo finalmente volte para julgar os vivos e os mortos e estabelecer a plenitude de seu reino.

Voltar ao topo
Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.