Hebreus 03.01-02

Leitura: Hebreus 02.01-03.06
Texto: Hebreus 03.01-02

Amada congregação do Senhor Jesus,

No seu livro Cristianismo sem Cristo, o ministro e professor reformado Michael Horton identifica um problema importante com o cristianismo norte-americano. Muitas pessoas esquecem Cristo e o que Ele tem feito. Muitas vezes, Ele é ignorado completamente. Outros autores identificaram o mesmo problema.

Sem dúvida, que foi ouvido antes. No século XVI, os cristãos reformados disseram o mesmo sobre o cristianismo medieval. O cristianismo medieval falou sobre Jesus, com certeza. Todavia, Jesus não era central. Os sacerdotes não pregaram Jesus como Ele é revelado na Bíblia. A igreja não creu em Jesus como Ele é revelado na Bíblia. Assim, ouvimos Lutero dizendo, “A verdade do evangelho é o primeiro artigo da doutrina cristã. É necessário sabermos este artigo completamente, ensiná-lo aos outros — e você precisa batê-lo em suas cabeças”. Como diz Lutero, nós nunca devemos esquecer o evangelho. Nós nunca devemos supor as boas novas. Nunca podemos se esquecer de pregar constantemente Cristo e Ele crucificado, o Salvador dos pecadores.

Meu propósito neste sermão é dar encorajamento a partir da Palavra de Deus, para que vocês tenham fome de Cristo e do evangelho. Meu propósito é ajudar vocês, para que vocês vejam o que é mais importante. Oro para que cada um de vocês sempre encontrem seu único consolo na vida e na morte no evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Este é o lugar onde o Espírito Santo nos guia em nosso texto, Heb. 3.1-2. Por isso, vos proclamo a Mensagem de Deus no seguinte tema:

Tema: Considerai atentamente Jesus!

Vamos considerar,

  • 1. Confessando quem somos, mas, o mais importante,
  • 2. Confessando a pessoa e a obra de nosso Salvador

Nós não sabemos quem escreveu a carta aos Hebreus. Há muitas teorias. Alguns dizem que foi Paulo, outros dizem Apolo, e outros dizem qualquer outra pessoa. Isto não é importante. O mais importante é que, na verdade, a carta não é uma carta. A conclusão de Hebreus parece ser a de uma carta ou de uma epístola. Todavia, o resto parece ser um sermão da igreja apostólica.

Hoje, quando ministros reformados começam os seus sermões, eles dizem algo como, “Amada congregação do Senhor Jesus Cristo”. Isso é nosso costume, também é bíblico. No Novo Testamento, vemos epístolas endereçadas às igrejas de uma maneira similar. Quando você fala ao povo da igreja, você o chama o povo de Deus, a congregação de Cristo. Ele é as pessoas que confessam o nome de Cristo.
Agora, o sermão que chamamos de Hebreus não começa desta maneira. Mas, em cada parte do livro, nós vemos o povo de Deus chamado desta maneira apostólica. Por exemplo, aqui em nosso texto, no início do capítulo 3.

O autor chama os seus leitores (ou ouvintes) de santos irmãos. Estas duas palavras estão cheias de significado. Santos irmãos — estas palavras ampliam o capítulo 2. No capítulo 2, os crentes são uma família espiritual. Hebreus 2.11 diz, “Pois tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos”.

Amada congregação, aqui há uma verdade consoladora. Somos membros da família de Deus. Por causa de Cristo e a obra d’Ele, somos adotados como filhos de Deus. Mas há mais. Talvez você se pergunte por que ele diz irmãos e filhos. Sei que, em português, “irmãos e filhos” muitas vezes inclui irmãs e filhas. Em grego bíblico também. Contudo, aqui é importante que entendamos bem a Bíblia. Hebreus fala dos irmãos e filhos por uma boa razão. Os irmãos e filhos são as crianças privilegiadas. Ou homem ou mulher, vamos receber a herança de nosso Pai. O que é essa herança?

Hebreus 1.14 diz que vamos receber uma herança — nossa salvação. Em outras palavras, sempre vamos viver em reconciliação com o nosso Deus e Pai no céu. Este é eterno. Ninguém pode roubar nossa herança de nós. Também, nossa herança vai incluir o novo céu e a nova terra. Deus vai nos dar um lugar onde vamos morar para sempre. Ele vai compartilhar esta terra conosco. Nesta terra, teremos uma perfeita comunhão com nosso Deus. Há uma herança gloriosa para os filhos de Deus!

Nosso texto diz também que os cristãos são santos irmãos. Temos sido distinguidos do mundo por Deus. Deus tem nos reivindicado — assim, pertencemos a Ele, pertencemos à família d’Ele. Há algo de especial com este povo. Aqui também devemos pensar sobre nosso batismo. Recebemos o sinal e o selo da aliança de Deus no batismo. Deus tem nos reivindicado. Quando você foi batizado, então Deus disse, “Esta criança é minha! Esta criança é santa!” Então, todos nós precisamos dizer, “Sim, pertenço a Deus”. Pela aliança da graça d’Ele, Deus tem me reivindicado. Reconheço isso. Acredito nisso, por causa de Cristo, por causa de tudo que Ele tem feito. Só por causa de Cristo, pertenço a Deus hoje e sempre. Meus irmãos, todos nós temos de dizer isso. Deus tem nos reivindicado e nos deu maravilhosas promessas em Cristo. Temos que responder com fé. Deus diz que somos santos irmãos, então acreditemos nisso.

Acreditar que somos santos irmãos também vai gerar frutos em nossas vidas. Deus diz que somos santos. Deus diz que temos sido distinguidos do mundo. Portanto, ele deve ser assim em nossas vidas. Somos santos. Não somos perfeitos. Há ainda uma guerra contra o pecado. Você não é um descrente porque luta contra o pecado. Nem pensar. Pelo contrário, sua luta é parte da sua vida cristã. Quando Deus nos declara santos, declaramos guerra contra o pecado. Deus diz que somos santos, agora vamos tentar ser quem somos.

O autor de Hebreus também diz que somos o povo que participa da vocação celestial. Estas palavras trazem louvor a Deus igualmente. Vemos a graça d’Ele aqui: participamos da vocação celestial. Isso significa duas coisas.

Primeiro, significa que nós fomos chamados por Deus, que mora no céu. Deus nos chamou para fora do mundo, das trevas para a maravilhosa luz d’Ele. Deus nos chamou pela Sua Palavra, para acreditar n’Ele. Deus nos chama constantemente para nos arrependermos e crermos no evangelho. Nosso chamado é do céu e para sermos os filhos de Deus hoje e sempre.

Segundo, a vocação celestial também é uma chamada para o céu. Hebreus 11.16 diz que há uma pátria superior, isto é, celestial. Lá uma cidade foi preparada para nós por Deus. Essa cidade faz parte da nossa herança. Essa é a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador (Heb. 11.10). Na verdade, essa cidade é a cidade maravilhosa!

Participamos nessa vocação celestial com todo o povo de Deus. Nós participamos nela. Não é apenas uma vocação para uma ou duas pessoas. Ela é algo para muitas pessoas. A vocação celestial existe na comunhão dos santos.

Agora, a vocação precisa de uma resposta. Por isso, nosso texto diz, “Considerai atentamente Jesus”.

Agora é necessário considerarmos a pessoa e obra do nosso Senhor Jesus. Todavia, primeiro é importante voltarmos ao capítulo 2. Precisamos fazer isso por causa de duas palavras no início do capítulo 3, “por isso”. Não podemos ignorar essas palavras. Precisamos pensar sobre essas palavras. Por isso? O que é “isso” aqui? O que é a base para o ensino no capítulo 3?

Assim, no capítulo 2, vemos Cristo, aquele que, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem (Heb. 2.9). O Senhor Jesus é o Autor da salvação, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos (Heb. 2.10). Ele compartilhou da nossa humanidade para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo (Heb. 2.14). Ele nos deu a liberdade. Heb. 2.17 diz, “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo”. Propiciação significa que Ele desviou a ira de Deus. Portanto, temos a reconciliação com Deus. Deus olha para nós com amor e favor. Ademais, hoje, porque Ele mesmo sofreu quando tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados (Heb. 2.18).

Meus irmãos, tudo isso é a base para as duas palavras que começam o capítulo 3, “por isso”. O Espírito Santo diz, já que tudo isso é verdade, “Considerai atentamente Jesus”. Olhai firmemente para Cristo. Queremos ficar obcecados por Jesus. Ele deve ser o sol em nosso sistema solar. Ele deve estar no centro sempre. Por quê? Porque Cristo é nossa salvação, nossa esperança, nossa vida diante de Deus.

Hebreus 3.1 nos diz para considerarmos Cristo de duas maneiras específicas. Com certeza, há outras maneiras. Por exemplo, podemos pensar sobre Cristo como o marido da mulher d’Ele, a igreja — e mais. Contudo, há só duas maneiras aqui em nosso texto. Elas estão ligadas, na verdade, ninguém pode separá-las. As duas maneiras são: Cristo é o Apóstolo e Cristo é o Sumo Sacerdote.

Primeiro, vamos considerar Cristo como nosso Sumo Sacerdote. Há duas partes. Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo nos redimiu pelo único sacrifício na cruz. Ele se afastou da ira de Deus pelo sacrifício de Seu corpo e sangue. Como nosso substituto perfeito, nosso Senhor Jesus pagou todas as nossas dívidas a Deus. Ele fez a completa satisfação por nós. Hoje, considerando atentamente Jesus, temos a segurança de que Deus nos perdoou. Sem dúvida, Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões (Sal. 103.12). Com certeza, todos os nossos pecados estão agora nas profundezas do mar (Miq. 7.19). Não há nada entre nós e Deus. Amada congregação, é necessário sempre acreditarmos nisso. Todos os nossos pecados podem ser perdoados por Deus em Jesus. Sempre há perdão para você na cruz de Cristo. Ele é o teu Sumo Sacerdote. Continue a confiar n’Ele.

Também é importante considerarmos a segunda parte da obra d’Ele como nosso Sumo Sacerdote. Heb. 7.25 diz que Ele sempre vive para interceder por nós. Hoje, o Filho de Deus está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso. Ele está lá, não por si mesmo, mas por nós! Aquelas duas palavras são belíssimas, por nós. Cristo está no céu por nós, para nosso benefício! Como experimentamos a depravação deste mundo caído, Cristo é por nós. Quando lutamos contra os desejos pecaminosos, Cristo é por nós. Quando oramos, Cristo é por nós. Quando não sabemos como devemos orar, Cristo é por nós. Quando não podemos orar por causa da velhice ou doença, Cristo é por nós. Ele fala por nós quando não podemos falar nunca mais. Ele sempre fez isso. Ele sempre fará isso. O sacrifício na cruz foi feito uma vez, todavia a intercessão de Cristo sempre continua. Meus irmãos, somos abençoados por termos este Salvador. Ele nos ama tanto que ele está sempre ao nosso lado. “Considerai atentamente Jesus”, o Sumo Sacerdote da nossa confissão!

O autor de Hebreus também diz que Jesus é um Sumo Sacerdote fiel. Nosso Senhor Jesus foi e é fiel àquele que O nomeou, a Deus Pai. Há uma comparação com Moisés. Moisés foi fiel com o povo de Deus, ele foi fiel na casa de Deus. Mas Jesus é maior que Moisés, porque Ele é fiel à casa de Deus. Cristo redimiu a casa com o Seu corpo e sangue. Ele está construindo a casa, mas também governando e protegendo a casa. Em outras palavras, nosso Senhor Jesus é fiel, é leal a Deus quando Ele faz intercessão. Ele nunca vai abandonar a casa. Ele nunca vai falar palavras de julgamento sobre a casa. Cristo tem uma boca que ora pelo povo de Deus. Esta mesma boca nunca vai condenar este mesmo povo. O Senhor Jesus é o Sumo Sacerdote fiel da nossa confissão, o que é necessário considerarmos atentamente.

Também nosso texto diz que Jesus é o Apóstolo. Isso está conectado com ser o nosso Sumo Sacerdote. Na Bíblia, é raro chamar Jesus de um apóstolo. Na verdade, essa é a única passagem. A palavra “apóstolo” significa que alguém é enviado com uma comissão. Os apóstolos de Cristo são enviados com a Grande Comissão em Mateus 28. Mas, aqui em Hebreus, nosso Senhor Jesus é chamado de apóstolo. Deus o enviou ao mundo. 1 João 4.9-10 diz, “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho Unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. Nessa passagem, vemos a conexão entre Cristo como um apóstolo e Cristo como nosso Sumo Sacerdote. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, ele é o sacrifício que afastou a ira de Deus. Nosso Senhor Jesus foi enviado ao mundo com esta vocação. Ele reconheceu isso na oração sacerdotal d’Ele. Em João 17.3-4, nosso Senhor Jesus disse, “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer”. Nosso Senhor Jesus foi enviado ao mundo e concordou em vir. Antes da fundação do mundo, Cristo concordou em vir como nosso Sumo Sacerdote, para fazer o grande sacrifício por nós.

Nessa obra também, Jesus foi fiel. Ele foi um Apóstolo leal, um Filho leal na casa do Pai. Pelo Espírito Santo, Ele se tornou humano no ventre da Virgem Maria. Em sua encarnação, Cristo começou na estrada da humilhação. Ele fez o que era necessário fazer. Em toda sua vida, ele sofreu, mas especialmente na cruz. Fez todas essas coisas para conduzir muitos filhos à glória. Todas essas coisas por nós. Nosso Senhor Jesus é o Apóstolo fiel, foi enviado ao mundo para ser o nosso Redentor. “Considerai atentamente Jesus”, meus irmãos. Colocai a confiança de vocês n’Ele somente, tanto nesta vida como na vida futura. É a mensagem do Espírito Santo em nosso texto.

Mas agora, alguém diz, “Isso é agradável, pastor, mas o que eu preciso fazer? Como devo viver como cristão?” Amada congregação, vou explicar. Este texto é fundamental, ele coloca a base da vida cristã. Sim, há um aspecto geral de sermos santos irmãos, mas nossa passagem não dá os detalhes de como viver como cristão. Este texto nos ensina o que é mais importante para os crentes. O mais importante é confiarmos em Cristo constantemente. É bom ouvirmos o evangelho da graça constantemente. Este texto nos ensina que nosso Senhor Jesus é o grande Salvador. Sabendo disso, então estamos motivados a viver uma vida santa cristã.

Meus irmãos, é a pregação do evangelho da graça que dá força à vida cristã. Quando vemos a graça de Deus em Cristo, então nossos corações ficam cheios de gratidão, né? Então nossos corações ficam cheios de amor, né? Queremos agradar ao nosso Pai. Queremos fazer a vontade do Senhor. Queremos ser obedientes, não para ganharmos algo de Deus, mas porque amamos a Ele. Jesus deve ser tanto nosso Senhor como nosso Salvador. Se Ele é nosso Redentor, também Ele deve ser Patrão das nossas vidas. Porém, tudo isso começa com o evangelho — e não devemos nunca esquecer ou supor o evangelho.

A história nos ensina sobre as igrejas que se esqueceram de pregar o evangelho da graça ou o supuseram. Elas geralmente perderam o evangelho em uma geração. Isso é lógico. Se nossos filhos ouvem na igreja apenas como viver uma vida cristã, se ouvem na igreja apenas como ser obedientes a Deus, e, se nunca ouvem o evangelho da graça, eles vão pensar que o cristianismo se baseia nos nossos atos e em nossa obediência. O evangelho vai desaparecer. A igreja vai virar um clube, apenas um clube das pessoas que tentam viver uma vida moral. O evangelho é uma pérola de grande valor, e perder ele é uma tragédia horrível.

Portanto, quero encorajar cada um de vocês novamente: “Considere atentamente Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão”. Sempre tenha Cristo como o centro. Sempre tenha o evangelho da graça como o centro. Assim, vamos dar glória a Deus, nosso Criador, Redentor e Renovador — Pai, Filho, e Espírito Santo.

Amém.

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wes bredenholf

Wes Bredenhof​

Wes Bredenhof é um pastor e teólogo canadense, atualmente servindo na Free Reformed Church of Launceston, na Tasmânia. Formado em Teologia pelo Canadian Reformed Theological Seminary, obteve um Doutorado em Teologia pela Reformation International Theological Seminary. Iniciou seu ministério como missionário entre os indígenas de Fort Babine, BC, e pastoreou igrejas no Canadá antes de se mudar para a Austrália. Autor de vários livros e artigos.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.