Dia do Senhor 35

Leitura: Deuteronômio 4:1-24, Isaías 40:12-31, Romanos 1:18-32
Texto: Dia do Senhor 35

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,

Ao começarmos a considerar o 2º mandamento da lei de Deus, queremos lembrar novamente nosso grande tema aqui nos 10 mandamentos, que é que Deus nos libertou para sermos livres e vivermos livres. A lei foi dada para este propósito: não para restringir nossa liberdade ou nos privar de qualquer coisa boa, mas para nos dar o que é melhor, para nos mostrar como viver como um povo livre sob o amor e o favor de Deus, o maneira que fomos criados para viver. Então, queremos manter isso em nossas mentes ao estudarmos este segundo mandamento.

Dito isto, com relação a este, o segundo mandamento, queremos começar perguntando, por que este mandamento está mesmo aqui na lei? À primeira vista, pode parecer que isso é apenas uma extensão do primeiro mandamento, “não terás outros deuses além de mim.” E, se não forquestão de adorar outros deuses, podemos perguntar: “qual é o problema com as imagens? Por que Deus proíbe o uso de imagens esculpidas se não é questão de adoração a outros deuses?”

Então esse é o nosso objetivo para esta tarde: pensar, qual é o problema aqui (por que é tão importante para Deus), e também, no final, como sempre: qual o lado positivo deste mandamento? Ou seja, o que Deus exige de nós neste mandamento?

  1. Por que as imagens de Deus são proibidas

Em primeiro lugar, então, queremos ver a diferença entre este mandamento e o primeiro. À primeira vista, talvez parece que estão tratando o mesmo assunto, mas não estão. Há uma diferença muito importante. O primeiro mandamento tem a ver com quem ou o que nós adoramos; e o segundo mandamento tem a ver com a forma como nós adoramos. Então, o primeiro mandamento é: “não terás outros deuses diante de mim”, e isso tem a ver com quem adoramos. O segundo mandamento é: “não farás uma imagem esculpida (isto é, uma imagem de Deus) para adorá-la (isto é, adorar a Deus por meio dela). 

Um exemplo desse tipo de coisa pode ser encontrado na história do bezerro de ouro em Êxodo 32. Talvez vocês, filhos, lembrem-se do que aconteceu? Moisés estava no monte (Mt. Sinai), ouvindo a Deus e recebendo os 10 mandamentos; e ele demorou muito para descer (ele ficou lá em cima por quarenta dias). Então o povo decidiu que Moisés provavelmente havia morrido lá na montanha, e então eles disseram a Arão, “faça-nos deuses que irão adiante de nós”. Então Arão pediu todas os seus brincos de ouro, e os derreteu, e fez para eles um bezerro de ouro, e disse: “São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito.”

Agora as traduções dizem “deuses” no plural, mas a palavra original hebraica é a mesma que a palavra para “Deus” no singular. (A palavra “Deus” no hebraico é uma palavra especial que é sempre escrita no plural nas Escrituras, mesmo quando se refere ao único Deus Verdadeiro.) Então, o que as pessoas estavam realmente pedindo a Arão era: “faça-nos um deus, que irá adiante de nós”. E Arão fez o bezerro (observe, apenas um bezerro), e ele disse: “Eis o teu Deus que te tirou da terra do Egito”.

Então o que estava acontecendo aqui? Não era que Aarão e o povo de Israel estavam adorando outros deuses. Eles estavam adorando o verdadeiro Deus – o que os tirou do Egito – mas por meio desta imagem de um bezerro – algo que Ele havia proibido.

É disso que trata este mandamento. O primeiro mandamento é: “não adorarás outros deuses”. O segundo é: “não farás uma imagem de Deus para adorá-la, ou adorar a Deus por meio dela”.

Então, isso nos deixa com uma segunda pergunta: por que isso é uma questão tão importante para Deus? Claramente, isso é algo que Deus considera muito importante. Ouça novamente as palavras de Deus a Moisés em Deut. 4:15-18: 

“Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra.”


E novamente nos versículos 23-24:

“Guardai-vos não vos esqueçais da aliança do Senhor, vosso Deus, feita convosco, e vos façais alguma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa que o Senhor, vosso Deus, vos proibiu. Porque o Senhor, teu Deus, é fogo que consome, é Deus zeloso.”

Claramente, esta questão é importante para Deus.

E com estes mesmos versículos, já podemos ver por que esta adoração a Deus por meio de uma imagem esculpida era tão ofensiva a Deus. Deus diz ao povo: “Já que vocês não viram nenhuma forma, mas apenas ouviram uma voz, cuidado para não se corromperem , fazendo para vocês uma imagem esculpida na forma de alguma figura.”

Deus quer ser conhecido por sua voz—por sua palavra, porque apenas a sua Palavra é capaz de fazê-lo conhecido corretamente. Nenhuma imagem visível pode chegar perto de retratar Deus. Ao falar conosco com Sua voz, e não nos dar uma forma visível, Deus deixou claro que Ele não pode ser retratado visivelmente. Toda forma visível reduz a majestade invisível de Deus à de uma criatura e uma caricatura, e isso—Deus mesmo disse—é uma corrupção. Assim, Ele expressamente proíbe a criação de qualquer imagem dEle na forma de qualquer figura, macho ou fêmea, ou qualquer animal na terra, ou qualquer pássaro alado. 

Pense por exemplo deste bezerro de ouro. Imagens de bezerros eram muitas vezes usadas para representar os deuses no mundo antigo, porque um bezerro – falando aqui de um bezerro macho de mais ou menos um ano de idade – representava força, masculinidade, e poder. Mas será que essa imagem realmente retrata a natureza de Deus? Representa como Deus é? Claro que não. Ela faz uma caricatura. A força de Deus nãoé como a de um bezerro, é completamente diferente. Além disso, onde em um bezerro você vê a sabedoria de Deus, a majestade de Deus, a bondade de Deus, a misericórdia de Deus, a santidade de Deus e a total dessemelhança de Deus com qualquer coisa na criação? Uma escultura de um bezerro não mostra a verdadeira natureza de Deus.

Deus escolheu revelar-se por meio de Sua Palavra, porque, por esse meio podemos conhecer Deus como Ele realmente é. Deus é espiritual, e as palavras podem comunicar verdades espirituais de uma forma que as imagens nunca podem. Você não pode fazer uma imagem de justiça, mas pode descrevê-la com palavras. Você não pode fazer uma imagem do amor – não é uma coisa visível que você possa segurar em suas mãos ou tirar uma fotografia – mas você o descreve com precisão com palavras. Você poderia até retratar exemplos de justiça e exemplos de amor, mas em sua essência são realidades espirituais que não tem forma visível. Deus se revelou por meio de Sua Palavra para que possamos conhecê-Lo como Ele é, e não ter uma imagem corrompida.

Vemos a mesma coisa no que lemos de Isaías. Quase mil anos depois de Moisés, encontramos Isaías falando a Palavra de Deus a Israel e lidando exatamente o mesmo assunto. Israel havia se corrompido e feito ídolos de Deus, além de adorar anjos e outros deuses. E o que Deus diz por meio de Isaías é a chave para entender por que Deus se opõe tanto à criação de imagens. Ele diz: 

“A quem compararás Deus?”

A quem você vai comparar Deus? O que você pode usar para dizer: “Deus é assim?” Podemos utilizar muitas analogias terrenas—a Bíblia utiliza analogias para falar sobre a força de Deus, como por exemplo um guerreiro armado; ou sobre o amor de Deus, como por exemplo um Pai com seus filhos—mas todas estas analogias são muito pobres para representar Deus em seu todo. O que que nós temos aqui na criação para representar a Deus?

Hoje muitas pessoas, quando elas pensam sobre Deus, tem uma imagem boba de Deus de um grande e velho homem com uma grande barba branca. Elas usam expressões desrespeitosas para falar de Deus, como “O homem lá em cima.” Mas esta imagem de Deus, e estas expressões, são blasfemas. São perversas. Ou como Deus diz aqui em nosso texto, é uma corrupção. Deus não é assim.

Então o profeta Isaías pergunta:

Is. 40:12: “Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão?”

Você já fez isso? Você desceu à Fossa das Marianas no Oceano Pacífico e contou todos os litros de água ali? Você passou uma fita métrica sobre os céus? Você já mediu as montanhas e as pesou? Claro que não. Somos criaturas pequeníssimas. Quem somos nós para dizer: “Deus é assim.” “Esta será uma boa imagem de Deus.” 

Fazer uma imagem de Deus, então, não é somente arrogante e blasfemo; mas também é prejudicial e fatal para nossas próprias almas. Por quê? Porque, como vimos na semana passada, nós fomos feitos para viver em relacionamento com Deus. Deus nos fez para conhecê-Lo, amá-Lo, e viver em comunhão com Ele; se nós construirmos uma imagem de Deus conforme nossas próprias idéias e não conforme a verdade, perderíamos o Deus para quem fomos feitas e em quem encontramos nossa própria identidade. Trocaríamos a verdade de Deus pelas trevas, pequenez e vazio das nossas próprias mentes caídas. É por isso que este mandamento é tão importante. Como você pensará em Deus? Você vai fazer Deus conforme sua imagem, feita à sua semelhança e seus desejos perversos e futeis; ou você vai buscá-Lo em verdade e conhecê-Lo como Ele é? Uma imagem de Deus de acordo com nossa própria imaginação não é apenas uma blasfêmia para Ele, é, em última análise, ruinosa para nossas almas. 

Então lembre-se novamente do tema aqui: somos libertos em Cristo para viver livres

O povo de Deus tinha acabado de ser libertado das trevas e miséria do Egito, mas a escravidão de suas almas e as trevas de suas mentes não foram erradicadas ainda; a escuridão da idolatria ainda permanecia neles quando estavam diante do Monte Sinai. O profundo instinto de idolatria ainda vivia neles, e a tentação para reduzir Deus a algo compreensível, manipulável e conforme sua própria imaginação. Deus expressamente proíbe que fizessem isso, tanto para a glória devida a Seu Nome que Ele não permite que seja pervertido, como também para preservar a liberdade e integridade do Seu povo.

E nós precisamos reconhecer que este desejo de reduzir Deus à nossa imagem, para algo compreensível e manipulável, certamente ainda existe dentro de nós também. Este mandamento ainda permanece muito relevante para nós. Deus traça aqui este limite para nos preservar em nossa liberdade e não nos deixar ser escravizados por nossas próprias concepções caídas e perversas. É um limite que devemos respeitar.

É por isso que a igreja, durante a Grande Reforma, tomou uma posição muito forte contra o uso de imagens esculpidas na adoração – estátuas de Jesus ou dos santos. Na verdade, este é um problema muito antigo na igreja cristã. Pastores como João Crisóstomo e Santo Agostinho lutaram muito contra isso e proibiram expressamente o uso de imagens esculpidas na adoração, tanto na igreja como no lar. Mas no longo prazo, a igreja falhou de guardar as portas. O impulso da idolatria—o desejo de ter uma imagem visível diante de qual podemos nos curvar e adorar—venceu, e esta prática se tornou comum e sancionada, tanto nas igrejas ocidentais como orientais. 

Quando a Grande Reforma finalmente aconteceu, e muitas igrejas buscavam se reformar conforme a Palavra de Deus, o uso de imagens na adoração voltou a ser o foco da controvérsia. A posição dos Reformadores foi clara: não importa os argumentos que usamos para justificar esta prática, o segundo mandamento é claro, e não devemos tentar ser mais sábios do que Deus. Mesmo se você quiser argumentar que não está “adorando mesmo,” mas apenas “reverenciando” estas imagens de Cristo ou dos santos quando se curva diante delas; ou você está apenas usando as estátuas para “despertar sua piedade e reverência por Deus” – não deveríamos tentar ser mais sábios de que Deus. O mandamento de Deus é claro: “não farás uma imagem de escultura, para se curvar diante dela.” Então, apenas obedeça o mandamento que Deus lhe deu para o seu bem. Não imagine que você é mais evoluído do que aqueles israelitas primitivos, ou que aquele velho mundo de idolatria não tem mais nenhuma influencia sobre seu coração. Se afaste da idolatria. Não deixa nem chegar perto. Deus proibiu esta prática porque Ele o ama e deseja que você seja livre desse mundo de trevas.

A Igreja Católica Romana pode alegar que eles não se curvam diante das imagens como um ato de adoração, mas apenas se curvam a elas como um ato “reverência” e respeito; mas o que realmente acontece na prática, na mente do praticante ordinário, que fica beijando uma imagem ou uma relíquia na igreja, ou rezando diretamente para a imagem à sua frente, ou olhando para o rosto da imagem de Cristo para contemplar o rosto de Deus? Será que ele entende mesmo essa distinção? A experiência mostra que não. Devemos obedecer a Deus e confiar que Sua Lei é para nosso bem. Seu Pai, que o ama e quer que você O conheça em verdade, diz pra você: fique longe disso, não se corrompe com isso. Vamos levar isso a sério.

Mas a velha escuridão do Egito existe dentro de nós de outras maneiras mais sutis. Mesmo que não façamos uma imagem física esculpida, será que fazemos para nós imagens “mentais” de Deus, de acordo com nossas próprias preferências e desígnios? Ouça novamente Deut. 4:2, que vem logo antes desta proibição de imagens:

Deut. 4:2: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos mando.”

É possível fazer para nós mesmos uma imagem de Deus, em nossas próprias mentes – não uma imagem visível, mas uma concepção de Deus que é de acordo com nossos próprios desígnios e desejos. É possível fazer uma imagem corrupta de Deus se escolhemos e selecionamos o que ouvir da sua Palavra, e o que não queremos ouvir; ou acrescentando à Palavra; ou reinterpretando a Palavra, de acordo com nossas próprias preferências. Se deixamos as nossas opiniões e preferencias próprias dominar a nossa leitura da Palavra, vamos acabar cometendo o mesmo pecado. Acabamos deixando nossa imaginação e nossas preferências distorcerem a Revelação de Deus de se mesmo. Neste caso, nos arrogamos para uma posição superior a Deus, dizendo: “Eu vou determinar como Deus deve ser.” Irmãos, entendam bem que isto é escuridão. Trocar a verdade de Deus por nossa opinião ou preferência é abraçar a escuridão. São as mesmas trevas que os israelitas levaram consigo do Egito. É a mesma inclinação idólatra do coração humano. Nós precisamos reconhecer que essa tentação se esconde em nossos corações também. Aquele velho mundo de trevas, que busca trazer Deus ao nível de uma criatura, de acordo com nossas expectativas de criatura, ainda espreita dentro de nós também.

Quais podem ser alguns exemplos?

Para alguns, é refazer Deus em um Deus “impessoal”. Este é o “Deus” de grande parte do mundo moderno, que acredita em Deus, mas não no Deus pessoal, que interage com Sua criação e Se relaciona com Suas criaturas; Em vez disso, imaginam um Deus que está distante, lá em outra dimensão, que existe mas não pode ser conhecido e nem precisa ser buscado. Thomas Jefferson, um dos fundadores dos Estados Unidos da América, arrancava páginas fora de sua Bíblia, de acordo com suas próprias preferências, para chegar a um deus que se ajustasse às suas sensibilidades – um deus que não faz milagres, que não intervém na história, mas quem simplesmente existe e nada mais. E muitas pessoas pensam de Deus exatamente dessa maneira.

Ou existe o Deus indulgente. O Deus que é simplesmente bonzinho. Que é todo amor, e só aprova e afirma nossas escolhas. Quem não julga, mas apenas me afirma e me abençoa. Isso também é trevas. Não é luz, não é verdade, é a escuridão e a pequenez de nossas próprias mentes.

É uma tentação que corre profundamente em nossa natureza caída retratar Deus e defini-lo de acordo com nossas próprias expectativas, e assim “adorá-Lo” (entre aspas), em vez de vir a Ele em Seus próprios termos, como Ele se revelou. Mas fazer isso é voltar às trevas. Parece liberdade, mas nos leva de volta à escravidão e à miséria. A verdadeira liberdade é sempre ser a pessoa que Deus fez você para ser, em comunhão com Ele, conhecendo-O como Ele realmente é, e assim, tendo verdadeira comunhão com Ele. Mesmo que Ele confronta e reprova nossos desejos, nossos hábitos, nossos impulsos e nosso orgulho, Ele o faz por nosso bem, para não sirvamos a uma mentira e corrupção. Seus pensamentos são mais elevados de que nossos, e Seus caminhos são melhores do que os nossos.

2. O que Deus requer neste mandamento

Isso nos leva então ao lado positivo deste mandamento. Se a proibição é que não façamos imagens com as quais adorar a Deus, porque são corrupções da Sua Natureza; então o lado positivo deste mandamento é: Conheça a Deus, como Ele realmente é, ouvindo Sua voz em Sua Palavra.

Ouça novamente Deut. 4:5-6:

“Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.”

Você consegue enxergar a beleza deste promessa?

O que Deus está dizendo é: Veja, estou dando a vocês algo que nenhuma outra nação possui: a verdade. Não troque isso por ídolos inúteis. Sim, talvez no início, você vai sentir a tentação de voltar a essa idolatria, e isso vai ficar agravado pelo fato de que todas as nações ao seu redor têm seus ídolos. Você pode ser até ridicularizado pelas nações, por adorar um deus que não pode ser visto, tão diferente do mundo ao seu redor.

Mas esta Palavra, estes mandamentos, se os guardares e os cumprires, isso será a tua sabedoria aos olhos de todos os povos. Ao ponderar sobre a Palavra e conhecer a Deus por meio dela, você será transformada na imagem de Deus (e não Ele na imagem de você) e então você será a imagem visível de Deus. Não uma imagem surda e muda, mas uma imagem viva e real de Sua justiça, santidade, amor, justiça e misericórdia, que o mundo pode ver e verdadeiramente ver Deus em você. Então eles dirão: “certamente esta grande nação é um povo sábio e entendido”. Você não terá nada do que se envergonhar e não precisará se defender. Pelo contrário, é o mundo que se envergonhará por suas abominações.

É para isso que Deus está nos chamando neste mandamento. Em vez de fazer Deus conforme a imagem de você, limitada, perversa, e caída, escuta-O na Sua Palavra e seja transformado na imagem dEle, em sua justiça e santidade. Não confie na sua própria sabedoria, tentando ser mais sábio de que Deus, mas guarde a Sua Palavra, e com tempo você vai ver que isso lhe fará grande honra e ganhará mais respeito aos olhos do mundo do que todos os seus ídolos surdos e mudos.

É verdade que o mundo ainda pode falar mal de você por não ter um ídolo como eles. Os cristãos do Império Romano eram considerados ateus no Império Romano, porque não tinham imagens físicas de seu Deus. (O que também, aliás, mostra que a igreja primitiva obviamente não tinha estátuas de santos ou Jesus também.) Mas o apóstolo Pedro diz a eles, 

1 Pet. 2:11–12: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.”

É exatamente a mesma mensagem aqui em Deuteronômio 4. Deixe suas vidas, moldadas e reformadas pela Palavra de Deus, serem sua “imagem” que o mundo verá de Deus. Que uma vida de justiça e santidade, de misericórdia e paz, de compaixão e mansidão, de sabedoria e honra, seja a imagem de Deus em seu meio. Um ídolo nunca pode retratar o caráter de Deus. Mas suas vidas, em conformidade com Sua Palavra, podem.

E esta foi a intenção de Deus desde o início, não foi? Que homem e mulher, criados em justiça e santidade, seriam a imagem de Deus—os seus filhos e seus representantes—neste mundo? Isso é o que é tão impressionante sobre a criação do homem em Gênesis 1 e 2. Esta é uma imagem visível de Deus que Deus permite, e não só permite, mas criou.

Mas quando o trocou a glória do Deus imortal, no qual Ele foi criado, pela glória das coisas corruptíveis – como Paulo explica em Romanos 1 – e assim adorou e serviu às criaturas, em vez do Criador, e corrompeu esta imagem. Ele se degradou e se rebaixou – e decaiu em cada perversidade. Veja como o apostolo Paulo fala das consequências disso. Paixões vergonhosas. Ações degradantes. E sofremos, em nossos corpos, as consequências vergonhosas disso.

Não é que o homem deixou totalmente de carregar a imagem de Deus. As Escrituras são claras que a dignidade do homem, pelo status que Deus o deu entre todas as criaturas, ainda consta. Os resquícios dessa glória original ainda podem ser vistos; mas o homem também degradou e perverteu profundamente essa imagem original.

Mas irmãos e irmãs, aqui também é onde precisamos ver Cristo neste mandamento. Porque depois que Deus fez o homem à Sua imagem, e o homem caiu dessa glória, Deus não recorreu ao uso de ídolos como uma “segunda melhor” opção, mas em vez disso nos deu Sua Palavra, e na plenitude dos tempos, nos deu Seu Filho, como o Novo Adão, o Novo Homem e o Homem perfeito, que é mais uma vez a “imagem de Deus.” E ele é a imagem de Deus de uma forma que nem Adão era—Ele é a Palavra de Deus incarnada. Ele é a justiça, a santidade e o amor de Deus, encarnados

Nele, então, nós vemos claramente o caráter de Deus, como Ele realmente é. O capítulo de abertura do Evangelho de João diz assim:

John 1:14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade.”

Deus enviou Seu único Filho, Sua Imagem perfeita, a este mundo—um mundo de trevas e idolatria—para resplandecer a imagem de Deus mais uma vez. 

João diz novamente, versículo 18:

“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.”

Assim, da mesma forma, o apóstolo Paulo diz de Cristo em Colossenses 1:15,

Col. 1:15: “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;”

E novamente Hebr. 1:3: 

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser.”

Como nós não tivemos forças em nós mesmos para seguir fielmente a Sua palavra e resistir a tentação da idolatria, Deus mandou para este mundo o Seu próprio Filho para viver entre nós e nos mostrar o Pai. Não um ídolo, não uma caricatura; mas uma imagem verdadeira e perfeita. Claro, não por causa de nada em sua aparência física – Isaías 53 diz que não havia nada de especial em Sua aparência física – mas em Sua perfeita santidade, graça, verdade, sabedoria, justiça e amor.

Você quer saber como é Deus? Não olhe para ídolos idiotas. Olhe para Cristo.

E a graça de Deus é que nós, que cremos em Cristo, também pertencemos a Ele, e recebemos Seu Espírito, para que também, enquanto Ele opera em nós, nós comecemos a refletir Sua imagem perfeita neste mundo novamente, ao seguirmos a Cristo, e ouvir Sua voz em Sua Palavra.

Portanto, entenda o grande chamado de Deus para nós neste mandamento: ao proibir o que é baixo e degradante – a adoração de ídolos – Deus também está nos chamando para o que é alto e exaltante. Como dissemos no início, Ele nos libertou para que pudéssemos viver livres e desfrutar da alegria desta liberdade. O que isso significa para nós? Significa conhecê-lo verdadeiramente, em sua Palavra, e especialmente na Palavra que se fez carne; significa amar Aquele que nos amou primeiro em Cristo; e significa viver com Ele porque Ele nos reconciliou com Ele em Cristo; e assim ser transformado cada vez mais em Sua imagem para que o mundo visse em nós o que nós vimos em Cristo: a sabedoria e glória de Deus, cheios de graça e verdade.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.