Dia do Senhor 11

Leitura: Mateus 1.18-24, 16.13-23
Texto: Dia do Senhor 11

Congregação do nosso Senhor Jesus Cristo,

O catecismo de Heidelberg gasta 3 semanas falando sobre os nomes e títulos de Jesus. Talvez isso pareça excessivo para nós. Três semanas? Todo ano? Tem tantas doutrinas para tratar, e somente 52 semanas no ano, e o catecismo recomenda que passamos três semanas tratando só os nomes e títulos de Jesus.

 Mas a razão por isso é que os nomes e títulos nos informam sobre quem é Jesus e pra o quê ele veio. E consequentemente, tem muita importância para nossa fé. Nós nos chamamos “cristãos,” e já no nome “Cristão” tem um dos títulos de Jesus, que é “Cristo.” Então estes nomes e títulos expressam as convicções básicas da nossa fé. Muitos cristãos tem morrido pelo nome de Jesus, e pra eles, como pra nós, é muito mais do que apenas um nome. O nome de Jesus defina a identidade da nossa igreja.

E aprender sobre o significado dos nomes e títulos de Jesus tem muita importância. Por exemplo, aqui o brasil é um país “cristão” (em nome). Quase todo mundo se chama cristão. Nós vemos o nome de Jesus nas ruas, atrás dos carros, e nas portas das casas. 

Mas quando vemos mais perto, descobrimos uma incoerência muito grande. Brasil tem uma das taxas de homicídio mais alto do mundo. É um país cheio de drogas, prostituição, corrupção, alcoolismo, desonestidade. Os pais abandonam seus filhos. Tem uma taxa muito alta de divórcio. 

Então, podemos concluir que já que Brasil é um país onde quase todo mundo se chama cristão, e já que Brasil tem estas coisas, então são estas coisas que representam o cristianismo? Claro que não. 

Mas então, de onde vem esta incoerência?

Pra repsponder esta pergunta, temos que perguntar as pessoas que proclamam o nome de Jesus: o que significa o nome de Jesus para eles? O que este nome representa para eles?

De fato, quando o catecismo foi escrito na Alemanha no século XVI, tinha o mesmo problema. Toda a Europa era “cristão” em nome. Mas imoralidade, crime, prostituição, alcoolismo, corrupção, e violência eram a norma. Obviamente, nem todos que confessam o nome de Jesus estão confessando a mesma coisa. 

Então o que nós queremos examinar hoje de manhã é o significado destes nomes na Bíblia, que é a Palavra de Deus e a autoridade final. Quando Deus deu este nome de Jesus para o salvador, o que que Deus quis comunicar com este nome? Esta é a questão.

Devemos notar que nomes são muito significantes na Bíblia, especialmente quando Deus dá o nome para alguém. Por exemplo, Deus mudou o nome de Abram foi mudado para Abraão, o que significa “Pai de Muitas Nações.” O nome já era um tipo de sermão. Deus proclamou, através do nome, que Abraão, por sua fé nas promessas de Deus, um dia seria o pai espiritual de muitas nações. 

Em Mateus 16, Cristo mudou o nome de Simão para Pedro. Desta forma Ele proclamou que Pedro seria o “fundador,” como se fosse, da igreja cristã quando ele recebeu o Espírito Santo no dia de Pentecostes e pregou o sermão inaugural.

Podemos citar muitos outros exemplos. Sarai (a esposa de Abraão) teve o nome mudado para Sara. Jacó teve o nome mudado para Israel. Jedidiah teve o nome mudado para Salomão. O ponto é que estes nomes ensinam. Eles declaram o como Deus vai usar aquela pessoa, e o que aquela pessoa vai ser na história da redenção.

O nome de “Jesus” (em português) vem do grego Iesou, que e uma forma grega do nome hebraico de Josué. No hebraico, Jesus e Josué são o mesmo nome. O nome Josué significa “Javé salva.”

E podemos notar que este nome foi dado para Jesus intencionalmente. O anjo Gabriel disse para José, Matt. 1:21: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo.”

Agora, a questão é, salvará…de quê? Esta é a questão crítica. Muitos confessarão que Jesus é um salvador e que ele nos salva, mas a questão é, salva de quê? E resposta é dado logo nas palavras do anjo: “ele salvará o seu povo dos seus pecados.”

De fato, muitos judeus naquela época estavam esperando por um salvador. Só que eles não estavam esperando este tipo de salvação. Na concepção deles, o que o povo de Deus mais precisava era salvação do império romano. Até Pedro tinha esta concepção errado do salvador. Quando Jesus, em Mateus 16, começou a explicar que Ele iria para Jerusalém e lá iria sofrer muitas coisas pelos anciãos, sacerdotes, e escribas, e ser morto e depois ressuscitar, Pedro ficou horrorizado e disse “não, de forma nenhuma!” E Jesus tinha que repreendê-lo severamente, porque ele não entendeu o que Jesus veio para fazer. Não era a salvação que ele esperava.

E podemos entender o erro de Pedro, porque de fato todos os Judeus esperavam que o Messias iria reinar, de acordo com as profecias do Antigo Testamento. E até de acordo com as palavras do anjo Gabriel para Maria: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.” 

A expectativa era que o Messias iria reinarno trono de Davi; que seria um tipo de restauração do antigo reino que nós vemos nos livros dos Reis. 

Mas os Judeus deveriam ter entendido melhor. Eles deveriam ter entendido que aquele Reino caiu, sob o justo julgamento de Deus, por causa do seu pecado. Foi o pecado e a idolatria de Israel que levou aquele reino a cair. E sim, as profecias falam sobre um novo reino que vem com o Messias, mas a substância deste reino é a obediência a Deus, não somente em Jerusalem, mas em toda a terra. Então Jesus veio, em primeiro lugar, para salvar Israel do seu pecado—a salvação que eles mais urgentemente precisavam.

É por isso também que muitas vezes, quando as pessoas reconheceram Jesus como o Filho de Deus e o prometido Messias, que Jesus mandou eles se calarem. Talvez a gente lê isso e pensa, por que Jesus os manda a se calar, em vez do proclamar o evangelho para todo mundo? Mas a razão é que naquele tempo, os judeus não entendiam a missão do salvador. Eles primeiramente tinham que reconhecer a sua necessidade por uma salvação dos seus pecados. Por isso, em todo lugar que Cristo foi durante os anos do seu ministério, Ele foi pregando o Reino de Deus e o perdão dos pecados. 

Então, os judeus daquela geração tinha um conceito errado do que Jesus era como salvador. O nome de Jesus encaixa na sua teologia—“Javé Salva”—mas o seu entendimento deste nome era muito diferente.

Então, a questão é, como nós entendemos o nome de Jesus? Que tipo de salvação o Brasil está procurando?

Para muitos, o nome de Jesus significa salvação da sua pobreza. Vou colocar o nome de Jesus na minha casa, no meu carro, para proclamar que é Ele que me salva da minha situação de pobreza e me faz entrar na classe média. 

Para outros, o nome de Jesus significa salvação das suas doenças. Vou afirmar em nome de Jesus que estou curado deste câncer e de alguma outra doença.

Para outros, o nome de Jesus significa proteção de forças malignas. É um amuleto, um nome de poder, para espantar espíritos e demónios malignos.

Muitos confessam o nome de Jesus, mas o que eles entendam com este nome?

E a questão para nós é: que salvação nós estamos procurando em Jesus? Devemos voltar para a palavra de Deus através do anjo: “Ele salvará seu povo dos seus pecados.” Aqui identifica o verdadeiro problema. O verdadeiro problema do qual eu mais urgentemente preciso de salvação não é os opressores romanos; não é minhas dificuldades financeiras; não é meus problemas de saúde; não é nem as forças espirituais malignas, em primeiro lugar. É os meus próprios pecados. Quando Deus deu o nome de Jesus para o Salvador, Ele destacou isso como a coisa de qual nós mais precisamos de salvação. Jesus também, quando veio pregando o evangelho, sempre pregava isso. Embora Ele sim curou os enfermos e expulsou demónios, a mensagem que Ele sempre pregava era a mensagem de perdão dos pecados. É a mesma mensagem que o profeta João Batista pregou também, ao preparar o caminho para Jesus: uma mensagem de arrependimento e perdão dos pecados. 

É verdade que Jesus fez mais de que pregar o evangelho. É verdade que ele curou as pessoas das suas enfermidades, expulsou demônios, e até ressuscitou os mortos. Mas todos estas curas serviam como sinais do evangelho, que nunca deveriam tomar o lugar principal. Até que às vezes Jesus fugiu para os montes para orar sozinho, ou pregou num barco afastado da praia para que o povo, desejando curas, não o impedisse de pregar o evangelho. Os sinais foram afirmações públicas e milagrosas de que Deus estava com Jesus. Mas muitas vezes até naquela geração, os sinais causaram distração. Muitas pessoas procuravam Jesus pelas curas e pelos sinais, e não deram valor a mensagem da principal salvação que Jesus oferecesse. E irmãos, não adianta ser curado de suas enfermidades, ser tirados de sua pobreza, até ser livrados de tormentos espirituais, se não, em primeiro lugar, ser perdoado dos seus pecados e reconciliado a Deus. Não adianta viver uma vida livre de sofrimentos aqui na terra—uma vida que passa rapidamente—e depois se apresentar diante de Deus sem ter dado o mínimo valor a condição de sua alma diante de Deus.

Jesus veio para a terra, nasceu como bebê, ser humano, em primeiro lugar para carregar nossos pecados para a cruz e ali pagar o preço que nós não tínhamos condições de pagar, para salvar as nossas almas do inferno, e para começar a nos regenerar como novas pessoas. 

Ele veio, então, em primeiro lugar para nos salvar da culpa dos nossos pecados. Foi para isso que ele morreu. Para carregar em si mesmo a culpa por nossos pecados, e satisfazer a justiça de Deus na cruz. Ele veio para a terra para sofrer a terrível punição que tinha nossos nomes escritos nela. 

E se Jesus não tivesse vindo para te salvar disso, realmente não importa do que mais Ele te salvou. Sem isso, nada mais importa. Te salvar de sofrimentos terrenos nesta vida, só para te condenar para o inferno depois da morte, não te daria nada no final das contas.

Então, quero perguntar a você, irmão: como é seu relacionamento com Deus, seu Criador? Você reconhece com temor Sua santidade? Você reconhece, como o profeta Isaías quando viu a glória e santidade de Deus, “Ai de mim, porque sou um homem de lábios impuros, e habito entre um povo com lábios impuros”? Você confessa seus pecados a Ele? Você busca esta salvação dele, como a sua necessidade mais urgente?

Se você não está se aproximando de Deus; se você não tem nenhum relacionamento significativo com Ele, então você precisa despertar sua consciência reprimida e cauterizada e começar a pensar no fato de que o único Deus vivo que é justo e santo fez você para Si mesmo, e a distância entre o estilo de vida que você vive até este ponto e a santidade que Deus exige de você é imensurável. Jesus veio para morrer pelos pecadores, porque eles têm uma dívida a pagar, e somente aqueles que se despertam e reconhecem quão grave é seu pecado, e quão perfeita é a santidade de Deus, de tal forma que eles correm para a única esperança de salvação, que é o salvador que Deus enviou – somente eles serão cobertos pelo sangue de Jesus.

Agora, se você reconhece corretamente que a salvação dos seus pecados é a salvação que você mais urgentemente precisa, mais de que qualquer coisa, então a pergunta é: de onde você busca essa salvação?

A igreja católica romana—pelo menos na doutrina oficial, embora não tanto na prática popular da religião—corretamente reconhece que esta é a salvação que nós mais precisamos. Claro que no nível popular, muitos praticantes da religião dão mais atenção às coisas terrenos, buscando dos santos diversas bênçãos e curas. Por isso que existe um panteão tão grande de santos padroeiros, todos especializados em alguma coisa. Bem como no paganismo antigo de Roma, tinha muitos deuses especializados em alguma área da vida—o deus dos rios, o deus dos oceanos, o deus dos soldados, o deus dos arqueiros, etc.—no catolicismo popular, existe muitos santos que carregam a mesma função. Por exemplo, Santo Antônio de Pádua que é o santo padroeiro das pessoas que perderam algo e não conseguem encontrá-lo, ou São José, o santo padroeiro das pessoas que estão vendendo sua casa, ou São Beno, o santo padroeiro dos Pescadores. Na prática popular, a realidade é que muitas pessoas continuam totalmente ignorantes da sua necessidade por um salvador para os salvarem dos seus pecados.

Mas pior ainda, na doutrina official, onde pelo menos a igreja oficialmente reconhece que esta é a salvação que mais precisamos—eles afirmam que os santos podem contribuir ao nosso mérito, e assim a nossa salvação. Isto deve ser absolutamente chocante para o cristão. A ideia é que podemos orar para os santos, sendo cristãos que viveram muito próximos a Deus e por isso sobraram de mérito, e o mérito deles pode suplementar o nosso, para assim sermos aceitos diante de Deus. Eles afirmam que a virgem Maria e os outros santos tem um ofício salvador ao usar os seus méritos para contribuir a nossa salvação. Irmãos, esta é uma perversão terrível do evangelho.

Se tivesse uma outra forma de nós sermos aceitos por Deus e perdoados dos nossos pecados, então certamente Deus não teria enviado seu único Filho para morrer aquela morte dolorosa e vergonha na Cruz. Cristo foi lá porque não teve outra opção; era a única maneira de nos salvar. É por isso que o catecismo diz que aqueles que buscam sua salvação nos santos ou em qualquer outro lugar, de fato negam o único sacrifício de Cristo por nós. 

O apóstolo Paulo deixou muito claro: “pelas obras da lei, ninguém jamais será justificado aos olhos de Deus”. Todos nós somos pecadores. O Senhor Jesus disse em Mateus 7 que todos nós – até mesmo Seus discípulos – somos “maus”. Ninguém tem mérito “extra”; somos todos devedores, quando julgados pela lei perfeita de Deus.

Como Pedro também diz, “não se encontra salvação em nenhum outro senão Cristo, pois não há outro nome debaixo do céu dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos.” Ponto final. Ou Jesus veio como o único Salvador justo, enviado por Deus, para libertar homens e mulheres indignos destinados ao julgamento – que é claramente a convicção dos apóstolos aqui e o ensino consistente de todo o Novo Testamento – ou Ele não é salvador de forma alguma. Se houvesse alguma outra maneira pela qual pudéssemos ser salvos, ou algum outro mérito que pudesse contribuir para nossa salvação, Deus não teria enviado Seu único Filho amado para morrer na cruz.

Em outras palavras, se Jesus é o tipo de Salvador que a Palavra de Deus nos diz que Ele é, então não devemos procurar por essa salvação em nenhum outro lugar.

Então irmãos, quando confessamos o nome de Jesus, devemos entender biblicamente o que significa este nome: que Ele é o salvador que veio para nos salvar dos nossos pecados, e que não existe outra forma se ser aceitos por Deus, que é a nossa necessidade mais urgente.

Talvez entre nossas igrejas, a gente não enfrenta este problema tão frequentemente. Nós não temos estátuas dos santos em nossas igrejas ou em nossas casas. É um pecado sério, mas talvez até nos orgulhamos por causa do nosso entendimento sobre isso.

Mas em vez de nos orgulhamos, devemos perguntar nós mesmos: Como é que eu tenho paz com Deus. Será que eu sinto o favor de Deus sobre mim porque eu me considero uma pessoa boa, porque eu vivo uma vida que eu considero relativamente moral? (Pelo menos, se não investigo demais os motivos do meu coração.) Se for, o catecismo nos adverte: aquele que confia em se mesmo por sua salvação, também está negando o único sacrifício de Cristo. “Pois das duas coisas, só uma é verdadeira: ou Jesus é um Salvador incompleto, ou aqueles que pela verdadeira fé aceitam esse Salvador têm que achar nEle tudo que é necessário para a sua salvação.” Ou eu procuro minha paz com Deus em minhas próprias obras, ou eu confio em Cristo totalmente. 

Então, irmãos, realmente importa o que queremos dizer com o nome Jesus. Esta é a nossa primeira confissão como cristãos. 

Esta confissão transforma nos visão de nós mesmos. Uma das principais marcas de um verdadeiro cristão é uma humildade profunda—o reconhecimento de que não sou nada por mim mesmo.

O Apóstolo Paulo se autodenomina o “principal dos pecadores.” Reconhecer-se como um pecador grave, necessitado diariamente da graça de Deus, é a primeira marca de um cristão. Um cristão “orgulhoso” é uma contradição em termos, e orgulho, rivalidade e falta de vontade de viver humildemente com outros cristãos são um dos primeiros indicadores de uma fé falsa e hipócrita. Se você chama Jesus de seu Senhor, então você segue um Salvador, não um Advogado para sua própria justiça.

E esta confissão transforma nossa atitude para outros pecadores. O Cristão que entende a graça de Deus, e percebe o quão perto ele estava de ser perdido, e quão totalmente ele depende na misericórdia de Deus, vai naturalmente mostrar esta mesma misericórdia e paciência aos outros. Eu também não mereci a graça de Deus, então vou tratar meu próximo da forma que Deus me tratou.

Então, novamente, importa o que queremos dizer com o nome Jesus. Confesse esse nome com todo seu significado bíblico. Nós, a raça humana, temos uma necessidade muito grave por um salvador que pode nos resgatar da nossa posição depois do juízo de Deus. É este salvador que Deus mandou em Cristo. Então, deixe Deus transforma minha visão da minha condição, e produz em mim um coração grato, confiando em Cristo; um coração humilde, confessando meus pecados; e um coração misericordioso, desejando esta mesma salvação para meu próximo.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.