Tiago 2.1-13

Leitura: Tiago 2.1-13
Texto: Tiago 2.1-13

Amados irmãos, 

Todos nós temos uma tendência de julgar as pessoas pela aparência. Às vezes julgamos por causa do medo…

Por exemplo, sobre a questão do medo. Se você estiver com o seu carro parado no sinal (semáforo), e vier um rapaz em sua direção, sem camisa, cordão grande no pescoço, com o cabelo platinado, então sua tendência será subir o vidro do carro e deixar a primeira marcha engatada para acelerar quando for necessário. 

Você já se acostumou a ver uma figura assim praticando assaltos. Então, não quer correr o risco. Mas, a verdade é que esta não é bem uma conta do tipo 2 + 2 são 4. Mas, quem quer pagar para ver? 

Outras vezes por uma leitura errada mesmo….

Geralmente damos crédito a uma pessoa de boa aparência e bem vestida que bate em sua porta, mas geralmente tratamos com indiferença o de aparência ruim. 

Entretanto, há muitos espertalhões por aí que sabem manipular as pessoas. Elas começam se vestindo bem e sua fala é agradável. 

Porém, muitos desse tipo são exatamente os políticos de Brasília, bem vestidos e roubando com classe e educação. 

Este conceito que parece fazer parte de nós por natureza, é facilmente carregado para dentro da igreja. 

Então, como vamos reagir na hipótese de um rico que estaciona sua Land Rover na calçada e sobe por estas rampas; e, na hipótese de um mendigo entrar por estas portas com roupas sujas e sem sandálias nos pés.

O que vai dirigir o nosso julgamento? Nossas ideias carnais de honra e glória, ou a lei de Cristo? 

Esta é a situação que encontramos aqui em Tiago. 

Primeiramente observe que no capítulo 1:9–11 e 22–27, Tiago fez um contraste social entre pobres e ricos, com ilustração prática. 

Agora, a mesma ideia é retratada pelo encontro dramático com os dois tipos sociais quando eles entram na Sinagoga.

Dos versículos 1-4 Tiago está falando da parcialidade com que os crentes judeus avaliavam as pessoas.

Versículo 1 nós temos um fato. Versículo 2 e 3 nós temos um exemplo hipotético. Versículo 4 nós temos uma conclusão.

O fato: v.1 –Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.

Eles tinham a sua fé em Jesus Cristo em acepção de pessoas. E Tiago está os exortando por isso.

Mas o que é esta fé em Jesus Cristo em acepção de pessoas? Tiago está dizendo que os crentes – a quem ele considera pastoralmente (“Meus irmãos”) – não poderiam ter uma confissão de fé correta sobre o Senhor Jesus Cristo, enquanto estivessem olhando meramente para a aparência das pessoas.

A palavra traduzida por “acepção de pessoas” é uma palavra só no grego. Ela combina duas outras palavras. A primeira é “face” (rosto) e a segunda é “receber”.  Então, a ideia é de receber alguém pela face, ou “receber pela aparência”. 

Isto é muito contrário ao evangelho de Cristo! O Senhor Jesus Cristo, citado – “o Senhor da Glória”  – foi o Rico que não fez acepção de pessoas. 

O Senhor Jesus não teve favoritismo em sua obra aqui na terra. 

Veja a Parábola da Grande Ceia (Lucas 14.15-24) como ele chamou as pessoas providas e desprovidas de posses e outras condições. 

Mas, infelizmente, o coração dos irmãos estava apegado a este favoritismo.

Então, Tiago exemplifica a questão do coração que precisava ser tratada, colocando a questão em imagem. 

V.2 – Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, V.3 e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés…

A sinagoga aqui é o local de reunião desta igreja. Não que necessariamente fosse uma sinagoga com toda a liturgia da velha dispensação. Mas, a maneira como um judeu entendia o que era um local de reunião para ouvir a Palavra. Em outro lugar, Tiago 5.14, fala-se sobre “igreja”. A ideia é a mesma. 

A situação hipotética parece colocar o rico e o pobre como visitantes eventuais da igreja deles. 

Perceba como é este rico e como é o pobre.

O rico, no contexto romano da época, era uma pessoa que se destacava com anéis de ouro nos dedos e roupas luxuosas, como temos aqui. Eles eram uma minoria dentro do império romano. Eles eram os honoráveis. Geralmente era o pessoal da política ou grandes proprietários de terras (aristocratas). 

Os pobres eram pessoas que estavam abaixo dos pequenos proprietários de terras, artesãos, donos de lojas e de soldados romanos veteranos. 

Eles não tinham nenhuma propriedade e geralmente faziam bicos em nos portos, na construção e na agricultura. 

Os pobres na cidade de Roma muitas vezes dependiam do pão que o Estado dava, caso contrário roubavam ou pediam esmolas. Nesta classe também estavam os escravos (que eram tratados como máquinas ou mercadorias) e estrangeiros. 

Uma vez que esses judeus são os da Dispersos (i.e, são estrangeiros), podemos ter a certeza de que eles são pobres também.  

E de fato, quando lemos o evangelho se expandiu em Atos, percebemos que maioria das pessoas na igreja dos primeiros séculos eram pobres. 

Mas, apesar disso, e da exploração que sofriam dos ricos, eles diziam: “Ei você rico sente-se aqui conosco na mesma posição e honra, mas o pobre fique aí ou sente-se abaixo de nossos pés (expressando assim desonra)”. 

O que acontece dentro desta acepção? Ao invés de honrar a Cristo, SENHOR DA GLÓRIA, eles são inclinados a honrar o ouro e os trajes brilhantes do rico. Eles são movidos pela cobiça e não pelo Espírito de Cristo.

Meus irmãos, é exatamente isso que acontece em muitas igrejas aí em fora. Quando os pastores veem alguém que se diz também pastor, bem arrumado, com sapato bem polido, anel no dedo e terno fino, e o chamam para se sentar no altar. 

Ou quando numa igreja que tem pessoas ricas, o conselho se recusa a aplicar a disciplina sobre um membro que dizima bem, apenas baseado no favoritismo e nas consequências. Enquanto isso, para o irmão mais humilde, todo o rigor da disciplina bíblica. 

Mas, meus irmãos, isto é um critério mundano. 

O autor e consumador da nossa fé nos mostra uma disposição totalmente diferente.

O Senhor da Glória não buscou dar honras a si mesmo. Pelo contrário, sendo rico se fez pobre. 

Veja: 2 Coríntio 8.9 (ouça): “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”.

Também em Filipenses 2, Paulo fala que Cristo preferiu se esvaziar, assumindo a natureza humana, se humilhando até a morte e morte de cruz.

Portanto, a conclusão de Tiago vem em pergunta retórica no V.4 – não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos?

Tiago faz uma pergunta que já tem resposta pronta. Isto é, a resposta é um sim. 

Sim, eles criaram uma divisão no corpo de Cristo com tal atitude. Uma divisão que Paulo bateu em 1 Coríntios. Na Santa Ceia o rico não esperava pelo pobre. Aquilo não era Santa Ceia, Paulo disse (1Co 11.20). Aquilo não era a unidade do corpo de Cristo.

Sim, eles se sentaram na cadeira de Deus, sendo juízes. Enquanto a Palavra fala sobre os pobres se aproximando, esses juízes afastam o pobre (Dt 7.7 Israel mesmo era um desafeiçoado, mas foi salvo.). Enquanto o Palavra fala sobre o afastamento e condenação dos ricos que são arrogantes (ver capítulo 5), eles estavam os aproximando. 

Sim, os pensamentos deles não eram uma coisa pequena, mas um grande pecado: “Tomados de perversos pensamentos”. Eles estavam indo contra os planos do Senhor da Glória.

Tiago demonstra tudo isso dos versículos 5-7 (ler). 

Agora, Tiago revela como este tipo de atitude é falsa em relação a confissão sobre os mandamentos de Deus. Veja a partir do v.8.

Tiago chama a lei em Levítico 19.18 que dizia: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” de lei régia.

Ou seja, a lei real, lei do reino. Conforme a qual todo cidadão do reino celeste deve viver. 

Todo cidadão do reino ama o seu próximo, e faz isso concretamente. Basta lembrar que Tiago já considerou que a religião pura é cheia de amor para com o próximo (Tiago 1.26-27).

Quando eles estão expressando favoritismo, então são condenados pela lei do amor que eles confessam. Veja: v.9: se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores.

Agora, Tiago vai no calo deles, pois os judeus da época de Tiago faziam distinção entre as leis mais importantes e as menos significativas. 

Por exemplo, eles consideravam a lei sobre a observância do sábado mais importante, enquanto que o terceiro mandamento não consideravam muito importante. Veja Tiago 5.12. É a mesma coisa que Jesus tratou em Mateus 5:33–37. 

Mas Tiago vai mostrar para eles a unidade dos mandamentos. Se eles se orgulhavam de não adulterar,  mas faziam acepção de pessoas, então eles quebravam também os outros mandamentos, pois todos estão na tábua do amor ao próximo.

Em verdade Tiago coloca o pecado deles de distinção na categoria de matar o próximo. Ler v.11.

Tiago exorta finalmente para que eles sejam coerentes, evitando a hipocrisia dos antigos fariseus. 

V.12 Falai (imperativo) de tal maneira e de tal maneira procedei(imperativo) como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.

Perceba o contraste com o versículo 4. Eles devem deixar de ser juízes para humildemente se submeterem ao julgamento do evangelho. O evangelho é a lei da liberdade. Nele fomos libertos. 

Fomos alvos do evangelho de Cristo, salvos pela sua graça, mediante o seu sangue. Fomos libertos para uma mente e coração diferentes!

Houve misericórdia sobre nós miseráveis pecadores. Éramos mendigos espirituais necessitados de pão. Fomos aproximados. Cristo nos fez ricos. Portanto, deve haver misericórdia também em nós. 

Esta é a religião pura e sem mácula. Todo mero formalismo sem misericórdia cai naquilo que Deus já falou pelos profetas no passado: misericórdia quero e não sacrifícios (Os 6.6).

Uma religião sem misericórdia é vã. E quem não exerce misericórdia não poderá contar com a misericórdia. 

Jesus ensinou em Mateus 5.7: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.

Jesus ensinou na parábola do credor incompassivo (Mateus 18), que quem não exerce misericórdia para com seus conservos, não pode esperar a misericórdia do Senhor. 

No final Tiago explica: V.13 Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo

No dia do juízo quem exerce misericórdia, alcançará misericórdia.

Portanto irmãos, 

Tratemos a todos igualmente no corpo de Cristo seja rico ou pobre, seja mais amigo nosso na igreja ou menos amigo. Seja aqueles cujas expectativas na vida se alinham mais com as nossas, seja não. 

O corpo de Cristo é variado. Mas todos somos frutos do trabalho do Senhor da glória. Sejamos unidos como unidos e coesos são os mandamentos de Deus.

Que possamos ser cada vez mais conforme a imagem de Cristo. Assim seremos um corpo cada vez mais parecido com a Cabeça. 

Que Deus nos ajude a manifestarmos amor e misericórdia uns com os outros. Amém!

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Marcel Tavares

É pastor na Igreja Reformada em Cabo Frio. Licenciado em matemática e foi professor por muitos anos. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.