Tiago 1.19-27

Leitura: Tiago 1.19-27
Texto: Tiago 1.19-27


Na semana passada ouvimos uma pregação no Dia do Senhor 40 que tratou do
sexto mandamento. Ouvimos que a omissão também é pecado. A indiferença para
com o nosso próximo não é algo neutro. Em verdade, quando somos indiferentes e
omissos estamos mantando o nosso próximo, pela nossa negligência.
Todo esse assunto de responsabilidades para com o nosso próximo está
também aqui no texto de Tiago.
Esta responsabilidade deriva do fato de que fomos gerados pela palavra da
verdade (v.18). Somos primícias da criação de Deus em Cristo. Recebemos tudo o
que precisamos para nós mesmos e para o serviço a Deus.
Tiago nesta seção está alertando os seus ouvintes sobre o perigo de apenas
balançar a cabeça positivamente para o evangelho, mas por outro se conservar num
estado de passividade na prática. Ou seja, Tiago combate uma religião sem prática,
irresponsável. A omissão das responsabilidades.
Irmãos, é sobre isto que também seremos alertados hoje. A mensagem do
evangelho não é um fim em si mesmo, mas deve nos levar a prática.
Vamos ao nosso texto.
Em primeiro lugar, temos o link com a passagem anterior: v.19: “Sabeis estas
coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para
falar, tardio para se irar”.
Esta prontidão para ouvir pode ser entendido em relação ao ouvir do Palavra da
verdade (v.18). Esta é a palavra que nos gerou e é a norma para as nossas vidas. Ela
deve dirigir toda a nossa vida em doutrina e prática.
Neste sentido devemos ouvi-la mais e agir menos. Ouvir mais o que a Palavra
de Deus tem a nos dizer do que tomar várias decisões primeiro para depois descobrir
o que a Palavra de Deus tem a dizer sobre as esferas da sua vida e sua atuação. Por
exemplo, alguém comprou um carro para só depois ler sobre a mordomia cristã; Eis
um exemplo de como a Palavra não está realmente dirigindo a nossa vida.
Ouvir mais e falar menos. Isto também pode ser entendido em termos de
quando recebemos o ensino. Algumas pessoas não se contém em emitir logo a sua
própria opnião equivocada tão logo recebem o ensino das Escrituras.

Para dar apenas um exemplo, digamos que as irmãs recebem o ensino sobre a
submissão e maternidade, e então logo estão prontas para emitir a sua própria opinião
sobre ao assunto: “Eu acho que não é assim”! “Para mim isto não funciona!” “Eu
tento conciliar deste jeito!”. “Na minha experiência eu faço desse jeito”.
Isto pode acontecer facilmente enquanto as irmãs estão lendo juntas algum
livro. Imagine que as irmãs, ao invés de incorporarem aquele ensino, tão logo
receberam a base bíblica, começassem a dar seus próprios exemplos e práticas, como
se eles tivessem peso igual ou até superior ao ensino.
E tão logo estão debatendo o assunto chega ao ponto do ensino ser criticado,
gerando desconfiança e até raiva. E também as próprias irmãs começam a se irar um
com as outras.
Isto seria um exemplo de falar mais do que ouvir. Este exemplo pode valer
igualmente para os homens. Pode valer para qualquer assunto.
Esta é uma maneira de entendermos o “pronto para ouvir, tardio para falar,
tardio para se irar”.
A outra é no nível das relações pessoais. E igualmente válida. O povo de Deus,
gerado em Cristo pela palavra da verdade, deveria ser mais ouvidos e menos boca.
A própria anatomia humana nos mostra dois ouvidos e uma boca. Existe um
ditado que diz: “falar é prata, mas o ouvir é ouro”.
Por que muitas vezes estamos envolvidos em conflitos com nossos irmãos?
Justamente por causa da pouca capacidade em ouvir e uma precipitação no
falar. Por que isto acontece? Porque somos orgulhosos! E dentro deste orgulho somos
prontos para falar, prontos para se irar e tardios para ouvir. Isto não é algo novo, os
irmãos da Dispersão estavam enfrentando isso também.
Quantos textos não nos informam sobre o mal da nossa língua? Aqui mesmo
em Tiago, capítulo 3, nos mostra como este pequeno órgão é difícil de ser controlado.
Ele é capaz de dirigir todo o corpo. Ele é como uma vagulha que encenderia uma
floresta inteira.
Desde os mestres (pastores, professores) até os irmãos mais simples precisam
domar este pequeno órgão.
Veja como a sabedoria em provérbios nos revela este assunto.

“No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”
(Pv 10.19).
“Até o estulto, quando se cala, é tido por sábio, e o que cerra os lábios, por
sábio” (Pv 17.28).
O muito falar (a quantidade) e como falar (a maneira) são meios que nos
colocam em dificuldades, revelam e/ou causam ira.
Podemos matar nosso próximo assim. Jesus não falou que quem chamar o seu
irmão de tolo não estaria sujeito ao inferno de fogo? (Mt 5.22). Ele coloca isso no
contexto da ira pecaminosa.
Agora, veja no versículo 20 que Tiago fala que “a ira do homem não produz a
justiça de Deus”. Em outras palavras, ele quer dizer que esta ira pode estar revelando
que não tivemos a obra de Cristo sobre nós, que não fomos regenerados (olhe
novamente para o v.18). A árvore boa produz bons frutos, e a árvore má produz maus
frutos. Uma fonte boa não pode jorrar água ruim, e nem a fonte ruim jorrar água boa.
E qual é a conclusão ou o que deve ser feito em relação a este problema?
Versículo 21 “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de
maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa
para salvar a vossa alma”.
Aqui temos várias imagens. Primeiro. “Despojar”. É como tirar uma roupa
suja aqui. Paulo usa isso em Efésios 4 ou Colossenses 3.
Em Colossenses 3.8, particularmente, temos um assunto em comum: “Agora,
porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade,
maledicência, linguagem obscena do vosso falar”.
O contexto é que agora que estamos em Cristo, devemos colocar para fora de
nossas vidas, com a graça de Cristo, os resquícios da velha natureza. Devemos, com o
auxílio do Espírito Santo, mortificar a velha natureza com seus ímpetos (impureza e
maldades acumuladas).
Depois temos ou imagem da palavra implantada. É uma imagem de agricultura
mesmo. Acolher com mansidão tem a ver com receber esta palavra sem ira ou outro
sentimento pecaminoso.
Já que o contexto é conflituoso (pessoas em conflito pelo uso da língua), o
apóstolo está dizendo: receba a palavra sem ira ou contenda.

Essa palavra está plantada na alma. Nos transformou em novas árvores. Dela
deve frutificar bons frutos, mansidão, sabedoria no falar.
Hebreus 4.12 falando sobre a palavra diz assim: “Porque a palavra de Deus é
viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao
ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração.”
Por isso diz que ela é poderosa para salvar a nossa alma (final v.21).

Agora, Tiago avança. Devemos ouvir prontamente a Palavra. Devemos acolhê-
la em nossas almas.

Mas, Tiago sobe o nível criticando uma religião meramente de ouvintes de
sermões.
versículo 22. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos”.
Irmãos, vocês lembram o que o versículo 16 falou?: Não vos enganeis, meus
amados irmãos. Naquela ocasião Tiago disse que é um erro atribuir culpa a Deus
pelas nossas tribulações.
Agora, não podemos estar mais equivocados em nossa fé do que sermos meros
ouvintes de sermão. Não há um equívoco maior do que ser um mero frequentador de
cultos aos domingos, mas sem a vivência do evangelho no dia a dia.

Irmãos, este foi exatamente o problema de Israel. Em vida de várias
desobediências, uma delas era gostar de ouvir sobre as coisas de Deus, mas não
praticá-las.
Veja Ez 33.30-33.
Então, qual é o ponto? Numa igreja, talvez seja aqui mesmo, quem sabe?,
muitas vezes o pregador é apenas um bom tocador. E a pregação soa apenas como
uma boa música.
No domingo o sentimento é de que é bom sentar e ouvir, ah como é bom!, e
também cantar louvores, mas um erro muito grave é sair, começar a semana e
começar a fazer as coisas exatamente como qualquer pessoa sem Cristo.

Muitas pessoas ouvem um sermão em um determinado domingo e na terça-
feira já nem lembra mais o que foi ouvido.

Irmãos, se ouvíssemos um sermão todos os dias da semana, por um anjo do céu
como o pregador, mas nós não praticássemos aquelas palavras, isto não seria de
nenhum proveito para nossas vidas.
Tal acúmulo desta desobediência explica porque depois de 20 num banco de
igreja joãozinho e mariazinha não parecem ter crescido nada! Eles ouvem, gostam,
mas não colocam em prática.
Irmãos, o meu trabalho como pregador é apenas o começo de um trabalho. O
teu trabalho como ouvinte é apenas o ponta pé inicial. Se você não meditar nas
palavras de Deus e não praticá-las, então você será sem frutos.
Não basta nunca dizermos: Que sermão! Pois, aquele sermão não praticado
será levado em conta no dia do juízo. Será para a sua própria condenação no fim.
V.16 “Não vos enganeis, meus amados irmãos”. Este auto-engano será finalmente
considerado o pior engano.
Tiago compara a vida de quem ouve, mas não pratica (versículos 23-25).
Os espelhos da época não eram feitos de vidro, mas de metal polido. Eles
costumavam ficar deitados sobre a mesa de forma horizontal. Então, você precisa se
inclinar um pouco para ver a sua face.
A imagem que se tinha era apenas algo embaçado.
Paulo fez menção deste embaçamento em pelo menos dois momentos:
1 Coríntios 13:12 (capítulo sobre o amor): “Porque, agora, vemos como em
espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então,
conhecerei como também sou conhecido”.
2 Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como
por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.
Então, perceba, você não tinha uma imagem perfeita. Você olhava e logo se
esquecia da sua aparência, e tinha que olhar novamente e sempre.
Assim é quem está diante da palavra pregada domingo após domingo e não as
pratica. Logo se esquece da sua aparência. Sendo assim, logo se esquece da lei de

Deus (os dez mandamentos). Logo se esquece da sua natureza pecaminosa e da
necessidade de Cristo. Logo se esquece de que a vida cristã é mais do que o mero
conhecimento de doutrina, mas é prática!
Esse que pratica irá bem: versículo 25: “Mas aquele que considera,
atentamente (a ideia no grego aqui é de alguém se abaixando para ver [cf. 1
Pedro 1.12: “coisas essas que anjos anelam perscrutar”]), na lei perfeita (Sl 19),
lei da liberdade (o evangelho libertador em Cristo), e nela persevera(desde o
início estamos vendo isso em Tiago), não sendo ouvinte negligente, mas operoso
praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”.
A palavra de Deus promete felicidade para aquele que praticar a Palavra! Para
aquele que busca ter guardas ao redor de sua boca (cf. Sal 141.3). Para aquele que
busca manifestar a sua religão com serviço.
É exatamente o que ele vai falar no final:
26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes,
enganando o próprio coração, a sua religião é vã. 27 A religião pura e sem mácula,
para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações
e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
Religião onde alguém não se importa com o uso da língua é engano e vã.
Religião onde é só ouvir pregações, mas nenhum serviço ao próximo –
indiferente – é vã.
Religião pura é doutrina e prática.
A prática revela realmente que fomos transformados e que somos filhos de
Deus.
Deus se preocupa com os órfãos e viúvas.
Ele é o Pai dos órfãos, defensor das viúvas, é Deus em sua santa morada. [Sl.
68:5.
O SENHOR cuida do estrangeiro e sustenta o órfão e a viúva. [Sl. 146:9]
Ele defende a causa do órfão e da viúva, e ama o estrangeiro. [Deut. 10:18]
Se somos de fato crentes, então teremos a imagem de Deus nestes e outros
serviços.

O teólogo suíço do século XVI, Heinrich Bullinger, escreveu em 1561
que o propósito das boas obras (essas inclusas) é “1) para a glória de Deus, 2) para
adornar nosso chamado (servir nos dá combustível para o viver cristão com alegria),
3) para mostrar gratidão a Deus e 4) para o benefício de nosso próximo.
E você meu caro irmão e minha cara irmã? Como vai a sua religião? Ela tem
sido pura ou vã?
Eis a Palavra de Deus diante de você!
Será para você apenas como uma bela música? Uma boa apresentação? O que
você fará com esta palavra?
Eu desejo sinceramente para você um desejo profundo de ser um servo, não só
da boca para fora, mas de fato.
Desejo para você ser um operoso praticante do evangelho de Cristo.
Vamos orar sobre isso neste momento! Amém!

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Marcel Tavares

É pastor na Igreja Reformada em Cabo Frio. Licenciado em matemática e foi professor por muitos anos. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.