Dia do Senhor 44

Leitura: Mateus 19.16-22
Texto: Dia do Senhor 44

Amada igreja do nosso Senhor Jesus Cristo,

Uma palavra que importamos para o nosso vocabulario português é a palavra upgrade. Essa palavra traduz o desenvolvimento da informática dia após dia. Alguém que está fazendo um upgrade no seu computador é alguém que está comprando os últimos lançamentos.

Mas esta palavra não tem sido usada apenas no mundo da informática. De forma genérica, as pessoas estão dizendo que precisam fazer um upgrade no seu smartphone, no seu carro, na sua casa e até mesmo nos seus relacionamentos. O conceito por trás desta terminologia é que é necessário sempre estar melhorando(aperfeiçoando) as coisas. Esse é um conceito moderno. Todos estão sendo estimulados a buscarem novidades.

As propagandas na TV ou aas revistas estão nos impulsionando a fazermos um upgrade nas nossas vidas o tempo todo. É um bombardeio. As propagandas mostram como é triste e infeliz a vida de alguém sem uma coisa nova. Talvez esta imagem infeliz estará com tons de cinza. Finalmente, quando tal pessoa triste adquire o tal produto novo, então a música fica mais feliz e todo o cenário é de felicidade. É como se o ter aquela novidade irá tornar a vida das pessoas mais felizes, enquanto infeliz é a vida de quem permanece o mesmo.

A verdade é que neste mundo materialista estamos sendo estimulados a nunca estarmos contentes com as coisas que temos. Este estímulo não é somente algo que vem de fora de nós. Isto está dentro de nós. O que está sendo manifestado aí em fora é algo que procede do coração.

Nós chegamos hoje no Décimo Mandamento. Nos domingos passados temos passado ouvindo sermões sobre a Lei de Deus(os Dez Mandamentos). Em todas as vezes vimos que cada mandamento vai dentro do coração. Mas agora no Décimo Mandamento chegamos na grande ênfase ao coração.

Todos os pecados procedem do coração. O Senhor Jesus disse em Mateus 15: pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios (tem a ver com o 6° mandamento), os adultérios, as imoralidades sexuais (tem a ver com o 7° mandamento), os roubos (tem a ver com o 8° mandamento), os falsos testemunhos e as calúnias (tem a ver com o 9° mandamento).

Todos os pecados tem a ver com a nossa falta de contentamento sobre o que somos e o que temos. Por isso, o nosso foco nesta noite é conhecermos e tratarmos do nosso coração.

TEMA: DEUS NOS CHAMA A CUIDARMOS DO NOSSO CORAÇÃO

O nosso catecismo quando chega no décimo mandamento não fala sobre a palavra cobiça como temos na Lei: Não cobiçarás! Isto é muito interessante. Será que durante séculos os doutores da igreja se esqueceram de tratar do décimo mandamento? Não é nada disso! Aqui os nossos pais na fé sabiam muito bem do que o décimo mandamento se tratava.

O décimo mandamento tem a ver com desejo, ter prazer em alguma coisa. Isto é o significado da palavra cobiça na Bíblia.

Mas será então que não devo ter desejo ou prazer em nada? Será que devo cultivar uma vida de acordo com certas filosofias orientais que tentam neutralizar qualquer desejo numa pessoa? Não!Ter desejo não é algo errado em si mesmo. Por exemplo, você pode desejar estudar para se tornar um grande profissional. Você pode desejar comprar um carro. Ou um equipamento que vai melhorar o seu trabalho. Você pode desejar viajar para fora do país. Essas coisas não são erradas em si. Devemos ter desejos para que nossas vidas não sejam vazias e sem sentido.

Mas que tipo de desejo então o mandamento condena? É aquele desejo que domina a vida de alguém. É aquela paixão sem freios por alguém ou alguma coisa. É aquela falta de contentamento que não deixa alguém dormir. Que toma conta da vida da pessoa. Querer ter o que os outros tem. Querer sempre o novo para tentar encontrar satisfação. Talvez este desejo sem freios será o desejo pela saúde, ou por dinheiro (gânancia), ou por poder, ou por posição. Este tipo de sentimento, que fica visível nas atitudes de alguém, é pecado!

E onde este desejo errado começou? Na queda! Quase todas as respostas para a nossa vida podemos encontrar em Gênesis. Esta falta de contentamento foi o que aconteceu no Éden. Eva tinha todas as coisas menos uma: o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Satanás, assim como as propagandas de hoje em dia, estava bombardeando Eva com informações sobre aquele certo fruto. Quando lemos Gênesis 3 parece que a coisa aconteceu muito rápido. Mas eu acredito que Satanás fez muita propaganda sobre aquela árvore. Aquele informação encontrou a simpatia no coração de Eva. Eva se deixou dominar por um mau desejo no coração.

No versículo 6 de Gênesis 3 lemos que Eva ouviu, viu, imaginou como seria agradável no paladar aquela fruta. Ela entendeu que aquele fruto iria dar a ela discernimento (conhecer o que não conhecia, ter poder!). Ela tomou do fruto e comeu e também deu ao seu esposo Adão. Eva cobiçou aquilo no coração e desejou sem freios aquele fruto. Aquele pecado passou por todos os seus sentidos. É assim que acontece com este pecado da cobiça. Ele entra pelos olhos, pelos ouvidos, tocamos, sentimos e finalmente nos achamos com algo que Deus resolveu não dar para nós, mas que resolvemos ir buscar assim mesmo. Cobiça!

Talvez alguns por aí acusem a Deus por ter deixado aquela árvore lá no jardim do Éden. Mas Tiago 1.14 diz: cada um é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então, esse desejo, tendo concebido, dá a luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte. Isto foi exatamente o que aconteceu com Eva e Adão e passou para os seus descendentes.

Vemos este pecado em Acã. Havia uma ordem de Deus de que ninguém poderia pegar nada dos povos conquistados em Canaã. Mas Acã pegou algumas coisas. Em Josué 7.20-21 Acã confessa seu pecado: é verdade que pequei contra o SENHOR, o Deus de Israel. O que fiz foi o seguinte: quando vi entre os despojos uma bela capa feita na Babilônia, dois quilos e quatrocentos gramas de prata e uma barra de ouro de seiscentos gramas, eu cobicei e me apossei deles. Veja como esse pecado foi um pecado contra a ordem clara de Deus. Acã não está satisfeito com o que Deus havia lhe dado. Ele vê algo e quer aquele algo! Vemos também este pecado em Davi. Davi já tinha muitas esposas quando resolveu ter a única esposa de seu próximo. Ele cobiçou a única mulher do seu vizinho (Bate-Seba, esposa de Urias). Mas Davi foi reprovado por Deus. O profeta Natan quando foi denunciar Davi, mostra a miséria deste pecado, e como este pecado cega as pessoas. Natan contou uma história para Davi, uma história de um homem muito rico e de outro muito pobre. Ele disse que o rico possuia ovelhas e bois, mas o pobre não tinha nada. Certo dia o rico foi preparar uma comida para um certo viajante, então não pegou de suas próprias ovelhas, mas da única cordeira que pertencia ao homem pobre.

Natan pergunta para Davi o que tal pessoa merecia que cometeu tal injustiça merecia. Davi responde rapidamente em 2Samuel 12.5: Juro pelo nome do SENHOR que o homem rico merece a morte! Deverá pagar quatro vezes o preço da cordeira! Natan então responde se referindo ao que

Davi havia feito com Urias, tomando a sua esposa: você é esse homem!

Davi não vigiou o seu coração e foi traído por ele. O salmo 51 é um salmo de arrependimento de Davi por causa deste pecado: contra ti SENHOR, contra ti somente pequei! Felizmente a graça de Deus tirou o tampão do coração de Davi!

Poderíamos falar também do Rei Acabe que cobiçou a vinha de Nabote e perdeu o sono e a fome por causa disso. Ele matou um inocente para ter o que cobiçava! Poderíamos falar de Geazi, servo de Eliseu, que desejou o presente rejeitado por Eliseu. O comandante do exército da Síria (Naama) foi curado da lepra por Eliseu e quis dar algumas coisas para Eliseu de presente. Eliseu recusou aqueles presentes. Geazi foi atrás da prata oferecida, pois desejou tudo aquilo que deveria ter sido dado a Eliseu. Geazi acabou ficando com a lepra que tinha sido tirada de Naama. Veja que toda cobiça, que é o desejo de ter algo que não deve lhe pertencer, foi castigada por Deus. Esses exemplos mostram claramente que não podemos subestimar o nosso coração. Tem gente que fala que tem controle sobre a situação. Tal pessoa se diz imune a certos pecados. Mas ao falar desta maneira tal pessoa já mostrou que já está seduzida por algum pecado do coração.

É o que aconteceu com o Jovem Rico na parábola que lemos. Aquele jovem se sentia um cumpridor da Lei. Mas Jesus lhe pede para vender tudo e dar aos pobres. O que o jovem fez? Ele se entristeceu com aquilo e foi embora. Era dele, ele não era obrigado a dar. Mas Jesus quis testar o seu coração. Interessante que ali, como o nosso catecismo, Jesus não cita claramente o décimo mandamento: não cobiçarás. Por que isto acontece? Por que Jesus quer mostrar que o coração do jovem rico não estava para Deus, mas sim para si mesmo. Seu desejo estava para as suas coisas e não para o reino de Deus. Era mais importante o seu próprio reino. Os mandamentos falam ao coração, especialmente o décimo. O coração do jovem rico estava longe de Deus. Jesus havia dito antes em Mateus 6.21: Pois onde estiver o teu tesouro, aí também estará o seu coração.

O desejo sem freios e mau do coração é idolatria. Ele afasta uma pessoa de Deus para que sirva a outros deuses. Uma das grandes tentações de alguém na Bíblia é querer se tornar rico. Jesus mostra como viver para ficar rico, ou seja, sem contentamento pelo que tem, é idolatria. Ele disse que não podemos servir ao mesmo tempo ao deus Mamon e o Deus da Bíblia. São opostos. Ou alguém vai servir a um ou vai servir ao outro. Por isso Jesus disse: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens (Lc 12.15).

A Bíblia está o tempo todo mostrando que jamais podemos subestimar o nosso coração, mas que devemos odiar de todo o coração todos os pecados e amar toda a justiça. O catecismo na resposta 113, que reflete a Palavra de Deus, está mostrando que não apenas devemos odiar os atos pecaminosos, mas que devemos odiar os pensamentos pecaminosos.

Talvez durante as pregações sobre a lei você pensou em outra pessoa que comete tal e tal pecado da lei. Talvez você pensou:_Esta pregação é para aquela pessoa! Temos a tendendencia de olharmos para o outro sempre. Mas agora o décimo mandamento não lhe deixa escapatória: Em seu coração moram todos os tipos de pecados contra a Lei. Você não pode escapar de nenhum deles!

Então, o que Deus, pelo décimo mandamento, quer que façamos? Ele quer que odiemos todos os pecados. Eles começam no coração. Com podemos odiar este pecado? Com a ajuda da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Esses meios graciosos devem treinar nossos corações para renunciarmos a cobiça, a ganância, o ciúme e o descontentamento.

Qual é a duração desta luta? Isto é uma luta para toda a vida. Não ache que já está tudo bem porque você vem a igreja e entrega as tuas contribuições. Deus te chama a lutar contra as tuas imperfeições. Ele manda você lutar com a Palavra de Deus e o Espírito santo contra os desejos do teu coração.

Agora, a pergunta 114 fala que os mais santos nesta vida tem um pequeno início desta obediência.

Será que isto é um desencorajamento para lutarmos contra os pecados do coração? Não! Pelo contrário! Os falsos crentes dizem: ok! Sou imperfeito de qualquer jeito então vou continuar pecando! Os falsos crentes não querem saber de lutas e sofrimentos. Mas os verdadeiros crentes sabem que são imperfeitos. Sabem que tem apenas um princípio de obediência. Mas eles estão com um desejo. Um desejo sem freios por: lutar todos os dias. Lutar para viver em conformidade com a Santa vontade de Deus!

Você está lutando para viver em conformidade com a vontade de Deus? Os verdadeiros crentes não estão satisfeitos com a maneira como é sua obediência. Perceba, os que se afastam de Deus estão insatisfeito com a vida e as coisas que Deus deu para elas. Mas, os que se aproximam de Deus estão insatisfeitos com a sua fraca obediência aos mandamentos de Deus. Eles são mendigos que estendem os braços esperando um pouco de pão. Eles estão levantando as mãos para o céus e rogando mais e mais da graça de Deus. Como um filho que quer agradar o pai, os filhos de Deus estão desejando agradar o seu Pai que está nos céus. É assim a vida de santificação!

Eles estão orando diariamente. Eles estão fugindo do pecado. Eles estão apegados a Palavra de Deus diariamente. Eles estão famintos pela Palavra de Deus.

É justamente para estimular que os crentes vão viver atras destas boas coisas, que Deus nos manda que vamos pregar os Dez Mandamentos! E faremos isto ano após ano, enquanto o Senhor nos permitir!

As razões para pregarmos os mandamentos podem ser encontradas na resposta 115.

– Pregando a Lei você conhecerá a sua própria natureza. Paulo fala que a Lei é como um espelho. Esse espelho revela como está o seu coração. Paulo diz como não conheceria a cobiça se a lei não tivesse dito: não cobiçarás (Romanos 7.7). O senso de pecado deve nos dirigir a Cristo e seu perdão. Esta é uma das funções da Lei: que seu coração será balançado e você vai correr para Jesus.

– Outra função da Lei é que você não vai descansar nunca em sua vida. Você é chamado a se esforçar para ser renovado, pela operação do Espírito Santo, a imagem de Cristo. A imagem de Cristo é o obejetivo nesta vida que só será uma realidade plena na vida que haverá de vir.

A boa notícia que temos quanto aos mandamentos é que Cristo deixou a sua glória, não se apegando as suas riquezas divinas, para por um tempo viver debaixo da Lei. Ele cumpriu perfeitamente toda a Lei. Isto é a garantia de que um dia seremos perfeitos. A boa obra que Ele começou em nós Ele vai terminar. Cristo está nos aperfeiçoando pela lei. Ele escreveu esta lei em nossos corações. Então, que vivamos para Ele. Que o nosso desejo principal seja: ser como Ele é. Graças a Ele que temos a certeza que nosso esforçar não é vão. Somos mais que vencedores em Cristo! Que o nome dEle seja exaltado desde agora e para sempre!

Amém!

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Marcel Tavares

É pastor na Igreja Reformada em Cabo Frio. Licenciado em matemática e foi professor por muitos anos. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.