2 Reis 9-10

Leitura: 2 Reis 9-10
Texto: 2 Reis 9-10


Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

No Museu Britânico em Londres, Inglaterra, tem uma pedra conhecido como Obelisco Negro de Shalmaneser III. Foi feito na Assíria durante o mesmo período de tempo que o nosso capítulo, e o que o torna especialmente interessante é que ele tem uma escultura do rei Jeú se curvando diante do rei da Síria e prestando-lhe homenagem. Assim esta pedra é a primeira representação visual de uma pessoa bíblica. (Acho que ninguém vai ficar surpreso pra aprender que ele tinha uma barba.)

Mas serve para mostrar algo da mudança dos tempos, quando Israel não era mais um grande reino, e tinha que ser subserviente a esses outros poderes maiores.

Outra coisa interessante, e irônica, sobre o obelisco é que ele tem como título: “Jeú, da casa de Onri”. Obviamente os assírios não tinham muito conhecimento das nuances da história de Israel; afinal, Jeú não era da casa de Onri, e pelo contrário ele devotou sua vida à exterminação desta linhagem.

Mas Jeú é um rei especial de várias maneiras. Ele não apenas é a primeira pessoa na Bíblia a ter sua imagem registrada e visível até os nossos dias, mas também é o pai da dinastia mais duradoura em Israel, que durou quatro gerações. E talvez o mais impressionante de tudoé que ele é o único Rei do Reino do Norte que recebe uma avaliação (semi) positiva de Deus. A avaliação de todos os outros reis diz: “ele fez o que era mau aos olhos do Senhor”, repetidamente. Jeú não recebe uma avaliação formal no livro de Reis, como os outros reis, mas pelo menos em relação ao que ele fez com a casa de Jezabel, Deus disse que ele fez o que era reto aos olhos do Senhor. Logo depois, o texto qualifica isso dizendo que ele não o fez de todo o coração, porque ainda mantinha a adoração dos bezerros de ouro em Dã e Betel que Jeroboão havia instituído. Mas é o mais próximo que chegamos a ter um bom rei em Israel.

Agora, nós sabemos que estas histórias não foram registradas apenas para satisfazer a nossa curiosidade sobre o que aconteceu em Israel antigo, mas para mostrar a mão de Deus na história, e para ensinar lições duradouras para a igreja de hoje. Então é para isso que queremos prestar atenção.

Na verdade, quanto a história do reinado de Jeú, a Bíblia fala bem pouco. Embora ele tenha reinado por 28 anos, a Bíblia fala quase nada sobre o reinado dele. Temos apenas alguns versículos resumidos no final do capítulo 10 que nos falam sobre como o reino de Israel foi ficando menor e mais fraco e perdendo seu território para a Síria. Isso é tudo o que conseguimos ver nesses 28 anos. O que o livro dos Reis quer que olhemos são apenas os primeiros dias do reinado de Jeú e como ele derrubou e destruiu o reino de Acabe e Jezabel. Isso é o que precisamos ver.

Esse julgamento estava pra acontecer há muito, muito tempo. Lembre-se em 1 Reis 19 que Deus havia dado três tarefas a Elias: ungir Hazael rei da Síria, ungir Jeú rei de Israel e ungir Eliseu como profeta em seu lugar. E cada uma daquelas unções eram unções para julgamento. Deus disse a Elias, quem escapar da espada de Hazael, Jeú matará, e quem escapar da espada de Jeú, Eliseu matará.

Não temos registro de Elias realmente indo e fazendo qualquer uma dessas coisas. A única coisa que ele fez – até onde sabemos – foi jogar seu manto sobre Eliseu. Não sabemos se ele conheceu Hazael ou Jeú.

E agora já faz muito tempo, parece que estas ameaças e profecias antigas foram esquecidos. Já passou uma geração, e nada. E na verdade, o filho de Acabe, Jeorão, não foi nem um rei tão ruim. Ele havia afastado as colunas de Baal no capítulo 3. Ele deu uma posição do proeminência para Eliseu por toda a sua vida, exceto pelo tempo no capítulo 6, onde ele ameaçou matar Eliseu. Em geral, ele não foi tão ruim, e provavelmente havia pessoas em Israel que estavam contentes com a situação e até esperavam que Deus esquecesse destas profecias de julgamento.

O que vemos no início do capítulo 9 é que Deus não se esqueceu de nada.

Ja o capítulo 8 nos despertou para a realidade de que Deus não se esqueceu de nada. Se Elias não fez o que lhe foi ordenado, Eliseu certamente fez. De repente, Hazael é rei na Síria, como Deus falou; e agora só falta Israel.

Então Eliseu enviou seu servo para ungir Jeú. Ele apareceu diante dos comandantes (observe o plural) do exército e disse, presumivelmente olhando diretamente para Jeú: “Capitão (observe o singular), tenho mensagem que te dizer.” Há um silêncio constrangedor. Todos estão olhando para Jeú e pensando a mesma coisa. Eliseu cometeu um erro sério de linguagem. Jeorão tinha organizado seu exército de tal forma que não havia um só capitão, mas um grupo de comandantes iguais. Isso pra evitar que nenhum deles se tornasse uma ameaça para o rei, porque a maior ameaça pra o rei (até nos países de hoje) é o capitão do exército. Então Jeorão organizou seu exército de tal forma que não houvesse um único comandante do exército.

Mas o profeta se dirigiu a Jeú sozinho, e o chama de capitão. Jeú até tenta tenta salvaguardar a situação, perguntando, “A qual de todos nós?” Mas o profeta apenas repete o que disse: “A ti, Capitão.” O ponto fica claro. O profeta estava usando linguagem proibida, instigando um golpe, uma revolução. Deus já tinha preparado o cenário, dando influência crescente a Jeú, e minando cada vez mais a autoridade e respeito de Jeorão, porque Deus estava preparando o cenário para dar fim a linhagem de Acabe, como havia dito. Mas o golpe começa com a palavra do profeta, pra mostrar que isto vem de Deus.

Não vou entrar em discussão aqui sobre a questão moral de golpes e revoluções, se são permitidas ou não. Podemos apenas dizer que esta revolução começou da parte do profeta, ou seja, de Deus quem o mandou, e Jeú por sua parte foi aprovado no que ele fez. Não é comum que Deus aprova revoluções e violência, e certamente o tom da lei e da bíblia em geral é contra revoluções. Sabemos que o Reino de Deus não vem por meio de revolução violenta, mas pela conquista espiritual do evangelho nos corações e vidas dos homens. Mas podemos dizer também que Israel era uma nação pactual, ou seja, federal, com uma constituição que era a Lei de Deus como suprema autoridade, e a linhagem de Acabe há muito tempo violava esta constituição. A revolução também não veio a partir dos cidadãos comuns tomando a lei em suas próprias mãos, mas dos oficiais do profeta de Deus e dos capitães do exército que tinham carga pública. 

Além disso, também podemos simplesmente fazer a observação de que desobediência e desrespeito para a constituição—a Lei de Deus—produziu, como fruto natural e inevitável, caos, confusão, e ultimamente revolução. Quando os que estão em autoridade recusam-se de viver sob autoridade, eles lançam a base para sua própria destruição. Podemos observar os atos revolucionários em 6 de janeiro no capital dos estados unidos, e 8 de janeiro em Brasília e dizer, sem entrar em questões de mérito, que estes eventos são o fruto esperado e inevitável de um governo que recusa, por sua parte, a se submeter a autoridade. Quem semeia o vento, colhe o vendaval. Devemos orar que os nossos governantes se submetam, em primeiro lugar para a Lei de Deus, e em segundo lugar a constituição do nosso pais, que em nosso contexto é a autoridade suprema da república.

Em fim, podemos dizer que Deus mostra aqui o seu poder supremo sobre reis e homens poderosos. Ele levanta reis e derruba reis. E neste caso, ele havia falado antes, e agora vai cumprir a palavra, que iria exterminar a casa de Acabe. Então aqui vemos a sua justiça, e é terrível para todos os aliados com a casa de Acabe e Jezabel.

E a partir desse momento, as coisas começam a se desenrolar muito rapidamente. Quando os comandantes souberam o que havia acontecido, eles jogaram suas capas e tocaram a trombeta e proclamaram Jeú rei, e então as coisas começaram a acontecer muito rapidamente. Vemos a rapidez chocante que cada instituição de poder sob Acabe e Jezabel simplesmente desmoronou diante da revolução de Jeú.

  • Primeiro, nos versículos 14-28, Jeú matou o rei Jeorão, junto com Acazias, rei de Judá. Em questão de horas, os reis de Israel e de Judá estavam mortos.
  • Então, nos versículos 30-37, Jeú jogou Jezabel pela janela e a pisoteou.
  • Então, no capítulo 10:1-11, Jeú matou cada um dos filhos e netos de Acabe.
  • Então, nos versículos 12-14, ele matou um grupo de parentes de Acazias.
  • Então, nos versículos 18-27, ele matou todos os sacerdotes de Baal e transformou o templo de Baal em uma latrina.

Ou seja, em questão de dois capítulos que dão conta, no máximo, de uns poucos dias, cada instituição de poder tão forte e inabalável foi completamente derrubada.

Os homens que se exaltam contra Deus, por tão seguros que eles acham que estão, são meros homens, muito vulneráveis. Suas instituições, por quão inabaláveis que se imaginam ser, caem e demoraram em um momento. É por isso que somos chamados repetidas vezes na Bíblia para não temer ao homem, porque embora ele seja forte hoje, amanhã ele volta ao pó, e suas ideias perecem com ele, enquanto a palavra e o reino de Deus continuam para sempre. 

Além disso, devemos fazer algumas observações importantes:

Primeiro, veja Jezebel. Foi com ela que esta história triste começou, e agora é com ela que ela termina.

Jezebel é mais do que apenas uma mulher perversa. A essa altura, ela se tornou algo muito maior—uma representação do movimento de Baal. Jezabel havia se tornado a personificação da idolatria, da maldade e do mal. Ela era a fonte da adoração de Baal que se espalhou como uma praga por todo Israel. E a adoração de Baal foi o câncer responsável ​​por toda a miséria em Israel.

Eu quero que você perceba isso e leve isso a sério. Um dos grandes temas deste capítulo, que volta sempre, é a pergunta: “Há paz?” Às vezes, isso é traduzido em nossas Bíblias como “está tudo bem?” Mas é a mesma pergunta: ha-shalom? Há paz?

  • Você vê essa pergunta no capítulo 9, nos versículos 11, 17, 18, 19, 22 e 31.
  • Paz, shalom, é a palavra hebraica para paz, bem-estar e integridade no relacionamento com Deus.
  • Há paz? A resposta de Jeú a essa pergunta está certa. Aos mensageiros de Jeorão, ele diz: “Que tens tu com a paz?” E então, para o próprio Jeorão, ele chega ao cerne do problema: “Que paz, enquanto perduram as prostituições de tua mãe Jezabel e as suas muitas feitiçarias?”

Aqui está a realidade: a verdadeira paz só vem em obediência e relacionamento com Deus. Isso é o que significa ser inteiro, que é outro significado da palavra shalom. Quando isso for quebrado, tudo o mais ficará fora de ordem e, por fim, levará à miséria e à total ausência de paz. Essa é a raiz do mundo quebrado, caído e miserável. São os corações que não conhecem a Deus, porque eles entronizaram outra coisa no trono de seus corações – seja o que for, seja outro deus, ou dinheiro, ou poder, ou prazer, ou o que quer que seja. Não pode haver paz com a idolatria. É impossível.

Então a resposta de Jeú é, em essência, a mesma reposta que Elias deu muito tempo atrás a Acabe, quando Acabe o chamou de “perturbador de Israel,” e ele respondeu: “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do SENHOR e seguistes os baalins.”

O livro dos Reis nos ensina a ter um ódio visceral pela adoração de Baal e por toda idolatria, porque significa a destruição da paz. A paz não pode coabitar com a idolatria. Toda vez que tem idolatria, tem injustiça, sofrimento, quebrantamento e guerra. Quando entronizamos em nossos corações qualquer coisa no lugar que pertence a Deus, isso corrompe e perverte não apenas o coração humano, mas tudo sobre a vida humana. Isso é tão verdadeiro em nossos dias quanto naqueles dias, e é em todas as épocas. Fomos criados para conhecer a Deus, amá-lo e viver com ele, e a idolatria destrói esse propósito básico da vida, e dele flui todo tipo de maldade e perversidade. A adoração de Baal era a razão da prostituição no templo e do comércio sexual que o cercava, incluindo a escravidão sexual das jovens que serviam no templo de Baal. Como resultado, a adoração de Baal e a prostituição no templo foram os motivos da desintegração da família israelita. Mas esses são apenas sintomas do problema. O problema é a idolatria. 

E assim nós deveríamos ter, a essa altura, um ódio profundo e visceral por Jezebel. Sim, devemos odiá-la por tudo que ela representa.

Será que “odiar” é palavra forte demais? É o que o salmista diz:

“Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem? E não abomino os que contra ti se levantam? Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de fato.”

O ódio é o corolário do amor. Se você ama seus filhos, você odeia qualquer coisa que quer explorá-los ou destruí-los. Se você ama a Deus, você terá um ódio sincero por tudo que quebra nosso relacionamento com Deus e rouba-lhe a honra.

E isso significa que, quaisquer que sejam nossas reações a este capítulo, uma coisa que devemos fazer é dar graças a Deusque a rainha, Jezabel, está morta! Se a idolatria é o câncer que mata a vida humana com Deus, então Jezabel é o primeiro tumor em Israel que tem espalhado agressivamente esse câncer.

E precisamos aprender a ter esse mesmo ódio por tudo que nos separa de Deus, as idolatrias que ameaçam a supremacia de Deus em nossos corações; e em nossas casas, e em nossa nação. Devemos ver a idolatria como nosso inimigo número 1, e aprender odiá-la com ódio santo e lutar contra ela sempre que pudermos. Onde Deus reina, ali, e somente ali, há paz: para nós mesmos, para nossos lares, para nossa igreja, para nossa nação.

Agora, observe a própria Jezebel. A parte mais gráfica dessa história é o relato da morte de Jezabel, pois fala sobre seu sangue respingando na parede e seu corpo sendo pisoteado e finalmente comido por cães e defecado nos campos. É gráfico. Mas observe como Jezebel enfrentou sua morte. Quando ela ouviu a notícia da morte de Jeorão, ela sabia que Jeú estava vindo buscá-la e sabia que não havia para onde fugir. E então o que ela fez? Ela se maquiou e arrumou o cabelo. Ela se vestia como uma rainha, porque queria sair como uma rainha. Podemos até admirá-la por isso, mas devemos lembrar bem quem ela era, sendo mulher perversa até o âmago, responsável pelos maiores crimes cometidos em Israel. Mas veja como um pecador impenitente se comporta diante da eternidade. Talvez imaginamos que um pecador, quando tiver diante da eternidade, se humilharia e se curvaria diante de Deus. Mas olha bem a Jezebel. Teimosa, orgulhosa, rebelde e rancorosa até o fim e para a eternidade. Nenhuma tristeza por seus crimes e idolatria. Sem arrependimentos. Mas corajosamente, e orgulhosamente, avançando para o inferno, amaldiçoando Jeú com suas últimas palavras. A parte da graça de Deus, o pecador não se arrepende. Segundo Apocalipse 19, até no inferno, os pecadores amaldiçoam o nome de Deus. O arrependimento é um dom gracioso de Deus, e por isso deve ser levado com a maior seriedade. Quem imagina que vai ter tempo pra arrependimento depois, mas recusa a oportunidade agora, não entende o jogo que está jogando. Ele se endurece no pecado, não sabendo que o arrependimento é o dom de Deus, e tornando o arrependimento verdadeiro cada vez mais impossível.

Segundo, nossa segunda observação diz respeito ao julgamento de Deus.

Quando chega, vem rápido e vem com um poder devastador. Queremos reconhecer isso e levar isso a sério. Pense nas instituições de poder em nosso país, e nas organizações mundiais que se posicionam contra Deus e contra sua Palavra. É fácil ter a impressão de que o mal simplesmente tem vantagem, e não há nada que possa mudar isso. E tenho certeza de que muitos israelitas concluíram isso sobre o reinado de Jeorão. Mas em fim, em apenas dois ou três dias, o julgamento veio, e veio com uma força e uma ferocidade que deixaram Jezabel e cada um dos príncipes de Jeorão completamente impotentes para detê-lo.

O golpe de Jeú foi obra de Deus, planejado por Deus, preparado por Deus nos bastidores e finalmente ungido por Deus por meio do profeta enviado por Eliseu. E para Acabe e Jeorão e Jezabel e Acazias e dezenas de príncipes que adoravam o poder humano e a política e que pensavam que eram intocáveis, de repente eles se viram indefesos contra a própria besta do poder político que eles haviam adorado por toda a vida, que desta vez virou contra eles.

O capítulo faz um trabalho maravilhoso ao mostrar a habilidade política de Jeú. Ele era um mestre da política. Em cada cena, você pode ver Jeú coagindo outros e forçando outros a se juntarem a ele.

  • Na cena da coroação no capítulo 9, ele diz aos outros comandantes: “Então tá certo, se é da vossa vontade, então aqui está o que vocês devem fazer.” Ele responsabiliza os outros comandantes e os faz cúmplices no que for seguir.
  • Quando Jeú vai a Jezreel para matar Jeorão, ele ordena que os mensageiros de Jeorão se alinhem atrás dele. Eles sabem que é a vida de Jeorão ou a deles, e então decidem se juntar a Jeú. Então eles também ficam forçados a tomar decisão.
  • Quando Jeú aparece no palácio em Jezreel, ele obriga os eunucos a escolher um lado. “Quem está do meu lado?” Em outras palavras, hora de fazer uma escolha. Jogue Jezabel no chão, ou seja jogado no chão com ela. E assim os servos de maior confiança de Jezebel viraram contra ela.
  • Então, quando Jeú escreveu aos guardiões dos filhos de Acabe, ele fez a mesma coisa. Escolha o seu novo rei entre os filhos de Acabe, se é assim que você quer… ou me envie cada uma de suas cabeças até amanhã de manhã. E assim, as mesmas pessoas que foram encarregadas de proteger os filhos de Acabe viraram contra eles.
  • Jeú então mandou empilhar as cabeças daqueles setenta filhos no portão da cidade, e quando o povo acordou pela manhã e os encontrou ali, Jeú magistralmente deixou claro o ponto: Eu matei Jeorão e Acazias, mas quem matou todos esses ? E assim ele mostrou a população que a o golpe era muito maior de que ele.

Então o capítulo destaca a habilidade política de Jeú. Acabe, Jezabel, Jeorão e todos os setenta filhos de Acabe passaram a vida inteira confiando no poder político, na sua força e na sua habilidade. Essa era sua defesa e sua segurança. Esse era o deus que eles adoravam.

E Deus usou exatamente isso, na pessoa de Jeú, para derrubar seu reino. Jeú foi um político mas esperto de que eles, capaz de jogar o jogo deles melhor do que eles, e podemos observar como eles de repente viram todo o mundo deles que eles haviam construído, voltando contra eles, e não havia nada que eles poderiam fazer para resistir. Ficaram totalmente indefesos. Eles colocaram sua confiança no homem e no poder político, e agora os vemos, na hora do desespero, sem ter para onde se virar. Foi o Deus deles que os traiu.

Este é o justo julgamento de Deus e, nas palavras do Salmo 52, os justos o verão e temerão. Aqui vemos o final da família de Acabe e Jezabel, aquela família tão poderosa e esperta, que escreveu cartas aos anciãos da cidade de Nabote, que conspirou, mentiu, matou, e trabalhou para a implantação da idolatria no reino de Israel. E agora as cartas estão sendo escritas contra eles, e a besta que eles adoravam e alimentavam voltou contra eles para os destruir.

A Palavra de Deus diz isso com a maior seriedade: O que você semear, você colherá. Semeie mentiras e assassinatos, e você colherá mentiras e assassinatos. Qualquer que seja a besta que você adore, essa besta acabará se virando e comendo você.

O que aconteceu com Jezabel e toda a casa de Acabe é uma amostra do dia do julgamento.

Em passagens futuras das Escrituras, Jezabel se torna um nome e símbolo por idolatria e infidelidade. Ela se torna conhecida como a grande prostituta, que representa toda idolatria, especialmente por parte do povo de Deus, mas incluindo também a idolatria de cada ser humano na terra. Em Apocalipse 18, temos uma imagem do dia do julgamento vindo sobre a grande prostituta. Há uma mistura naquele capítulo das cidades infiéis de Jerusalém – o povo de Deus – e Roma – o mundo – e juntas elas se tornam a grande prostituta. E esse capítulo descreve a destruição total daquela prostituta, e a reação e choque da parte de todos os que viram-a destruída:

Ap. 18:9–10: “Ora, chorarão e se lamentarão sobre ela os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em luxúria, quando virem a fumaceira do seu incêndio, e, conservando-se de longe, pelo medo do seu tormento, dizem: Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo.”

Mas você também notou em Apocalipse 18 que a igreja tem uma reação muito diferente:

Ap. 18:20: “Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa.”

O que aconteceu sob Jeú é uma prévia e uma imagem do dia do julgamento que está por vir. Parte desse julgamento já vem agora ao longo da história, mas finalmente culmina no dia do julgamento. E como cristãos, este mesmo dia, que é o dia que o mundo mais teme, é o dia que nós mais esperamos. A grande prostituta, e todos aqueles que pertencem a ela, temem o dia de julgamento.

Em terceiro lugar, queremos observar algo sobre Jeú.

Talvez você ache Jeú repugnante. Todo o sangue e violência pode ter esse efeito.

Mas se você se colocar no lugar da igreja daquela época, acho que seus sentimentos seriam mais complexos. Podemos apenas imaginar o que os parentes de Nabote (se estivessem vivos ainda) achassem de Jeú. Com certeza, a igreja teria regozijada no golpe que Jeú fez, e teria dado graças a Deus pelo fim do terrível reinado de Jezabel. Nós já vimos que o próprio Deus expressa seu aprovo pelo que Jeú fez.

Se a idolatria foi o câncer e Jezabel foi o primeiro tumor, então Jeú é a quimioterapia que derrubou e destruiu todas as instituições de poder em Israel para livrar Israel desse câncer.

Porém.

Também devemos ter cuidado para não nos apaixonarmos por Jeú. Jeú era magistral na política e na guerra – o mesmo jogo que Jezebel jogou – e a tentação para nós, que simpatizamos com ele, é passar a mão por cima de suas idolatrias. 

Deus aprovou o que Jeú fez com a família de Jezabel, mas versículo 31 também nos alerta de que  Jeú não abandonou a idolatria de Jeroboão, e não serviu a Deus de todo coração.

Podemos ver a atitude de Jeú para com os profetas de Deus, desde o início desta história. O que ele diz sobre o profeta que veio aos comandantes? Eles perguntaram a ele, “Por que veio a ti este louco?” E ele lhes respondeu: “Bem conheceis esse homem e o seu falar.” Este é o verdadeiro Jeú e seus amigos. Ele aproveitou a profecia, como políticos aproveitam o “grupo eleitoral” dos ditos “evangélicos,” mas ele mesmo não serviu a Deus de coração. Jeú falou mais tarde sobre seu zelo pelo SENHOR, mas ele recusou de remover os bezerros de Jeroboão. A aliança que Jeú teve com Deus era uma aliança de conveniência política, não uma aliança de convicção.

Os justos regizijam-se, sim, quando vêem os ímpios derrubados do poder, que antes eram intocáveis. Eles sentem uma profunda e apropriada gratidão a Deus – mesmo quando eles também tremem diante do julgamento de Deus.

Mas não devemos ficar muito românticos sobre isso. Já no início de capítulo 9 nós vimos quem é Jeú atras de portas fechadas, e não devemos esquecer disso. A tentação para a igreja nos dias de Jeú seria presumir que Jeú é um deles—quando de fato, não era. Ele derrubou a ímpia rainha Jezabel não porque amava o reino de Deus, mas porque cobiçava o poder para si mesmo. A igreja precisa ser capaz de reconhecer a diferença. No final das contas, o reino de Jeú estava cheio de concessões. Essa é a avaliação final que recebemos de Deus. Ele fez muitas coisas certas, especialmente ao demolir os centros de poder que há muito precisavam ser demolidos. Mas ele não seguiu a lei de Deus de todo o coração e, no final, seu reino iria desmoronar também. O reino de Deus só pode vir por meio de um rei que teme a Deus de todo o coração, o que Jeú não fez. Então somos alertados para buscar o Reino de Deus em outro lugar, e não nos homens ou no poder político.

O que nos leva a Cristo.

O único caminho para a paz verdadeira e duradoura é através do Reino de Deus, que começa com a cruz de Cristo. A paz começa quando o homem é reconciliado com Deus – ali tem o  verdadeiro shalom—e é pra isso que Cristo morreu, para fazer a paz entre Deus e o homem. A cruz de Cristo deve ser sempre no centro de nossa esperança, para nós mesmos, para nossa nação e para o mundo inteiro. É muito fácil nós nos identificamos com movimento políticos, e isso pode até ser motivado por motivos bíblicos de querer ver os poderes anticristãos derrubados, e a justiça de Deus implantada. Mas a nossa esperança não se reside na política. Em última analise, o reino de Jeú também era um reino idolatra, e em fim iria cair também. Podemos participar na política, apoiando as melhores opções que existem, mas temos que entender que tudo que não começa com o evangelho, terminará apenas em mais uma forma de idolatria e produzirá mais quebrantamento e morte. Como cristãos e como igreja, precisamos garantir que nossa mensagem seja clara. Deus pode usar políticos para fazer muito bem, mas não há nenhuma porta de trás para o reino de Deus. Jesus nos adverte a não lançar as nossas pérolas aos porcos, e ele nos avisa de que se o fizermos, eles as pisarão e depois se voltarão contra nós também.

O único reino aqui que é digno de nossa lealdade é o reino de Deus, que era tão minúsculo naquela época. Mas é por meio desse Reino que Deus não apenas julga o mundo, mas também salva o mundo, por meio da reconciliação da cruz de Cristo. Podemos regozijar que por meio desta mensagem da cruz, nós fomos redimidos do reino de Jezabel, de idolatria, de trevas, e feitos cidadãos do reino do Filho de Deus.

Voltar ao topo
Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.