2 Reis 12

Leitura: 2 Reis 12
Texto: 2 Reis 12

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,

À primeira vista, podemos perguntar: por que um capítulo como este existe na bíblia? O capítulo descreve detalhes sobre a administração das ofertas destinadas para a reforma do templo em Jerusalem, e a reforma desta administração por Joás? O que que isso tem a ver conosco? Por que ficou na bíblia? 

Os profetas que escreveram o livro de Reis deixaram por fora muitos fatos históricos que nós consideraríamos de importantes, e às vezes incluíram outras coisas que nós não consideraríamos de tão importantes. Mas em tudo, o seu desejo não é meramente de nos ensinar a história, ou fatos interessantes sobre a história, mas de nos levar a reconhecer a mão de Deus na história, e de aprender com as lições duradouras que a história traz. Então temos que perguntar: o que que nós deveríamos aprender com este capítulo aqui?

O que eu quero mostrar a vocês é que este capítulo destaca, mais de que tudo, a infidelidade dos líderes de Judá durante este período. Veremos primeiramente a infidelidade dos sacerdotes e administradores do templo em relação ao trabalho que foi dado a eles; e em seguida, veremos a infidelidade do próprio Rei Joás quem reformou esta administração. Resumindo, o que este capítulo nos mostra antes de tudo é que “ocupação com coisas do templo jamais substitui a obediência verdadeira ao Deus do templo.” 

1. A infidelidade dos sacerdotes

O cenário descrito na abertura do capítulo é um cenário muito triste. O templo de Deus em Jerusalem estava em estado de abandono. Havia muitos anos que a manutenção não estava sendo feito, e o dinheiro para o cuidado do templo estava sendo desviado. É um cenário que todos nós conhecemos em relação às obras do governo (especialmente aqui no brasil), mas é muito mais triste vendo isto na própria igreja

Em versículo 4, diz que Joás notou a necessidade de manutenção e reparo, e organizou para que o dinheiro das ofertas seja usado para estes reparos:

2 Kings 12:4–5: “Disse Joás aos sacerdotes: Todo o dinheiro das coisas santas que se trouxer à Casa do Senhor, a saber, a taxa pessoal, o resgate de pessoas segundo a sua avaliação e todo o dinheiro que cada um trouxer voluntariamente para a Casa do Senhor, recebam-no os sacerdotes, cada um dos seus conhecidos; e eles reparem os estragos da casa onde quer que se encontrem.”

Mas após de 23 anos, o que foi feito com todo este dinheiro? Versículo 6:

2 Kings 12:6: “Sucedeu, porém, que, no ano vigésimo terceiro do rei Joás, os sacerdotes ainda não tinham reparado os estragos da casa.”

Para onde foi esse dinheiro? Quem sabe. Se foi. Não havia boa administração do dinheiro. Alguém recebeu este dinheiro, mas não cumpriu sua responsabilidade. Então é uma triste situação que mostra a falta de amor e zelo para o Reino de Deus, da parte daqueles que foram responsáveis para o cuidado do templo.

Eu imagino—isto é minha imaginação só—que os sacerdotes provavelmente se desculparam, dizendo que o dinheiro era pouco, etc., como as pessoas fazem. Mas não foi por falta de dinheiro. Versículo 4 fala não somente da taxa pessoal que as pessoas pagaram obrigatoriamente, mas também as contribuições voluntárias que as pessoas deram. Então havia pessoas fieis em Judá que desejaram que o nome do Senhor seja conhecido entre as nações e contribuíram para o reparo do templo. Seria outro pecado se o próprio povo de Deus não estavam sendo fieis com suas ofertas, mas não parece ser o caso aqui. Então é um cenário muito triste, que enquanto os ímpios mantiveram seus templos gloriosos para seus deuses, os sacerdotes do verdadeiro Deus, se sentiram acomodados e despreocupados com a condição do templo.  

Então em versículos 7 e diante, Joás tem uma conversa dura com os sacerdotes.

2 Kings 12:7–8: “Então, o rei Joás chamou o sacerdote Joiada e os mais sacerdotes e lhes disse: Por que não reparais os estragos da casa? Agora, pois, não recebais mais dinheiro de vossos conhecidos, mas entregai-o para a reparação dos estragos da casa.”

Mas qual foi a resposta dos sacerdotes? Vs. 8:

2 Kings 12:8: “Consentiram os sacerdotes, assim, em não receberem mais dinheiro do povo, como em não repararem os estragos da casa.”

Entendeu? Os sacerdotes, em vez de ficar tristes com se mesmos por não ter cumprido sua responsabilidade, obviamente não gostaram da repreensão de Joas, e então disseram pra ele: “Tá bom então, não vamos tomar mais dinheiro; mas então deixa outra pessoa ser responsável pelo conserto do templo.” Ou seja, se não podemos abusar as ofertas mais não, então não temos mais interesse em ser responsável por este trabalho. Em nenhum momento, eles se sentiram vergonha por ter recebido o dinheiro dado a Deus fielmente pelo povo de Judá, estes 23 anos, sem fazer o trabalho que o dinheiro foi destinado para fazer. Se chatearam com a repreensão de Joás, e disseram, “tá certo, então: se o senhor não gosta do nosso trabalho, melhor deixar pra outra pessoa fazer.”

Então, em fim, os sacerdotes foram aliviados da responsabilidade pelo cuidado do templo, e a tarefa foi dada para o sumo-sacerdote e os secretários do Rei. O sumo-sacerdote, pelo menos, era um homem fiel—o Joiada, quem junto com sua esposa salvou o menino Joás, à risco de sua própria vida, no capítulo anterior. Então eles assumiram o trabalho de supervisionar as ofertas, e juntos contaram o dinheiro para que nada seja desviada, e entregaram o dinheiro para os chefes dos trabalhadores, para comprar o material e pagar os carpinteiros e pedreiros. 

E impressionantemente, versículo 15 diz que eles nem precisavam auditar as contas dos chefes dos trabalhadores, porque eles eram homens honestos. Quando homens honestos fazem bom trabalho, a sua integridade fica evidente. A produtividade fala por se mesmo. Claro, este versículo não está dando um princípio ou diretriz de que não há necessidade de contadores ou auditores—mas simplesmente está fazendo a observação de que quando o trabalho foi dado para homens honestos e responsáveis, a produção ficou logo evidente. 

Quanto aos sacerdotes, eles tiveram que aprender a se contentar com o salário que realmente foi destinado e eles, que é o dinheiro das ofertas pela culpa e das ofertas pelos pecados (vs. 16). Este é o dinheiro que Deus havia provisionado para seu sustento, e é uma demonstração de sua ganância que eles roubaram da outra caixa também para aumentar o seu sustento. Podemos só esperar que eles depois aprenderam a ser contentes com isso, e fieis no seu trabalho sacerdotal de pregação, oração, e administração dos sacrifícios. 

2. A infidelidade do Rei Joás

Agora, podemos parabenizar o Rei Joás por esta reforma financeira do templo. Devido a sua insistência, finalmente o dinheiro destinado para o reparo do templo estava sendo usado para este fim. Joás teria a reputação de um rei zeloso para o templo de Deus.

Mas o que nós vemos no final deste capítulo é que o próprio Joás também tinha grandes problemas de infidelidade no seu coração. Na verdade, não fica tão evidente no livro de Reis—fora de algumas sugestões neste capítulo; mas certamente quando comparamos este capítulo com o capítulo paralelo em Crônicas, isto fica bem claro.

Quero começar então observando, com vocês, que claramente nem tudo foi certo no reinado de Joás.

Primeiro, há a introdução nos versículo 1 e 2:

“No ano sétimo de Jeú, começou Joás a reinar e quarenta anos reinou em Jerusalém. Era o nome de sua mãe Zíbia, de Berseba. Fez Joás o que era reto perante o Senhor, todos os dias em que o sacerdote Joiada o dirigia.”

Então você se lembra do sacerdote Jeoiada, certo? Conhecemos ele e sua esposa na semana passada, quando resgataram o bebê Joás de sua avó, que estava tentando matá-lo e ao resto da família real. Então aconteceu o seguinte: depois que Joás foi coroado e a rainha bruxa Atalias foi morta, Joás só tinha 7 anos de idade. Então quem governou sobre Joás foi o sumo-sacerdote Joiada. E aí nós vemos o problema: Versículo 2 diz que Joás fez o que era reto, todos os dias em que sacerdote Joiada o dirigia. Mas depois, quando ele ficou homem, e quando Joiada faleceu?

2 Crônicas, diz:

2 Cr 24:17-18: “Depois da morte de Joiada, os príncipes de Judá vieram e prestaram homenagem ao rei. Então o rei os ouviu. E eles abandonaram a casa do Senhor, o Deus de seus pais, e serviram aos aserins e aos ídolos.

Agora, isso é um fato relevante, você não diria? Não sei por que o autor aqui em Kings deixa isso de fora. Só podemos especular. Talvez ele queira que aprendamos a ler nas entrelinhas, para podermos deduzir dos fatos do que aconteceu com o reino para o condição do coração de Joás. De toda forma, a avaliação é mais sutil aqui em reis, mas aponta para a mesma coisa. Ele ficou fiel, enquanto Joiada o dirigia, e não depois. 

E fica pior. Novamente em 2 Crônicas 24, versículo 20;

2 Cr. 24:20–21: “O Espírito de Deus se apoderou de Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual se pôs em pé diante do povo e lhes disse: Assim diz Deus: Por que transgredis os mandamentos do Senhor, de modo que não prosperais? Porque deixastes o Senhor, também ele vos deixará. [Mas] conspiraram contra ele e o apedrejaram, por mandado do rei, no pátio da Casa do Senhor.”

Então agora nós vemos a gravidade da infidelidade do Rei. Depois que seu pai adotivo Joiada morreu, ele se tornou um homem muito diferente. Acabou matando o filho de Joiada por ter falado contra ele. Em pago pelo bem que foi feito a ele—como Joiada e Jeoseba o salvaram quando era um bebê indefeso—ele retornou com o mal, matando o próprio filho deles, tendo-o apedrejado até a morte, no templo do SENHOR, por falar a Palavra do Senhor contra ele.

Tudo isso é deixado de fora aqui em Kings. Neste capítulo, temos apenas algumas sugestões sutis: a avaliação dele em versículo 2, a forma como ele robou os tesouros do templo para pagar Hazael em versículos 17-18, e a maneira como ele morreu nos versículos 19-21. São sugestões sutis, mas são suficientes para reconhecer que algo não estava certo.

Vou dizer algo mais ainda sobre os versículos 17 até o final, mas vamos só parar para refletir, porque aqui nós temos uma advertência muito séria. Joás foi um menino que cresceu dentro do templo—literalmente. Não apenas dentro da aliança, mas dentro do próprio templo. Ele conheceu, talvez mais de que qualquer rei, o significado dos sacrifícios e a importância do templo como a habitação do nome de Deus. Ele foi criado pelo sacerdote e sua esposa, que eram fieis e tementes a Deus. Não podemos dizer que o desvio de Joás era por causa de alguma infidelidade da parte de seus pais. Possa ser talvez que eles falharam em pastorear o coração deste menino, sendo muito ocupados com a governança do reino, mas isso é apenas especulação. O fato é que Joás foi criado no temor e instrução do senhor, mas desviou deste caminho quando se tornou homem. E isso traz uma lição sóbria para nós: Nascer e crescer na igreja não é garantia de vida e legado de fé. A fé não vem automaticamente. Deus usa os nossos esforços, e certamente não devemos esperar pela salvação dos nossos filhos se nem os instruímos nem rogamos constantemente a Deus por sua salvação. Mas mesmo quando os pais são fieis e zelosos, como certamente estes foram, não é garantia de que os filhos serão salvos.

1. Então, irmãos, esta foi a grande falha de Joás. Mesmo que ele cresceu na igreja, ele falhou em fazer sua a fé de seu pai. Ele evidentemente cresceu no templo, achando que era crente, só porque os pais dele eram crentes. Ele imaginou que a fé e piedade deles fez que a salvação dele já era garantida. E isso nunca funciona. Isso funciona de uma certa forma quando você é criança – você vai à igreja porque eles o levam, você ora porque eles o ensinam a orar e você prática a vida cristã sob sua liderança. Você foi trazido para a graça da aliança porque a graça de Deus a eles estende-se a você. Mas ao crescer, você também tem a responsabilidade de crescer espiritualmente também. A fé de seus pais tem que se tornar sua. Em algum momento você terá que ficar de pé (pela graça de Deus) e dizer: “eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Não basta dizer “meu pai e minha mãe são cristãos”. Embora sejamos recebidos na aliança como famílias, cada um de nós precisar responder com a nossa própria fé. A fila diante do trono de Deus de julgamento é uma fila única. Você não pode dizer “estou com meu pai”. Romanos 14:12 diz: “Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.”

2. Uma segunda coisa que queremos reconhecer ao considerarmos o capítulo como um todo é que o rei Joás cometeu o erro de confundir ocupação com os assuntos do templo por um relacionamento real com o Deus do templo. Todo este capítulo se concentra no legado de Joás como o rei que restaurou o templo – e até mesmo tomou a iniciativa de confrontar os sacerdotes que estavam tratando o dinheiro como se fosse parte de seu salário – e ele fez um bom trabalho.

Mas é o seguinte:ocupar-se com os assuntos do templo (ou da igreja) não substitui a obediência sincera e o relacionamento com o Deus do templo. No final do dia, quando lemos o relato em Crônicas, o encontramos apedrejando até a morte o filho do sumo sacerdote – seu próprio irmão adotivo – por falar a palavra de Deus contra ele. Aqui temos um rei que tinha a reputação de ser um defensor do templo, mas que nunca entendeu (ou levou a sério) o significado do templo. Ele era de fato zeloso para o templo e religião do templo, mas seu coração estava fechado e morto para o Deus do templo, e quando confrontado por esse Deus, ele até reagiu com rebeldia e até violência 

É possível amaros assuntos da igreja de Deus, sem conhecer, amar e obedecer a Deus. Existem muitos aspectos periféricos da vida da igreja que podemos amar: a doutrina, os assuntos da confederação, a administração da igreja, os debates teológicos, a política e fofoca da confederação, leitura de livros reformados, etc., …é possível amar todas essas atividades periféricas sem ter um relacionamento significativo com o Senhor Jesus Cristo, no qual Ele nos ensina, nos conduz, nos corrige, comunga conosco, nos governa. E essa é uma realidade muito perigosa para aqueles de nós que, como Joás, nascemos e crescemos na igreja, porque é muito difícil de detectar. Enganamos a nós mesmos.

Agora, certamente existem alguns barômetros dessa condição. Se manifesta em certas coisas, como aconteceu na vida de Joás. Se manifesta em nossa vida devocional privada e nos cultos domésticos (ou a falta dos mesmos). Se manifesta na falta de humildade, e confissão de pecado. Se manifesta na falta de evangelismo pessoal. Se manifesta em um espírito contencioso com nossos irmãos. E, como vemos em Joás, o lugar onde ultimamente se manifesta é na questão de se nos arrependemos quando confrontando com a Palavra de Deus; se obedecemos ou não a palavra de Deus, vindo por meio dos oficiais que tem a responsabilidade de trazê-la a nós. Quando Deus nos confronta, seja por Sua Palavra ou pela pregação ou pela admoestação de presbíteros ou companheiros cristãos, iremos então ouvir e nos arrepender?

O que vemos em Joás é um rei que construiu sua reputação como um homem que estava em todas as comissões da igreja, que era devotado ao templo…mas que falhou em conhecer e ser governado pelo Deus do templo. Não podemos presumir que a nossa ocupação com o trabalho da igreja demonstra, necessariamente, um relacionamento vivo com Deus. Que nossa fé seja uma fé ativa e enraizada na realidade interna de um coração mudado e governado pelo amor de Cristo.

E isso nos leva, muito brevemente, à última coisa que devemos considerar aqui no coração de Joás. Se Joás não estava sendo governado pelo amor de Deus, então ele estava sendo governado por outra coisa. Todos nós somos governados por algo. Todos nós somos adoradores, simplesmente em virtude do fato de ser humano.

O que governou o rei Joás, então, se não fosse o amor de Deus?

Ao ler especialmente o relato em Crônicas, fica claro que Joás era governado pelo temor do homem. Ele queria ser louvado pelas pessoas.

Veja aqui alguns exemplos.

Primeiro, há o versículo 2 novamente. Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor todos os seus dias enquanto o sacerdote Jeoiada o dirigiu. Então enquanto seu “pai” adotivo era vivo, ele fez o que agradou seu pai.

Segundo, veja versículo 3: “Apenas os lugares altos não foram removidos.” Por que não? Porque eles eram muito popular. Os lugares altos eram os lugares onde o povo poderia adorar a Deus segundo sua própria maneira e desejo, deixando toda a instrução do templo. E as pessoas amavam os lugares altos. Da mesma forma como muitas igrejas toleram divergências na doutrina, na liturgia, ou na vida dos membros, mesmo sabendo que são antibibilicos, mas porque não tem coragem de desagradar as pessoas; assim também Joás não deixou os lugares altos como estavam.

E então seu pai faleceu. E quando você lê o relato em Crônicas, os próximos versículos dizem:

2 Chr. 24:17–18: “Depois da morte de Joiada, vieram os príncipes de Judá e se prostraram perante o rei, e o rei os ouviu. Deixaram a Casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram aos postes-ídolos e aos ídolos.

Veja, estes príncipes safados já sabiam exatamente como manipular o rei. Se curvaram diante dele, prestaram homenagem, falaram palavras suaves. E logo ele fez o que eles queriam. 

Joás era uma pessoa que foi governada pelo temor do homem—o desejo de ser louvado pelos homens. Quando seu pai estava por perto, ele ia em uma direção. Quando seu pai se foi e os príncipes começaram a aparecer, ele foi em outra direção. Levantou o dedo e sentiu a direção dos ventos da opinião popular.

E o fato é que a maioria das pessoas são governadas pela mesma coisa. Suas vidas são moldadas pela tentativa de agradar e impressionar as outras pessoas. 

A bíblia nos adverte muitas vezes contra o temor do homem. É tolo e fútil. No final das contas, as opiniões dos homens não contam por nada diante de Deus, no dia do julgamento. A opinião que você é muito puritano, ou muito bobo, ou muito rígido, ou o que for, não terá valor nenhum quando você estiver diante de Deus. O “peso” destas opiniões se torna minúsculo a luz da eternidade. 

E por isso Deus nos chama tantas vez a não temer o homem. O temor do homem sempre leva ao desprezo dos mandamentos de Deus. E os que abandonam o temor de Deus para agradar as pessoas, ou por medo do que as pessoas vão pensar, estão fazendo uma troca muito tola. 

Veja a sua vida à luz da eternidade. Se coloque diante de Deus. Tema ao Senhor. Estime-o muito. Reverencie-O. Siga-o. E você será o mais corajoso de todos os homens. 

Ou seremos governados pelo temor de Deus, que nos torna fortes e corajosos, ou seremos governados pelo temor do homem, que nos torna macios e covardes. Considere a fé expressa no Salmo 118:

Psa. 118:6: “O Senhor está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?”

Psa. 27:1: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?”

Ou temeremos a Deus e seremos corajosos, ou temeremos o homem e seremos covardes. Este é o cerne do problema de Joás.

E é daí que vêm os eventos que aconteceram também com Hazael, rei da Síria, nos versículos 17 e 18. Hazael veio e conquistou Gate – uma cidade filisteia na fronteira de Judá – e então pôs seus olhos em Judá. Agora, nós sabemos pelas Crônicas que isso já era o julgamento de Deus pela desobediência de Joás. Mas o livro de Reis não nos diz isso, porque ele quer chamar atenção a reposta de Joas a esta ameaça. O que Joas fez? Ele calculou os poderes do homem e decidiu saquear o templo de Deus para pagar Hazael.

A realidade é que muitas vezes as igrejas, ou os cristãos individualmente, fazem exatamente o mesmo. Temendo ao homem, querendo a aprovação da sociedade, ou temendo as ameaças do governo, abrimos as mãos do que não pertence a nós, mas a Deus. Qual a posição da sociedade sobre a evolução darwiniana? Sem problemas, podemos acomodar—aí, arrancamos uma parte do templo. O que as pessoas educadas em nossa cultura pensam sobre, digamos, as diferenças entre homens e mulheres e seus diferentes papéis na igreja ou no lar? Podemos acomodar. Qual é a visão predominante em nossa cultura sobre a homossexualidade? Podemos acomodar. Temendo ao homem, vendemos os tesouros do evangelho.

Em Mateus 7, Jesus nos ordenou a não lançar nossas pérolas aos porcos, e é exatamente sobre isso que Jesus falou. É a acomodação ou tolerância das coisas que são contrárias à palavra de Deus, para ganhar a aprovação ou respeito dos ímpios. E Cristo nos advertiu que isso já não vai satisfazer os ímpios. Depois de pisotear as pérolas do evangelho, ainda irão se voltar e lhe dilacerar.

E foi exatamente isso que aconteceu com Joás. Ele vendeu os tesouros do templo para comprar a paz com Hazael e não foi um ano depois que Hazael voltou para buscar mais, e já não tinha mais o que dar. E em Crônicas, aprendemos que esse assassinato no final da vida de Joás realmente aconteceu quando ele estava na cama, se recuperando de ferimentos mortais infligidos na batalha com Hazael.

É muito triste que depois do legado de 130 anos de coragem e fé de Jeoiada, temos o legado de covardia e fracasso de Joás. Joás pode muito bem ter sido assassinado porque o próprio povo de Judá estava cansado de sua covardia. Novamente, quando lemos o relato em Crônicas, aprendemos que o exército de Hazael era na verdade muito poucos homens. Se tivesse mostrado liderança e convicção, poderia talvez ter ganhado. Mas não tem nada mais intolerável de que se arriscar por um covarde.

O medo do homem nos faz covardes.

E esse é o legado que Joás deixa.

É por isso que este capítulo deve nos deixar sóbrios e vigilantes. Todos nós somos propensos a isso. O temor do homem é a nossa condição natural. Em vez de nos preocupar com aquilo que agrada a Deus, buscamos ser vistos pelos homens, e estragamos o nosso verdadeiro legado.

Não é à toa que Ap 21, falando do lago de fogo onde são lançados os inimigos de Deus, também menciona os covardes:

“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.”

Ser covarde não é uma coisa moralmente neutra. É uma orientação do coração, enraizada na rebeldia, que substitui o temor de Deus pelo temor dos homens. É algo que temos que mortificar, para que ela não nos mortifique.

Agora não podemos terminar antes de também perguntar: como este capítulo nos leva a Cristo? Sabemos que todas as Escrituras nos direcionam a Cristo, e em todo capítulo da Bíblia devemos sempre estar perguntando: como este capítulo me direciona a Cristo? Neste caso, podemos ver a profunda diferencia entre Cristo, por um lado, e os sacerdotes e o Rei Joás pelo outro. 

  • Enquanto os sacerdotes buscavam seus próprios prazeres e roubaram o dinheiro do templo para aumentar seus salários, Cristo deixou sua majestade no céu e habitou como um pobre entre pobres, porque mais abençoado é dar de que receber. Cristo veio para servir, e não para ser servido. 
  • E diferente de Joás, Cristo colocou a vontade de seu Pai em primeiro lugar, desprezando o entusiasmo das multidões quando gostaram dEle, e permanecendo firme quando todos o achou louco. Podemos perguntar: onde Cristo achou a firmeza para viver tão absolutamente resoluto em cumprir a vontade de Seu Pai? A resposta se encontra nas suas muitas horas—horas e horas—em oração solitária. Tantas vezes Cristo se ausentou das multidões, buscando lugares desertos, para poder orar a Seu Pai. E assim também, quando chegou o momento de passar pelo maior sofrimento de sua vida, abandonado por seus amigos, rejeitado pelo povo, e torturado e crucificado, ele continuou resoluto: “não a Minha vontade mas a Tua.” 

Irmãos, como discípulos deste Cristo, podemos dar graças que o nosso Senhor não se rendeu para estas tentações, mas permaneceu firme na vontade de Seu Pai, que foi para a nossa salvação. Cristo obedeceu a Seu Pai, até a morte, para salvar pecadores e covardes como nós. Não se engane não: aparte da graça de Deus, você é igual aos sacerdotes cobiçosos e preguiçosos, e igual a Joás covarde. Não estamos aqui pra dizer que somos melhores, porque não somos. Mas estamos aqui porque Cristo morreu a morte digno de um cobiçoso e um covarde para pagar o preço por nossa cobiça e covardia, e nos reconciliar a Deus em justiça. 

E como nosso mestre, Cristo nos mostra como viver com coragem, enraizada em um coração que se submete a Deus e teme somente a Ele. E Ele torna possível, enquanto nos apegamos a Ele, que também desafiemos o medo do homem e sigamos a vontade de Deus. Ele torna possível que sejamos corajosos, porque Ele venceu a morte e recebeu a coroa da glória.

Venha diante de Cristo, nosso Rei – a quem foi dada toda a autoridade no céu e na terra – e se houver preguiça, cobiça, e covardia, então confesse os seus pecados, e encontre sua força, sua coragem e sua confiança em Cristo. Olhando para Cristo podemos dizer, como Paulo disse ao sofrer algemas e muitas privações, sem medo do homem: “tudo posso naquele que me fortalece.” Olhando para Cristo, considere a instrução dada a nós em 1 Coríntios 16:13: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos.” Quando nossa confiança está em Cristo, deixamos um legado que permanece e ressoa pelas gerações. Olhe para Cristo e diga com o Salmista, “O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a fortaleza da minha vida; de quem terei medo?”

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.