1 João 02:28-03:03

Leitura: 01 João 03:01-10
Texto: 01 João 02:28-03:03

Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo,

Nessa primeira carta de João, vimos repetidamente a razão da escrita do apóstolo, a razão que ele fornece em capítulo 5.13:

“Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.”

Ele escreve para incentivar, dar segurança, exortar, instar seus “filhinhos” a viver da maneira que os filhos de Deus foram chamados a viver. A exortação de João é permanecer forte na fé, permanecer em Cristo. No final do capítulo 2, ele nos diz:

“Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (2.28).

E “permanecer nele” significa praticar a justiça, significa viver em seu caminho, seguindo seus passos justos. E, novamente, notamos a motivação para uma vida justa – somos chamados a viver em retidão, não porque precisamos ser justos para que Deus nos salve, mas porque Deus nos salvou, e esse modo de vida justo deve ser nossa resposta à salvação que já recebemos.

“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus,” João escreve. E mais uma vez nós vemos aqui a conexão entre essa carta e o evangelho de João, e podemos pensar nas palavras de Jesus em João 3.5-7:

“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”

É o novo nascimento, sendo nascido do Espírito, que leva à vida verdadeira, a vida da prática de justiça.

E essa é a mensagem que João reflete em nosso texto. Fomos chamados a levar vidas santas. Somos chamados a seguir o caminho de nosso Salvador, que é santo e puro. E quando fazemos isso, podemos saber que nascemos dele. E você pode imaginar o apóstolo João escrevendo essas palavras, sob a inspiração do Espírito Santo, e depois sentando-se e pensando no que acabou de escrever. Que coisa incrível é dizer, “Eu nasci dele!” E essa é a mensagem de João nos primeiros versículos de 1 João 3 – ele nos diz quem somos, o que seremos, e como isso deve afetar nossas vidas.

Primeiro de tudo, quem somos nós? O que nos define? O que é essa coisa que me faz quem eu sou? Tenho certeza de que todos você conheceram alguém, ou fosse alguém, que queria levar algum tempo para “se encontrar,” para descobrir quem você é, sua razão de estar aqui, o propósito da vida. É uma coisa do mundo ocidental moderno, pessoas ricas com muito tempo para gastar geralmente têm tempo demais para pensar sobre esse tipo de coisa.

Mas como pessoas que receberam o dom gracioso de Deus do novo nascimento, aquela nova vida que Cristo nos deu através do seu Espírito, não precisamos procurar desesperadamente em todo canto, muito menos procurar dentro de nós mesmos, para descobrir quem nós realmente somos. Podemos saber quem somos, podemos conhecer o propósito e o significado de nossa vida, porque Deus nos disse que agora somos filhos dele. É isso que nos define. Essa é a única coisa que deve governar tudo o que fazemos – toda ação, todo pensamento, toda palavra deve ser governada por esse fato que nos define como pessoas; como João escreveu no primeiro capítulo de seu evangelho:

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1.12-13).

E é tão fácil para nós dizer. É tão fácil para nós tomar isso como garantido. Mas pense bem: é isso que João está fazendo aqui – eis que ele diz literalmente, apenas olhe! Apenas pense sobre isso! Veja que tipo de amor o Pai nos deu, para que sejamos chamados filhos de Deus! E assim somos! Por meio de Cristo, recebemos a nova vida. Através da nossa união com Ele, nos tornamos novas criaturas, filhos do Pai. Nós mudamos. Não somos como o mundo. Fomos separados! Somos especiais.

E com palavras como essas, é fácil pensar que há algum tipo de orgulho ou vaidade sendo mostrada aqui. Mas essas palavras não vão além do que somos chamados a confessar. Mas o que João diz aqui deixa claro por que somos filhos de Deus, e isso tira qualquer motivo de nos vangloriarmos – somos filhos de Deus, mas por quê? Por causa desse tipo de amor que o Pai nos deu. É amor. É imerecido. É uma dádiva. Mas é essa dádiva que define quem somos.

E João reconhece que isso nem sempre será aparente, especialmente para o mundo ao nosso redor. O mundo não nos conhecerá. Não reconhecerá nossa posição, em Cristo. E a razão para isso é simples: o mundo não nos conhecerá, unidos a Cristo pela fé, porque se recusa a conhecer aquele a quem nos unimos. Não é nenhuma surpresa, mas João quer garantir-nos a nossa posição, em Cristo. Diante do mundo que muitas vezes ridiculariza, que pressiona tanto os filhos de Deus a se conformar, que não quer nada além de nos afastar de nosso Senhor e Salvador, João nos lembra o que o próprio Senhor já havia dito em João 15:

“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (João 15.18-19).

Diante desse tipo de pressão, diante do constante impulso de nossa sociedade em relação à conformidade, lembre-se: a única razão pela qual o mundo não o conhece é que não conhece quem o ama. Lembre-se de quem você é, lembre-se do que foi feito e lembre-se de que seu Salvador foi odiado e ofendido de uma maneira muito mais flagrante do que você jamais enfrentará.

Então é assim que somos. Somos filhos de Deus. Mas João também nos diz o que seremos e, ao fazer isso, revela algo muito importante: “ainda não se manifestou o que haveremos de ser.” A revelação da glória por vir é necessáriamente limitada, por causa do que somos agora. Deste lado da glória, “vemos como em espelho, obscuramente,” como Paulo escreve em 1 Coríntios 13.12. Mas “então, veremos face a face. Agora, conhecemos em parte; então, conheceremos como também somos conhecidos.”

Portanto, a plenitude da glória da vida eterna ainda não apareceu. Mas sabemos disso: o que somos agora é o que seremos na era vindoura, mas de uma maneira muito mais gloriosa. E isso está sendo revelado a nós cada vez mais ao longo de nossa vida, à medida que crescemos na fé. Voltando novamente às palavras do apóstolo Paulo, desta vez de sua segunda carta aos Coríntios:

“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Coríntios 3.18).

O que seremos não é algo completamente novo e diferente – é o cumprimento do que já começamos a receber.

Temos o começo. Temos uma antecipação. Temos conhecimento de Deus que é como a visão de Deus que Moises viu na montanha. Mas na nova aliança é ainda mais gloriosa. Quando Deus se revelou a Moisés, Ele mostrou a Moisés suas costas, mas não sua face, quando escondeu Moisés na penha de uma rocha, para que sua glória não o destruísse. Nossa experiência da presença de Deus é maior do que a de nossos pais da Antiga Aliança, mas ainda não é tudo o que será.

O que haveremos de ser? Seremos semelhantes a Ele, como nosso Senhor Jesus Cristo. Somos chamados a ser como Ele nesta vida, mas há muitos obstáculos, muito que nos mantém longe de onde deveríamos estar, tanto dentro de nossos próprios corações quanto fora de nós. Mas quando Ele aparecer, seremos como Ele, e o veremos como Ele é. Agora vivemos pela fé; então andaremos à sua vista; viveremos em sua presença. Agora, sua glória é obscurecida por nosso próprio pecado, pelo pecado e miséria do mundo em que vivemos; então, nada vai obscurecer nossa visão dele, porque seremos como Ele.

E não é que já não sejamos, até certo ponto, como Ele. Afinal, nos tornamos uma nova criação nele. Nós o amamos. Procuramos servi-lo. Procuramos andar como Ele andou. Fomos chamados para refletir sua glória e seu amor ao mundo ao nosso redor, e pela obra do Espírito Santo em nós, temos um começo da semelhança de Cristo que fomos chamados a ter. Mas nós nos conhecemos e devemos estar muito conscientes disso, que nossa semelhança a Cristo está longe do que deveria ser.

Ele era perfeitamente obediente ao Pai, mas muitas vezes queremos seguir nosso próprio caminho. Ele amava perfeitamente, e muitas vezes nosso amor esfria. Ele deu a vida, e muitas vezes queremos salvar nossa vida, ter nossa própria vida, em vez de dar a vida por Ele e pelo próximo. Mas então, quando Ele aparecer, seremos como Ele, porque o veremos como Ele é. Toda dúvida será removida. Todo desejo pecaminoso será removido. A luxúria, o ódio, a inveja, a cobiça, serão removidos. Essa é a esperança da glória que temos como filhos de Deus. Essa é a esperança que temos, e não é um desejo, não é um sonho – é um certo conhecimento. Nós somos filhos de Deus aqui e agora – e o que seremos a seguir será ainda mais glorioso:

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2.9).

Então, é isso quem somos, e o que seremos. Mas como isso deve nos impactar? Recebemos esse entendimento, recebemos esse conhecimento. Mas agora: o que devemos fazer?

Teologia não é um jogo. Não é um exercício intelectual. Não é conhecimento por causa do conhecimento. Vimos isso repetidas vezes ao longo desta carta – a teologia e a vida são inseparáveis. Frequentemente, a teologia é algo sobre o que falamaos, algo que discutimos, algo que debatemos – mas existe um objetivo na teologia!

Temos falado sobre a doutrina da antropologia – a doutrina de quem somos como seres humanos. E temos falado sobre a doutrina da escatologia, do fim dos tempos, da vida que segue essa vida terrena. Mas nossa teologia, nossa antropologia, nossa escatologia, todas essas “-ologias” precisam ser vividas. E esse é o último ponto de João nestes três primeiros versículos do capítulo três, o ponto que ele vai examinar nos versículos seguintes.

Porque nosso conhecimento de quem somos e do que seremos deve ter um impacto em nossa vida. Nossa teologia precisa sair do estudo e precisa ser vivida na rua. Somos filhos de Deus. Nós o veremos como Ele é, e seremos como Ele. E agora? Temos essa esperança, e somos chamados a fazer algo com ela, a viver dessa esperança. E assim João diz o seguinte:

“E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (v.3).

Somos chamados a levar a nova vida que nos foi dada. Existe um chamado urgente a cada um de nós para desenvolver nossa salvação, com temor e tremor. Recebemos a nova natureza em Cristo, pelo Espírito Santo. E agora somos chamados a trabalhar com essa nova natureza, para cultivá-la, exercitá-la, desenvolvê-la, e amadurecê-la.

Não é um apelo à passividade, a sentar e imaginar que tudo isso nos chegará por osmose. Este é um chamado para nos purificar; já fomos purificados de nossos pecados pelo sangue de Cristo, então não é um chamado para tentarmos remover nossos próprios pecados – isso já foi feito, naquele maravilhoso dom de amor que o Pai nos concedeu. Mas somos chamados a nos purificar, a ser puros, como nosso Senhor é puro. Ouvimos a mesma mensagem em 2 Coríntios 7.1:

“Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.”

E em Hebreus 6, somos chamados a ser sinceros, a ter plena certeza de nossa esperança. E finalmente, em detalhes, isso é resolvido para nós em Colossenses 3.1-4:

“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.”

É a mesma mensagem novamente. Você foi criado com Cristo. Você morreu para si mesmo. Sua vida está oculta com Cristo em Deus. Você tem esperança para o presente e esperança para o futuro. E a mensagem do apóstolo Paulo em Colossenses 3 é a mesma que a mensagem do apóstolo João em 1 João 3:

“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus” (Colossenses 3.5-6).

Não porque você esteja preocupado se irá ou não ao céu se não fizer boas obras suficientes. Não porque você queira se esforçar para entrar no céu, porque você pensa que Deus realmente não quer ter você lá, e por isso precisa tentar convencê-lo por ser uma boa pessoa. Mas porque em seu amor, Ele já fez de você seu filho. Porque, como um bom filho, você quer ser como seu Pai. Porque você verá Cristo, entrará em sua presença, você o verá como Ele é. Você vai encontrar com Deus. Prepare-se para esse momento de alegria, purifique-se como Ele é puro, e você pode esperar, com grande expectativa, o dia em que o seu Senhor lhe disser:

“Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 25.23).

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.