1 João 01.09

Leitura: 1 João 01.01-10; Salmo 32.01-11
Texto: 1 João 01.09

Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo,

O Apóstolo João era “o discípulo que Jesus amou.” Ele tinha visto o cumprimento de Suas promessas com seus próprios olhos, junto com os outros discípulos. Ele olhou para o Senhor, o Verbo feito carne; Ele o tocou com as mãos. Ele viu a obra de Deus; ele testificou disso; e ele passou sua longa vida proclamando a vida eterna que estava com o Pai, que manifestou-se aos seus companheiros e a ele.

Ele escreveu o último, e o mais “teológico” evangelho, o evangelho que nos mostra tanto da natureza de Cristo, do Seu relacionamento com o Pai, do funcionamento interno do Deus Triúno. E ele escreveu uma série de três cartas, cartas breves, mas cartas repletas de sabedoria e conhecimento inspiradas pelo Espírito Santo, cartas escritas de maneira tão pastoral, com grande preocupação para os “filhinhos” que tinham sido chamados a fé em Cristo.

Já nos primeiros dias da igreja do Novo Testamento, havia falsos mestres operando entre o povo de Deus – falsos mestres que estavam tentando a desviar esses crentes. E o Apóstolo João, já homem idoso, estava preocupado. Podemos ver essa preocupação ao longo desta carta, a sua primeira.

“Filhinhos,” João escreve em 1 João 2.18, “já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.” Falsos mestres tinham surgido, colocando eles mesmos e o seu “conhecimento especial” no lugar de Cristo. João escreve para avisar contra esses lobos.

E em 1 João 3.7, João escreveu, “Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.” Haviam enganadores, tentando levar o povo de Deus a abandonar a verdade. O povo da aliança, João escreveu, precisava ficar em guarda. João avisa esses “filhinhos,” os amados irmãos, em 1 João 4.1, “Não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.”

Mas o ministério de João não era apenas um tipo de “ministério de discernimento” que queria apenas falar sobre os erros e falsos ensinamentos de outros, como se isso fosse o fim em si mesmo. Seu objetivo não era meramente negativo; Ele advertiu contra falsos mestres para que seus “filhinhos,” seus filhos na fé, pudessem conhecer a verdade e se alegrar com essa verdade.

No final, o seu objetivo está claramente indicado em capítulo 1.3: “o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.” O objetivo é a comunhão; a comunhão dentro da igreja, o corpo de Cristo, participação na vida da Trindade, unindo-se a Cristo pela fé, sendo filho de Deus através de Cristo, sendo participante no Espírito Santo, juntamente com a família de Deus, aqueles que Ele tinha chamado e escolhido para ser Sua possessão preciosa.

Na conclusão do seu evangelho (João 20.31), João escreveu sobre o objetivo que ele tinha no escrito desse evangelho: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” E na conclusão da sua primeira carta, em 1 João 5.13, ele disse aos leitores por que ele escreveu esta carta, e seu raciocínio é muito semelhante: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.”

João não está apenas derrubando – ele está construindo. O seu maior desejo é levar as pessoas a fé em Cristo, e terem fé no Salvador, encorajá-las, dar-lhes segurança da vida – plenitude da vida no presente, plenitude da vida por toda a eternidade.

E neste primeiro capítulo parece que João está enfrentando um grupo que fizeram falsas declarações sobre o que significa ser discípulo de Cristo. “Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (v.6). “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (v.8). “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (v.10).

Parece que havia mestres dizendo que pessoas podem ser cristãos enquanto elas andavam nas trevas. É mentira, João diz. E algumas pessoas, ou do mesmo grupo ou de um outro grupo, estavam dizendo que elas não tinham pecado nenhum, que elas não tinham cometido pecado. Elas tinham idéias falsas sobre o que significa ser cristão – ou que um cristão pode continuar vivendo como um descrente, ou que os cristãos podem realmente realizar um nível de perfeição nesta vida.

E João fala claramente e sem prevaricação: essas declarações são mentiras. Aqueles que ensinam essas mentiras são mentirosos. E ainda pior, por meio desses ensinos falsos eles fazem mentiroso de Deus, porque a Sua palavra claramente ensina algo contrário. Resume-se ao que João escreveu no terceiro capítulo do seu evangelho, versículos 19-21:

“O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.”

Andar na luz significa andar em unidade com Cristo, na luz da Sua Palavra. Em Salmo 119, cantamos, “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos.” “Eu vim como luz para o mundo,” o Senhor Jesus disse em João 12.46, “a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.”

E em versículo 9, João nos diz o que significa andar na luz. Não significa a ausência completa de pecado – seria impossível. Vemos isso nos dois versículos nos lados de nosso texto, versículo 9. Lemos em versículo 8, “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.” E em versículo 10 João escreve, “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” Mas entre essas declarações são essas palavras: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustica.”

Andar na luz significa reconhecer a nossa pecaminosidade. Significa reconhecer quem somos por natureza. E isso é realmente o que é quase como o paradoxo da vida cristã, e por isso qualquer tentativa de criar uma forma de cristianismo que só existe para ajudar pessoas a sentir bem sobre si mesmos está completamente errada desde o início. Porque quando andamos na luz, essa luz brilhará nos recessos mais sombrios e profundos de nossos corações e nossas vidas. Essa luz irá expor a sujeira e a decadência, o lixo que foi varrido para debaixo do tapete, o mofo e a podridão acumulada nos cantos de nossas vidas.

O apóstolo Paulo descreveu o seu chamado deste modo para o rei Agripa, em Atos 26. Jesus apareceu a ele, e chamou ele, Ele disse, “para abrires os olhos dos gentios e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.”

Para receber o perdão dos pecados, as pessoas tiveram que abrir os olhos. E, quando seus olhos se abriram, podiam virar da escuridão para a luz. Podiam escapar o poder de Satanás para ficar sob a autoridade de Deus. E somente se eles fossem trazidos para a luz poderiam receber perdão de pecados.

Tudo isso significa que vir à luz é uma experiência dolorosa. Quando já passou muito tempo numa sala escura, e você encontra a brilha de um dia de sol, vai machucar os seus olhos. É assim quando saímos das trevas de pecado e entramos a luz da Palavra de Deus – vai causar dor. Quando somos convertidos a Cristo, ou quando a algum ponto da nossa vida nós sentimos a graça de Deus numa maneira especial, vamos dizer, com o Apóstolo Paulo:

“Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”

Mas a novidade desaparece. Nossos olhos se ajustam à luz. Nós nos tornamos complacentes. Perdemos nosso foco. Nós nos esquecemos dos nossos pecados e da miséria, e começamos a pensar, “Eu não sou pessoa tão má, afinal.” As coisas estão indo bem, eu vou para a igreja, eu estou participando nas atividades da igreja, pelo menos, estou passando pelos movimentos da vida cristã. Mas essa consciência do pecado começa a desaparecer. Essa consciência de nossa necessidade desesperada desaparece. E nós começamos a pensar, juntamente com aqueles falsos mestres que João está descrevendo aqui em 1 João 1, que “não temos pecado” – talvez não seja literalmente, mas pelo menos na prática.

Estamos na luz. Nós fomos trazidos para a luz. E então devemos continuar a andar na luz – precisamos perseverar nesse caminho, apesar da dor que pode nos causar, porque só caminhando naquela luz podemos manter essa comunhão uns com os outros, a nossa irmandade que nós temos em Cristo Jesus.

E para andar nessa luz, devemos confessar nossos pecados, e esse é o ponto de João aqui. A luz traz consciência do pecado, e a consciência do pecado deve levar a uma confissão honesta – a confissão àquele que nós ofendimos pelos pecado. Nada do que fazemos está escondido da visão de Deus, e nós sabemos disso – mas, ao mesmo tempo, muitas vezes temos a tendência de pensar irracionalmente que possamos manter nossos segredos de Deus. Então possamos orar, superficialmente, dizendo coisas como, “Senhor, perdoa os pecados que cometi hoje, Amém.” Olhamos para o Senhor como uma espécie de avô indulgente, cuja natureza é para perdoar. Esperamos que Deus ignore as coisas que fizemos de errado. Não nos examinamos realmente, onde nos desviamos, o que fizemos.

Então, dizemos: “Perdoa meus pecados,” mas realmente não os confessamos. Não queremos pensar sobre aquele pensamento ou ação luxuriante, e muito menos confessar com honestidade ao Senhor. Não queremos considerar aquela explosão de raiva, e muito menos conversar com Deus sobre isso. Não queremos reconhecer aquele egoísmo, que se concentra em nós mesmos à custa das pessoas com quem vivemos. Não queremos confessar aquele momento específico no dia em que adoramos um ídolo em vez de adorar o único Deus verdadeiro. Não queremos confessar aquele momento de ódio, aquele pecado específico de cobiça, aquela fofoca, aquela calúnia… E assim, “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores,” torna-se algo mais como um mantra do que uma verdadeira oração, uma forma de piedade sem qualquer conteúdo ou significado.

E então nos perguntamos por que nossa vida espiritual parece estar sofrendo. Nós nos perguntamos por que Deus parece distante de nós. Nós nos perguntamos por que nossa vida de fé não é o que deveria ser. Nós esquecemos as palavras que o rei Davi escreveu em Salmo 32:3,4:

Salmo 32.3-4: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.”

Isso é o que acontece quando não confessamos nossos pecados. Isso é o que acontece quando a nossa suposta confissão de pecado não é mais do que apenas recitar uma lista das coisas erradas que fizemos durante o dia, sem reconhecer verdadeiramente sua importância, sem reconhecer verdadeiramente a pecaminosidade do pecado. Mantenha o silêncio diante do Senhor, ou use frases vazias, e o resultado é certo, o resultado que Davi descreveu em termos tão poderosos – dores e gemidos todo o dia. A mão do Senhor será pesada sobre você. Seu vigor se tornará em sequidão de estio. Mantenha o silêncio diante do Senhor, e você verá rapidamente o resultado.

Mas então, o que? Então Davi diz: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Salmo 32.5). Uma declaração simples, mas poderosa – “tu perdoaste.” E para aquele que está perdoado, aquele que tem certeza do perdão de Deus, esse peso é removido, completamente. Quem confessa seus pecados pode se alegrar no Senhor. A pessoa que é sincero e aberto com Deus pode gritar de alegria, porque, como Davi disse, “Ele perdoa a iniquidade do meu pecado.”

A confissão do pecado significa reconhecer quem Deus realmente é. Significa confessar a verdade, não apenas sobre nós mesmos, mas a verdade sobre o nosso Deus, e é disso que João fala na segunda parte do versículo 9: “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” Se recusarmos confessar nossos pecados, se negligenciarmos nossa comunicação regular e honesta com nosso Deus, nós somos, em nossas ações se não em nossas palavras, proclamando que Deus é mentiroso. Estamos recusando confiar nele, e essa recusa em confiar, a falta de confiança nEle, é pecado, nada menos. Está levando o Nome do Senhor em vão, está desprezando Ele, desprezando a Sua revelação, em fato dizendo que não acreditamos nEle, e porque não cremos nEle, não falaremos com ele honestamente.

Porque Ele é fiel. Ele se revelou como o Fiel da primeira página de Sua Palavra até a última. Ele é “o Senhor, Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.” Ele é o Deus da aliança; e isso é mais do que apenas um slogan reformado, é uma descrição de quem Ele é, na Sua fidelidade a Sua aliança, em Sua fidelidade ao Seu povo escolhido.

E porque Ele é justo. Ele age de acordo com a Sua Palavra; e em Sua Palavra, Ele proclama que Ele mantém longanimidade, que Ele perdoa a iniquidade, transgressão, e pecado. Ele cumpre as suas promessas. Podemos ler tudo isso em Salmo 103, e se você tem dificuldade em confessar seus pecados ao Senhor, esse salmo é um ótimo passagem para você, porque nos diz quem é nosso Deus – Ele perdoa toda a sua iniquidade, ele cura todas as suas doenças, ele redime sua vida da cova. Ele se coroa de graça e misericórdia. Ele farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia. Ele faz justiça e julga a todos os oprimidos.

“O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.”

Ele é justo. Ele mantém sua palavra. Ele te chamou da escuridão para a Sua gloriosa luz, e Ele quer que você ande em comunhão com Ele. Não pense: “Sou pecador tão horrível que eu nunca poderia ter comunhão com este Deus.” Porque somente se você reconhecer quão grandes são seus pecados, você pode ter comunhão com Ele. Somente se você conhece seus pecados e sua miséria, você pode realmente confessar essas coisas a Ele.

Ele é fiel e justo para nos perdoar nossos pecados e para nos purificar de toda injustiça. Ele derramou Sua justiça em Seu Filho, o justo castigo pelos pecados de Seu povo. Ele derramou a ira pelo pecado em Seu Filho, para deixar claro que Ele é justo, que o pagamento deve ser feito para as ofensas cometidas contra Sua Majestade Suprema.

Então, meus irmãos, caminhem na luz, como Ele está na luz. E quando você fizer isso, pela graça de Deus, você terá comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, o Filho de Deus, o purifica de todo pecado. Confesse seus pecados diante dele. Ele é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados, e para nos purificar de toda injustiça.

Somente a Ele seja a glória.

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.