Tiago 1.9-11

Leitura: Salmo 73. Tiago 1.1-11
Texto: Tiago 1.9-11


Amados irmãos,

Como já ouvimos, a carta de Tiago foi escrita primeiramente para judeus que haviam se
tornado cristãos. Neste momento eles estão dispersos pelo Império Romano. Fugiram de Israel,
pois uma perseguição eclodiu após a morte de Estêvão.
Eles são chamados de “as doze tribos da Dispersão” (cf. v.1).
Isto remete a história do povo de Israel e de como também no passado os judeus haviam
sido dispersos pelos reinos da Assíria, Babilônia e Pérsia.
Por causa desta fuga da Judéia a condição dos crentes em Tiago é muito ruim. Eles
haviam deixado tudo para trás. Fora de seu domicílio, eles não tem nenhuma estabilidade,
amparo e segurança. Estão nas mãos dos gentios romanos.
Eles são pobres e vulneráveis. Isto acarretou em uma grande exploração por parte dos
ricos e poderosos gentios.
Neste trecho que lemos, Tiago vem então consolá-los.
O mesmo consolo também é dirigido a nós nesta noite.
Pois somos todos peregrinos neste mundo. Nossa verdadeira nação não é essa aqui. Os
crentes são explorados pelos poderosos deste mundo que não reconhecem o senhorio de Cristo e
nem valorizam os filhos de Deus.
Dentro das angústias que passamos pelos “donos do mundo”, que nos exploram com seu
poder econômico e com suas ideologias nefastas, muitas vezes nos encontramos desanimandos,
reclamando, nos sentindo inferiorizados e olhando para o quintal do vizinho, cuja grama parece
ser mais verde do que a nossa.
É isto que temos em nosso texto.
Este trecho é apenas uma introdução do que Tiago vai desenvolver mais ainda nesta carta
depois. Já aqui podemos aproveitar do que a Palavra de Deus fala em termos do assunto ricos vs
pobres.
Portanto, a Palavra de Deus nesta noite, por meio de Tiago, nos chama (e eis o tema) “a
valorizarmos nosso status cristão no meio de um mundo mal, cuja opressão por meio dos
poderosos é sentida.
Irmãos, precisamos entender o nosso texto a luz do que já ouvimos antes.

Primeiro. Ouvimos sobre uma atitude que deve nos mover numa situação como esta. A
alegria (cf. v.2). Alegria nas perseguições.
Segundo. Deus, as tribulações são como um fogo para purificar a nossa fé (v.3).
Terceiro. As perseguições vão desenvolver nossa perseverança que é a paciência.
Quarto. Qual é a finalidade disso tudo? (v.4): Deus com isso tem o objetivo de nos tornar
integros e perfeitos, em nada deficientes.
Mas não é fácil discernir o que Deus quer fazer conosco. Por isso, a situação de opressão
requer sabedoria que deve ser pedida:(v.5-8). Ela deve ser pedida com confiança. Deus haverá
certamente de nos dar sabedoria para discernirmos as tensões.
Depois de ter falado sobre a atitude e o objetivo das tensões, Tiago quer oferecer agora
um consolo.
Vejamos novamente:
V.9-v.10a: “O irmão, porém, de condição humilde glorie-se na sua dignidade, 10 e o rico,
na sua insignificância”.
Primeiramente, observe o contraste que Tiago faz entre humildes (pobres) e ricos. Ele
dize que a gloria do humilde (pobre) é a sua dignidade (alta posição, lugar exaltado, céu) e a
glória do rico é sua insignificância(humildade, no original).
O que isto quer dizer? Irmãos, talvez alguém possa imaginar que Tiago considera a
pobreza uma virtude por si só. E que a riqueza sempre um problema em si.
Bom, existem pobres tão cobiçosos quanto um rico. E existem ricos tão humildes como
uma pessoa pobre.
Tiago não está elevando a pobreza e condenando a riqueza em si.
Riqueza não é uma maldição e nem um status indesejado. Abrãao, Isaque, Jacó, Jó, Davi,
Salomão foram ricos. José de Arimatéia foi um homem rico.
Pobreza por outro lado não é uma virtude por si só. Acã, pobre, cobiçou ouro, prata e uma
capa babilônica e foi condenado por isso.
A questão toda que Tiago quer tratar é o coração. O crente deve, de coração, se orgulhar
de sua alta posição em Cristo (um orgulho saudável). E o rico deve, de coração, se humilhar (o
rico tem um orgulho pecaminoso)

  • Tiago quer consolar os crentes, pois posição em Cristo é superior a arrogância de
    coração dos ricos.

A dignidade ou status exaltado dos crentes se deve ao fato de agora serem como o Senhor
Jesus Cristo em sua humilhação.
Veja como podemos entender isso melhor através de Pedo: 1Pedro 2.20-21: “Se,
entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto
é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em
vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos.
Ser achado nas mesmas pisadas do mestre não é uma posição infeiror, pelo contrário.
Pedro mais tarde reconheceria esta dignidade de ser mostro como seu mestre.
Porém, antes de ser crucificado, pediu aos seus carrascos para que o crucificassem de
cabeça para baixo. Conforme a tradição, ele disse a humilde frase: Não sou digno de
morrer como meu mestre.

Agora, eis uma tentação nos momentos de perseguição. Satanás levará nossos
pensamentos a invejamos a glória dos perversos.
Existe um salmo que fala exatamente sobre isso (o salmo 73). Vamos a este salmo. (ler:
vv.1-10).
Perceba! Quando estamos numa situação de vulnerabilidade, fraqueza, oprimidos,
tendemos a pensar que nossa fé não faz sentido. Que não vale a pena continuar! Que a fé cristã é
sempre algo de tristeza, privação, dores, problemas.
Olhamos para fora e vemos o político corrupto, o traficante, o malandro, ou qualquer que
não quer saber de Deus prevalecendo, prosperando nesta vida. Eles tem mais dinheiro.
Eles também tem mais beleza. E, portanto, as moças cristãs são tentadas a imitar o seu
padrão de beleza e de comportamento. Assim também os rapazes.
Eles sucedem melhor na vida. Daí, um pai cristão busca trabalho e não encontra. Todas as
portas estão fechadas! Mas, o ímpio, enganador, desonesto, que não ama sua esposa e filhos
estão bem empregados e sendo promovidos.
Neste momento bate aquela crise existencial: Há algo de errado comigo? Estou realmente
na igreja certa?
Limpando nossas lentes por esta palavra, Cristo está nos dizendo que devemos ter
orgulho se somos oprimidos pelos grandes bilionários, metacapitalistas, ideólogos de
qualquer sorte desejando impor sua agenda e poder contra nós.
Tiago diz: (que) glorie-se na sua posição exaltada.

Nós, meus irmãos, temos algo que o mundo não tem e jamais poderá ter se não lhe for
dado: a graça sublime de Deus! Fomos escolhidos pela graça de Cristo!
Tiago diz no capítulo 2.5: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o
mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam?”
“…Herdeiros do reino…”. Isso é muito forte!
Isto comunica o que Cristo fez por nós! É ele quem nos concede a sua herança. Em Cristo
somos tão amados por Deus que somos chamados de filhos. E como filhos temos o seu espírito
que não foi dado ao mundo inteiro. Como filhos, que têm um pai rico, somos também ricos. O
Pai tem o mundo inteiro, então nós também herdaremos o mundo inteiro. Como filhos, somos
herdeiros da vida eterna de paz.
É esta visão que devemos ter. Mas nossas lentes estão tão embaçadas que não
conseguimos enxergar bem o que somos e temos.
Paulo pede para seus ouvintes comparem o seu status agora com o que há de vir.
Romaos 8.17 e 18 (a comparação com os sofrimentos) diz: “Ora, se somos filhos, somos
também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também
com ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do
tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.


  • Agora, do outro lado, Tiago está dizendo sobre o rico que ele deve buscar o ser humilde.
    v.10: “e o rico, na sua insignificância…”
    Como falamos, “insignificância” é a mesma palavra “humilde”.
    Tiago é irônico aqui. O rico se orgulha da sua humildade. É claro que no contexto eles
    não tem isso.
    Porém isso faz pensar. A “humildade” é aquilo que ele não tem. O rico se orgulha do seu
    poder econômico e seu poder. Porém, não podem comprar o status dos filhos de Deus.
    Eles devem deixar sua arrogância para serem humildes. Não humildes no sentido da
    pobreza, mas humildes de coração.
    Tiago 4.6: “Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá
    graça aos humildes ”.
    Os ricos podem ter tudo agora, mas sem a graça, serão rejeitados e oprimidos por Deus.

Eles experimentarão aquilo que fazem com os pobres de nosso contexto.
Tiago, então, para dissipar toda inveja que se possa ter sobre os arrogantes, mostra que o
status do rico passa.
vv.10-11: “porque ele passará como a flor da erva. Porque o sol se levanta com seu
ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto; assim
também se murchará o rico em seus caminhos”.
Tiago que havia usado a ilustração do mar para falar do homem de ânimo dobre, tirando
da sua própria experiência como alguém que viveu próximo ao mar da galileia; agora usa o
exemplo do clima.
Em Israel se sentia as consequências do forte calor provocado em tempos de seca e pelo
vento que soprava do leste ou do sul desértico.
Quando isso acontecia, toda a grama e as plantas perdiam suas folhas ou elas ficavam
com um aspecto envelhecido.
Gostaria de contar uma experiência de quando morava em Unaí. Em termos de chuva, o
semiárido de Minas Gerais se assemelhava um pouco com Israel.
De Maio até Outubro não cai nenhuma gota de água do céu. Em setembro, especialmente,
você tem uma seca tão forte que seu nariz pinga sangue. O calor e a seca são fortes.
Há também ventos que fazem pequenos tornados. A grama fica completamente seca. As
árvores mais novas ficam sem folhas até que as primeiras chuvas do final de outubro começam
a trazer o verde novamente.
O calor e o vento seco traziam rapidamente a modificação de toda a paisagem.
Os ricos arrogantes são assim. Enquanto eles caminham nesta vida, estão indo para a
estação do calor e da seca. Eles e suas riquezas passarão rápido.
Eles são como palha assim como o Salmo 1.4 descreve: são, porém, como a palha que o
vento dispersa”. Toda a riqueza é palha.
Tiago aqui cita um juízo de Deus proclamado em Isaías 40.6-7, no contexto da vinda do
Messias. Ali é declarado um iminente juízo sobre Israel por causa da sua arrogância.
O dia de Cristo chegará para nos livrar de nossas opressões. E Cristo se estabelecerá
definitivamente como o Senhor deste mundo.
O salmista, no salmo 73, percebeu isto. Antes parecia ter dúvidas da bondade de Deus,
mas entrou no templo. Ele viu o sangue derramado, o berro do gado, o cheiro da morte.
Ele viu ali o destino dos arrogantes sem Cristo e contemplou sua destruição.

Leia Salmo 73.17-28.
Então, irmãos, o que podemos aplicar deste texto:
1 – Sofrimentos, não por causa de alguma atitude pecaminosa nossa, mas por uma ação
injusta contra o crente são motivos de glória(alegria). Os alunos foram ensinados pelo Mestre,
agora devem realizar seu duro exercício. Se você acha que os crentes não devem sofrer, como
na Igreja Universal, então você ainda não conhece o evangelho.
2 – Não tenha inveja dos poderosos. Alegre-se no seu status. Você pode até olhar para a
grama do seu vizinho e achá-la mais verdinha, mas valorize o seu gramado.
Provérbios 15.16: Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro
onde há inquietação.
Provérbios 19.1: Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso de
lábios e tolo.
Os ímpios vão perecer.
1 João 2.17 diz: Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que
faz a vontade de Deus permanece eternamente.
3 – Se você adquirir riquezas não seja o próximo opressor, mas sirva com coração
humilde. Há vários versículos que também ouvimos ontem que nos falam para não colocarmos
nossos corações nas riquezas.
Provérbios 11.28: Quem confia nas suas riquezas cairá, mas os justos reverdecerão como
a folhagem.
4 – Seja sábio neste assunto. Ore a Deus e busque sempre a sua direção.
5 – Busque se cingir de humildade olhando para Cristo.
1 Pedro 5.5: “cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo,
aos humildes concede a sua graça”.
Em Isaías 53.7,8 é dito: “Ele foi oprimido e humilhado….Por juízo opressor foi
arrebatado…(mas não abriu a boca)”.
Filipenses 2.5-9: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até
à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que

está acima de todo nome” Amém!

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Marcel Tavares

É pastor na Igreja Reformada em Cabo Frio. Licenciado em matemática e foi professor por muitos anos. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.