Leitura: Mateus 18:15-22
Texto: Mateus 18:23-35
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo
Vivemos num mundo corrompido cheio de ódio, vingança, violência e inimizade entre as pessoas. Isso não é de se estranhar, pois esta é a real condição da humanidade caída que se encontra debaixo do poder do pecado e do diabo. Por natureza todos os homens são odiosos e odeiam uns aos outros (Tt. 3.3). Na verdade, até mesmo os filhos de Deus que nasceram de novo pelo Espírito Santo, ainda estão sujeitos a ofender e serem ofendidos uns pelos outros com palavras e atos pecaminosos. Na vida dos ímpios o que prevalece é o sentimento de ódio e vingança quando há ofensas. Não existe esse negócio de perdão no mundo. No mundo é olho por olho, dente por dente; é pagar com a mesma moeda; é não querer saber da pessoa que ofendeu; é desejar e operar o mal contra a pessoa ofensora. Mas como deve ser na igreja de Cristo? Que atitude o Senhor espera de nós quando somos ofendidos por outras pessoas, inclusive pelos nossos irmãos?
Irmãos. Aqui em Mateus 18, o Senhor nos ensina muita coisa sobre o perdão. Ele encorajou seus discípulos a buscarem reconciliação com aqueles que lhe ofenderem (ver Mt.18.15). Jesus mostra claramente que o ofendido deve buscar reconciliação com aquele que o ofendeu. Mas parece que é tão difícil colocar isso em prática. O mais fácil é conversar com outras pessoas acerca da ofensa que alguém me fez e não conversar diretamente com o ofensor para resolver o problema. Mas não é isso que Jesus requer de nós. Pelo contrário, Jesus ensina que eu devo buscar meu irmão que pecou contra mim a fim de chamá-lo ao arrependimento e perdoá-lo.
Diante do ensino do Senhor, Pedro reconheceu que deve perdoar o seu próximo. Mas até quando? Quantas vezes se deve perdoar? Até sete vezes apenas?(ver Mt.18.21,22). Alguns mestres dos judeus ensinavam que o máximo era quatro vezes. Pedro vai além. Ele pergunta ao Senhor se pode perdoar até sete vezes. Mas Jesus ensina que o perdão não tem fronteiras, deve ser ilimitado. Devemos perdoar nosso próximo setenta vezes sete, isto é, devemos sempre estar dispostos a perdoar aquele que nos ofendeu.
A fim de aplicar o evangelho do perdão no coração dos seus discípulos, o Senhor conta a parábola do credor incompassivo (Mt.18.23-35). Na verdade um título mais adequado a esta parábola seria: “a parábola do servo que foi perdoado e não quis perdoar”. Nesta parábola, o Senhor chama nossa atenção para a grandeza do perdão de Deus para conosco e para o nosso dever de perdoar uns aos outros. Eu vos proclamo o evangelho de Cristo no seguinte tema:
DEUS NOS PERDOA PARA QUE PERDOEMOS UNS AOS OUTROS
1) O Senhor nos perdoou de uma grande dívida (23-27)
2) Nós devemos perdoar o nosso próximo (28-35)
- O Senhor nos perdoou de uma grande dívida (23-27)
Na introdução da parábola, o Senhor fala de um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos (23). Estes servos eram os ministros que cuidavam dos negócios do rei, como por exemplo, eles eram responsáveis pela cobrança dos impostos das províncias para o rei. Esses servos tinham de prestar contas ao rei do seu trabalho. Num determinado momento, o rei decidiu prestar contas com os seus servos. Continuando a história, Jesus apresenta um servo que foi posto diante do rei para lhe prestar contas e este lhe devia dez mil talentos (24). O valor da dívida do servo é um detalhe importante que chama a nossa atenção. Aquele servo não devia uma quantia qualquer ao rei, mas uma quantia enorme (dez mil talentos). Um talento era a maior moeda daquela época (34 kg de ouro – 1 talento = 6.000 denários). Convertendo para os nossos dias aquele servo devia um valor astronômico de 10 milhões de dólares (60 milhões de reais). O Senhor não diz como aquele servo contraiu uma dívida tão alta, mas simplesmente enfatiza que a dívida daquele servo era muito grande.
Aquele servo não tinha como pagar sua grande dívida ao rei. Ele então receberia um julgamento justo do rei até que este saldasse sua dívida (25). Ele seria preso com sua família até que a dívida fosse paga. Certamente ele morreria na prisão antes que saldasse a sua grade dívida. Mas o que aconteceu? Diante da sentença do rei, o servo clamou por misericórdia (26): “Ò Senhor, meu rei, eu sei que tu tens o direito de me julgar, mas, por favor, espere um pouco mais e eu lhe pagarei tudo o que devo”. Observe que aquele servo clamou por misericórdia e paciência; ele não pediu por perdão. Como então, o rei reagiu diante do clamor do servo devedor? Jesus nos diz que “o senhor (rei) daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida” (27). Que coisa surpreendente! Que atitude misericordiosa do rei! Ele tinha o direito de receber toda a dívida daquele servo. Uma dívida enorme. Mas o senhor, cheio de compaixão, mandou o seu servo embora, deixando-o livre do castigo, e, além disso, perdoou-lhe sua grande dívida. Aquele servo não devia mais nada, pois o rei cancelou sua grande dívida. Que grande compaixão do rei! O servo pediu um pouco mais de tempo para lhe pagar; o rei, porém, cheio de misericórdia, lhe concedeu perdão total.
O que Jesus quer nos ensinar com isso? A atitude daquele rei em se compadecer e perdoar a grande dívida daquele servo é uma ilustração da atitude misericordiosa de Deus em perdoar pecadores. Na verdade, todos nós somos devedores a Deus de uma grande dívida que não podemos pagar. Que dívida é essa? Os nossos muitos pecados. Os pecados em que nascemos e os pecados que cometemos na nossa vida formam a grande dívida que devemos a Deus. De fato, todos os homens pecaram em Adão e, portanto, são dignos do castigo eterno. Se o Senhor observar as nossas iniqüidades e as castigar, quem de nós viverá? Na verdade, ninguém.
Mas o SENHOR é Misericordioso e sua misericórdia prevalece sobre os nossos pecados. Com Deus está o perdão. Ele não conserva para sempre a sua ira e nem nos trata segundo os nossos pecados. Se fosse assim, seríamos consumidos. Mas graças a Deus por sua grande misericórdia que é a causa de não sermos consumidos. O SENHOR nos perdoa de todas as nossas iniqüidades. Ele cancela a nossa grande dívida e nos torna livres da condenação do pecado. Ele apaga todas as nossas transgressões. Deus não leva em conta os pecados que cometemos; ao nos perdoar, Deus nos trata como se nunca tivéssemos pecado contra Ele. Por que Ele faz isso? Não é porque merecemos, mas pela sua graça em Cristo. Deus cobre o nosso pecado com a justiça de Cristo.
Aquele que proferiu esta parábola é o mesmo que está caminhando para Jerusalém a fim de cumprir a justiça de Deus. Ele vai tomar sobre si na cruz o justo castigo de Deus sobre os nossos pecados e, ao mesmo, vai conquistar para nós o perdão dos pecados e a reconciliação com Deus. Por meio do seu sofrimento e morte, Cristo pagou a nossa dívida a Deus e nos garantiu o perdão completo de todos os nossos pecados (ler Colossenses 2.13,14). Você percebe como é grande o amor de Deus por você pecador? Ele te perdoou de uma dívida que não podias pagar. Ele entregou o seu único Filho para morrer no teu lugar e te dá perdão e vida eterna. Quando você reconhece e confessa a Deus os teus pecados, Ele te perdoa em Cristo.
Você já parou para meditar na grande misericórdia de Deus em te perdoar da grande dívida dos teus pecados? O que o evangelho do perdão de Deus em Cristo deve provocar em tua vida? Em primeiro lugar, o fato de recebermos o perdão gracioso de Deus deve nos encher de consolo. A garantia do perdão que Deus te oferece em Cristo, deve nos encher de consolo, pois nenhuma condenação há para os que estão em Cristo.
Além disso, o perdão que recebemos de Deus deve nos motivar a uma vida de gratidão. Aquele que reconhece misericórdia de Deus em lhe perdoar, certamente viverá uma vida de amor ao seu Deus que tanto o amou dando-lhe o seu Filho para salvá-lo. Cristo nos perdoa e nos chama a viver de acordo com o seu evangelho, isto é, longe do pecado (Jo. 8.11) e em obediência aos seus mandamentos. E uma das coisas importantes que temos de fazer como cristãos é refletir a misericórdia de Deus para como nosso próximo através do perdão (Lc.6.36). Cristo nos ensina isso na segunda parte da parábola.
2) Nós devemos perdoar o nosso próximo (28-35)
Voltando à parábola, percebemos que depois de receber o perdão do rei, aquele servo encontrou um conservo que lhe devia uma pequena quantia (28). O homem lhe devia cem denários, o que era quase nada em comparação com a grande dívida que o rei tinha perdoado. Um denário era uma moeda de pequeno valor, o equivalente a um dia de trabalho. Um talento valia seis mil denários. Cem denários (algo em torno de dois mil reais) era uma dívida bem pequena em comparação com dez mil talentos (sessenta milhões de reais). Era de se esperar que o servo perdoado pelo rei de sua grande dívida também perdoasse o servo que lhe devia pouca coisa. Mas que surpresa! Isso não aconteceu. Pelo contrário. Aquele servo que recebeu misericórdia do rei não mostrou misericórdia ao seu servo. Com brutalidade ele exige o pagamento de sua dívida (28b). O seu servo lhe clama por misericórdia (29), exatamente a mesma atitude que ele mostrou diante do rei. Mas o que ele fez? Ele não mostrou compaixão, mas lançou o seu servo na prisão até que saldasse a dívida (30). O servo que foi perdoado não demonstrou perdão.
Quais foram as conseqüências dessa falta de misericórdia daquele homem que foi perdoado e não quis perdoar? Em primeiro lugar, sua incompaixão provocou a tristeza dos seus companheiros (31). Seus colegas de trabalhos certamente testemunharam a bondade do rei em perdoar aquele homem de sua grande dívida. E agora, vendo também a maldade daquele homem em não perdoar seu conservo que lhe devia pouca coisa, eles ficaram muito tristes. Eles ficaram tristes pelo rei que teve sua imensa bondade insultada pelo servo que não perdoou; e também pelo conservo que suplicou e não recebeu misericórdia nem perdão. Diante de tal situação, eles contaram ao rei tudo o que tinha acontecido. Afinal de contas, aquele servo não merecia ser punido pelo rei devido a sua ingratidão ao perdão do rei e falta de misericórdia ao seu conservo?
Em segundo lugar, a incompaixão do servo provocou a ira do rei (32-34). Novamente o servo é colocado diante da presença do rei. Desta vez, o rei está triste e irado com a sua atitude de não querer perdoar a pequena dívida do seu servo. O rei o chama de um servo mau, pois ele foi perdoado e não quis perdoar. Ele deveria ter imitado o exemplo de compaixão do seu rei, mas não o fez, pois o rei lhe disse: “não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti”? (33). Ele foi alvo da grande misericórdia do rei, mas não usou de misericórdia com o seu próximo. E qual o resultado dessa má atitude? O rei ficou irado com aquele servo e lhe deu um justo castigo até que saldasse a sua dívida (34).
Na conclusão da parábola, o Senhor Jesus fez a seguinte aplicação aos seus ouvintes: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo (de coração, sinceramente) não perdoardes cada um a seu irmão” (35). O Senhor Jesus quer aplicar o evangelho do perdão em nossos corações. Pelo menos duas verdades importantes ele quer colocar em nossos corações com estas palavras finais da parábola:
O Senhor ensina com seriedade que a pessoa que não está disposta a perdoar o seu próximo provoca a ira de Deus e traz juízo sobre si. Quem não mostra misericórdia não alcança a misericórdia do Senhor, mas recebe o seu justo castigo (Tg. 2.13). Aquele que tem um coração duro e cheio de rancor e ódio, a ponto de não querer perdoar o irmão que lhe ofendeu e lhe pede perdão, além de não viver feliz nesta vida, pois a amargura tira a alegria de viver, pode colher na vida por vir, o justo castigo de Deus como conseqüência de sua maldade e falta de compaixão. E isso é muito sério!
Ao mesmo tempo, Jesus nos ensina que aquele que recebe o perdão de Deus deve perdoar as ofensas do seu próximo de todo o coração. Jesus deseja que sejamos gratos pela grande misericórdia de Deus em nos perdoar, estando dispostos a perdoar o nosso próximo. A misericórdia de Deus em perdoar deve se refletir na vida dos seus filhos. “Sede misericordiosos, como também é misericordioso o Vosso Pai” (Lc. 6.36). Devemos imitar o Nosso Pai Celeste compadecendo-se uns dos outros e perdoando uns aos outros como ele nos perdoou em Cristo (Ef. 4.32). Como filhos de Deus devemos praticar o perdão em nossos relacionamentos. Perdoar de verdade é não levar em conta as ofensas daquele que nos ofendeu quando ele nos pede perdão. O perdão deve ser praticado em nossos lares e também na igreja entre os irmãos na fé. Cristo nos chama a perdoar até mesmo os nossos inimigos. Devemos fazer isso com sinceridade de coração.
Caros irmãos! Todos nós necessitamos do perdão de Deus. Ele está de coração aberto para nos perdoar. Mas não podemos clamar pelo perdão de Deus se não estamos dispostos a perdoar uns aos outros. Jesus nos ensina isto na oração do Pai Nosso (Mt. 6.12,14 15). De nada vale orar ou cultuar a Deus se no fundo do nosso coração odiamos o nosso próximo. Devemos sempre nos lembrar que fomos perdoados por Deus de uma grande dívida (os nossos muitos pecados) por pura graça. Isso nos motiva a perdoar as dívidas (ofensas) do nosso próximo de todo coração, pois Deus já nos perdoou. Os cristãos são pessoas perdoadas e, ao mesmo tempo, devem ser pessoas perdoadoras.
Olhemos para Jesus a fim de sermos encorajados a perdoar uns aos outros. O Senhor Jesus nos revelou o evangelho do perdão não somente com suas palavras, mas também com os seus atos. Ele concedeu perdão aos pecadores (Jo. 8.11; 2.5). Ele perdoou Pedro que o negou três vezes, mas depois se arrependeu. Jesus orou ao Pai por aqueles que o crucificaram: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc. 23.34b). Finalmente ele morreu na cruz para garantir o perdão completo dos nossos pecados. Sua morte foi a manifestação da grande misericórdia de Deus em nos conceder o perdão dos pecados. Reconhecendo o grande amor de Deus por nós, sejamos então gratos a Ele, amando e perdoando uns aos outros de todo o nosso coração.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.